superacao

Mitos das corridas longas nos Jogos Olímpicos

Nesta edição, pouco antes dos Jogos Olímpicos de Atenas, nada mais certo do que falar de três grandes nomes do atletismo mundial em Olimpíadas para servir de motivação para nossos atletas e, sobretudo, servir de preparativo para todos nós, amantes do esporte, que em agosto estaremos com nossas atenções voltadas para a Grécia.

Vamos começar falando do finandês Johannnes Kolehmainem, que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de prata nos Jogos de 1912 e 1920. Em 1912, em Estocolmo, Kolehmainen venceu os 5.000, os 10.000 e o cross country (que na época era modalidade olímpica) e foi medalha de prata por equipes no cross. Memorável foi a prova dos 5.000, quando teve uma árdua batalha para vencer, com recorde mundial, na época, com 14:36.6. Em 1916 não pôde dar continuidade às conquistas em função da não realização dos Jogos devido à 1ª Guerra Mundial. Quando os Jogos retomaram seu caminho, em 1920, em Antuérpia, venceu a maratona.

Outro destaque, considerado por muitos como o grande nome, é o checo Emil Zatopek, a Locomotiva Humana, que em 1948 ganhou os 10.000, em recorde mundial com 29:56.6. Aliás, Zatopek, que não era o favorito, imprimiu um ritmo alucinante, fazendo não só com que seus principais adversários não resistissem e desistissem, como também fez com que a arbitragem se equivocasse e anunciasse o final uma volta antes. Felizmente Zatopek fazia as contas e deu a volta adicional contra a orientação da arbitragem, para cumprir o percurso completo. Em Londres, três dias após a façanha dos 10.000, correu, ainda cansado, os 5.000 e foi medalha de prata. Mas foi em Helsinqui, na Finlândia, terra de fundistas, que veio a grande consagração de Zatopek, pois venceu, inicialmente com folga, os 10.000m, com 29:17.0. E quando todos esperavam que corresse “apenas” a maratona, surgiu para se alinhar e vencer os 5.000m, derrotando uma vez mais o francês Alain Mimoun, que já havia sido medalha de prata em Londres e nos 10.000 de Helsinqui (Mimoun iria conseguir sua sonhada medalha de ouro na maratona de 1956, em Melbourne, numa prova em que o próprio Zatopek, se recuperando de cirurgia, foi sexto).

Zatopek tem em seu cartel quatro medalhas de ouro e uma de prata. O mais marcante é o fato ter ganho três ouros em Helsinqui.

Propositalmente deixei por último aquele que considero o grande nome de todos os tempos: o finlandês Paavo Nurmi. Nos Jogos de 1920, em Antuérpia, Nurmi ganhou a medalha de ouro no cross e ainda venceu no cross por equipes. Também ganhou os 10.000m, tendo perdido apenas os 5.000m na estréia em Jogos Olímpicos, para o francês Joseph Guillemot, veterano da 1ª Guerra.

Nos Jogos de Paris, em 1924, tivemos um show de Nurmi em varias provas.

Venceu os 1.500m, e ainda teve que se poupar, pois 55 minutos após correria os 5.000m. Como sempre fazia, correu com cronômetros à mão, regulando o ritmo para não se desgastar em demasia. Resultado: nova vitória nos 5.000, deixando o compatriota Ville Ritola em segundo. No cross country, nova vitória de Nurmi sobre Ritola, com mais uma medalha de ouro por equipes e, finalmente, mais uma medalha de ouro, desta vez nos 3000m por equipe, prova em que foi uma vez o mais rápido de todos com 8:32. E o grande Nurmi não ficou satisfeito com a não escalação nos 10.000m, pois os dirigentes acharam que seria demasiado para ele. Decidiu, no mesmo dia da final dos 10.000, treinar forte a distância para mostrar que poderia vencer. Ao terminar, havia marcado um tempo superior ao de recorde mundial. Nurmi saiu de Paris com cinco medalhas de ouro (que poderiam ter sido seis se tivesse corrido os 10.000m).

Nos Jogos de Amsterdan, em 1928, Nurmi resolveu fazer uma incursão numa prova em que não era especialista, os 3.000 com obstáculos. Foi medalha de prata, perdendo para o compatriota Loukola. Nos 10.000m, mais uma vitória, derrotando o compatriota Ritola. Nos 5.000m, ganhou prata, perdendo para Ritola, mas numa prova que sempre ficou a dúvida se Nurmi se empenhou a fundo ou se deixou o compatriota vencer.

O grande Paavo Nurmi ainda sonhava em ganhar uma última medalha nos Jogos de 1932, em Los Angeles, onde disputaria a Maratona, mas foi proibido de participar poucos dias antes por ter recebido acima do permitido à época para disputar algumas corridas. Isso deixou Nurmi profundamente abalado e só foi redimido nos Jogos de 1952, em Helsinqui, quando foi escolhido para entrar no estádio carregando a Tocha Olímpica. Sem dúvida, Nurmi com suas nove medalhas de ouro e três de prata, é o exemplo a ser seguido.

Outros grandes nomes vieram depois, como Abebe Bikia, Lasse Viren, Waldemar Cierpinski, entre outros grandes nomes ainda virão .
Vamos torcer para vermos em Atenas, Pequim, e no futuro, o surgimento de novos ídolos e ícones para o nosso esporte.


Mitos das corridas longas nos Jogos Olímpicos

Maratona · 15 jul, 2004

Nesta edição, pouco antes dos Jogos Olímpicos de Atenas, nada mais certo do que falar de três grandes nomes do atletismo mundial em Olimpíadas para servir de motivação para nossos atletas e, sobretudo, servir de preparativo para todos nós, amantes do esporte, que em agosto estaremos com nossas atenções voltadas para a Grécia.

Vamos começar falando do finandês Johannnes Kolehmainem, que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de prata nos Jogos de 1912 e 1920. Em 1912, em Estocolmo, Kolehmainen venceu os 5.000, os 10.000 e o cross country (que na época era modalidade olímpica) e foi medalha de prata por equipes no cross. Memorável foi a prova dos 5.000, quando teve uma árdua batalha para vencer, com recorde mundial, na época, com 14:36.6. Em 1916 não pôde dar continuidade às conquistas em função da não realização dos Jogos devido à 1ª Guerra Mundial. Quando os Jogos retomaram seu caminho, em 1920, em Antuérpia, venceu a maratona.

Outro destaque, considerado por muitos como o grande nome, é o checo Emil Zatopek, a Locomotiva Humana, que em 1948 ganhou os 10.000, em recorde mundial com 29:56.6. Aliás, Zatopek, que não era o favorito, imprimiu um ritmo alucinante, fazendo não só com que seus principais adversários não resistissem e desistissem, como também fez com que a arbitragem se equivocasse e anunciasse o final uma volta antes. Felizmente Zatopek fazia as contas e deu a volta adicional contra a orientação da arbitragem, para cumprir o percurso completo. Em Londres, três dias após a façanha dos 10.000, correu, ainda cansado, os 5.000 e foi medalha de prata. Mas foi em Helsinqui, na Finlândia, terra de fundistas, que veio a grande consagração de Zatopek, pois venceu, inicialmente com folga, os 10.000m, com 29:17.0. E quando todos esperavam que corresse “apenas” a maratona, surgiu para se alinhar e vencer os 5.000m, derrotando uma vez mais o francês Alain Mimoun, que já havia sido medalha de prata em Londres e nos 10.000 de Helsinqui (Mimoun iria conseguir sua sonhada medalha de ouro na maratona de 1956, em Melbourne, numa prova em que o próprio Zatopek, se recuperando de cirurgia, foi sexto).

Zatopek tem em seu cartel quatro medalhas de ouro e uma de prata. O mais marcante é o fato ter ganho três ouros em Helsinqui.

Propositalmente deixei por último aquele que considero o grande nome de todos os tempos: o finlandês Paavo Nurmi. Nos Jogos de 1920, em Antuérpia, Nurmi ganhou a medalha de ouro no cross e ainda venceu no cross por equipes. Também ganhou os 10.000m, tendo perdido apenas os 5.000m na estréia em Jogos Olímpicos, para o francês Joseph Guillemot, veterano da 1ª Guerra.

Nos Jogos de Paris, em 1924, tivemos um show de Nurmi em varias provas.

Venceu os 1.500m, e ainda teve que se poupar, pois 55 minutos após correria os 5.000m. Como sempre fazia, correu com cronômetros à mão, regulando o ritmo para não se desgastar em demasia. Resultado: nova vitória nos 5.000, deixando o compatriota Ville Ritola em segundo. No cross country, nova vitória de Nurmi sobre Ritola, com mais uma medalha de ouro por equipes e, finalmente, mais uma medalha de ouro, desta vez nos 3000m por equipe, prova em que foi uma vez o mais rápido de todos com 8:32. E o grande Nurmi não ficou satisfeito com a não escalação nos 10.000m, pois os dirigentes acharam que seria demasiado para ele. Decidiu, no mesmo dia da final dos 10.000, treinar forte a distância para mostrar que poderia vencer. Ao terminar, havia marcado um tempo superior ao de recorde mundial. Nurmi saiu de Paris com cinco medalhas de ouro (que poderiam ter sido seis se tivesse corrido os 10.000m).

Nos Jogos de Amsterdan, em 1928, Nurmi resolveu fazer uma incursão numa prova em que não era especialista, os 3.000 com obstáculos. Foi medalha de prata, perdendo para o compatriota Loukola. Nos 10.000m, mais uma vitória, derrotando o compatriota Ritola. Nos 5.000m, ganhou prata, perdendo para Ritola, mas numa prova que sempre ficou a dúvida se Nurmi se empenhou a fundo ou se deixou o compatriota vencer.

O grande Paavo Nurmi ainda sonhava em ganhar uma última medalha nos Jogos de 1932, em Los Angeles, onde disputaria a Maratona, mas foi proibido de participar poucos dias antes por ter recebido acima do permitido à época para disputar algumas corridas. Isso deixou Nurmi profundamente abalado e só foi redimido nos Jogos de 1952, em Helsinqui, quando foi escolhido para entrar no estádio carregando a Tocha Olímpica. Sem dúvida, Nurmi com suas nove medalhas de ouro e três de prata, é o exemplo a ser seguido.

Outros grandes nomes vieram depois, como Abebe Bikia, Lasse Viren, Waldemar Cierpinski, entre outros grandes nomes ainda virão .
Vamos torcer para vermos em Atenas, Pequim, e no futuro, o surgimento de novos ídolos e ícones para o nosso esporte.

Sonho frustado. Projeto reprovado. Programa ainda zerado

Todos pensamos, um dia, em poder assistir ao vivo uma Olimpíada. Isso mesmo para os não tão ligados aos esportes, pois, sabidamente este é o maior de todos os eventos, tanto que verdadeiros recordes de audiência e de publico são sistematicamente quebrados.

Felizmente, tive a oportunidade de estar presente em dois Jogos Olímpicos, o de Atlanta - que apesar de não ter tido o brilhantismo que se esperava, para mim já foi uma grande emoção ter estado presente como platéia - e o de Sidney - que foi um espetáculo e show em todos os aspectos, ainda mais por ter tido a honra de estar participando da delegação oficial do Brasil.
Mas milhões de brasileiros ainda querem ter a chance e a oportunidade de vivenciar esta experiência impar, quer seja como voluntário, como público, enfim, de alguma forma.

Vivemos o sonho, ou fantasia, obviamente fracassada do Brasília 2000, a da experiência anterior, também recusada, do Rio como candidata. Agora, novamente fomos colocados à margem do processo, não entrando sequer para as cinco candidatas finalistas. Mas se muitos se frustaram com a impossibilidade de realizar o sonho a curto ou médio prazo, se meditarem ou refletirem, verificarão o acerto da decisão. Temos como cidades finalistas: Paris, Madri, Londres, Nova Iorque e Moscou, exatamente nesta ordem pelas notas classificatórias nesta fase.

Observando as notas obtidas pelo Rio, pode-se questionar uma ou outra, mas, em nenhuma hipótese, pode-se alegar que temos condições superiores, na atual conjuntura, do que qualquer uma das classificadas. E, note-se bem que entre os critérios não consta uma avaliação do Programa Esportivo do País.

Neste caso, não seriamos a antepenúltima cidade entre as 9 participantes e, sim, seriamos desclassificados pela simples falta de um Programa de Esportes. Por incrível que pareça, o Brasil não dispõe até o momento de nenhum Programa Governamental que atenda este importante setor.

As únicas declarações oficiais dignas foram as do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que admitiu achar válido o Comitê Olímpico Internacional ter incluído o critério de viabilidade de realização do Projeto como quesito e reconheceu que o Rio precisa melhorar o transporte e o meio ambiente se quiser partir para outra eventual futura candidatura. Aliás, Nuzman pode ser questionado quanto à forma por alguns, mas ninguém pode lhe negar os resultados obtidos quer à frente da Confederação de Vôlei, quer à frente do COB. Ele, graças à Lei Piva e ao seu trabalho, conseguiu melhorar a situação do Esporte de Alto Rendimento. Tanto, que depois da implantação dos benefícios desta Lei, algumas modalidades deram um verdadeiro salto em competitividade internacional e o que vem vivendo a ginástica não deve ser lembrado apenas pelos saltos, força e ritmo da fenomenal Daiane dos Santos e, sim, pela evolução de todo o conjunto, numa demonstração de que quando se quer, com pouco se consegue chegar lá.

Nuzman sabe que em termos de Programa de Esporte estamos zerados. Teve o mérito de salvar o Alto Rendimento, pelo menos o das modalidades que têm a projeção internacional por meta e a seriedade por postura.

No atletismo, os Programas de iniciação e desenvolvimento não recebem qualquer apoio, incentivo ou amparo do Governo Federal. Chegam até a ser ignorados ou desconhecidos. No Rio dependem do apoio do Bingo Arpoador (e hoje o apoio dos bingos não pode ser considerado como definitivo quando até os próprios têm sua existência contestada). Em São Paulo a Orcampi, que é a campeã estadual das categorias menores, recebe apoio de empresas como Unimed Campinas, DPaschoal, West Plaza e BHS Helicopter Táxis Aéreo muito mais pelo aspecto social do que propriamente desportivo. O mesmo vale para a Ong Symap com seus apoiadores. Outros programas dependem basicamente de apoios de Prefeituras e de algumas empresas locais, como é o caso da Ass. Toniello, de Sertãozinho. E nada de apoio ou reconhecimento do Governo Federal. Nem vamos falar dos outros Estados, sobretudo os menos industrializados, quando, por falta de apoio, o atleta se vê entre a ‘Cruz e a Espada’, ou seja, abandonar o esporte ou se transferir precocemente para os Estados mais desenvolvidos, abandonando, muitas vezes, antes do momento correto sua terra natal, suas raízes e sua família.

A nota negativa foram as declarações do ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, protestando pela eliminação do Rio e alegando a decisão como política, insinuando manobras de bastidores. Sugerimos ao ministro que faça uma autocrítica e pense exatamente no que fez pelo esporte nestes quase 18 meses que está à frente do Ministério. Aliás, nem precisará pensar muito, pois pouco fez em termos de implantação de um verdadeiro Programa de Esportes, afinal viajar e patrocinar eventos de grande porte não pode ser considerado neste quesito.

Esta história me lembra a de uma rainha da França, Maria Antonieta, que quando soube que o povo estava com fome, pois não havia pão, disse para servir-lhes brioches como se fosse a sua salvação. O nosso ministro, quando perguntam pelo Programa, costuma citar os eventos. Uma história, sabemos o final. A outra, ainda não.


Sonho frustado. Projeto reprovado. Programa ainda zerado

Maratona · 15 jun, 2004

Todos pensamos, um dia, em poder assistir ao vivo uma Olimpíada. Isso mesmo para os não tão ligados aos esportes, pois, sabidamente este é o maior de todos os eventos, tanto que verdadeiros recordes de audiência e de publico são sistematicamente quebrados.

Felizmente, tive a oportunidade de estar presente em dois Jogos Olímpicos, o de Atlanta - que apesar de não ter tido o brilhantismo que se esperava, para mim já foi uma grande emoção ter estado presente como platéia - e o de Sidney - que foi um espetáculo e show em todos os aspectos, ainda mais por ter tido a honra de estar participando da delegação oficial do Brasil.
Mas milhões de brasileiros ainda querem ter a chance e a oportunidade de vivenciar esta experiência impar, quer seja como voluntário, como público, enfim, de alguma forma.

Vivemos o sonho, ou fantasia, obviamente fracassada do Brasília 2000, a da experiência anterior, também recusada, do Rio como candidata. Agora, novamente fomos colocados à margem do processo, não entrando sequer para as cinco candidatas finalistas. Mas se muitos se frustaram com a impossibilidade de realizar o sonho a curto ou médio prazo, se meditarem ou refletirem, verificarão o acerto da decisão. Temos como cidades finalistas: Paris, Madri, Londres, Nova Iorque e Moscou, exatamente nesta ordem pelas notas classificatórias nesta fase.

Observando as notas obtidas pelo Rio, pode-se questionar uma ou outra, mas, em nenhuma hipótese, pode-se alegar que temos condições superiores, na atual conjuntura, do que qualquer uma das classificadas. E, note-se bem que entre os critérios não consta uma avaliação do Programa Esportivo do País.

Neste caso, não seriamos a antepenúltima cidade entre as 9 participantes e, sim, seriamos desclassificados pela simples falta de um Programa de Esportes. Por incrível que pareça, o Brasil não dispõe até o momento de nenhum Programa Governamental que atenda este importante setor.

As únicas declarações oficiais dignas foram as do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que admitiu achar válido o Comitê Olímpico Internacional ter incluído o critério de viabilidade de realização do Projeto como quesito e reconheceu que o Rio precisa melhorar o transporte e o meio ambiente se quiser partir para outra eventual futura candidatura. Aliás, Nuzman pode ser questionado quanto à forma por alguns, mas ninguém pode lhe negar os resultados obtidos quer à frente da Confederação de Vôlei, quer à frente do COB. Ele, graças à Lei Piva e ao seu trabalho, conseguiu melhorar a situação do Esporte de Alto Rendimento. Tanto, que depois da implantação dos benefícios desta Lei, algumas modalidades deram um verdadeiro salto em competitividade internacional e o que vem vivendo a ginástica não deve ser lembrado apenas pelos saltos, força e ritmo da fenomenal Daiane dos Santos e, sim, pela evolução de todo o conjunto, numa demonstração de que quando se quer, com pouco se consegue chegar lá.

Nuzman sabe que em termos de Programa de Esporte estamos zerados. Teve o mérito de salvar o Alto Rendimento, pelo menos o das modalidades que têm a projeção internacional por meta e a seriedade por postura.

No atletismo, os Programas de iniciação e desenvolvimento não recebem qualquer apoio, incentivo ou amparo do Governo Federal. Chegam até a ser ignorados ou desconhecidos. No Rio dependem do apoio do Bingo Arpoador (e hoje o apoio dos bingos não pode ser considerado como definitivo quando até os próprios têm sua existência contestada). Em São Paulo a Orcampi, que é a campeã estadual das categorias menores, recebe apoio de empresas como Unimed Campinas, DPaschoal, West Plaza e BHS Helicopter Táxis Aéreo muito mais pelo aspecto social do que propriamente desportivo. O mesmo vale para a Ong Symap com seus apoiadores. Outros programas dependem basicamente de apoios de Prefeituras e de algumas empresas locais, como é o caso da Ass. Toniello, de Sertãozinho. E nada de apoio ou reconhecimento do Governo Federal. Nem vamos falar dos outros Estados, sobretudo os menos industrializados, quando, por falta de apoio, o atleta se vê entre a ‘Cruz e a Espada’, ou seja, abandonar o esporte ou se transferir precocemente para os Estados mais desenvolvidos, abandonando, muitas vezes, antes do momento correto sua terra natal, suas raízes e sua família.

A nota negativa foram as declarações do ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, protestando pela eliminação do Rio e alegando a decisão como política, insinuando manobras de bastidores. Sugerimos ao ministro que faça uma autocrítica e pense exatamente no que fez pelo esporte nestes quase 18 meses que está à frente do Ministério. Aliás, nem precisará pensar muito, pois pouco fez em termos de implantação de um verdadeiro Programa de Esportes, afinal viajar e patrocinar eventos de grande porte não pode ser considerado neste quesito.

Esta história me lembra a de uma rainha da França, Maria Antonieta, que quando soube que o povo estava com fome, pois não havia pão, disse para servir-lhes brioches como se fosse a sua salvação. O nosso ministro, quando perguntam pelo Programa, costuma citar os eventos. Uma história, sabemos o final. A outra, ainda não.

Corro por que te quero

Esporte une casais tanto entre atletas amadores como de elite.

Fabiana Cristine da Silva, de 24 anos, é natural de Recife. Daniel Lopes Ferreira, 36 anos, é de Garanhuns. Esses dois corredores pernambucanos têm uma história curiosa. Se conheceram nas provas de rua e iniciaram o namoro, em 1994, durante uma competição de cross country na Hungria. E de forma romântica, às margens do Rio Danúbio. Os dois passaram a morar juntos em 1996, em Tremembé, interior de São Paulo, e hoje são companheiros na vida e no atletismo. Como Daniel e Fabiana, o atletismo uniu Marílson e Juliana, Diamantino e Marizete, Damião e Soninha, Waldir e Lizete, entre muitos outros. Casais que se conheceram na rotina dos treinamentos e das provas ou transformaram a atividade em uma motivação comum. Um relacionamento que se confunde na corrida e no amor.

É como casais que se conhecem porque trabalham no mesmo escritório ou fazem parte da mesma turma de amigos. Os grupos sociais favorecem os encontros. Desde que virou uma profissão, algo que se aprofundou na última década, a corrida de rua passou a ser também um ponto de encontro entre atletas, quase todos os finais de semana, em algum lugar do Estado, do País, do mundo. “Os atletas se conhecem nas competições, tem contato constante, o que facilita os relacionamentos”, afirma o técnico Ricardo D`Ângelo, da BM&F Atletismo, observando que a corrida é um evento social com muitos adeptos. “É uma paixão em comum entre muitas pessoas, amigos, familiares, casais. Vira uma mania, um ponto de convergência entre pessoas com o mesmo pensamento. Isso facilita as relações.”

O fundista Daniel concorda, tendo como base a relação com a mulher-corredora Fabiana. “Para mim não tem nada de ruim nessa relação. Nós treinamos juntos, trocamos muitas idéias sobre corridas. Ela é muito carinhosa...”, ressalta. Mas vem de Fabiana, tricampeã brasileira dos 5.000 metros e tetracampeã dos 1.500m, a melhor explicação para o casamento entre atletas ser bem-sucedido. “Um ajuda o outro. Temos horário para comer e descansar, estamos sempre viajando para treinar e competir. Atleta tem muita regra. Quem não vive essa realidade tem mais dificuldade para compreender.”

Nas pistas - O fundista Marílsom Gomes dos Santos, de 25 anos, e a corredora Juliana Paula Gomes dos Santos, de 19 anos, não poderiam ter vivido um ano mais feliz em 2002. Na mesma temporada em que Juliana ganhou a medalha de bronze, nos 800 metros, no Mundial Juvenil de Kingston, na Jamaica, Marílson fechou o ano como o segundo colocado, o melhor brasileiro, no pódio da importante Corrida Internacional de São Silvestre. E os dois se casaram.

Estavam juntos há quatro anos. Se conheceram nas competições de pista, em São Caetano do Sul – são da mesma equipe, a BM&F (Marílson ainda tem o apoio do Pão de Açúcar). “Conversávamos nos treinos, nas provas e no alojamento”, relata o brasiliense Marílson. O casamento foi em novembro de 2002, mas os treinos e as importantes competições do fim de ano adiaram a lua-de-mel. “Só tivemos um tempo após a corrida de São Fernando, no Uruguai (em janeiro)”, comenta Marílson.

Na folga, o casal, que mora em Santo André, no ABC paulista, gosta de passear no shopping e de viajar para a praia. No dia-a-dia, as conversas sobre atletismo dentro de casa são quase nulas. “Treinamos, descansamos, almoçamos e fazemos várias coisas juntos. Temos de esquecer um pouco o atletismo para não ficar monótono.” Mas nas concentrações, antes das corridas, o assunto vem à tona. “Procuramos passar o que sabemos um para o outro. O incentivo, através do pensamento positivo, também ajuda.”

Para Marílson, o relacionamento e a profissão se misturam no romance do casal-atleta. “Além de termos horários semelhantes de treinos e folgas, entendemos a vida um do outro. Existem competições que eu corro e a Juliana não. Casar com atleta foi algo do destino e do amor, mas facilita.” Quando o casal se separa por causa das competições, a saudade é amenizada com as ligações telefônicas. “Quando a Juliana estava na Jamaica, para o Mundial, me ligava todos os dias. Eu também acompanhava as notícias pela internet”, comenta Marílson.

Apesar de ser o brasileiro mais bem colocado pela segunda vez na São Silvestre, o especialista em meia maratona resolveu mudar de distância no início deste ano e passou a treinar para tentar obter índice para ir aos Jogos Pan-Americanos correndo a maratona.

Mas como somente o primeiro colocado no ranking brasileiro e o vencedor da Maratona de São Paulo terão vaga assegurada, Marílson decidiu competir os 10 mil metros em pista – seu melhor tempo é de 28min32 e precisa ser 9 segundos mais rápido para conquistar o índice. “Somente em 2004 vou treinar para a maratona.” Juliana vai trabalhar para obter índice nos 800m e 1.500m. “Só vou desistir quando ver o pessoal embarcando para São Domingos, na República Dominicana”, brinca. Juliana tem o título nos 800 e 1.500 metros do Campeonato Sul-Americano de Atletismo da Argentina, em 2001, além de ser campeã brasileira juvenil nas duas distâncias, no mesmo ano.

Evidência - Tanto quanto Marílson e Juliana, outro casal que ganhou evidência no atletismo no fim da temporada de 2002 foi Diamantino dos Santos e Marizete Rezende, a vencedora da prova feminina da São Silvestre. O casal apareceu pela primeira vez na Maratona de São Paulo, em 2001. Marizete ia “dar uma força” ao marido na prova. Diamantino acabou desistindo no meio, mas viu a mulher cruzar a linha de chegada em primeiro. Desta vez, novamente como marido-treinador e após um trabalho específico do casal para a corrida, Diamantino ajudou Marizete a ser a campeã da São Silvestre.

Os dois estão juntos há quatro anos e, atualmente, moram em Araraquara, no interior paulista, com o filho de Diamantino, Gregory, de 13 anos, que é meia-direita do time da Ferroviária – Marizete torce para o garoto jogar no Corinthians. O casal compete pela Fundesport/Araraquara, entidade da Prefeitura patrocinada pelo empresa de ônibus CTA.

Em uma rotina formada por treino, alimentação, descanso, treino e competições, ter alguém ao lado evita a solidão e ajuda a encarar o desafio, observa a goiana Marizete. “Acho que o melhor é o fato de o Diamantino poder passar a experiência que tem com as corridas para mim”, acentua Marizete, que também divide com o marido os afazeres domésticos. A atleta acha que pode tentar índice para ir à maratona dos Jogos Pan-Americanos de São Domingos. “A melhor marca dela foi feita em Porto Alegre, em 2001, mas acho que esse é um tempo que a Marizete ainda pode melhorar trabalhando”, aposta Diamantino. Se a mulher conseguir índice, os dois podem seguir para a casa da irmã de Diamantino, na Suíça, visando desenvolver um treinamento especial na Europa.

Por acaso - Outro casal que convive junto nas competições e no amor é Damião Maciel da Silva e Sônia Maria Rodrigues da Silva, ambos de 40 anos. O romance entre os dois foi por acaso. Durante um treino no Parque do Piqueri, em São Paulo, o casal trocou olhares, o que ‘balançou’ Damião. Encontraram-se novamente no Corinthians, onde Soninha treinava e, a partir dali, começaram a conversar com freqüência, a namorar e sete meses depois estavam morando juntos. O casamento ocorreu 13 anos mais tarde.

O casal, que mora em Guarulhos (SP), está junto há 17 anos e tem muitas histórias ligadas às corridas. “Numa São Silvestre, completei a prova feminina e desci novamente a Brigadeiro Luís Antônio para incentivá-lo na chegada da masculina. Gritei bastante e levei água para ajudar”, conta Soninha. Tanto carinho e afeto são traduzidos na maneira romântica como se tratam. “Nos chamamos de gatinha e gatinho”, revela a paulistana.

Numa corrida em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, foi a vez do paraibano Damião abandonar o pelotão da frente a um quilômetro da chegada, quando percebeu que “alguma coisa estranha” estava acontecendo com a mulher. “Quando a encontrei, desmaiou nos meus braços (Soninha teve hipoglicemia).”

O atletismo não fica fora das conversas em casa. Nos horários de descanso, o casal gosta de praticar outra habilidade da dupla, a massagem, importante para a recuperação física. Damião e Soninha são massagistas. “Trabalhamos em várias corridas e também em competições de ciclismo e triathlon.”

Especialista em corridas de 10 e 15 quilômetros, além da meia maratona, Damião tem uma carreira de sucesso. Foi 9º colocado na São Silvestre de 1987 e 7ª em 1988. Participou de competições importantes como a meia maratona de Lisboa (Portugal) e do Mundial de Cross Country, em Auckland (Nova Zelândia). Este ano, vai correr a Volta da Pampulha ou a Meia Maratona do Rio e a São Silvestre, mais provas no interior.

Soninha ficou os últimos dois anos sem treinar. Agora quer recuperar a boa condição. Corredora dos 10, 15 e 20 quilômetros, acredita no seu potencial. “Estou voltando com paciência. Bem treinada e com apoio dos patrocinadores, poderei estar no pódio da São Silvestre no fim do ano.”

Em família - As corridas não facilitam as relações sociais apenas entre os atletas de elite. As provas de rua também unem anônimos, como os comerciantes Waldir Varga, de 52 anos, e sua mulher, Lizete, de 48 anos. Dono de uma banca de jornal na Avenida Paulista, em São Paulo, Waldir tentou “malhar” em academia, mas não gostava. Após uma dieta para perder 14 quilos e diante da necessidade de fazer alguma atividade física, adotou a corrida. Primeiro, saiu correndo por conta própria, sem controle cardíaco ou professor. Fez uma prova de 6 quilômetros e na sequência correu a São Silvestre. Se empolgou. Procurou o técnico Nélson Evêncio e passou a treinar há dois anos – desde então fez três maratonas, duas de São Paulo e uma de Chicago (EUA).

Lizete passou a correr por influência de Waldir. “Eu acompanhava meu marido nos treinos. No início fazia caminhadas, mas depois passei a correr. Ainda tive de parar por um tempo, por causa de um problema no joelho esquerdo, que acho que foi causado por um tênis errado que eu estava usando. Corrigi e passei a treinar com o professor Nélson Evêncio há 1,5 ano.”

Na Maratona de Revezamento Pão de Açúcar de 2002, além de marido e mulher, a equipe de quatro pessoas teve a presença dos dois filhos do casal, Eduardo, de 26 anos, e Paula, de 22. “É um prazer em família. A corrida dá satisfação pessoal porque alia condicionamento físico a melhoria da qualidade de vida”, observa Lizete. Quanto ao casal, observou que ela e Waldir sempre foram muito unidos, mesmo antes da adesão à corrida. “Mas acho que isso nos aproximou ainda mais. Hoje, além de tudo, conversamos sobre os treinos, as provas, vamos juntos para o Ibirapuera. A corrida é um assunto constante na família.”


Corro por que te quero

Corridas de Rua · 12 jun, 2004

Esporte une casais tanto entre atletas amadores como de elite.

Fabiana Cristine da Silva, de 24 anos, é natural de Recife. Daniel Lopes Ferreira, 36 anos, é de Garanhuns. Esses dois corredores pernambucanos têm uma história curiosa. Se conheceram nas provas de rua e iniciaram o namoro, em 1994, durante uma competição de cross country na Hungria. E de forma romântica, às margens do Rio Danúbio. Os dois passaram a morar juntos em 1996, em Tremembé, interior de São Paulo, e hoje são companheiros na vida e no atletismo. Como Daniel e Fabiana, o atletismo uniu Marílson e Juliana, Diamantino e Marizete, Damião e Soninha, Waldir e Lizete, entre muitos outros. Casais que se conheceram na rotina dos treinamentos e das provas ou transformaram a atividade em uma motivação comum. Um relacionamento que se confunde na corrida e no amor.

É como casais que se conhecem porque trabalham no mesmo escritório ou fazem parte da mesma turma de amigos. Os grupos sociais favorecem os encontros. Desde que virou uma profissão, algo que se aprofundou na última década, a corrida de rua passou a ser também um ponto de encontro entre atletas, quase todos os finais de semana, em algum lugar do Estado, do País, do mundo. “Os atletas se conhecem nas competições, tem contato constante, o que facilita os relacionamentos”, afirma o técnico Ricardo D`Ângelo, da BM&F Atletismo, observando que a corrida é um evento social com muitos adeptos. “É uma paixão em comum entre muitas pessoas, amigos, familiares, casais. Vira uma mania, um ponto de convergência entre pessoas com o mesmo pensamento. Isso facilita as relações.”

O fundista Daniel concorda, tendo como base a relação com a mulher-corredora Fabiana. “Para mim não tem nada de ruim nessa relação. Nós treinamos juntos, trocamos muitas idéias sobre corridas. Ela é muito carinhosa...”, ressalta. Mas vem de Fabiana, tricampeã brasileira dos 5.000 metros e tetracampeã dos 1.500m, a melhor explicação para o casamento entre atletas ser bem-sucedido. “Um ajuda o outro. Temos horário para comer e descansar, estamos sempre viajando para treinar e competir. Atleta tem muita regra. Quem não vive essa realidade tem mais dificuldade para compreender.”

Nas pistas - O fundista Marílsom Gomes dos Santos, de 25 anos, e a corredora Juliana Paula Gomes dos Santos, de 19 anos, não poderiam ter vivido um ano mais feliz em 2002. Na mesma temporada em que Juliana ganhou a medalha de bronze, nos 800 metros, no Mundial Juvenil de Kingston, na Jamaica, Marílson fechou o ano como o segundo colocado, o melhor brasileiro, no pódio da importante Corrida Internacional de São Silvestre. E os dois se casaram.

Estavam juntos há quatro anos. Se conheceram nas competições de pista, em São Caetano do Sul – são da mesma equipe, a BM&F (Marílson ainda tem o apoio do Pão de Açúcar). “Conversávamos nos treinos, nas provas e no alojamento”, relata o brasiliense Marílson. O casamento foi em novembro de 2002, mas os treinos e as importantes competições do fim de ano adiaram a lua-de-mel. “Só tivemos um tempo após a corrida de São Fernando, no Uruguai (em janeiro)”, comenta Marílson.

Na folga, o casal, que mora em Santo André, no ABC paulista, gosta de passear no shopping e de viajar para a praia. No dia-a-dia, as conversas sobre atletismo dentro de casa são quase nulas. “Treinamos, descansamos, almoçamos e fazemos várias coisas juntos. Temos de esquecer um pouco o atletismo para não ficar monótono.” Mas nas concentrações, antes das corridas, o assunto vem à tona. “Procuramos passar o que sabemos um para o outro. O incentivo, através do pensamento positivo, também ajuda.”

Para Marílson, o relacionamento e a profissão se misturam no romance do casal-atleta. “Além de termos horários semelhantes de treinos e folgas, entendemos a vida um do outro. Existem competições que eu corro e a Juliana não. Casar com atleta foi algo do destino e do amor, mas facilita.” Quando o casal se separa por causa das competições, a saudade é amenizada com as ligações telefônicas. “Quando a Juliana estava na Jamaica, para o Mundial, me ligava todos os dias. Eu também acompanhava as notícias pela internet”, comenta Marílson.

Apesar de ser o brasileiro mais bem colocado pela segunda vez na São Silvestre, o especialista em meia maratona resolveu mudar de distância no início deste ano e passou a treinar para tentar obter índice para ir aos Jogos Pan-Americanos correndo a maratona.

Mas como somente o primeiro colocado no ranking brasileiro e o vencedor da Maratona de São Paulo terão vaga assegurada, Marílson decidiu competir os 10 mil metros em pista – seu melhor tempo é de 28min32 e precisa ser 9 segundos mais rápido para conquistar o índice. “Somente em 2004 vou treinar para a maratona.” Juliana vai trabalhar para obter índice nos 800m e 1.500m. “Só vou desistir quando ver o pessoal embarcando para São Domingos, na República Dominicana”, brinca. Juliana tem o título nos 800 e 1.500 metros do Campeonato Sul-Americano de Atletismo da Argentina, em 2001, além de ser campeã brasileira juvenil nas duas distâncias, no mesmo ano.

Evidência - Tanto quanto Marílson e Juliana, outro casal que ganhou evidência no atletismo no fim da temporada de 2002 foi Diamantino dos Santos e Marizete Rezende, a vencedora da prova feminina da São Silvestre. O casal apareceu pela primeira vez na Maratona de São Paulo, em 2001. Marizete ia “dar uma força” ao marido na prova. Diamantino acabou desistindo no meio, mas viu a mulher cruzar a linha de chegada em primeiro. Desta vez, novamente como marido-treinador e após um trabalho específico do casal para a corrida, Diamantino ajudou Marizete a ser a campeã da São Silvestre.

Os dois estão juntos há quatro anos e, atualmente, moram em Araraquara, no interior paulista, com o filho de Diamantino, Gregory, de 13 anos, que é meia-direita do time da Ferroviária – Marizete torce para o garoto jogar no Corinthians. O casal compete pela Fundesport/Araraquara, entidade da Prefeitura patrocinada pelo empresa de ônibus CTA.

Em uma rotina formada por treino, alimentação, descanso, treino e competições, ter alguém ao lado evita a solidão e ajuda a encarar o desafio, observa a goiana Marizete. “Acho que o melhor é o fato de o Diamantino poder passar a experiência que tem com as corridas para mim”, acentua Marizete, que também divide com o marido os afazeres domésticos. A atleta acha que pode tentar índice para ir à maratona dos Jogos Pan-Americanos de São Domingos. “A melhor marca dela foi feita em Porto Alegre, em 2001, mas acho que esse é um tempo que a Marizete ainda pode melhorar trabalhando”, aposta Diamantino. Se a mulher conseguir índice, os dois podem seguir para a casa da irmã de Diamantino, na Suíça, visando desenvolver um treinamento especial na Europa.

Por acaso - Outro casal que convive junto nas competições e no amor é Damião Maciel da Silva e Sônia Maria Rodrigues da Silva, ambos de 40 anos. O romance entre os dois foi por acaso. Durante um treino no Parque do Piqueri, em São Paulo, o casal trocou olhares, o que ‘balançou’ Damião. Encontraram-se novamente no Corinthians, onde Soninha treinava e, a partir dali, começaram a conversar com freqüência, a namorar e sete meses depois estavam morando juntos. O casamento ocorreu 13 anos mais tarde.

O casal, que mora em Guarulhos (SP), está junto há 17 anos e tem muitas histórias ligadas às corridas. “Numa São Silvestre, completei a prova feminina e desci novamente a Brigadeiro Luís Antônio para incentivá-lo na chegada da masculina. Gritei bastante e levei água para ajudar”, conta Soninha. Tanto carinho e afeto são traduzidos na maneira romântica como se tratam. “Nos chamamos de gatinha e gatinho”, revela a paulistana.

Numa corrida em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, foi a vez do paraibano Damião abandonar o pelotão da frente a um quilômetro da chegada, quando percebeu que “alguma coisa estranha” estava acontecendo com a mulher. “Quando a encontrei, desmaiou nos meus braços (Soninha teve hipoglicemia).”

O atletismo não fica fora das conversas em casa. Nos horários de descanso, o casal gosta de praticar outra habilidade da dupla, a massagem, importante para a recuperação física. Damião e Soninha são massagistas. “Trabalhamos em várias corridas e também em competições de ciclismo e triathlon.”

Especialista em corridas de 10 e 15 quilômetros, além da meia maratona, Damião tem uma carreira de sucesso. Foi 9º colocado na São Silvestre de 1987 e 7ª em 1988. Participou de competições importantes como a meia maratona de Lisboa (Portugal) e do Mundial de Cross Country, em Auckland (Nova Zelândia). Este ano, vai correr a Volta da Pampulha ou a Meia Maratona do Rio e a São Silvestre, mais provas no interior.

Soninha ficou os últimos dois anos sem treinar. Agora quer recuperar a boa condição. Corredora dos 10, 15 e 20 quilômetros, acredita no seu potencial. “Estou voltando com paciência. Bem treinada e com apoio dos patrocinadores, poderei estar no pódio da São Silvestre no fim do ano.”

Em família - As corridas não facilitam as relações sociais apenas entre os atletas de elite. As provas de rua também unem anônimos, como os comerciantes Waldir Varga, de 52 anos, e sua mulher, Lizete, de 48 anos. Dono de uma banca de jornal na Avenida Paulista, em São Paulo, Waldir tentou “malhar” em academia, mas não gostava. Após uma dieta para perder 14 quilos e diante da necessidade de fazer alguma atividade física, adotou a corrida. Primeiro, saiu correndo por conta própria, sem controle cardíaco ou professor. Fez uma prova de 6 quilômetros e na sequência correu a São Silvestre. Se empolgou. Procurou o técnico Nélson Evêncio e passou a treinar há dois anos – desde então fez três maratonas, duas de São Paulo e uma de Chicago (EUA).

Lizete passou a correr por influência de Waldir. “Eu acompanhava meu marido nos treinos. No início fazia caminhadas, mas depois passei a correr. Ainda tive de parar por um tempo, por causa de um problema no joelho esquerdo, que acho que foi causado por um tênis errado que eu estava usando. Corrigi e passei a treinar com o professor Nélson Evêncio há 1,5 ano.”

Na Maratona de Revezamento Pão de Açúcar de 2002, além de marido e mulher, a equipe de quatro pessoas teve a presença dos dois filhos do casal, Eduardo, de 26 anos, e Paula, de 22. “É um prazer em família. A corrida dá satisfação pessoal porque alia condicionamento físico a melhoria da qualidade de vida”, observa Lizete. Quanto ao casal, observou que ela e Waldir sempre foram muito unidos, mesmo antes da adesão à corrida. “Mas acho que isso nos aproximou ainda mais. Hoje, além de tudo, conversamos sobre os treinos, as provas, vamos juntos para o Ibirapuera. A corrida é um assunto constante na família.”

Nada acontece por acaso

Todos os meses medito muito sobre qual o tema ou personagem que deverei abordar nesta coluna e, coincidentemente, neste momento de reflexão se realizava a Copa Brasil e Sul-Americano de Cross Country. Mergulhei nas lembranças dos anos 90, quando tínhamos um eficiente Calendário Brasileiro de Cross e, na mesma época, acumulamos inúmeras vitórias e feitos nas provas de fundo junto ao atletismo internacional.

Como dizem alguns, os fatos e feitos históricos estão aí para serem lidos e estudados, pois a história se repete, às vezes, deslocada no tempo e se manifestando de forma diversa. Lemos nas biografias de grandes estadistas e generais que suas leituras preferidas eram sobre a vida e obra de grandes personagens da história, nos quais se inspiravam.

Lembro-me que nos anos 90, quando era diretor de Cross da Confederação Brasileira, realizamos inúmeros eventos. Eram circuitos com etapas no Rio, Belo Horizonte, Crissiuma, São Paulo e, sobretudo, no eixo Cosmópolis(5 vezes), Artur Nogueira (4 vezes) e Mogi Guaçu (3 vezes), pois, além do apoio recebido pelas cidades do interior paulista, como eram tempos de vacas magras nos cofres da CBAt, a realização dos Circuitos àquela época dependiam de uma grande dose de esforço e contribuição nossa, o que ficava mais fácil na região de Campinas, onde eu residia.

Neste ano de 2004, o Brasil teve um desempenho sofrível no Sul-Americano de Cross, perdendo para Equador, no masculino, e Argentina, no feminino adultos, únicas categorias nas quais haviam equipes estrangeiras competindo.

E tudo isso em prova realizada em nosso próprio País. Não vamos jogar a responsabilidade nos atletas e, sim, fazer como os grandes Homens da história e estudar os feitos do passado para vermos o que podemos fazer e os bons exemplos que devemos seguir.

Na década de 90, o nosso Circuito Nacional de Cross e Copa Brasil contavam com a participação de TODOS os nossos melhores atletas e víamos na mesma prova atletas como José João da Silva, Arthur de Freitas Castro (indiscutivelmente um especialista na prova), Valdenor dos Santos, Vanderlei Cordeiro de Lima, Elenilson Silva, Delmir dos Santos, Daniel Lopes Ferreira, Adalberto Garcia, Emerson Iser Bem, Ronaldo da Costa, Jonhny Pazin, Diamantino Silveira, Luís Antônio dos Santos, Adauto Domingues,Wander Moura, Benedito Donizete, José Telles, Clodoaldo do Carmo, João Alves de Souza (Passarinho), Leonardo Guedes, Eduardo do Nascimento, entre outros.

As provas eram belíssimas, com publico se locomovendo de São Paulo para assistir. Os resultados eram imprevisíveis, dado o alto nível da disputa, o equilíbrio, o treinamento dos atletas, específico para a temporada de Cross. E era comum vermos atletas do quilate de um Delmir dos Santos, Vanderlei Cordeiro, Valdenor dos Santos, Luís Antonio dos Santos e outros não conseguirem a sonhada vaga para compor a seleção nacional que representaria o País no Mundial de Cross. Devemos o sucesso daquelas provas aos técnicos que acreditavam no Cross como importante para o treinamento dos seus atletas e consequente desempenho dos mesmos em outras provas da temporada, como o saudoso Asdrúbal Batista, Carlos Ventura, Ricardo D’Angelo, Henrique Viana, Humberto Garcia, Marco Antonio Oliveira e José Luís Marques. Havia até entre eles uma saudável disputa para saber quem teria o maior número de atletas e teria a honra de ser o técnico da Seleção Brasileira no Mundial. Era fundamental o apoio que os clubes davam aos atletas e à temporada de Cross, como Funilense, Eletropaulo, Arpoador, São Paulo F.C. e o SESI, assim como o apoio de alguns lunáticos ou realistas (entre os quais me incluo) que acreditavam na importância do Cross para os atletas do País. Lembro que a Funilense, da qual era o responsável, para aumentar a temporada de Cross de seus atletas, levou às suas expensas durante 3 anos atletas para o famoso Cross de Cinqui Mulini, em SanVitório Olona, na Itália, e em outros 6 levou a equipe para atuar como convidada na Taça Européia de Clubes Campeões de Cross e ainda participar de outras provas como o Cross das Amendoeiras, em Portugal, e o de Cáceres, na Espanha.

Lembramos ainda que, em dezembro de 1992, graças ao esforço da CBAt e meu, encaramos o desafio e realizamos uma etapa do Circuito Mundial de Cross em São Paulo, no belo Jockey Clube, e que foi gravado pela TV Jockey e exibido no dia seguinte pela TV Bandeirantes em programa de 1 hora de duração em pleno horário nobre e que teve a participação de atletas de mais de 15 países e alguns atletas de destaque da época, como a portuguesa Albertina Dias, Tegla Lorupe, Simom Chemoyo, entre outros.

Se analisarmos o que os atletas brasileiros conquistaram na década de 90, veremos que ganhamos uma medalha de bronze na Copa do Mundo de Maratonas por equipes, em 1997, em Atenas, recorde mundial de Ronaldo da Costa, que também foi medalha de bronze no Mundial de Meia, em 1994, medalha de prata no Mundial de Revezamento em Estrada, em 1996, medalha de bronze no Mundial de Revezamento em Estrada, em 1998, medalha de bronze na Maratona no Mundial de 1995 com Luís Antonio dos Santos e medalha de bronze por equipes no Mundial de Meia Maratona de 1992. Sem esquecermos que os campeões da São Silvestre da década de 90, Ronaldo da Costa e Emerson Iser Bem participavam das temporadas de cross à época, especialmente Iser Bem, que viajava sempre com a delegação da Funilense aos campeonatos europeus, tendo vencido, inclusive, o Cross das Amendoeiras, uma das etapas do Circuito Mundial de Cross. E o Marílson Gomes dos Santos, campeão da São Silvestre de 2003, assim como o Rômulo Wagner, o vice, sempre participaram dos circuitos de cross na década de 90, de mundiais juvenis de cross, além de participação pela Funilense em provas na Europa.

Nada acontece por acaso e a história deve ser sempre trazida à memória e aproveitada em seus exemplos de sucesso

Apenas para confirmar a importância do treinamento e participação em corridas de cross para a melhora no desempenho de atletas nas demais provas, vamos lembrar alguns nomes (apenas alguns, pois se colocássemos todos certamente esgotaríamos a coluna apenas com a menção dos mesmos) de atletas estrangeiros que venceram maratonas, ganharam medalhas olímpicas e triunfaram em mundiais de pista que tenham tido ou ainda tenham participação ativa em cross: Paul Tergat, Carlos Lopes, Ingrid Kristiansen, Grete Waitz, Rosa Mota, Paula Radclife, Haile Gebrselassie, Adis Abebe, Domingos Castro, Deratu Tulu, Khalid Skah,, Liz MacColgan, Lynn Jennings,, Berhane Adere, Martin Fizz, Fernanda Ribeiro, Keninisa Bekele, John Ngugi, Abel Anton, Hendrick Ramaala, Zola Budd, Elana Mayer entre outros. Aliás, de uma relação de mais de 100 atletas de sucesso internacional que pesquisei, encontrei apenas dois sem participações em cross, o sul-africano John Tugwane (medalha de ouro na maratona olímpica de 1996, em Atlanta) e o maratonista marroquino (hoje naturalizado norte-americano) Khalid Kannouchi. Mas como ambos são de origem africana, é provável que tenham também participado, mas não posso confirmar, pois não encontrei menção em minhas fontes de consulta.

Sei que alguns argumentarão que o cross na Europa, onde foi lançado no século 19, é corrido em clima frio e muitas vezes com neve e não combina com o nosso clima tropical. Meia verdade, pois na década de 90, quando realizávamos com sucesso os circuitos nacionais de cross, o nosso clima era o mesmo de hoje e ao que me consta a África, que vem dominando a modalidade há mais de 15 anos, sempre teve clima semelhante ao nosso.

Realmente nada acontece por acaso.

Agora nos cabe aproveitar os exemplos e não admitirmos e acreditarmos que nosso sucesso na década de 90 seja casual e não tenha sofrido forte influência das nossas disputadas provas de cross e nas competições internacionais de nossos atletas nesta modalidade. Os fatos demonstram que existe uma extrema correlação entre eles. Vamos começar a trabalhar para voltarmos a ter os sucessos internacionais da década de 90. Alias, vou começar assim que terminar de escrever esta coluna. Aliás, o fato de escrever sobre o assunto não deixa de ser um início. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, vem vamos embora que esperar não é saber."


Nada acontece por acaso

Maratona · 15 maio, 2004

Todos os meses medito muito sobre qual o tema ou personagem que deverei abordar nesta coluna e, coincidentemente, neste momento de reflexão se realizava a Copa Brasil e Sul-Americano de Cross Country. Mergulhei nas lembranças dos anos 90, quando tínhamos um eficiente Calendário Brasileiro de Cross e, na mesma época, acumulamos inúmeras vitórias e feitos nas provas de fundo junto ao atletismo internacional.

Como dizem alguns, os fatos e feitos históricos estão aí para serem lidos e estudados, pois a história se repete, às vezes, deslocada no tempo e se manifestando de forma diversa. Lemos nas biografias de grandes estadistas e generais que suas leituras preferidas eram sobre a vida e obra de grandes personagens da história, nos quais se inspiravam.

Lembro-me que nos anos 90, quando era diretor de Cross da Confederação Brasileira, realizamos inúmeros eventos. Eram circuitos com etapas no Rio, Belo Horizonte, Crissiuma, São Paulo e, sobretudo, no eixo Cosmópolis(5 vezes), Artur Nogueira (4 vezes) e Mogi Guaçu (3 vezes), pois, além do apoio recebido pelas cidades do interior paulista, como eram tempos de vacas magras nos cofres da CBAt, a realização dos Circuitos àquela época dependiam de uma grande dose de esforço e contribuição nossa, o que ficava mais fácil na região de Campinas, onde eu residia.

Neste ano de 2004, o Brasil teve um desempenho sofrível no Sul-Americano de Cross, perdendo para Equador, no masculino, e Argentina, no feminino adultos, únicas categorias nas quais haviam equipes estrangeiras competindo.

E tudo isso em prova realizada em nosso próprio País. Não vamos jogar a responsabilidade nos atletas e, sim, fazer como os grandes Homens da história e estudar os feitos do passado para vermos o que podemos fazer e os bons exemplos que devemos seguir.

Na década de 90, o nosso Circuito Nacional de Cross e Copa Brasil contavam com a participação de TODOS os nossos melhores atletas e víamos na mesma prova atletas como José João da Silva, Arthur de Freitas Castro (indiscutivelmente um especialista na prova), Valdenor dos Santos, Vanderlei Cordeiro de Lima, Elenilson Silva, Delmir dos Santos, Daniel Lopes Ferreira, Adalberto Garcia, Emerson Iser Bem, Ronaldo da Costa, Jonhny Pazin, Diamantino Silveira, Luís Antônio dos Santos, Adauto Domingues,Wander Moura, Benedito Donizete, José Telles, Clodoaldo do Carmo, João Alves de Souza (Passarinho), Leonardo Guedes, Eduardo do Nascimento, entre outros.

As provas eram belíssimas, com publico se locomovendo de São Paulo para assistir. Os resultados eram imprevisíveis, dado o alto nível da disputa, o equilíbrio, o treinamento dos atletas, específico para a temporada de Cross. E era comum vermos atletas do quilate de um Delmir dos Santos, Vanderlei Cordeiro, Valdenor dos Santos, Luís Antonio dos Santos e outros não conseguirem a sonhada vaga para compor a seleção nacional que representaria o País no Mundial de Cross. Devemos o sucesso daquelas provas aos técnicos que acreditavam no Cross como importante para o treinamento dos seus atletas e consequente desempenho dos mesmos em outras provas da temporada, como o saudoso Asdrúbal Batista, Carlos Ventura, Ricardo D’Angelo, Henrique Viana, Humberto Garcia, Marco Antonio Oliveira e José Luís Marques. Havia até entre eles uma saudável disputa para saber quem teria o maior número de atletas e teria a honra de ser o técnico da Seleção Brasileira no Mundial. Era fundamental o apoio que os clubes davam aos atletas e à temporada de Cross, como Funilense, Eletropaulo, Arpoador, São Paulo F.C. e o SESI, assim como o apoio de alguns lunáticos ou realistas (entre os quais me incluo) que acreditavam na importância do Cross para os atletas do País. Lembro que a Funilense, da qual era o responsável, para aumentar a temporada de Cross de seus atletas, levou às suas expensas durante 3 anos atletas para o famoso Cross de Cinqui Mulini, em SanVitório Olona, na Itália, e em outros 6 levou a equipe para atuar como convidada na Taça Européia de Clubes Campeões de Cross e ainda participar de outras provas como o Cross das Amendoeiras, em Portugal, e o de Cáceres, na Espanha.

Lembramos ainda que, em dezembro de 1992, graças ao esforço da CBAt e meu, encaramos o desafio e realizamos uma etapa do Circuito Mundial de Cross em São Paulo, no belo Jockey Clube, e que foi gravado pela TV Jockey e exibido no dia seguinte pela TV Bandeirantes em programa de 1 hora de duração em pleno horário nobre e que teve a participação de atletas de mais de 15 países e alguns atletas de destaque da época, como a portuguesa Albertina Dias, Tegla Lorupe, Simom Chemoyo, entre outros.

Se analisarmos o que os atletas brasileiros conquistaram na década de 90, veremos que ganhamos uma medalha de bronze na Copa do Mundo de Maratonas por equipes, em 1997, em Atenas, recorde mundial de Ronaldo da Costa, que também foi medalha de bronze no Mundial de Meia, em 1994, medalha de prata no Mundial de Revezamento em Estrada, em 1996, medalha de bronze no Mundial de Revezamento em Estrada, em 1998, medalha de bronze na Maratona no Mundial de 1995 com Luís Antonio dos Santos e medalha de bronze por equipes no Mundial de Meia Maratona de 1992. Sem esquecermos que os campeões da São Silvestre da década de 90, Ronaldo da Costa e Emerson Iser Bem participavam das temporadas de cross à época, especialmente Iser Bem, que viajava sempre com a delegação da Funilense aos campeonatos europeus, tendo vencido, inclusive, o Cross das Amendoeiras, uma das etapas do Circuito Mundial de Cross. E o Marílson Gomes dos Santos, campeão da São Silvestre de 2003, assim como o Rômulo Wagner, o vice, sempre participaram dos circuitos de cross na década de 90, de mundiais juvenis de cross, além de participação pela Funilense em provas na Europa.

Nada acontece por acaso e a história deve ser sempre trazida à memória e aproveitada em seus exemplos de sucesso

Apenas para confirmar a importância do treinamento e participação em corridas de cross para a melhora no desempenho de atletas nas demais provas, vamos lembrar alguns nomes (apenas alguns, pois se colocássemos todos certamente esgotaríamos a coluna apenas com a menção dos mesmos) de atletas estrangeiros que venceram maratonas, ganharam medalhas olímpicas e triunfaram em mundiais de pista que tenham tido ou ainda tenham participação ativa em cross: Paul Tergat, Carlos Lopes, Ingrid Kristiansen, Grete Waitz, Rosa Mota, Paula Radclife, Haile Gebrselassie, Adis Abebe, Domingos Castro, Deratu Tulu, Khalid Skah,, Liz MacColgan, Lynn Jennings,, Berhane Adere, Martin Fizz, Fernanda Ribeiro, Keninisa Bekele, John Ngugi, Abel Anton, Hendrick Ramaala, Zola Budd, Elana Mayer entre outros. Aliás, de uma relação de mais de 100 atletas de sucesso internacional que pesquisei, encontrei apenas dois sem participações em cross, o sul-africano John Tugwane (medalha de ouro na maratona olímpica de 1996, em Atlanta) e o maratonista marroquino (hoje naturalizado norte-americano) Khalid Kannouchi. Mas como ambos são de origem africana, é provável que tenham também participado, mas não posso confirmar, pois não encontrei menção em minhas fontes de consulta.

Sei que alguns argumentarão que o cross na Europa, onde foi lançado no século 19, é corrido em clima frio e muitas vezes com neve e não combina com o nosso clima tropical. Meia verdade, pois na década de 90, quando realizávamos com sucesso os circuitos nacionais de cross, o nosso clima era o mesmo de hoje e ao que me consta a África, que vem dominando a modalidade há mais de 15 anos, sempre teve clima semelhante ao nosso.

Realmente nada acontece por acaso.

Agora nos cabe aproveitar os exemplos e não admitirmos e acreditarmos que nosso sucesso na década de 90 seja casual e não tenha sofrido forte influência das nossas disputadas provas de cross e nas competições internacionais de nossos atletas nesta modalidade. Os fatos demonstram que existe uma extrema correlação entre eles. Vamos começar a trabalhar para voltarmos a ter os sucessos internacionais da década de 90. Alias, vou começar assim que terminar de escrever esta coluna. Aliás, o fato de escrever sobre o assunto não deixa de ser um início. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, vem vamos embora que esperar não é saber."

Recorde mundial no meio de lesões

A história de Derek Clayton pode ser resumida na frase: quilometragem excessiva e desgaste por falta de recuperação. Mas a deste britânico alto, de 1,88m, nascido em Lancashire, em novembro de 1942, que emigrou à Austrália aos 21 anos depois de ter passado tempos em Belfast na Irlanda do Norte, e cheia de feitos.

Aos 23 anos, depois de já estar há 2 na Austrália, Derek estréia em maratonas ganhando com 2h22min12 no Campeonato Estadual de Vitória, em Melbourne.

Derek Clayton que era um adepto dos princípios de treinamento de Arthur Lydhiard, dos treinamentos longos, fazia treinamento sempre com 250 km, por semana chegando aos 320 quilômetros em algumas semanas. Esta quilometragem excessiva, e a falta de atenção aos sinais do corpo, acabou custando a Clayton diversas interrupções e inclusive 7 cirurgias mais importantes, sendo 4 nos tendões-de-aquiles. Clayton não tinha a compreensão de que o descanso e a recuperação eram tão importantes e, por esta razão, sofreu tanto com lesões e, apesar de grandes marcas, não conseguiu nenhum grande resultado em Jogos Olímpicos

O maior feito de Derek Clayton foi em Fukuoka, em 3 de dezembro de 1967, na primeira incursão internacional. Depois de uma batalha com o japonês Seeshira Sasaki, passando os 5 km em 15min06, os 10 km 29min57, os 15 km em 44min57. Clayton passou os 20 km em 59min59, sendo a primeira vez que se correu em uma maratona neste ritmo. E no final a marca impressionante de 2h09min36.4, novo recorde mundial, melhorando em quase 3 minutos a marca de 2h12min25 e que era do japonês Shigematsu. O tempo era impressionante ainda mais porque antes da prova a melhor marca de Clayton para a distância era de 2h18min28. Sasaki, que a partir do km 34 tinha se curvado à superioridade de Clayton, ainda se esforçou para cruzar a linha de chegada em 2º, com 2h11min17, que foi, então, a segunda melhor marca mundial da maratona. O que na época talvez Clayton não tivesse associado ao recorde é que no início de 1967 teve que sofrer uma cirurgia no tendão-de-aquiles e, com isso, se viu afastado dos treinos por um longo período, o que o permitiu se recuperar e ganhar o vigor físico necessário para o posterior recorde mundial.

Clayton rodava cerca de 15.000 km por ano, o que lhe acarretava problemas de lesões e cirurgias, tendo, inclusive, participado e terminado em 7º na Maratona dos Jogos Olímpicos do México com sérios problemas de cartilagem. Foi um feito ter terminado o percurso em 2h27min23.8. Assim como fracassou nos Jogos de 1972 em Munique com uma 13ª colocação, em 2h19min49.

Outro grande feito de Derek Clayton foi no dia 30 de maio de 1969, em Antuérpia, na Bélgica, onde se organizou uma maratona com diversos atletas internacionalmente conhecidos para celebrar a inauguração de um túnel. Naquela época os rigores de medição de percurso não eram como os de hoje. A prova, corrida à noite, propiciaria grandes marcas e, no final, venceu Derek Clayton com surpreendentes 2h08min33.6, marca impressionante e os adversários chegando muito distantes, tendo o segundo colocado, o japonês Usmi, terminado quase 3 minutos depois. Houve polêmica sobre a validade do resultado e do mesmo ser o novo recorde mundial. Apenas nos anos 80 é que se concluiu que a prova deve ter sido corrida em distância menor, o que nunca foi aceito ou reconhecido por Clayton.

A confusão ainda foi maior, pois este recorde de 1969 só seria quebrado em outubro de 1981 por Alberto Salazar, na Maratona de Nova York, com 2h08min13, mas descobriu-se depois, que esta Maratona de Nova York se correu com 150 metros a menos. Mas, em dezembro de 1981, o australiano Robert de Castella marcou 2h08min18 em Fukuoka e passou a ser uma marca considerada mais acreditável.

Derek Clayton foi um grande corredor que pagou um preço caro, com lesões e cirurgias, por ter feito quilometragens excessivas e não ter dado atenção ao corpo e a sua recuperação. Mas, indiscutivelmente, marcou o mundo das maratonas com seus resultados impressionantes em Fukuoka em 1967 e na Bélgica em 1969.


Recorde mundial no meio de lesões

Maratona · 15 fev, 2004

A história de Derek Clayton pode ser resumida na frase: quilometragem excessiva e desgaste por falta de recuperação. Mas a deste britânico alto, de 1,88m, nascido em Lancashire, em novembro de 1942, que emigrou à Austrália aos 21 anos depois de ter passado tempos em Belfast na Irlanda do Norte, e cheia de feitos.

Aos 23 anos, depois de já estar há 2 na Austrália, Derek estréia em maratonas ganhando com 2h22min12 no Campeonato Estadual de Vitória, em Melbourne.

Derek Clayton que era um adepto dos princípios de treinamento de Arthur Lydhiard, dos treinamentos longos, fazia treinamento sempre com 250 km, por semana chegando aos 320 quilômetros em algumas semanas. Esta quilometragem excessiva, e a falta de atenção aos sinais do corpo, acabou custando a Clayton diversas interrupções e inclusive 7 cirurgias mais importantes, sendo 4 nos tendões-de-aquiles. Clayton não tinha a compreensão de que o descanso e a recuperação eram tão importantes e, por esta razão, sofreu tanto com lesões e, apesar de grandes marcas, não conseguiu nenhum grande resultado em Jogos Olímpicos

O maior feito de Derek Clayton foi em Fukuoka, em 3 de dezembro de 1967, na primeira incursão internacional. Depois de uma batalha com o japonês Seeshira Sasaki, passando os 5 km em 15min06, os 10 km 29min57, os 15 km em 44min57. Clayton passou os 20 km em 59min59, sendo a primeira vez que se correu em uma maratona neste ritmo. E no final a marca impressionante de 2h09min36.4, novo recorde mundial, melhorando em quase 3 minutos a marca de 2h12min25 e que era do japonês Shigematsu. O tempo era impressionante ainda mais porque antes da prova a melhor marca de Clayton para a distância era de 2h18min28. Sasaki, que a partir do km 34 tinha se curvado à superioridade de Clayton, ainda se esforçou para cruzar a linha de chegada em 2º, com 2h11min17, que foi, então, a segunda melhor marca mundial da maratona. O que na época talvez Clayton não tivesse associado ao recorde é que no início de 1967 teve que sofrer uma cirurgia no tendão-de-aquiles e, com isso, se viu afastado dos treinos por um longo período, o que o permitiu se recuperar e ganhar o vigor físico necessário para o posterior recorde mundial.

Clayton rodava cerca de 15.000 km por ano, o que lhe acarretava problemas de lesões e cirurgias, tendo, inclusive, participado e terminado em 7º na Maratona dos Jogos Olímpicos do México com sérios problemas de cartilagem. Foi um feito ter terminado o percurso em 2h27min23.8. Assim como fracassou nos Jogos de 1972 em Munique com uma 13ª colocação, em 2h19min49.

Outro grande feito de Derek Clayton foi no dia 30 de maio de 1969, em Antuérpia, na Bélgica, onde se organizou uma maratona com diversos atletas internacionalmente conhecidos para celebrar a inauguração de um túnel. Naquela época os rigores de medição de percurso não eram como os de hoje. A prova, corrida à noite, propiciaria grandes marcas e, no final, venceu Derek Clayton com surpreendentes 2h08min33.6, marca impressionante e os adversários chegando muito distantes, tendo o segundo colocado, o japonês Usmi, terminado quase 3 minutos depois. Houve polêmica sobre a validade do resultado e do mesmo ser o novo recorde mundial. Apenas nos anos 80 é que se concluiu que a prova deve ter sido corrida em distância menor, o que nunca foi aceito ou reconhecido por Clayton.

A confusão ainda foi maior, pois este recorde de 1969 só seria quebrado em outubro de 1981 por Alberto Salazar, na Maratona de Nova York, com 2h08min13, mas descobriu-se depois, que esta Maratona de Nova York se correu com 150 metros a menos. Mas, em dezembro de 1981, o australiano Robert de Castella marcou 2h08min18 em Fukuoka e passou a ser uma marca considerada mais acreditável.

Derek Clayton foi um grande corredor que pagou um preço caro, com lesões e cirurgias, por ter feito quilometragens excessivas e não ter dado atenção ao corpo e a sua recuperação. Mas, indiscutivelmente, marcou o mundo das maratonas com seus resultados impressionantes em Fukuoka em 1967 e na Bélgica em 1969.

Carla Moreno: brasileira voadora

É assim que Carla Moreno começa a ficar conhecida no circuito internacional e pretende aumentar a fama com ouro no Pan e uma medalha olímpica

Pronta para buscar o ouro. Depois de conquistar a medalha de prata em Winnipeg/99, Carla Moreno vai correr, nadar e pedalar para chegar em primeiro nos Jogos Pan-Americanos, em agosto, em Santo Domingo, sua segunda participação no evento. A República Dominicana é apenas uma escala. A atleta, que tem lugar cativo na Seleção Brasileira desde 99, tem como destino Atenas 2004. Treina duro para atingir sua grande meta: uma medalha olímpica. Melhor brasileira qualificada no ranking mundial em 2002 (9º colocada), a “brasileira voadora” conta, nesta entrevista exclusiva para SuperAção, um pouco de sua trajetória vitoriosa, planos para a carreira e confirma mais uma vez que o sucesso é conseqüência de muita dedicação e determinação.

Você foi a melhor brasileira do ranking da ITU em 2002, o que espera para este ano?
A posição tem variado bastante, hoje (última semana de maio) estou em 10º lugar. O mais importante são os resultados e não o ranking, pois existem várias provas toda semana e você cai e sobe como se estivesse pulando numa cama elástica. Me preocupo com os resultados. Os pontos serão conseqüência.

E quais são os planos para a carreira?
Dentro do triathlon, hoje, só tenho como objetivo uma medalha nos Jogos Olímpicos. Se vai ser ano que vem, se vai ser em 2008, não sei. Estou lutando com todas as minhas forças.

Como estão suas expectativas em relação ao Pan?
Venho me dedicando ao máximo para estar no pódio, mas não gosto de falar sobre resultado no ar. O triathlon é uma prova que depende de equipamento e, dessa forma, tudo pode acontecer. Não podemos menosprezar ninguém e lutar muito.

A disputa em Santo Domingo promete ser acirrada?
Todas as competidoras são fortes, pois são as melhores de cada país. Mas, sem dúvida, a briga entre brasileiras, americanas e canadenses vai ser legal.

Você se inspira em alguém, tem um ídolo?
Eternamente Ayrton Senna. Cada vez mais me encanto com os projetos que sua irmã (Viviane) vem realizando. Sempre estou admirando a performance alheia, todos aqueles que lutam e conseguem. E tenho que dizer que às vezes a minha também.

Como é a sua rotina?
Minha rotina é treinar, treinar e treinar. Mas, nas minhas horas livres, gosto de estar em casa com meu marido. Minha família sempre faz churrasco. Eu adoro! E gosto de fazer compras.

Como é a sua preparação?
Não tenho planilha, quilômetros e horas. Treino geralmente em três períodos, e também faço massagem e alongamentos. Quando tenho tempo, faço aulas de postura, pois sou um ponto de interrogação, preciso melhorar. Acho que o treino tem que ser de acordo com a capacidade de cada indivíduo. O meu treino só seria bom para o meu clone. O meu técnico varia muito e nem sempre faço os três esportes no mesmo dia ou, às vezes, faço duas vezes a mesma modalidade.

Quem compõe sua equipe de trabalho?
Meu técnico é o Cali, tenho um fisioterapeuta que é o Marco Aurélio, meu massagista é o Paulo (meu marido, também fisioterapeuta), e um médico que é o Dr. Oscar Naranjo, que cuida de toda alimentação e suplementação.

Quais são os cuidados com alimentação?
O Dr. Oscar é quem fez meu Fusca virar Formula 1. Estou ainda na Formula 3.000, na F-1 chego ano que vem. Faço uma dieta balanceada, pois meu médico me conhece e adaptou o que meu organismo absorve melhor. Não adianta eu falar que bebo de 3 a 4 litros de leite por dia, quem conseguiria? Eu e o bezerro. Não consumo o que realmente não gosto, não aprecio frituras, exceto banana à milanesa, não gosto de refrigerante, de cerveja, em compensação não fico sem doce nenhum dia, sou uma pessoa muito elétrica, como chocolate umas quatro vezes. Também como sanduíche quando tenho vontade. Não sou escrava, mas tenho consciência e como o que me faz bem. Não como sem vontade, a gula é o problema.

O que a fez se dedicar ao triathlon?
Eu era nadadora e comecei a praticar corrida de rua pra sair da rotina. Aí foi só comprar uma bike. Comecei em 1996. Não fui nenhum fenômeno na natação (disputava provas de 100m e 200m peito e 400 medley), senão não estaria no triathlon. Adoro natação de paixão, passo horas assistindo uma prova pela TV.

Qual é seu ponto forte na modalidade?
Acho que sou média nos três esportes e quero melhorar nos três. Tudo depende da prova, você precisa ter natação de primeiro pelotão, ciclismo para se manter e corrida pra decidir.

Qual foi a prova mais difícil que você já disputou?
A etapa da World Cup de Nice, na França. Me lembro que o ciclismo tinha uma serra e era super difícil. Quando reconheci o percurso, um dia antes, chorava a noite de tanto nervoso, achava que não conseguiria. Antes da prova, o técnico australiano (parceiro do Cali) que estava me acompanhando, chegou e disse que esperava algo de bom porque confiava em mim. Senti, naquele instante, minutos antes da largada, a responsabilidade. Na primeira volta do ciclismo perdi minha garrafa de água, ou seja, fiz 40km de bike no seco. Na corrida serviam água com gás. Conclusão: não podia tomar se não vomitaria. Estava mal, em 8º lugar quando faltavam duas voltas de corrida, 2 ou 3 km para terminar, e o técnico já estava cansado de gritar, bravo, e eu cansada, com sede. Teve uma hora que ele desistiu. Eu estava morta, mas pensei, vou provar que não desisto. Dei um sprint, a galera levantou, e as pessoas pensavam que tinha tomado algo, porque o narrador dizia que eu estava voando e não correndo, ‘brasileira voadora!’ Cheguei em segundo lugar e chorei muito ao ver a bandeira do Brasil no pódio. Ficaram dois ensinamentos: quando tudo parecer impossível, se não chegou o final, há sempre esperança e, a dor física pode ser superada quando estamos felizes, ou seja, aquela dor terrível, a sede, foram superadas ao pendurar a medalha no pescoço e ver a Bandeira Nacional no alto. E ainda pude surpreender meu técnico, que achava que tudo estava perdido.

Você nunca participou de Ironman, tem planos para este tipo de competição?
Não sei se vou participar. Acho que tenho que ter um objetivo de cada vez. Se não, você se perde no meio do caminho. Gostaria de ter participado dos 10km de pista para tentar o índice dos Jogos Pan-Americanos, mas meu técnico não deixou. Então, entendi que estava errada, o triathlon já é, por natureza, um esporte que exige muito, portanto, é preciso de tempo para tudo.

Até quando você acredita ser possível competir em alto nível no triathlon?
Depende da cabeça do atleta. A Fernanda Keller, por exemplo, está com quase 40 anos e dá show no ironman. Tudo depende se o atleta vai ter paciência e condições físicas (muita lesão poderá levar a uma curta carreira). Na minha opinião, carreira é questão de objetivo. Se você alcançou sua meta, como vai pensar depois? Então entra a questão do tempo. Quando se tem uma motivação e um objetivo, se vai longe.

Entre as competidoras atuais, quem são suas maiores adversárias?
Quando dá a sirene, todas são iguais, quem cruzar a linha de chegada em primeiro é a melhor naquele dia. Nem sempre estamos bem sempre e ninguém é invencível. Por isso, não acredito em adversárias, sempre pode surgir alguém pra surpreender, então, ficar ligado é o melhor adversário.

Que dicas daria para quem sonha em ser campeã de triathlon?
Ser dedicado e estar preparado para sofrer. Do céu só cai chuva, raios, gelo!

Qual foi o momento mais importante da sua carreira?
Vai ser quando eu conquistar meu objetivo (uma medalha olímpica).

Você sempre demostrou ser bastante vaidosa...
Sou sempre cuidadosa. Gosto de olhar no espelho e me sentir bonita. Não gosto de ficar suja ou suada. Sempre estou cheirosa e bem arrumada. Não gosto de roupas “frescurentas”, mas gosto de ter meu estilo de vestir. Sou detalhista e observadora. Acho que isso é uma grande vantagem dentro do meu esporte. O detalhe faz a diferença.

E como é a Carla Moreno?
Sou uma pessoa feliz, que gosta muito de conversar e ajudar as pessoas. Meu maior defeito é querer tudo do meu jeito e gostar de resolver os meus problemas e dos outros logo.


Carla Moreno: brasileira voadora

Triathlon · 14 fev, 2004

É assim que Carla Moreno começa a ficar conhecida no circuito internacional e pretende aumentar a fama com ouro no Pan e uma medalha olímpica

Pronta para buscar o ouro. Depois de conquistar a medalha de prata em Winnipeg/99, Carla Moreno vai correr, nadar e pedalar para chegar em primeiro nos Jogos Pan-Americanos, em agosto, em Santo Domingo, sua segunda participação no evento. A República Dominicana é apenas uma escala. A atleta, que tem lugar cativo na Seleção Brasileira desde 99, tem como destino Atenas 2004. Treina duro para atingir sua grande meta: uma medalha olímpica. Melhor brasileira qualificada no ranking mundial em 2002 (9º colocada), a “brasileira voadora” conta, nesta entrevista exclusiva para SuperAção, um pouco de sua trajetória vitoriosa, planos para a carreira e confirma mais uma vez que o sucesso é conseqüência de muita dedicação e determinação.

Você foi a melhor brasileira do ranking da ITU em 2002, o que espera para este ano?
A posição tem variado bastante, hoje (última semana de maio) estou em 10º lugar. O mais importante são os resultados e não o ranking, pois existem várias provas toda semana e você cai e sobe como se estivesse pulando numa cama elástica. Me preocupo com os resultados. Os pontos serão conseqüência.

E quais são os planos para a carreira?
Dentro do triathlon, hoje, só tenho como objetivo uma medalha nos Jogos Olímpicos. Se vai ser ano que vem, se vai ser em 2008, não sei. Estou lutando com todas as minhas forças.

Como estão suas expectativas em relação ao Pan?
Venho me dedicando ao máximo para estar no pódio, mas não gosto de falar sobre resultado no ar. O triathlon é uma prova que depende de equipamento e, dessa forma, tudo pode acontecer. Não podemos menosprezar ninguém e lutar muito.

A disputa em Santo Domingo promete ser acirrada?
Todas as competidoras são fortes, pois são as melhores de cada país. Mas, sem dúvida, a briga entre brasileiras, americanas e canadenses vai ser legal.

Você se inspira em alguém, tem um ídolo?
Eternamente Ayrton Senna. Cada vez mais me encanto com os projetos que sua irmã (Viviane) vem realizando. Sempre estou admirando a performance alheia, todos aqueles que lutam e conseguem. E tenho que dizer que às vezes a minha também.

Como é a sua rotina?
Minha rotina é treinar, treinar e treinar. Mas, nas minhas horas livres, gosto de estar em casa com meu marido. Minha família sempre faz churrasco. Eu adoro! E gosto de fazer compras.

Como é a sua preparação?
Não tenho planilha, quilômetros e horas. Treino geralmente em três períodos, e também faço massagem e alongamentos. Quando tenho tempo, faço aulas de postura, pois sou um ponto de interrogação, preciso melhorar. Acho que o treino tem que ser de acordo com a capacidade de cada indivíduo. O meu treino só seria bom para o meu clone. O meu técnico varia muito e nem sempre faço os três esportes no mesmo dia ou, às vezes, faço duas vezes a mesma modalidade.

Quem compõe sua equipe de trabalho?
Meu técnico é o Cali, tenho um fisioterapeuta que é o Marco Aurélio, meu massagista é o Paulo (meu marido, também fisioterapeuta), e um médico que é o Dr. Oscar Naranjo, que cuida de toda alimentação e suplementação.

Quais são os cuidados com alimentação?
O Dr. Oscar é quem fez meu Fusca virar Formula 1. Estou ainda na Formula 3.000, na F-1 chego ano que vem. Faço uma dieta balanceada, pois meu médico me conhece e adaptou o que meu organismo absorve melhor. Não adianta eu falar que bebo de 3 a 4 litros de leite por dia, quem conseguiria? Eu e o bezerro. Não consumo o que realmente não gosto, não aprecio frituras, exceto banana à milanesa, não gosto de refrigerante, de cerveja, em compensação não fico sem doce nenhum dia, sou uma pessoa muito elétrica, como chocolate umas quatro vezes. Também como sanduíche quando tenho vontade. Não sou escrava, mas tenho consciência e como o que me faz bem. Não como sem vontade, a gula é o problema.

O que a fez se dedicar ao triathlon?
Eu era nadadora e comecei a praticar corrida de rua pra sair da rotina. Aí foi só comprar uma bike. Comecei em 1996. Não fui nenhum fenômeno na natação (disputava provas de 100m e 200m peito e 400 medley), senão não estaria no triathlon. Adoro natação de paixão, passo horas assistindo uma prova pela TV.

Qual é seu ponto forte na modalidade?
Acho que sou média nos três esportes e quero melhorar nos três. Tudo depende da prova, você precisa ter natação de primeiro pelotão, ciclismo para se manter e corrida pra decidir.

Qual foi a prova mais difícil que você já disputou?
A etapa da World Cup de Nice, na França. Me lembro que o ciclismo tinha uma serra e era super difícil. Quando reconheci o percurso, um dia antes, chorava a noite de tanto nervoso, achava que não conseguiria. Antes da prova, o técnico australiano (parceiro do Cali) que estava me acompanhando, chegou e disse que esperava algo de bom porque confiava em mim. Senti, naquele instante, minutos antes da largada, a responsabilidade. Na primeira volta do ciclismo perdi minha garrafa de água, ou seja, fiz 40km de bike no seco. Na corrida serviam água com gás. Conclusão: não podia tomar se não vomitaria. Estava mal, em 8º lugar quando faltavam duas voltas de corrida, 2 ou 3 km para terminar, e o técnico já estava cansado de gritar, bravo, e eu cansada, com sede. Teve uma hora que ele desistiu. Eu estava morta, mas pensei, vou provar que não desisto. Dei um sprint, a galera levantou, e as pessoas pensavam que tinha tomado algo, porque o narrador dizia que eu estava voando e não correndo, ‘brasileira voadora!’ Cheguei em segundo lugar e chorei muito ao ver a bandeira do Brasil no pódio. Ficaram dois ensinamentos: quando tudo parecer impossível, se não chegou o final, há sempre esperança e, a dor física pode ser superada quando estamos felizes, ou seja, aquela dor terrível, a sede, foram superadas ao pendurar a medalha no pescoço e ver a Bandeira Nacional no alto. E ainda pude surpreender meu técnico, que achava que tudo estava perdido.

Você nunca participou de Ironman, tem planos para este tipo de competição?
Não sei se vou participar. Acho que tenho que ter um objetivo de cada vez. Se não, você se perde no meio do caminho. Gostaria de ter participado dos 10km de pista para tentar o índice dos Jogos Pan-Americanos, mas meu técnico não deixou. Então, entendi que estava errada, o triathlon já é, por natureza, um esporte que exige muito, portanto, é preciso de tempo para tudo.

Até quando você acredita ser possível competir em alto nível no triathlon?
Depende da cabeça do atleta. A Fernanda Keller, por exemplo, está com quase 40 anos e dá show no ironman. Tudo depende se o atleta vai ter paciência e condições físicas (muita lesão poderá levar a uma curta carreira). Na minha opinião, carreira é questão de objetivo. Se você alcançou sua meta, como vai pensar depois? Então entra a questão do tempo. Quando se tem uma motivação e um objetivo, se vai longe.

Entre as competidoras atuais, quem são suas maiores adversárias?
Quando dá a sirene, todas são iguais, quem cruzar a linha de chegada em primeiro é a melhor naquele dia. Nem sempre estamos bem sempre e ninguém é invencível. Por isso, não acredito em adversárias, sempre pode surgir alguém pra surpreender, então, ficar ligado é o melhor adversário.

Que dicas daria para quem sonha em ser campeã de triathlon?
Ser dedicado e estar preparado para sofrer. Do céu só cai chuva, raios, gelo!

Qual foi o momento mais importante da sua carreira?
Vai ser quando eu conquistar meu objetivo (uma medalha olímpica).

Você sempre demostrou ser bastante vaidosa...
Sou sempre cuidadosa. Gosto de olhar no espelho e me sentir bonita. Não gosto de ficar suja ou suada. Sempre estou cheirosa e bem arrumada. Não gosto de roupas “frescurentas”, mas gosto de ter meu estilo de vestir. Sou detalhista e observadora. Acho que isso é uma grande vantagem dentro do meu esporte. O detalhe faz a diferença.

E como é a Carla Moreno?
Sou uma pessoa feliz, que gosta muito de conversar e ajudar as pessoas. Meu maior defeito é querer tudo do meu jeito e gostar de resolver os meus problemas e dos outros logo.

Hudson de Souza: feliz e insatisfeito

Hudson de Souza curte o bom momento após a conquista histórica no Pan-Americano, mas trabalha muito para brigar por medalhas em Atenas.

As distâncias percorridas por Hudson Santos de Souza, do início da carreira na pista de concreto, em Brasília, até os dias de hoje, foram bem maiores e mais difíceis que enfrentar incansáveis africanos nos 1.500 metros, prova que é sua especialidade. Dono de duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Santo Domingo, na República Dominicana, se tornou o primeiro atleta da história a chegar ao lugar mais alto do pódio nos 1.500 e 5.000 metros na competição continental. Feliz, sim. Satisfeito, não. Força de vontade é o que não falta ao atleta de 26 anos, que espera não só marcar presença, como fazer bonito na próxima Olimpíada, na Grécia em 2004. “Tenho determinação desde pequeno. Quando quero fazer uma coisa, vou até o fim.” E é com esse pensamento que o atleta se prepara para uma verdadeira bateria de treinamentos e viagens na busca da tão sonhada medalha olímpica.

Em novembro, Hudson desembarca em Cochabamba, na Bolívia, para mais de um mês de treinamento na altitude. Em 2004, vai participar do Mundial Indoor, na Europa, em fevereiro, e logo depois segue para uma temporada de treinos nos Estados Unidos. Serão mais de 25 provas antes da Olimpíada. “Meu objetivo maior agora é correr atrás do índice.” Para carimbar o passaporte para Atenas, o brasiliense precisa correr os 1.500m abaixo de 3min35, tempo do índice A da IAAF (Associação das Federações Internacionais de Atletismo). Neste ano, ele vem correndo na faixa de 3min36, fato que não o assusta, uma vez que tem como melhor marca 3min33.

Com os pés no chão, Hudson sabe que não vai ter moleza na temporada 2004. Com o destaque pela dupla conquista na República Dominicana, as cobranças por resultados tendem a aumentar. “O pessoal acha que o Pan-Americano é uma Olimpíada, mas não se lembram que faltam quatro continentes, e são esses que atrapalham. Os atletas da Europa e o África são os que mais dificultam no atletismo”, explica. “Os africanos são um calo no pé de quem faz atletismo”, brinca.
Mas nem sempre a briga de Hudson foi por tempo nos 1.500 metros. Ele começou no salto em altura, quando tinha 14 anos. Mas o grande diferencial na carreira ocorreu pelo incentivo dos pais. Já competindo, sentia na pele as dificuldades da falta de dinheiro para comprar tênis e bancar viagens. Não tinha dinheiro para nada. Pensou em trabalhar, mas os pais impediram, dizendo que deveria continuar no atletismo, pois seria um grande atleta para o Brasil. “Meus pais acreditaram mais em mim do que eu mesmo. Ainda falei que queria trabalhar, e eles disseram: ‘não, não e não. Fique fazendo o esporte que é bem melhor pra você’. Pô, eu até chorei. Chorei pra caramba”, conta, emocionado. Com quase 16 anos, ele iria pegar a vaga de “boy” que era do irmão na Caixa Econômica Federal, empresa que hoje é sua patrocinadora.

Motivado a continuar no atletismo, permaneceu no salto em altura por um ano e meio até passar a treinar com João Sena. Com Sena, mudou de prova. Começou a correr os 800m e 1.500m. “Nessa época, quando o atleta é juvenil, o cara vai mais pela distância, quer correr bem menos”, lembra ele, referindo-se as provas de fundo. Suas primeiras importantes conquistas vieram aos 17 anos, quando o treinador já era outro: Adauto Domingues. Morando em São Paulo, longe da família, Hudson foi incorporando os 1.500 metros e começou a obter as conquistas que hoje o consagram. Logo estabeleceu o recorde juvenil sul-americano para a distância e ficou com o terceiro lugar no Pan-Americano da categoria. Após dois anos treinando com Domingues, foi para as mãos de Luiz Alberto de Oliveira, ex-técnico do campeão olímpico Joaquim Cruz, com quem está até hoje.

A fama nacional após os Jogos Pan-Americanos ainda é novidade na vida do atleta. Tanto, que tenta se acostumar com o assédio, a curiosidades das pessoas e a rotina de autógrafos em qualquer lugar que vá. “Está muito recente, mas é uma coisa muito gostosa. Receber o carinho do público desse jeito é bem legal”, explica.

Família - Muito apegado a família, Hudson lembra do carinho da mãe, que procurava sempre acompanhar os passos do filho. “Minha mãe era minha fã número um. Tinha as gravações, fotos, tudinho”, lembre o atleta, com saudades.
Protetor, recentemente trouxe o irmão mais novo para morar com ele, em Presidente Prudente. “Meu pai e meu outro irmão trabalham e minha irmã fica um bom tempo na escola. Ele ficava sozinho em casa e tinha alguns amigos que não eram ‘boa pinta’. Poderiam acabar influenciando na vida dele”, relata. Diego, hoje com 17 anos, também treina e, segundo o irmão coruja, promete muito. “Ele está treinando 400m com barreiras. Daqui há três anos vai ser um grande atleta. O moleque é mais talento que eu.
Corre bem mais fácil e tem a passada mais larga”, completa.

Influenciado pelos treinos cansativos – são dois perídos por dia, sendo que descança apenas uma vez por mês – Hudson não tem uma vida muito agitada fora das pistas. Ele se define como um cara tranquilo, que gosta muito do aconchego do lar. “Não gosto muito de balada. Curto mais ir ao shopping, sair para jantar, ir ao cinema. Também gosto de ir nos parques”, detalha.

Consciente de que o atletismo não é para sempre, planeja completar os estudos. “Estou querendo cursar Educação Física ano que vem, mas não sei se vai dar. Vou me dedicar mais à Olímpiada e deixar para o outro ano, mas é bem importante terminar os estudos”, completa.


Hudson de Souza: feliz e insatisfeito

Atletismo · 08 fev, 2004

Hudson de Souza curte o bom momento após a conquista histórica no Pan-Americano, mas trabalha muito para brigar por medalhas em Atenas.

As distâncias percorridas por Hudson Santos de Souza, do início da carreira na pista de concreto, em Brasília, até os dias de hoje, foram bem maiores e mais difíceis que enfrentar incansáveis africanos nos 1.500 metros, prova que é sua especialidade. Dono de duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Santo Domingo, na República Dominicana, se tornou o primeiro atleta da história a chegar ao lugar mais alto do pódio nos 1.500 e 5.000 metros na competição continental. Feliz, sim. Satisfeito, não. Força de vontade é o que não falta ao atleta de 26 anos, que espera não só marcar presença, como fazer bonito na próxima Olimpíada, na Grécia em 2004. “Tenho determinação desde pequeno. Quando quero fazer uma coisa, vou até o fim.” E é com esse pensamento que o atleta se prepara para uma verdadeira bateria de treinamentos e viagens na busca da tão sonhada medalha olímpica.

Em novembro, Hudson desembarca em Cochabamba, na Bolívia, para mais de um mês de treinamento na altitude. Em 2004, vai participar do Mundial Indoor, na Europa, em fevereiro, e logo depois segue para uma temporada de treinos nos Estados Unidos. Serão mais de 25 provas antes da Olimpíada. “Meu objetivo maior agora é correr atrás do índice.” Para carimbar o passaporte para Atenas, o brasiliense precisa correr os 1.500m abaixo de 3min35, tempo do índice A da IAAF (Associação das Federações Internacionais de Atletismo). Neste ano, ele vem correndo na faixa de 3min36, fato que não o assusta, uma vez que tem como melhor marca 3min33.

Com os pés no chão, Hudson sabe que não vai ter moleza na temporada 2004. Com o destaque pela dupla conquista na República Dominicana, as cobranças por resultados tendem a aumentar. “O pessoal acha que o Pan-Americano é uma Olimpíada, mas não se lembram que faltam quatro continentes, e são esses que atrapalham. Os atletas da Europa e o África são os que mais dificultam no atletismo”, explica. “Os africanos são um calo no pé de quem faz atletismo”, brinca.
Mas nem sempre a briga de Hudson foi por tempo nos 1.500 metros. Ele começou no salto em altura, quando tinha 14 anos. Mas o grande diferencial na carreira ocorreu pelo incentivo dos pais. Já competindo, sentia na pele as dificuldades da falta de dinheiro para comprar tênis e bancar viagens. Não tinha dinheiro para nada. Pensou em trabalhar, mas os pais impediram, dizendo que deveria continuar no atletismo, pois seria um grande atleta para o Brasil. “Meus pais acreditaram mais em mim do que eu mesmo. Ainda falei que queria trabalhar, e eles disseram: ‘não, não e não. Fique fazendo o esporte que é bem melhor pra você’. Pô, eu até chorei. Chorei pra caramba”, conta, emocionado. Com quase 16 anos, ele iria pegar a vaga de “boy” que era do irmão na Caixa Econômica Federal, empresa que hoje é sua patrocinadora.

Motivado a continuar no atletismo, permaneceu no salto em altura por um ano e meio até passar a treinar com João Sena. Com Sena, mudou de prova. Começou a correr os 800m e 1.500m. “Nessa época, quando o atleta é juvenil, o cara vai mais pela distância, quer correr bem menos”, lembra ele, referindo-se as provas de fundo. Suas primeiras importantes conquistas vieram aos 17 anos, quando o treinador já era outro: Adauto Domingues. Morando em São Paulo, longe da família, Hudson foi incorporando os 1.500 metros e começou a obter as conquistas que hoje o consagram. Logo estabeleceu o recorde juvenil sul-americano para a distância e ficou com o terceiro lugar no Pan-Americano da categoria. Após dois anos treinando com Domingues, foi para as mãos de Luiz Alberto de Oliveira, ex-técnico do campeão olímpico Joaquim Cruz, com quem está até hoje.

A fama nacional após os Jogos Pan-Americanos ainda é novidade na vida do atleta. Tanto, que tenta se acostumar com o assédio, a curiosidades das pessoas e a rotina de autógrafos em qualquer lugar que vá. “Está muito recente, mas é uma coisa muito gostosa. Receber o carinho do público desse jeito é bem legal”, explica.

Família - Muito apegado a família, Hudson lembra do carinho da mãe, que procurava sempre acompanhar os passos do filho. “Minha mãe era minha fã número um. Tinha as gravações, fotos, tudinho”, lembre o atleta, com saudades.
Protetor, recentemente trouxe o irmão mais novo para morar com ele, em Presidente Prudente. “Meu pai e meu outro irmão trabalham e minha irmã fica um bom tempo na escola. Ele ficava sozinho em casa e tinha alguns amigos que não eram ‘boa pinta’. Poderiam acabar influenciando na vida dele”, relata. Diego, hoje com 17 anos, também treina e, segundo o irmão coruja, promete muito. “Ele está treinando 400m com barreiras. Daqui há três anos vai ser um grande atleta. O moleque é mais talento que eu.
Corre bem mais fácil e tem a passada mais larga”, completa.

Influenciado pelos treinos cansativos – são dois perídos por dia, sendo que descança apenas uma vez por mês – Hudson não tem uma vida muito agitada fora das pistas. Ele se define como um cara tranquilo, que gosta muito do aconchego do lar. “Não gosto muito de balada. Curto mais ir ao shopping, sair para jantar, ir ao cinema. Também gosto de ir nos parques”, detalha.

Consciente de que o atletismo não é para sempre, planeja completar os estudos. “Estou querendo cursar Educação Física ano que vem, mas não sei se vai dar. Vou me dedicar mais à Olímpiada e deixar para o outro ano, mas é bem importante terminar os estudos”, completa.

Valdenor Pereira: regularidade a toda prova

Quando se está na infância, nossa maior preocupação é com as brincadeiras. Nesse momento da vida, o fato de não termos compromissos, de não se preocupar com um futuro eminente, faz com que tudo seja uma forma de diversão. Assim, brincando, nascem as estrelas. Assim, brincando, ‘nasceu’ Valdenor dos Santos Pereira. Natural de São Raimundo Nonato, no Piauí, Valdenor deu seus primeiros piques durante as aulas de educação física, e não parou mais. São 18 anos colecionando conquistas. Mas tanto sucesso e reconhecimento não passavam pela cabeça do atleta. “No início era tudo uma grande brincadeira. O professor sempre acreditava no meu potencial. Eu não acreditava que tinha essa capacidade”.

Valdenor é mais um batalhador do atletismo. De família pobre, lembra das dificuldades que marcaram o começo da carreira, que hoje é uma das mais representativas entre os atletas em atividade. Dificuldades como falta de materiais, de apoio e de oportunidade, felizmente ficaram para trás. “Sou uma pessoa realizada no esporte. O que eu consegui, dá para sobreviver. Entre milhões, sou um privilegiado”, esclarece. Mas não só o dinheiro conquistado ao longo da carreira e a possibilidade de ser um atleta patrocinado – Valdenor é atleta do Cruzeiro – é que alegram o atleta. O fato de ser um ídolo e dar exemplos para outras pessoas deixa Valdenor ‘envaidecido’. “É bom ter esse assédio. Quem não gosta?”, dispara.

Com um ‘jeitão’ caseiro, Valdenor preza muito o lado família, que garante nunca ter abandonado. Fora das ruas e pistas, o atleta se define como uma pessoa simples, humilde, amante de plantas e animais. Valdenor vive em uma chácara, em Brasília, cercado de verde e tranqüilidade. “Não sou só eu não. O Vanderlei (Cordeiro de Lima) também gosta desse estilo de vida”, lembra.

No melhor de sua forma, garante que hoje treina menos e corre mais do que no início da carreira. “Antes eu treinava muito por conta”, explica. Esse treino mais ‘light’ dos tempos atuais inclui dois períodos de corridas, três vezes na semana. Na parte da manhã (6h40) são 15 quilômetros e durante a tarde (15h) mais 10 quilômetros. Distâncias que são alteradas conforme a competição que participa.
Aos 33 anos de idade, engana-se quem pensa que Valdenor está parando. “Vou continuar correndo pelo resto da minha vida. O esporte, para mim, vai ser eterno”, enfatiza.

Eterno mesmo deve ser o fôlego de Valdenor. O atleta tem como ‘foco’, a disputa da maratona na Olimpíada de Atenas em 2004. Para conseguir tal objetivo, aguarda ansiosamente a confirmação de sua inscrição na maratona de Berlim, em setembro, na sua primeira investida para conseguir o índice olímpico.

Se depender da vontade, Valdenor já tem vaga garantida. E vários são os motivos para tanta expectativa por parte do atleta. Uma delas é que Valdenor já esteve muito próximo de disputar uma Olimpíada, a de Atlanta, em 1996, mas houve uma mudança nas regras para definir os representantes brasileiros nos jogos e o corredor, mesmo com o índice, ficou de fora. O outro motivo é a sua volta às maratonas. Em sua última prova, na Grécia, em 1997, sofreu uma grave lesão no músculo adutor da coxa, que o tirou das ruas por quase um ano. “Fiquei seis meses parado. Voltei a correr após um ano. Nesse período, quase parei no esporte”.

Com tudo isso, Valdenor esperar poder completar ainda mais o seu currículo de vitórias. Afinal, vencer uma prova olímpica é o único título que lhe falta na carreira.


Valdenor Pereira: regularidade a toda prova

Corridas de Rua · 07 fev, 2004

Quando se está na infância, nossa maior preocupação é com as brincadeiras. Nesse momento da vida, o fato de não termos compromissos, de não se preocupar com um futuro eminente, faz com que tudo seja uma forma de diversão. Assim, brincando, nascem as estrelas. Assim, brincando, ‘nasceu’ Valdenor dos Santos Pereira. Natural de São Raimundo Nonato, no Piauí, Valdenor deu seus primeiros piques durante as aulas de educação física, e não parou mais. São 18 anos colecionando conquistas. Mas tanto sucesso e reconhecimento não passavam pela cabeça do atleta. “No início era tudo uma grande brincadeira. O professor sempre acreditava no meu potencial. Eu não acreditava que tinha essa capacidade”.

Valdenor é mais um batalhador do atletismo. De família pobre, lembra das dificuldades que marcaram o começo da carreira, que hoje é uma das mais representativas entre os atletas em atividade. Dificuldades como falta de materiais, de apoio e de oportunidade, felizmente ficaram para trás. “Sou uma pessoa realizada no esporte. O que eu consegui, dá para sobreviver. Entre milhões, sou um privilegiado”, esclarece. Mas não só o dinheiro conquistado ao longo da carreira e a possibilidade de ser um atleta patrocinado – Valdenor é atleta do Cruzeiro – é que alegram o atleta. O fato de ser um ídolo e dar exemplos para outras pessoas deixa Valdenor ‘envaidecido’. “É bom ter esse assédio. Quem não gosta?”, dispara.

Com um ‘jeitão’ caseiro, Valdenor preza muito o lado família, que garante nunca ter abandonado. Fora das ruas e pistas, o atleta se define como uma pessoa simples, humilde, amante de plantas e animais. Valdenor vive em uma chácara, em Brasília, cercado de verde e tranqüilidade. “Não sou só eu não. O Vanderlei (Cordeiro de Lima) também gosta desse estilo de vida”, lembra.

No melhor de sua forma, garante que hoje treina menos e corre mais do que no início da carreira. “Antes eu treinava muito por conta”, explica. Esse treino mais ‘light’ dos tempos atuais inclui dois períodos de corridas, três vezes na semana. Na parte da manhã (6h40) são 15 quilômetros e durante a tarde (15h) mais 10 quilômetros. Distâncias que são alteradas conforme a competição que participa.
Aos 33 anos de idade, engana-se quem pensa que Valdenor está parando. “Vou continuar correndo pelo resto da minha vida. O esporte, para mim, vai ser eterno”, enfatiza.

Eterno mesmo deve ser o fôlego de Valdenor. O atleta tem como ‘foco’, a disputa da maratona na Olimpíada de Atenas em 2004. Para conseguir tal objetivo, aguarda ansiosamente a confirmação de sua inscrição na maratona de Berlim, em setembro, na sua primeira investida para conseguir o índice olímpico.

Se depender da vontade, Valdenor já tem vaga garantida. E vários são os motivos para tanta expectativa por parte do atleta. Uma delas é que Valdenor já esteve muito próximo de disputar uma Olimpíada, a de Atlanta, em 1996, mas houve uma mudança nas regras para definir os representantes brasileiros nos jogos e o corredor, mesmo com o índice, ficou de fora. O outro motivo é a sua volta às maratonas. Em sua última prova, na Grécia, em 1997, sofreu uma grave lesão no músculo adutor da coxa, que o tirou das ruas por quase um ano. “Fiquei seis meses parado. Voltei a correr após um ano. Nesse período, quase parei no esporte”.

Com tudo isso, Valdenor esperar poder completar ainda mais o seu currículo de vitórias. Afinal, vencer uma prova olímpica é o único título que lhe falta na carreira.

Juraci Moreira: contra a maré

Juraci Moreira luta contra contusões e má fase para reencontrar o caminho das vitórias rumo a Olimpíada

O esporte de alto rendimento é implacável. Se os resultados não aparecem, o atleta descobre rapidamente o que é cair do céu para o inferno. Os motivos para perda de rendimento, normalmente, começam com contusões. Os problemas físicos limitam o desempenho e a falta de confiança completa o quadro de má fase e jejum de vitórias O ano de 2003 tem sido marcado pela luta de Juraci Moreira Júnior para interromper esse círculo vicioso.

O triatleta de 24 anos sofre com contusões desde o início do ano, o que prejudicou seu desempenho no ranking mundial. Depois de terminar 2002 na 18º colocação, sendo o melhor brasileiro na lista, chega ao segundo semestre na 41º colocação (Leandro Macedo, em 20º, é o atleta nacional mais bem ranqueado). Não bastasse a insatisfação pela distância que se forma à sua frente no ranking, Juraci teme que os problemas atrapalhem seu principal objetivo: a Olimpíada de 2004. Isso porque o primeiro brasileiro na classificação da ITU garante vaga para Atenas sem necessidade de seletiva.
Juraci luta para dar a volta por cima e repetir o feito de Sydney, em 2000, quando foi o atleta mais jovem a disputar uma prova olímpica de triathlon. Paciência, perseverança e muito treino são algumas das armas necessárias para atingir o objetivo.

Uma das grandes decepções deste ano foi perder a vaga para os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. Além de sofrer com uma lesão na panturrilha do início do ano, o triatleta foi alvo da falta de sorte durante a seletiva. No trecho de ciclismo, o pneu estourou e ele acabou ficando de fora da briga pela vaga. “É o segundo Pan que fico de fora. Em 99 (Winnipeg), não tive tempo para me classificar. Agora que tinha condições, aconteceu tudo isso”, conta.
Para ‘fugir’ do Pan, partiu para duas etapas da Copa do Mundo, mas não as completou. Buscando uma maneira de melhorar os resultados, foi treinar em San Diego (EUA), considerada o berço e capital do triathlon. Logo no primeiro dia, uma torção no tornozelo causou pequenas rupturas nos ligamentos, o que o deixou sem correr por 25 dias.

Mesmo com os inúmeros problemas, não desanimou e foi disputar a etapa de Nova Iorque. Precisava completar uma prova para ganhar mais confiança. E seguindo na linha que ‘desgraça pouca é bobagem’, o mau tempo no Rio Hudson fez com que a organização substituísse o trecho de natação por mais um trecho de 5km de corrida. “Nessa, o meu técnico fala: ‘Vamos na igreja nos benzer’”, brinca Moreira. Mas o fato de ter que correr mais que o previsto, mesmo após a lesão, não desanimou Juraci, que finalmente pode completar uma etapa, chegando na 29º colocação entre 37 inscritos na categoria elite.

Se os resultados de 2003 são para se esquecer, a rápida ascensão no esporte não pode ser deixada de lado. Poucos sabem que em 1998, quando foi campeão brasileiro juvenil, Juraci cruzou a linha de chega à frente dos profissionais. Deveria ter sido o atleta mais jovem a ganhar o título. Deveria. Ganhou, mas não levou em função da idade. O fato é que depois do feito do então garoto, a regra foi alterada, sendo possível que um juvenil seja campeão nacional adulto.

Natural de Curitiba, no Paraná, Juraci deu seus primeiros passos, ou melhor, braçadas no esporte aos 9 anos, incentivado pelo pai, praticante da modalidade. Empolgado, aos 11 anos queria treinar mais forte, já motivado pelo espírito de competição. No clube onde nadava, teve contato com alguns triatletas, entre eles Luís Catta Preta. Convidado a praticar a nova modalidade, participou de um Biathlon, quando estava prestes a completar 14 anos, e venceu na categoria.

O primeiro triathlon foi no ano de 1994, no Troféu Brasil, em Santos, onde terminou na 5º colocação Na categoria. O resultado o motivou ainda mais, uma vez que estava preparado para completar a prova em 1h10 e conseguiu fazer um tempo cinco minutos melhor. Agora, não poderia parar mais. Mas surgiu um pequeno problema: não tinha bicicleta. Como o primeiro incentivo normalmente vem de casa, recebeu da mãe US$ 400 para adquirir o equipamento. Para conseguir o objeto, Juraci foi ao Paraguai, junto com um colega ‘muambeiro’ de seu irmão para trazer a tão aguardada bicicleta.

“Aquilo era uma coisa que eu queria. Meus pais me incentivaram na medida certa. Tudo ocorreu no meu tempo”, lembra. Na verdade, o triatleta reclama da superexigência de alguns pais, que querem ver seus filhos campeões, mas na verdade acabam atrapalhando. “É tanta pressão, que o filho acaba fazendo aquilo por obrigação. Não pode ser assim. Cada um tem o seu tempo”, analisa.
Tempo que hoje é escasso. Para manter o fôlego durante as inúmeras competições, o triatleta treina todos os dias, em dois períodos, com uma média diária de cinco horas. Por semana, são de 20km a 25km de natação, 50km a 70km de corrida e nada menos que 300km pedalando. Isso sem contar os alongamentos e as sessões de fisioterapia, que vem se submetendo devido a uma lesão no tornozelo.

Tudo é acompanhado de perto por seu “segundo pai”, o técnico Homero Cachel. Treinando Juraci desde os tempos de natação, sabe, só de olhar, quando o ‘pupilo’ não está bem. “Ele sabe tudo sobre mim. Fico muito tempo com ele. Às vezes chego meio triste, com alguma coisa. Ele percebe na hora”, relata o triatleta.

Para suportar o volume de treino, faz cinco refeições diárias. Gosta de produtos à base de mel e entre os treinos ingere barra energética ou cereais com iogurte. A nutricionista Lili Purin vem acompanhando a evolução física de Juraci e, com base no que está ocorrendo no circuito mundial, têm a missão de “parar” o crescimento do atleta. “O Simon Whitfield, que é campeão olímpico, está cada vez mais magro. Eu era bem magrinho quando comecei e fui ficando mais forte. No circuito mundial, todo mundo está mais magro. Do ano passado para cá, engordei 2kg, sendo que 1,8kg de músculos”, revelou.

Com tanta dedicação ao esporte, quase não sobra tempo para a família e até para o ‘sono’. “Às vezes tiro o domingo de folga só para dormir até mais tarde”, diz. Sobre a família, o fato de estar sempre treinando ou viajando, o afasta das coisas mais comuns, como o almoço em família ou aniversário de parentes. Sempre atarefado, procura reservar um tempo para a namorada, além de fazer coisas que gosta. “Gosto de sair para jantar, ir ao cinema, ficar na cama dormindo ou assistindo tevê. Na verdade quero ficar descansando, pois os treinos são bem desgastantes”, completa. Na verdade, descansa para treinar mais, competir melhor e voltar a vencer.

Perfil (até 2003):

Nome: Juraci Moreira Júnior
Idade: 24 anos
Natural de: Curitiba – Paraná
Peso: 76kg
Altura: 1,89m
Tempo de triathlon: 10 anos
Patrocínio: Pão de Açúcar, Brasil Telecom e Sesi Paraná

Principais resultados:

Campeão brasileiro amador 1996 e 1997
Campeão brasileiro de 1998
Campeão sul-Americano 1998
Campeão do Pré-Olímpico do México 1999
8º Colocado na Copa do Mundo da Austrália 1999
10º Colocado na Copa do Mundo do México 1999
Vice-campeão brasileiro em 1999
Bicampeão do SESC Triathlon de Caiobá/PR 1999/2000
2º colocado no Pré-Olímpico do Brasil 2000
22º colocado nos Jogos Olímpicos de Sydney (atleta mais jovem da modalidade)
Bicampeão brasileiro de 2000/2001
2º colocado no Triathlon Internacional de Portugal 2001
5º colocado no Triathlon Internacional da Itália 2001
1º Brasileiro no Ranking Mundial de Triathlon 2001
3º lugar Mundial de Fast Triathlon - Equipe Brasil 2002
Vice-campeão Triathlon Internacional Uruguai 2002
Campeão do Triathlon Internacional da Guatemala 2002
7º Colocado na Copa do Mundo do Japão 2002
Campeão brasileiro de 2002.(quarto título de campeão brasileiro elite)
Medalha de ouro por equipe Jogos Sul-Americano Rio de Janeiro
3º lugar na Copa do Mundo do Japão 2002 (melhor resultado de um brasileiro desde 1998 em etapas da Copa do Mundo)
23º lugar no Ranking Mundial - dezembro 2002 (1º brasileiro)
Campeão Mundial de Fast Triathlon 2003 - por equipe
3º Colocado no Pré-Olímpico de Brasília-DF Brasil junho 2003.


Juraci Moreira: contra a maré

Triathlon · 04 fev, 2004

Juraci Moreira luta contra contusões e má fase para reencontrar o caminho das vitórias rumo a Olimpíada

O esporte de alto rendimento é implacável. Se os resultados não aparecem, o atleta descobre rapidamente o que é cair do céu para o inferno. Os motivos para perda de rendimento, normalmente, começam com contusões. Os problemas físicos limitam o desempenho e a falta de confiança completa o quadro de má fase e jejum de vitórias O ano de 2003 tem sido marcado pela luta de Juraci Moreira Júnior para interromper esse círculo vicioso.

O triatleta de 24 anos sofre com contusões desde o início do ano, o que prejudicou seu desempenho no ranking mundial. Depois de terminar 2002 na 18º colocação, sendo o melhor brasileiro na lista, chega ao segundo semestre na 41º colocação (Leandro Macedo, em 20º, é o atleta nacional mais bem ranqueado). Não bastasse a insatisfação pela distância que se forma à sua frente no ranking, Juraci teme que os problemas atrapalhem seu principal objetivo: a Olimpíada de 2004. Isso porque o primeiro brasileiro na classificação da ITU garante vaga para Atenas sem necessidade de seletiva.
Juraci luta para dar a volta por cima e repetir o feito de Sydney, em 2000, quando foi o atleta mais jovem a disputar uma prova olímpica de triathlon. Paciência, perseverança e muito treino são algumas das armas necessárias para atingir o objetivo.

Uma das grandes decepções deste ano foi perder a vaga para os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. Além de sofrer com uma lesão na panturrilha do início do ano, o triatleta foi alvo da falta de sorte durante a seletiva. No trecho de ciclismo, o pneu estourou e ele acabou ficando de fora da briga pela vaga. “É o segundo Pan que fico de fora. Em 99 (Winnipeg), não tive tempo para me classificar. Agora que tinha condições, aconteceu tudo isso”, conta.
Para ‘fugir’ do Pan, partiu para duas etapas da Copa do Mundo, mas não as completou. Buscando uma maneira de melhorar os resultados, foi treinar em San Diego (EUA), considerada o berço e capital do triathlon. Logo no primeiro dia, uma torção no tornozelo causou pequenas rupturas nos ligamentos, o que o deixou sem correr por 25 dias.

Mesmo com os inúmeros problemas, não desanimou e foi disputar a etapa de Nova Iorque. Precisava completar uma prova para ganhar mais confiança. E seguindo na linha que ‘desgraça pouca é bobagem’, o mau tempo no Rio Hudson fez com que a organização substituísse o trecho de natação por mais um trecho de 5km de corrida. “Nessa, o meu técnico fala: ‘Vamos na igreja nos benzer’”, brinca Moreira. Mas o fato de ter que correr mais que o previsto, mesmo após a lesão, não desanimou Juraci, que finalmente pode completar uma etapa, chegando na 29º colocação entre 37 inscritos na categoria elite.

Se os resultados de 2003 são para se esquecer, a rápida ascensão no esporte não pode ser deixada de lado. Poucos sabem que em 1998, quando foi campeão brasileiro juvenil, Juraci cruzou a linha de chega à frente dos profissionais. Deveria ter sido o atleta mais jovem a ganhar o título. Deveria. Ganhou, mas não levou em função da idade. O fato é que depois do feito do então garoto, a regra foi alterada, sendo possível que um juvenil seja campeão nacional adulto.

Natural de Curitiba, no Paraná, Juraci deu seus primeiros passos, ou melhor, braçadas no esporte aos 9 anos, incentivado pelo pai, praticante da modalidade. Empolgado, aos 11 anos queria treinar mais forte, já motivado pelo espírito de competição. No clube onde nadava, teve contato com alguns triatletas, entre eles Luís Catta Preta. Convidado a praticar a nova modalidade, participou de um Biathlon, quando estava prestes a completar 14 anos, e venceu na categoria.

O primeiro triathlon foi no ano de 1994, no Troféu Brasil, em Santos, onde terminou na 5º colocação Na categoria. O resultado o motivou ainda mais, uma vez que estava preparado para completar a prova em 1h10 e conseguiu fazer um tempo cinco minutos melhor. Agora, não poderia parar mais. Mas surgiu um pequeno problema: não tinha bicicleta. Como o primeiro incentivo normalmente vem de casa, recebeu da mãe US$ 400 para adquirir o equipamento. Para conseguir o objeto, Juraci foi ao Paraguai, junto com um colega ‘muambeiro’ de seu irmão para trazer a tão aguardada bicicleta.

“Aquilo era uma coisa que eu queria. Meus pais me incentivaram na medida certa. Tudo ocorreu no meu tempo”, lembra. Na verdade, o triatleta reclama da superexigência de alguns pais, que querem ver seus filhos campeões, mas na verdade acabam atrapalhando. “É tanta pressão, que o filho acaba fazendo aquilo por obrigação. Não pode ser assim. Cada um tem o seu tempo”, analisa.
Tempo que hoje é escasso. Para manter o fôlego durante as inúmeras competições, o triatleta treina todos os dias, em dois períodos, com uma média diária de cinco horas. Por semana, são de 20km a 25km de natação, 50km a 70km de corrida e nada menos que 300km pedalando. Isso sem contar os alongamentos e as sessões de fisioterapia, que vem se submetendo devido a uma lesão no tornozelo.

Tudo é acompanhado de perto por seu “segundo pai”, o técnico Homero Cachel. Treinando Juraci desde os tempos de natação, sabe, só de olhar, quando o ‘pupilo’ não está bem. “Ele sabe tudo sobre mim. Fico muito tempo com ele. Às vezes chego meio triste, com alguma coisa. Ele percebe na hora”, relata o triatleta.

Para suportar o volume de treino, faz cinco refeições diárias. Gosta de produtos à base de mel e entre os treinos ingere barra energética ou cereais com iogurte. A nutricionista Lili Purin vem acompanhando a evolução física de Juraci e, com base no que está ocorrendo no circuito mundial, têm a missão de “parar” o crescimento do atleta. “O Simon Whitfield, que é campeão olímpico, está cada vez mais magro. Eu era bem magrinho quando comecei e fui ficando mais forte. No circuito mundial, todo mundo está mais magro. Do ano passado para cá, engordei 2kg, sendo que 1,8kg de músculos”, revelou.

Com tanta dedicação ao esporte, quase não sobra tempo para a família e até para o ‘sono’. “Às vezes tiro o domingo de folga só para dormir até mais tarde”, diz. Sobre a família, o fato de estar sempre treinando ou viajando, o afasta das coisas mais comuns, como o almoço em família ou aniversário de parentes. Sempre atarefado, procura reservar um tempo para a namorada, além de fazer coisas que gosta. “Gosto de sair para jantar, ir ao cinema, ficar na cama dormindo ou assistindo tevê. Na verdade quero ficar descansando, pois os treinos são bem desgastantes”, completa. Na verdade, descansa para treinar mais, competir melhor e voltar a vencer.

Perfil (até 2003):

Nome: Juraci Moreira Júnior
Idade: 24 anos
Natural de: Curitiba – Paraná
Peso: 76kg
Altura: 1,89m
Tempo de triathlon: 10 anos
Patrocínio: Pão de Açúcar, Brasil Telecom e Sesi Paraná

Principais resultados:

Campeão brasileiro amador 1996 e 1997
Campeão brasileiro de 1998
Campeão sul-Americano 1998
Campeão do Pré-Olímpico do México 1999
8º Colocado na Copa do Mundo da Austrália 1999
10º Colocado na Copa do Mundo do México 1999
Vice-campeão brasileiro em 1999
Bicampeão do SESC Triathlon de Caiobá/PR 1999/2000
2º colocado no Pré-Olímpico do Brasil 2000
22º colocado nos Jogos Olímpicos de Sydney (atleta mais jovem da modalidade)
Bicampeão brasileiro de 2000/2001
2º colocado no Triathlon Internacional de Portugal 2001
5º colocado no Triathlon Internacional da Itália 2001
1º Brasileiro no Ranking Mundial de Triathlon 2001
3º lugar Mundial de Fast Triathlon - Equipe Brasil 2002
Vice-campeão Triathlon Internacional Uruguai 2002
Campeão do Triathlon Internacional da Guatemala 2002
7º Colocado na Copa do Mundo do Japão 2002
Campeão brasileiro de 2002.(quarto título de campeão brasileiro elite)
Medalha de ouro por equipe Jogos Sul-Americano Rio de Janeiro
3º lugar na Copa do Mundo do Japão 2002 (melhor resultado de um brasileiro desde 1998 em etapas da Copa do Mundo)
23º lugar no Ranking Mundial - dezembro 2002 (1º brasileiro)
Campeão Mundial de Fast Triathlon 2003 - por equipe
3º Colocado no Pré-Olímpico de Brasília-DF Brasil junho 2003.

Argentinos de ouro

Todos sabemos que existe uma rivalidade histórica entre brasileiros e argentinos, sobretudo, no campo esportivo. Mas não podemos negar que temos que reverenciar o feito de alguns atletas do nosso vizinho, que conquistaram grandes glórias.

Nem vamos falar do grande Oswaldo Suares, que tanto brilhou em nossa São Silvestre. Vamos um pouco além. Vamos falar das glórias e conquistas olímpicas nas maratonas.

Nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, o grande favorito para a maratona era o fenomenal Paavo Nurmi, que já havia conquistado 9 medalhas de ouro nas edições anteriores e estava se preparando para conquista sua 10ª medalha de ouro. Mas, poucos dias antes da prova, foi suspenso por acusação de atuar profissionalmente, recebendo cachês para participar de provas, situação terminantemente proibido naqueles anos.

Com a suspensão de Nurmi, o favorito passou a ser o jovem argentino Juan Carlos Zabala que, um ano antes, havia estabelecido o recorde mundial dos 30 km. O Jornal Los Angeles Times organizou uma maratona no mesmo percurso pouco tempo antes para testar a organização e Zabala participou. Estava 8 minutos à frente quando seu treinador o orientou a parar, pois estava sentindo problemas nos pés e deveria se poupar para a maratona olímpica.

No dia da maratona olímpica não deu outra, Zabala assumiu a liderança desde cedo, mas no km 25 foi ultrapassado pelo finlandês Virtanen que, sem conhecer a distância, não dosou corretamente e parou, deixando a briga entre o argentino Zabala e os britânicos McLeod e Ferris e com o finlandês Toivonem, a seguir. No final, o argentino prevaleceu, entrando no estádio com 1 minuto à frente, mas exausto. Em zigue zague e com dificuldades, chegou ao final para a sonhada medalha de ouro, terminando em 2h31min36, novo recorde olímpico, à frente do britânico Samuel Ferris, que fechou com 2h31min55. Viva a Artentina!

Quatro anos depois, Zabala tentou repetir seu êxito em Berlin, mas teve que parar, extenuado, depois de ter liderado a prova. Em 1948, em Londres, o belga Etienne Gailly, inexperiente na distância, assumiu cedo a liderança e no final pagou o preço. Liderou, foi ultrapassado e depois voltou à liderança no km 40. Entrou no estádio à frente, mas, correndo com dificuldades, assistiu o argentino Delfo Cabrera, estreando também em maratonas, ultrapassá-lo para ganhar a medalha de ouro com 2h34min51.6. Ainda foi passado pelo britânico Thomas Richards, que fez 2h35min07.6. Apesar de chegar com grande dificuldade, Gailly ganhou a medalha de bronze. Aliás, era a segunda vez que Londres sediava os Jogos Olímpicos e, em 1908, o italiano Dorando Pietri, que entrou à frente no estádio, acabou sendo desclassificado por ter sido ajudado para se levantar depois de ter caído, extenuado. Mas, desta vez, pelo menos o belga Gailly levava a medalha de bronze. Viva a Argentina!
Deve ser dito que outro argentino, Eusébio Guinez, terminou em 5º com 2h36min36.0

Cabrera ainda tentou repetir a vitória em 1952, em Helsinqui, mas encontrou o grande Zatopek, que venceu e conquistou a medalha olímpica na maratona depois de ter conquistado os 5.000 e 10.000 nos mesmos Jogos Olímpicos. Cabrera terminou em 6º, com 2h26min42.4

O fato é que temos que louvar as 2 medalhas de ouro já conquistadas pelos argentinos em maratonas e reconhecer que um dia queremos chegar lá. Mas, hoje em dia, com o que andam correndo os africanos e os japoneses, a tarefa não será muito fácil. Vamos aos desafios. Atenas e Pequim nos esperam.


Argentinos de ouro

Maratona · 15 jan, 2004

Todos sabemos que existe uma rivalidade histórica entre brasileiros e argentinos, sobretudo, no campo esportivo. Mas não podemos negar que temos que reverenciar o feito de alguns atletas do nosso vizinho, que conquistaram grandes glórias.

Nem vamos falar do grande Oswaldo Suares, que tanto brilhou em nossa São Silvestre. Vamos um pouco além. Vamos falar das glórias e conquistas olímpicas nas maratonas.

Nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, o grande favorito para a maratona era o fenomenal Paavo Nurmi, que já havia conquistado 9 medalhas de ouro nas edições anteriores e estava se preparando para conquista sua 10ª medalha de ouro. Mas, poucos dias antes da prova, foi suspenso por acusação de atuar profissionalmente, recebendo cachês para participar de provas, situação terminantemente proibido naqueles anos.

Com a suspensão de Nurmi, o favorito passou a ser o jovem argentino Juan Carlos Zabala que, um ano antes, havia estabelecido o recorde mundial dos 30 km. O Jornal Los Angeles Times organizou uma maratona no mesmo percurso pouco tempo antes para testar a organização e Zabala participou. Estava 8 minutos à frente quando seu treinador o orientou a parar, pois estava sentindo problemas nos pés e deveria se poupar para a maratona olímpica.

No dia da maratona olímpica não deu outra, Zabala assumiu a liderança desde cedo, mas no km 25 foi ultrapassado pelo finlandês Virtanen que, sem conhecer a distância, não dosou corretamente e parou, deixando a briga entre o argentino Zabala e os britânicos McLeod e Ferris e com o finlandês Toivonem, a seguir. No final, o argentino prevaleceu, entrando no estádio com 1 minuto à frente, mas exausto. Em zigue zague e com dificuldades, chegou ao final para a sonhada medalha de ouro, terminando em 2h31min36, novo recorde olímpico, à frente do britânico Samuel Ferris, que fechou com 2h31min55. Viva a Artentina!

Quatro anos depois, Zabala tentou repetir seu êxito em Berlin, mas teve que parar, extenuado, depois de ter liderado a prova. Em 1948, em Londres, o belga Etienne Gailly, inexperiente na distância, assumiu cedo a liderança e no final pagou o preço. Liderou, foi ultrapassado e depois voltou à liderança no km 40. Entrou no estádio à frente, mas, correndo com dificuldades, assistiu o argentino Delfo Cabrera, estreando também em maratonas, ultrapassá-lo para ganhar a medalha de ouro com 2h34min51.6. Ainda foi passado pelo britânico Thomas Richards, que fez 2h35min07.6. Apesar de chegar com grande dificuldade, Gailly ganhou a medalha de bronze. Aliás, era a segunda vez que Londres sediava os Jogos Olímpicos e, em 1908, o italiano Dorando Pietri, que entrou à frente no estádio, acabou sendo desclassificado por ter sido ajudado para se levantar depois de ter caído, extenuado. Mas, desta vez, pelo menos o belga Gailly levava a medalha de bronze. Viva a Argentina!
Deve ser dito que outro argentino, Eusébio Guinez, terminou em 5º com 2h36min36.0

Cabrera ainda tentou repetir a vitória em 1952, em Helsinqui, mas encontrou o grande Zatopek, que venceu e conquistou a medalha olímpica na maratona depois de ter conquistado os 5.000 e 10.000 nos mesmos Jogos Olímpicos. Cabrera terminou em 6º, com 2h26min42.4

O fato é que temos que louvar as 2 medalhas de ouro já conquistadas pelos argentinos em maratonas e reconhecer que um dia queremos chegar lá. Mas, hoje em dia, com o que andam correndo os africanos e os japoneses, a tarefa não será muito fácil. Vamos aos desafios. Atenas e Pequim nos esperam.