Asma e corrida combinam?

Roberto Beck | Saúde · 16 abr, 2024

Olá, corredores e leitores. Mais uma coluna do Dr. Roberto Beck, trazendo informações e trocando figurinhas sobre exercícios com vocês. Embora possa parecer contraditório, a prática regular de exercícios, incluindo a corrida, pode ser muito benéfica para o controle da asma e de outras doenças respiratórias, como rinite e sinusites de repetição.

Asma e corrida combinam?
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Neste texto, tentarei elencar como o exercício traz benefícios e, no final, abordarei uma entidade clínica bem importante: a asma induzida pelo exercício. Quando se fala de via aérea, atualmente tratamos do conceito da via aérea única, ou seja, um grande “carpete” de mucosa que vai desde a entrada do nariz até o último alvéolo pulmonar. Esse conceito facilita o entendimento de que uma doença crônica nasal, como a rinite, tem grande influência na asma e vice-versa.

O controle da mucosa nasal e o tratamento da rinite são o primeiro passo para um pulmão saudável. Entendam que o nariz tem três funções: aquecer, filtrar e umidificar o ar inalado. Portanto, nariz comprometido significa ar sujo chegando aos pulmões.

O exercício físico, realizado com supervisão e após uma detalhada avaliação da condição prévia, trará alguns dos benefícios a seguir:

Melhora da função pulmonar: o exercício aeróbico, como a corrida, fortalece os músculos respiratórios e a capacidade pulmonar, o que pode ajudar a melhorar a função pulmonar.

Controle do peso: a manutenção de um peso saudável através da prática regular de exercícios pode ajudar a reduzir a gravidade dos sintomas respiratórios.

Fortalecimento do sistema imunológico: o exercício regular pode fortalecer o sistema imunológico, tornando o corpo mais capaz de combater infecções respiratórias.

Redução do estresse: a prática de exercícios ajuda na redução do estresse e da ansiedade, que podem desencadear sintomas de doenças respiratórias. Além disso, a liberação de endorfinas durante o exercício pode ajudar a melhorar o humor e a sensação de bem-estar geral.

Melhoria da qualidade do sono: o exercício regular pode promover um sono mais profundo e reparador, o que é importante para a saúde respiratória. Uma boa qualidade do sono pode ajudar a reduzir a incidência de problemas respiratórios noturnos, como a apneia do sono.

É fundamental que pacientes com doenças respiratórias crônicas procurem uma avaliação médica antes de começar a treinar, isso garante que aquele tipo de exercício seja seguro e apropriado para sua condição específica. Além disso, é essencial escolher atividades físicas que sejam adequadas e que não exacerbem os sintomas respiratórios, como, por exemplo, a natação em piscinas muito fechadas e quentes e com muito cloro, ou corrida em locais de extrema temperatura.

Uma doença pouco lembrada no dia a dia do médico, que geralmente não está tão próximo dos esportes, é a asma induzida por exercício, também conhecida como broncoconstrição induzida pelo exercício. Esta é uma condição na qual o exercício desencadeia sintomas asmáticos em pessoas predispostas, mesmo na ausência de outros fatores desencadeantes comuns da asma. Os sintomas típicos incluem tosse, chiado no peito, falta de ar e aperto no peito durante ou após o exercício.

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Acredita-se que a broncoconstrição ocorra devido a uma combinação de fatores, incluindo a perda de calor e umidade do trato respiratório durante a respiração pesada e rápida, a inalação de ar frio e seco e/ou a liberação de substâncias químicas inflamatórias nos pulmões durante o exercício. O diagnóstico deve ser baseado na história clínica do paciente e nos sintomas relatados.

Testes de função pulmonar, como a espirometria, podem ser realizados antes e após o exercício para avaliar a função pulmonar e identificar a presença de broncoconstrição. O tratamento deve incluir o uso de medicamentos broncodilatadores, como os beta-agonistas de curta ação, usados antes do exercício para prevenir a broncoconstrição.

Além disso, medidas preventivas, como o aquecimento adequado antes do exercício, o uso de um lenço para cobrir o nariz e a boca em clima frio e seco, e a prática de técnicas de respiração, são recomendadas. Os casos mais graves devem ser acompanhados de perto pelo médico do esporte ou pneumologista e, atualmente, existem medicações que podem deixar o paciente/atleta muito bem controlado.

Não custa finalizar com a batida frase de que prevenir é melhor que remediar e que doença respiratória crônica não contraindica o esporte, já o contrário é muito verdadeiro.

Roberto Beck

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Dr. Roberto Beck é médico otorrinolaringologista e doutor pela Faculdade de Medicina da USP, atendendo na Care Club e na Clínica Gatti. Trabalha com cannabis medicinal e é médico-assistente do Departamento de Otorrinolaringologia do HC-FMUSP. Fez seu fellowship em eletroneurofisiologia da audição e monitoramento intra-operatório de nervos cranianos. É membro da comissão de título de Especialista da ABORL-CCF.