Atletismo · 17 dez, 2004
No início de agosto, o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo me procurou para trocarmos idéias e impressões sobre o atletismo brasileiro, perspectivas e projeções. Em Atenas, quando fui retirar com ele os ingressos para o atletismo nos Jogos Olímpicos, nova conversa, que se repetiu alguns dias mais tarde quando trocamos telefonemas para comemorar e nos felicitar pela medalha de bronze na maratona obtida pelo Vanderlei Cordeiro de Lima.
Destas conversas surgiu o convite para que viesse a ocupar o cargo de Diretor de Desenvolvimento da CBAt, ao qual estariam ligados ou subordinados alguns programas importantes do atletismo nacional, como os Programas de Ajuda a Atletas de Alto Rendimento, aos Jovens Talentos, Heróis do Atletismo, Centros Nacionais de Treinamento, Campings e Clínicas, enfim, uma missão desafiadora que certamente demandará muito trabalho, muita dedicação e, sobretudo, alimentará e poderá dar vida ao sonho do presidente da Confederação, meu, e de todos os brasileiros, de transformar o Brasil numa verdadeira potência no atletismo, semelhante ao que já ocorre com alguns países do terceiro Mundo como Quênia, Etiópia, Jamaica, Marrocos entre outros.
Definimos que, em princípio - sem deixar de lado o apoio e cuidados aos atletas que atualmente estão em atividade e que certamente serão nosso representantes nos próximos Mundiais - nos Jogos Pan-Americanos do Rio e em Pequim/2008 deveremos dar especial atenção a projetos e programas visando resultados a longo prazo, formando uma nova geração muito forte e preparada para nos trazer as sonhadas medalhas à partir dos Jogos de 2012.
Além de correções e ajustes nos atuais programas - que sempre têm que ser feitos e que foram submetidos à aprovação no II Fórum Atletismo Brasil, realizado em São Paulo, com a participação de técnicos, atletas e dirigentes de federações estaduais - foi registrada a ênfase que se dará aos campings e clínicas, sobretudo com a participação dos melhores atletas em cada categoria e seus respectivos técnicos, preparando-os para os desafios que enfrentarão no futuro.
Aproveitando as experiências anteriores, os campings internacionais, preparativos às grandes competições como Mundiais e Jogos Olímpicos, terão duração reduzida a 10 ou 15 dias, no máximo, para adaptação ao clima, fuso horário e condições do local da competição. Esta redução no prazo não prejudicará a adaptação e evitará o desgaste, quer seja no relacionamento, quer seja no aspecto emocional ou mesmo na dificuldade em dotar estes campings de estruturas ideais para todas as modalidades.
Os campings que terão maior ênfase serão os nacionais, que serão realizados separados por modalidade e sempre reunindo os melhores atletas de cada categoria na respectiva modalidade, seus técnicos e, sempre que possível, com a presença de grandes especialistas, quer sejam eles nacionais ou estrangeiros. Tudo com o objetivo de aproveitar todas as potencialidades para melhorar a qualificação de nossos técnicos e o rendimento de nossos atletas. O atletismo terá seus campings separados em 10 segmentos, a saber: velocidade masculina, velocidade feminina, saltos horizontais, salto com vara, salto em altura, arremessos e lançamentos, meio fundo, fundo e maratona, marcha atlética e provas combinadas. Cada um destes segmentos teve um responsável designado que deverá indicar o período e condições de local e infra-estrutura que deseja para realizar o camping da modalidade. Sabemos que estes trarão resultados de curto prazo, mas a grande aposta é de muitos frutos a médio e longo prazo pela participação dos melhores atletas em todas as categorias e seus respectivos técnicos, propiciando que adquiram conhecimento e experiências com outros treinadores nacionais e internacionais. Aos atletas jovens será dada a oportunidade de conviverem por um determinado período com os melhores atletas de suas provas, seus ídolos e em geral seus ícones, que alimentam os sonhos de, um dia, se tornarem grandes campeões.
Os jovens sentirão e vivenciarão experiências e saberão desde cedo que para se tornar um campeão não basta apenas o talento e, sim, muito mais, como muita força de vontade, muito treino, muita dedicação, muita disciplina e ainda abrir mão de certas tentações, delícias e prazeres que os jovens que não têm ambições atléticas podem experimentar. Mas os que almejam ser campeões têm que, disciplinadamente, deixar de lado.
Sabemos que o caminho é longo, desafiador e que requer muito trabalho e dedicação de todos os envolvidos, mas temos o sonho e a certeza que o Brasil poderá se tornar uma verdadeira potência no cenário mundial do atletismo, talvez não em 2008, mas, certamente, nos Jogos Olímpicos de 2012.
Corridas de Rua · 07 dez, 2004
Meu primeiro contato com a corrida se deu no ginásio, nas brincadeiras entre classes na educação física. Logo que participei da primeira competição, em Joinville, o desejo de me dedicar ao atletismo se tornou cada vez maior. Sabia que teria que criar condições de mostrar aos meus pais minhas perspectivas em seguir carreira como corredora, apesar das poucas condições. Fui me decidindo, encarando como um ideal a ser conquistado passo a passo.
Nasci em Blumenau, minha família se estabeleceu em Joinville quando tinha 6 anos. Minha infância, até aos 10 anos, foi de pouca atividade. Após ter operado as amídalas, fiquei com mais saúde e energia. Fomos morar num pequeno sítio, que adorava. Tornei-me mais resistente e alegre.
Quando comecei a competir, a prova mais longa na pista era de 800m. Na São Silvestre de 1975 oficializava-se a participação feminina. Considero a minha geração de corredores de médias e longas distâncias como desbravadoras. Vivenciamos a implantação das provas mais longas, de 10km, 21km e maratona.
Minha oportunidade se deu em 1976, quase por acaso. Chegando ao treinamento de pista, vi o jornal Gazeta Esportiva na mesa do meu técnico, anunciando a eliminatória nacional da São Silvestre.
Cheia de esperança e estimulada, corri à noite os 8,9Km, cheio de subidas e descidas, Brigadeiro Luis Antonio e Consolação, tudo novidade. Para a minha felicidade, cheguei em segundo e fui considerada revelação. Em 1977 voltei e venci a eliminatória.
Em 1978 fiquei em quarto na final do dia 31 de dezembro e, então, fui convidada para fazer parte da equipe de atletismo do E. C. Pinheiros, em São Paulo. Esta mudança foi essencial para o meu amadurecimento atlético e humano.
Sempre fui determinada. Treinava duro, direcionada nos meus objetivos, buscando oportunidades. Quando deixei minha família no Sul foi difícil, mas me adaptei.
Nos momentos mais difíceis, o que importava era a minha corrida, focava meu objetivo. Se perdesse, lutaria para vencer a próxima. Na verdade, sempre encarei a corrida como um bem maior a ser cultivado em outras esferas de minha vida. Hoje sei que tive um ganho imenso mantendo esta mentalidade. Procurava estar um passo à frente para desenvolver uma dinâmica de treinos na qual a técnica, eficiência e concentração pudessem me levar a vitória e a superação.
Tive a oportunidade de treinar em Joinville. Meu primeiro técnico, natural do Japão, me orientou durante 5 anos. Acreditou no meu talento, me incutiu a disciplina e a necessidade de ter que treinar muito para melhorar. Em São Paulo, o técnico Carlos Ventura transmitiu-me o significado de competir forte em alto nível, principalmente nas provas de rua mais importantes no Brasil. Vencemos juntos.
Na equipe de Guarulhos, 1980 a 1983, o técnico Akio trabalhou a técnica e o refinamento para as provas de pista 1.500m, 3.000m e 10km. Levou-me a um patamar de treinos que foram imprescindíveis. O técnico Wanderlei de Oliveira, que orientava os corredores da Corpore, recém fundada, desenvolveu um trabalho direcionado para longas distâncias. Nossos treinos em Atibaia foram vitais para enfrentarmos as primeiras maratonas no Rio de Janeiro.
Correndo fui alcançando meus objetivos, realizando meus sonhos e muito mais. Conhecer parte do mundo, Japão, Indonésia, Austrália, EUA, América do Sul e Central. Na verdade, quando vencemos ou batemos um recorde, o momento é único, inesquecível. É quando tudo se concretiza. A corrida é um esporte individual e o atleta gera, em grande parte, suas perspectivas e, possibilidades.
Uma euforia contida e silenciosa. Foi o que senti ao vencer a Maratona Internacional do Rio de Janeiro, em 1987, ao vencer os 10km do Campeonato Brasileiro João Carlos de Oliveira, em Curitiba, ser recordista dos 3 mil no Troféu Brasil de 1981 e ser recordista de vitórias da Meia-Maratona Gazeta Esportiva. Representar o Brasil no Mundial de Maratona no Japão (Hiroshima), estar na praça onde caiu a bomba atômica, correr por entre as flores, as pequenas pontes e o verde dos jardins. Ser a melhor sul-americana na maratona de Nova Iorque em 1992 e ter representado a América do Sul num evento audacioso, patrocinado pela ONU, em 1986, denominada Corrida Mundial pela Paz e pelas crianças do mundo, enriquecendo-me humanamente com a equipe internacional de corredores e organizadores de cada continente.
Encarei esta convocação como um prêmio maior pela minha dedicação. Estive em centros de treinamento de muita estrutura, onde aprendi muito. Convivi com outras mentalidades, culturas e valores. Fiquei mais ciente da condição humana no mundo, e me realizei profundamente.
Há 15 anos como técnica do Pinheiros e à frente do Projeto Correr, dei continuidade a tudo que acredito, treinando e orientando atletas ou corredores amadores que querem, através da corrida e do treinamento sistemático, buscar novos horizontes e o aperfeiçoamento.
Eliana Reinert - Técnica E.C. Pinheiros de médias distâncias e maratona, resposável técnica do Projeto Correr/Eliana Reinert, campeã brasileira 10km Curitiba 1986 (35min39), vencedora da Maratona Internacional do Rio 87, ex-recordista e campeã do Troféu Brasil 1981/ 3.000m e melhor sul-americana na Maratona de Nova Iorque 1992.
Maratona · 17 nov, 2004
Espremido entre a Etiópia e o mar fica um país pequeno chamado Djibuti. Foi colônia francesa até 1977 e tem apenas 23.000 km². Fica próximo ao Quênia e Tanzania, todos países com tradição nas corridas de fundo e maratonas. E por que falar em Djibuti, país que poucos ouviram falar?
Simplesmente porque, nos anos 80, um técnico francês chamado Jacky Fournier tirou este pequeno e desconhecido país do anonimato, pelo menos no mundo esportivo.
O clima do país é exageradamente quente, de condições inóspitas, árido, seco e não tem muito a se fazer como atividade, assim, como outros países da região, as corridas são a melhor maneira de se alcançar ascensão social.
Um dia, Ahmed Saleh, aos 24 anos, ingressou numa prova cujo prêmio era uma cabra. Venceu com facilidade e foi incorporado às forças armadas, onde poderia se dedicar às corridas. Era com homens assim que Fournier trabalharia, levando-os a Paris. E lá foram Ahmed Saleh, Djama Robleh e Charmake. Com um treinamento adequado, apesar de terem que se acostumar ao frio e à neve, que desconheciam, participaram do 1º Campeonato do Mundo de Atletismo em 1983, em Helsinki. Acabou sendo frustrante. Saleh, impetuoso, não sabia correr em pelotão e o fez sempre em zigue-zague se desgastando para acabar caindo e fraturado a tíbia.
Recuperado, Saleh foi à forra e venceu a Maratona de Paris em 2h11min58, enquanto seu compatriota Robleh vencia a Maratona de Lyon, com 2h11min25, onde Saleh foi segundo, com 2h12min34. Foram duas maratonas em quatro semanas, o que acabou prejudicando o desempenho na maratona de Los Angeles, onde terminou em 20º, com 2h15min59, enquanto Robleh obteve um honroso 8º lugar, com 2h11min39 numa maratona olímpica que reuniu grandes nomes do atletismo mundial como Carlos Lopes, John Tracy, Rob de Castela e outros mais.
Saleh era ambicioso e queria mostrar sempre que era o melhor, enquanto Robleh seguia exatamente o planejamento do técnico. Saleh, às vezes, fugia do planejado para exagerar nos treinos, pagando o preço por isso. Mas a lição de Los Angeles foi positiva e deu a volta por cima em Hiroshima, onde estava sendo realizada a 1ª Copa do Mundo de Maratonas. Saleh marcou 2h08min09 a apenas 4 segundos do recorde mundial e seu compatriota Robleh fez 2h08min26, enquanto o inesperado Charmake fechou a equipe com 2h10min33, colocando o nome e a bandeira de Djibuti no lugar mais alto do pódio, não só na vitória individual de Saleh como por equipes.
Djibuti, assim, ficou definitivamente conhecida, pelo menos no atletismo mundial. Estes três atletas viraram heróis nacionais, com direito a assédio de diversas formas. Fournier, que os havia descoberto e revelado ao mundo, passou a ter dificuldades de controlá-los. Logo a seguir, Saleh foi à Maratona de Nova York e escapou do pelotão como um bólido disposto a bater a melhor marca mundial sem levar em conta as dificuldades do percurso.
Pagou o preço por siso. Extenuado, acabou surpreendido, no final, pelo italiano Pissolato.
O mesmo aconteceu em Chicago no ano seguinte, com o japonês Toshiniko Seko. Depois Saleh voltou a vencer, em Paris, em 1986.
Da força de Djibuti restava Saleh, que acreditava apenas nele, uma vez que Robleh estava sempre lesionado.
Em 1987, no mundial de Roma, Saleh estava seguro de que ganharia e acabou surpreendido pelo queniano radicado no Japão, Douglas Wakiihuri. O queniano marcou 2h11min48 e Saleh 2h12min30, mas, ainda assim, derrotou grandes nomes como Gelindo Bordin, Steve Moneghetti e Hugh Jones. Neste ano, Saleh venceu a Copa do Mundo de Maratona, em Seul, com 2h10min52.
Em 1988, nos Jogos Olímpicos de Seul, novamente se defrontaram Bordin, Waiikhuri e Saleh. Desta vez Saleh ficou em terceiro, com 2h10min59, enquanto Bordin venceu com 2h10min32. Saleh estava muito confiante em sua vitória, não só pela conquista na Copa do Mundo no mesmo percurso, em 1987, como porque havia corrido 2h07min07 em Rotterdan. Uma vez mais Saleh pagou por ter feito pouco dos seus e se isolado na liderança, sendo alcançado apenas na parte final da prova de Seul.
Depois dos Jogos de Seul, o grande feito de Saleh foi a segunda colocação obtida no mundial de Tóquio, em 1991, com 2h15min26. Em 2002, Ahmed Saleh criou o Centro de Formação e Desenvolvimento do Atletismo no Djibuti. Esta é a história de um homem que fez seu pequeno país ser conhecido mundialmente.
Ultra Maratona · 14 nov, 2004
Nascido em 05/01/58 em Rio Branco (AC), João Alves de Souza, o Passarinho foi um dos maiores atletas brasileiros nos anos 80/90. Acompanhou a mudança de sua família para Belém (PA) aos 2 anos de idade, onde passou toda a sua infância.
O começo aprendendo a jogar bola - Comecei jogando futebol. Era o último a ser escalado, quando faltava alguém. Passarinho ainda lembra do técnico da escola: Esquece isso de jogar futebol. Você corre demais com a bola e o campo acaba antes de você se livrar dela! Por quê não tenta as corridas?. Foi, então, apresentado a João de Deus, técnico do Clube 7 de Setembro. Venceu sua primeira competição logo na primeira semana. Continuou vencendo e seu talento despertou o interesse do Clube do Remo. Como infanto-juvenil já integrava a equipe e complicava a vida dos adultos. Tudo aconteceu muito rapidamente. Quando ia para a pista me sentia à vontade e tudo vinha naturalmente. Sua primeira grande competição foram os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) de 74, em Brasília. E em 75 lá estava ele novamente nos JEBs, conquistando o 2o lugar.
João virá Passarinho - Em 76 João competiu e venceu a Volta da Pampulha. Foi lá que ganhei o apelido, recorda. Disseram que eu era muito pequeno e voava como um passarinho... A partir daí começou a receber convites de equipes de todo o Brasil todos recusados. Eu tinha medo de deixar a segurança da minha família. O CR Flamengo insistiu e acabou convencendo o atleta a tentar a sorte. Fiquei lá 2 anos, treinando e competindo, lembra. Seu ídolo era o grande atleta Eloy Schleder, de quem não esconde admiração até hoje, e de quem se tornou um grande amigo. Queria treinar e correr como ele.
Depois do Flamengo, competi pela ADPM de São Paulo e pelo Sesi Santo André a equipe virou Funilense em 90. Competi até 94.
As Conquistas - As principais conquistas de Passarinho foram 7 participações em Campeonatos Mundiais (Cross Country), 3 pódios na São Silvestre (sempre como o melhor brasileiro), vitórias nos 5.000 e 10.000m no Campeonato Brasileiro e Troféu Brasil, conquistas de provas internacionais (Maratona RJ e Meia-Maratona RJ e Maratona de Munique) e dezenas de outras provas. Mas o troféu mais valioso carrego junto comigo a todos os lugares onde vou: os amigos que pude fazer e cultivar ao longo de todos esses anos.
A parada forçada - O excesso de treinos e competições cobrou o seu preço: em 94 foi detectada uma fratura por estresse. Durante 6 longos e difíceis anos, Passarinho teve de aguardar a recuperação. Foram os anos mais difíceis da minha vida. Fiquei longe das competições, mas não abandonei o atletismo. Aproveitou o período para estudar (atualmente é administrador de uma fazenda em Campinas). Não posso deixar de lembrar que, mesmo ausente das competições, a equipe continuou me patrocinando. Só tenho a agradecer à pessoa do Sérgio L. C. Nogueira.
A volta as pistas - Há 3 anos, recuperado da lesão, Passarinho aceitou o convite para Diretor Técnico da CUCA (Corredores Unidos de Campinas) e lá ficou até 2002. Nesse período coloquei como objetivo o treinamento de novos atletas, procurando passar minha experiência. No final de 2002, passou a ser o Diretor Técnico da SERGEL SPORTS, uma equipe amadora de Campinas, na qual permanece até hoje. Meu desejo é poder dar aos novos atletas oportunidades que outros também me deram. Devo confessar que me realizo a cada bom resultado de um dos meus atletas. E não poupa elogios ao patrocinador da sua atual equipe, Sérgio A. Silveira: O Sérgio custeia a sua equipe por amor ao atletismo, mesmo que isso não se reverta em lucro para os seus negócios.
O futuro - O meu tempo de atleta já passou; agora é a vez das novas gerações, afirma Passarinho. Mas não acreditem nisso completamente. O Passarinho treinador colocou seu uniforme de atleta no começo deste ano para vencer a difícil Maratona das Águas. E não se surpreendam se o nome dele ainda aparecer no topo de provas de longas distâncias como Maratonas e Ultramaratonas: ele continua ativo e cada vez mais experiente.
Corridas de Rua · 01 nov, 2004
Fico muito contente em ser lembrado para estar escrevendo esse relato para a revista SuperAção. Gostaria também que fossem lembrados outros atletas do passado. Aqueles que contribuíram com esse esporte.
Sinto muita saudade do atletismo, mas estou acompanhando de longe. Na década de 80, quando havia muitas corridas de fundo e meio fundo, dei a minha contribuição, participando de várias provas e de grandes competições.
Comecei minha história no atletismo em 1971, quando tinha 13 anos. Nessa época, ainda morava em Maceió, Alagoas, minha terra natal. Tinha um primo que fazia 400 metros e outro que praticava salto com vara. Foi aí que eles me chamaram para participar dos Jogos Escolares e acabei competindo no 4 x 400m. Um dos professores me viu correndo e disse que eu tinha jeito. Estudava na Escola Técnica Federal de Alagoas e foi ali que começou minha trajetória pelas pistas e ruas do Brasil e do mundo.
Lembro da minha primeira prova com uma distância maior, de seis quilômetros. Logo nessa "estréia", ganhei a Corrida da Fogueira, coisa que jamais tinha imaginado. No ano dessa vitória, participei pela primeira vez da Corrida Internacional de São Silvestre, quando cruzei a linha de chegada na 101ª colocação, sendo o melhor atleta alagoano da prova. O resultado foi muito importante para mim e para meu Estado, tanto que recebi uma premiação dada pelo então governador Divaldo Suruagy.
Depois disso vim para São Paulo correr pela equipe Matarazzo. Aliás, entre as várias equipes pelas quais competi, na verdade em todas, eu era funcionário da empresa. Não vivi somente do esporte. Tinha que trabalhar e aproveitava a ajuda da empresa para correr.
E foi assim que fui disputar a primeira maratona, em Frankfurt, Alemanha. Fui representando a Hoechst, empresa que organizava a prova. Dessa maneira corri duas vezes na Alemanha. E foi lá que marquei o tempo de 2h14, marca que acreditava ser suficiente para disputar a Olimpíada de Los Angeles. Isso porque o Edvaldo Gomes, presidente da Confederação Brasileira, na época, havia declarado que o atleta que marcasse o tempo de 2h18 estaria convocado para ir aos Jogos de 84. Como fiz 2h14, tinha certeza que iria realizar esse sonho. Porém, quando voltei, estavam falando de uma seletiva, que seria a Maratona Atlântica/Boa Vista. Como tinha corrido 15 dias antes, não participei da prova e acabei ficando de fora da briga pela vaga.
Na época em que eu competia, havia muitas meia maratonas. Lembro-me que tinha um circuito de provas da Mesbla, que tinha meia maratona, provas de 10 e 15 quilômetros. Ganhei as oito provas que compunham o circuito.
Entre outras coisas, me orgulho de ter feito parte da equipe brasileira na disputa do Mundial de Maratona, disputado em Hiroshima, Japão. Fui o segundo melhor brasileiro e o 38º no geral.
Posso dizer que o atletismo foi tudo para mim. Não me arrependo de nada, nem das dificuldades vividas. É verdade que na época em que perdi a chance de disputar uma Olimpíada fiquei desanimado, pois seria a realização de um sonho. Não fui como atleta, mas pude conferir os Jogos de perto trabalhando como massagista do Comitê Olímpico Brasileiro, no qual faço parte do departamento médico. Estive presente em Sydney/00 e também nos Pan-Americanos de Winnipeg (99) e Santo Domingo (2003).
Hoje trabalho na equipe de vôlei da Unicsul, em Santa Catarina, além de fazer parte do Departamento Médico do Comitê Olímpico Brasileiro.
Corridas de Rua · 31 out, 2004
Festas de final de ano e férias são momentos para relaxar, mas sem deixar de lado a atividade física e os treinos moderados.
Festas de final de ano. Férias de verão. Depois de um ano de trabalho, muito treino e competições, é hora de descansar e aproveitar bons momentos ao lado da família e amigos. Corpo e mente precisam de um tempo para recarregar as baterias e render o máximo no ano que virá. O segredo nesse período, segundo especialistas, é equilibrar os momentos de lazer com a manutenção da forma física. Nem manter o mesmo ritmo de treino ou tentar aumentar em função do tempo livre. Nem esquecer que a vida segue e se empanturrar deitado numa rede a beira mar. Os dois maiores erros são treinar em excesso ou o oposto, relaxar demais. E, na volta a rotina de treinos, se treinaram em excesso nas férias, apresentam sinais típicos de overtraining. Se relaxaram, nota-se a perda de condicionamento, explica o técnico André Vázquez.
No esporte profissional e amador, o rendimento cai quando o atleta ou esportista está desgastado física ou emocionalmente. Cabe ao treinador observar e detectar que tipo de cansaço o indivíduo se encontra e recomendar o melhor descanso, ativo ou passivo. Nas férias, se o esportista competiu muito durante o ano ou treinou exaustivamente, o recomendável é que fique alguns dias em descanso total, algo em torno de 3 a 6 dias. Em seguida, deve começar a prática de atividades físicas. Não existe uma regra geral, pois depende muito de cada indivíduo, explica o técnico Mário Mello, da equipe Mários Team.
Para o iniciante, os treinadores recomendam não interromper a atividade física nas férias. Para não ficar parado e ao mesmo tempo sair da rotina, deve-se praticar outras modalidades. Nadar ou pedalar são excelentes opções. Dessa forma, consegue-se um descanso mental e o uso de outros grupos musculares, diferenciando o movimento que já se faz rotineiramente no treino de corrida. Um alerta dos especialistas. Para evitar lesões, é bom ficar distante de esportes de risco ou coletivos, como escalada e o futebol, por exemplo.
Férias são férias e é importante escolher um roteiro que agrade toda a família. Mas, se possível, os treinadores recomendam a escolha de lugares tranqüilos. Os ideais são aqueles que tenham a possibilidade de praticar atividades físicas variadas e opções de alimentação saudável, principalmente em contato com a natureza. Quanto mais priorizar programas noturnos, como boates, shows, cassinos, etc, mais contribuirá negativamente para a manutenção da forma. A questão é o exercício estar vinculado com o dia e não com noite, aconselha Cláudio Castilho, presidente da ATC (Associação dos Treinadores de Corrida de São Paulo).
Sérgio Bunioto, diretor técnico da BK Sports Assessoria Esportiva, completa. A escolha do local é muito importante. O corredor deve sempre procurar por lugares paradisíacos, com clima tropical, pouco movimentados e de grande contato com a natureza. Correr em praias desertas ou trilhas em meio ao campo são excelentes relaxantes mentais. Procure por hotéis próximos, ou que facilitem o acesso a esses lugares, longe do concreto urbano e dê preferência à locais equipados com piscina ou banheira de hidromassagem. Após uma corrida, nada melhor que um bom banho para recuperar as energias.
Somente em casos particulares (contusão, por exemplo) é indicado o descanso total. Nos demais casos, o nome é descanso ativo, porque descuidar do corpo pode retroceder o condicionamento adquirido a custa de muito suor. Segundo a treinadora Yara Coltro, da equipe Ironman Assessoria Esportiva, o corredor deve relaxar, mas sem esquecer dos trotes. O atleta tem que encarar as férias como férias e não continuar seus treinos com tiros, intervalados e fartleks (forte e fraco), mas não pode de jeito nenhum deixar de fazer seus trotes de três a cinco vezes por semana, esteja ele onde estiver.
A variação de terrenos é uma discussão entre os especialistas. Contudo, há o consenso de que pisos duros, como asfalto e concreto, são grandes vilões para os corredores. Grama e terra são mais indicados. Mas é preciso cuidado, principalmente porque o atleta, normalmente, pouco conhece do percurso. Gramados acidentados, por exemplo, pode ser muito mais lesivo que correr na rua. É fundamental saber onde pisa, literalmente. O treinador José Rubens DElia lembra que a falta de atividade compromete ainda a flexibilidade, sem contar o perigo do aumento de peso em função de eventuais exageros típicos de férias prolongadas, associados a falta de treino.
É necessário também pensar no pós-férias. No retorno às atividades, deve-se conter a euforia, como avisa Sérgio Bunioto. Após o descanso, o principal desafio do corredor é conter o entusiasmo na volta aos treinos. Com a motivação lá em cima, é comum encontrarmos corredores atropelando a readaptação fisiológica. Nessa hora, a orientação do treinador é de vital importância para assegurar o gradual retorno, preservando a integridade do atleta.
Dicas para "sobreviver" às férias (*)
(*) Cláudio Castilho (Diretor técnico da equipe Saúde e Performance, técnico de atletismo pista do Esporte Clube Pinheiros e presidente da ATC São Paulo).
Maratona · 25 out, 2004
É com imenso prazer e satisfação que escrevi esse relato para a revista SuperAção, que tem contribuído para o desenvolvimento e divulgação do atletismo nacional.
Iniciei minha carreira esportiva no vôlei, que na época era minha grande paixão. Jogava como federada no C.R.Flamengo, quando fui observada pela treinadora de atletismo Érica Resende, que me convidou à fazer parte de sua equipe e me incentivou a mudar de modalidade. Rapidamente percebi que numa modalidade individual teria maior possibilidade de conseguir êxito, pois não dependeria de um grupo, mas, sim, do meu próprio esforço e dedicação. Passados apenas seis meses no atletismo, fui convocada a participar do CEBs (Pará) e logo a seguir do JEBs (Brasília), eventos que consolidaram a minha decisão de seguir no atletismo.
Apesar de ter tido apoio familiar para a prática esportiva, sempre me foi colocado que meus estudos eram prioritários. Por isso, só me dediquei 100% ao atletismo depois de minha licenciatura em Educação Física, cursada na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, onde fazia parte da equipe que na época foi pentacampeã do Troféu Brasil.
Fui campeã da Maratona de São Paulo em 1986 e como prêmio ganhei uma moto e uma passagem aérea para correr a Maratona de Londres. Como ainda não me encontrava em condições ideais para participar de uma prova como esta, resolvi alterar o roteiro, para um melhor fim, e viajei para Portugal em 1987 com o intuito de fazer um estágio na Escola Portuguesa de Meio-Fundo e Fundo, uma das melhores do mundo. Em boa hora o fiz, porque conheci e convivi com grandes treinadores, tais como Moniz Pereira, Fonseca e Costa, Antonio Campos, Bernardo Manuel, Sameiro Araújo. Hoje grandes amigos meus.
Fiz estágio no Sport Lisboa e Benfica, onde viria a conhecer Rita Borralho, que veio a ser minha treinadora durante toda a minha carreira de alto nível.
Por dificuldades de patrocínio e falta de apoio dos clubes no Brasil, decidi permanecer em Portugal. Alem disso, na Europa o acesso a competições importantes era mais fácil e correr ao lado de atletas de alto nível e grande experiência proporcionava-me vantagens na busca por melhores resultados.
Representei dois clubes em Portugal: o Maratona Clube de Portugal e o C.F. Belenenses, aos quais deixo aqui o meu agradecimento pelo acolhimento e carinho com que fui tratada.
Representei o Brasil na Copa do Mundo de Maratona, Campeonatos Mundiais de 15km e Cross Country, Sul-Americano de pista e o mais almejado por todos os atletas, os Jogos Olímpicos, realizados em Barcelona, em 1992.
Depois de ter alcançado todos os objetivos aos quais me propus, decidi encerrar minha carreira em competições de alto nível em 2002, após ter participado da São Silvestre de Luanda, Angola.
No momento, dedico-me ao projeto que idealizei, JM Global Performance, sobre condicionamento físico e alto rendimento. Pretendo contribuir, de alguma forma, para o crescimento do movimento da corrida e também descobrir novos talentos para o nosso atletismo.
Maratona · 15 out, 2004
Neste mês vou falar de dois eventos em que estive e onde esteve também o Vanderlei Cordeiro de Lima, a Corrida Integração, em Campinas, e o Revezamento Pão de Açúcar, em São Paulo.
Em ambos, Vanderlei, com sua forma simples, simpática e humilde, roubou a cena e, seguramente, foi a grande atração.
No dia 19 de setembro, na Corrida Integração, que já venceu a prova em 1995,1997 e 1999, fez questão de comparecer e acabou recebendo uma bela homenagem dos organizadores da prova, a EPTV. Vanderlei passou muitos anos treinando em Campinas, tem vínculos com a cidade onde ainda possui apartamento e onde mora seu treinador, Ricardo DAngelo, e muitos amigos.
Mesmo tendo passado boa parte da madrugada anterior concedendo entrevista à uma TV do Japão, Vanderlei chegou ao local da prova às 9h15. Às 9h30 deu a largada e, a partir deste momento, passou a atender com humildade e simplicidade a todos que se aproximavam pedindo autógrafos ou fotos, com direito a interrupção apenas durante a premiação e a homenagem.
Todos se encantaram com a disposição do atleta em atender e falar com todos os fãs e admiradores. Permaneceu no Taquaral, local da corrida, até às 12h30, quando todos já tinham falado ou tirado fotos com ele. Foi uma verdadeira lição de quem é, e sempre será, simples e humilde e de que o sucesso e o assédio não lhe subiram à cabeça.
A Integração, que teve uma organização excelente, recebeu inúmeros corredores de elite. A vitória de Franck Caldeira, que repetiu a conquista do ano passado, foi realmente convincente. No feminino, a vitória foi da queniana Debora Menich, mas devemos louvar a corrida da baiana Marily dos Santos, que terminou em segundo e ainda foi prejudicada por alguns amigos da onça que, no intuito de aparecer, acabaram ajudando a queniana no ultimo quilômetro de prova.
No Revezamento Pão de Açúcar, Vanderlei foi, mais uma vez, a estrela. Na tarde de sexta-feira, dia 24, dominou as atenções ao visitar a Feira de Esportes e Saúde, que faz parte do evento, quer na entrevista coletiva, quer nas voltas que deu pelo local, sobretudo nos estandes da Nike, do PA Club e da SuperAção/Webrun. Uma vez mais atendeu a todos que lhe pediram fotos e autógrafos.
No domingo, dia 26, Vanderlei chegou cedo. Não só para participar da equipe nº 1 comandada por Abílio Diniz como o 7º homem, mas também para torcer pelos companheiros de Club BM&F, que teriam uma difícil e árdua batalha para derrotar a equipe do Cruzeiro. Vanderlei não correu na equipe BM&F, pois, como desde que correu a Maratona dos Jogos Olímpicos em Atenas não retornou aos treinos, o técnico Ricardo DAngelo decidiu poupá-lo. Escolheu como substituto um jovem de 19 anos, João Stingelin, que foi descoberto pelo próprio Vanderlei no Paraná e trazido para Campinas. Singelin, que estreava na prova, não deixou por menos e manteve a diferença de mais de 1 minuto sobre o Cruzeiro, fazendo com que a equipe BM&F, com patrocínio do Pão de Açúcar, se sagrasse bicampeã.
Na premiação, Vanderlei Cordeiro de Lima mostrava a sua simpatia e simplicidade e uma alegria redobrada ao ver o seu pupilo e descoberta João Stingelin, ainda juvenil, brilhar no lugar mais alto do pódio.
Maratona · 15 set, 2004
Ainda me lembro do alto conceito brasileiro nas corridas de fundo e maratonas, que começou no início dos anos 80, com o José João do Silva. Nesta época o nosso José João, que foi bicampeão da São Silvestre, treinando com o prof Carlos Ventura, participava de diversas provas internacionais e era um nome respeitado, com conquistas e colocações importantes em provas fora do País. Foi o nosso primeiro destaque internacional no fundo.
Na segunda metade da década de 80, quando começavam a despontar inúmeros quenianos e etíopes no cenário internacional, ocupando lugares antes reservados a europeus e australianos, alguns atletas nacionais passaram a representar com destaque o nosso País em provas internacionais, como Delmir dos Santos, Arthur Castro, Adauto Domingues, Eloi Schleder. E outros foram surgindo, como João Alves de Souza, o Passarinho, Diamantino Silveira Santos (que venceu a famosa Stramilano, na Itália) e outros mais.
Mas foi na década de 1990 que o Brasil passou a ser realmente considerado como um País respeitável nas provas de fundo, já totalmente dominadas pelos africanos. Na década 90, tivemos ótimos resultados no masculino e também bons no feminino, com Carmem de Oliveira Furtado, Silvana Pereira e Roseli Machado.
No masculino, tivemos feitos importantíssimos que devem ser lembrados, como o recorde mundial na Maratona de Ronaldo da Costa, em 1998, em Berlim; a medalha de bronze do Luís Antonio dos Santos na maratona do Mundial de Gottemborg, na Suécia, em 1995; a medalha de bronze por equipes conquistada em 1997, em Atenas, na Copa do Mundo de Maratona (equipe com Vanderlei Cordeiro de Lima, Luís Antonio dos Santos, Osmiro Silva e Valdenor dos Santos); a medalha de ouro na prova de 20km no Mundial Juvenil de 1994, em Lisboa, obtida por Clodoaldo Gomes da Silva; a medalha de bronze de Ronaldo da Costa no Mundial de Meia Maratona de 1994, em Oslo; a medalha de bronze por equipes no Mundial de Meia Maratona de 1992, em Tyneside (equipe com Arthur Castro, Delmir dos Santos e Ronaldo da Costa); além de medalha de prata no Mundial de Ekiden, em 1996, em Copenhagem; e bronze no Mundial de 1998, em Manaus; a vitória de Emerson Iser Bem no Cross das Amendoeiras em Portugal, em 1996 (em prova válida pelo Circuito Mundial de Cross); a vitória de Vanderlei Cordeiro de Lima na Maratona de Tóquio, em 1996 (derrotando no sprint final o português Antonio Pinto, um dos melhores nomes mundiais da época); além de outros bons resultados obtidos por diversos destes atletas no cenário internacional.
Depois destes anos de euforia, os nossos atletas, por razões diversas, passaram a não mais produzir resultados deste nível internacional, exceto algumas participações de Vanderlei Cordeiro de Lima e fomos ficando relegados a um segundo plano.
Mas parece que os bons tempos vão voltar, não só pela medalha de bronze com sabor de ouro conquistada pelo Vanderlei em Atenas, mas, sobretudo, porque desde 1998 não tínhamos dois atletas considerados ao mesmo tempo entre os melhores do mundo em corridas de rua. No ranking atual da IAAF, Vanderlei aparece na 8ª colocação e Marilson Gomes dos Santos na 39ª posição. Outros brasileiros poderão chegar lá, como Paulo Alves, Franck Caldeira e Romulo Wagner. No feminino, o caminho a percorrer é mais longo, pois estamos mais distantes das melhores do mundo, mas a luz já começa a aparecer no fim do túnel, com Ednalva Laureano, Fabiana Cristine, Michele Costa, Lucélia Peres e Zenaide Vieira, que foi finalista do Mundial Juvenil nos 3.000m com obstáculos.
Vemos, com alegria, que os bons tempos podem voltar. Resta torcer agora pelo sucesso de nossos atletas.
Maratona · 15 ago, 2004
Nascido em setembro de 1938, o britânico Ron Hill acabou se tornando dos grande nomes na história das maratonas casualmente. Foi num final de semana em que não tinha outra prova para correr e acabou disputando a Maratona de Liverpool, que venceu com 2h24min22. Mas sentiu-se desconfortável e, ao final, disse que nunca mais encararia outra. Coisa de maratonistas em final de prova. Hill já era um nome conhecido em Corridas de Rua e Cross, mas foi nas maratonas que se consagrou. Com dedicação e muito estudo acabou inserindo inovações e mudanças importantes na abordagem à prova.
Hill teve uma carreira longa, duradoura e indiscutivelmente foi quem mais tempo competiu em maratonas em alto nível, se bem que faltou um grande resultado olímpico.
Temos que considerar que em sua época ainda não havia ocorrido o boom das maratonas e que o campo para as descobertas e inovações ainda estava fértil, a começar pelos uniformes e material de corridas. Como químico na área têxtil, deu uma grande contribuição, revolucionando o desenvolvimento de modelos de calções e uniformes. Criou a confecção Ron Hill, de muito sucesso.
Outra grande contribuição de Hill foi na área de nutrição, na qual advogou e defendeu o carbo loading na preparação para participação nas provas de longa quilometragem, como a maratona. Basicamente, consistia na alimentação carregada em carboidratos nos últimos dias que antecedem a prova, depois de dias com alimentação forte em proteínas, acarretando uma maior reserva de carboidratos. Estes conhecimentos antecederam os tradicionais jantares ou festas de massas realizados antes das grandes maratonas.
Sua primeira grande vitória foi na antes tradicional Maratona Politécnica Harriers, com 2h20min59. Depois, participou dos 10.000m e maratona dos Jogos Olímpicos de Tóquio, ainda não muito conhecido, terminando num apagado 19º, em 2h25min34.4, depois de ter participado discretamente dos 10.000m, marcando 29min53. Continuou se dedicando aos estudos de como evoluir na prova. Aprendeu, com disciplina e rotina, as melhores formas de se desenvolver e, conhecendo cada vez mais as mudanças térmicas do corpo, também aos equipamentos e dietas.
A consagração de Ron Hill veio em 1969, aos 30 anos, no Europeu, em Atenas, onde o grande destaque era o belga Gaston Roelants. Hill surpreendeu vindo de trás e usando um uniforme diferente, mas adequado, de sua criação para vencer em 2h16min47.8, dando início a uma carreira vencedora não só do ponto de vista atlético, como comercial. A griffe Ron Hill passou a ser moda entre os corredores de longa distância.
Após ter se destacado em Atenas, no Europeu, Ron Hill conseguiu, em abril de 1970, uma grande vitória em Boston, com 2h10min30, novo recorde europeu. Logo após, nos Jogos da Commonwealth, em Edimburgh, nova vitória em 2h09min28, uma marca excepcional para a época.
Enquanto suas vitórias se seguiam, a griffe Ron Hill também crescia e se desenvolvia. Hill não se deu bem uma vez mais em Jogos Olímpicos, em Munique, na umidade excessiva do dia da prova, mesmo tendo liderado boa parte, terminou em 6º, com 2h16min30.6. Mas assistimos a consagração do norte-americano Frank Shorter, que foi, talvez, a responsável principal pelo grande boom das maratonas nos EUA.
Aos 34 anos, depois de Munique, Ron Hill, recordista mundial das 10 milhas (46min44), 15 milhas e 25km, este em 1h15min22.6, derrubando marca do fenomenal Emil Zatopek, tornou-se um atleta que correu o mundo, tendo vencido maratonas em todos os continentes, sendo um exemplo de longevidade e dedicação.
Este é Ron Hill, um exemplo e uma legenda na maratona pelos resultados conquistados e pelo desenvolvimento e inovações na preparação e abordagem à modalidade.
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