Nascido em setembro de 1938, o britânico Ron Hill acabou se tornando dos grande nomes na história das maratonas casualmente. Foi num final de semana em que não tinha outra prova para correr e acabou disputando a Maratona de Liverpool, que venceu com 2h24min22. Mas sentiu-se desconfortável e, ao final, disse que nunca mais encararia outra. Coisa de maratonistas em final de prova. Hill já era um nome conhecido em Corridas de Rua e Cross, mas foi nas maratonas que se consagrou. Com dedicação e muito estudo acabou inserindo inovações e mudanças importantes na abordagem à prova.
Hill teve uma carreira longa, duradoura e indiscutivelmente foi quem mais tempo competiu em maratonas em alto nível, se bem que faltou um grande resultado olímpico.
Temos que considerar que em sua época ainda não havia ocorrido o boom das maratonas e que o campo para as descobertas e inovações ainda estava fértil, a começar pelos uniformes e material de corridas. Como químico na área têxtil, deu uma grande contribuição, revolucionando o desenvolvimento de modelos de calções e uniformes. Criou a confecção Ron Hill, de muito sucesso.
Outra grande contribuição de Hill foi na área de nutrição, na qual advogou e defendeu o carbo loading na preparação para participação nas provas de longa quilometragem, como a maratona. Basicamente, consistia na alimentação carregada em carboidratos nos últimos dias que antecedem a prova, depois de dias com alimentação forte em proteínas, acarretando uma maior reserva de carboidratos. Estes conhecimentos antecederam os tradicionais jantares ou festas de massas realizados antes das grandes maratonas.
Sua primeira grande vitória foi na antes tradicional Maratona Politécnica Harriers, com 2h20min59. Depois, participou dos 10.000m e maratona dos Jogos Olímpicos de Tóquio, ainda não muito conhecido, terminando num apagado 19º, em 2h25min34.4, depois de ter participado discretamente dos 10.000m, marcando 29min53. Continuou se dedicando aos estudos de como evoluir na prova. Aprendeu, com disciplina e rotina, as melhores formas de se desenvolver e, conhecendo cada vez mais as mudanças térmicas do corpo, também aos equipamentos e dietas.
A consagração de Ron Hill veio em 1969, aos 30 anos, no Europeu, em Atenas, onde o grande destaque era o belga Gaston Roelants. Hill surpreendeu vindo de trás e usando um uniforme diferente, mas adequado, de sua criação para vencer em 2h16min47.8, dando início a uma carreira vencedora não só do ponto de vista atlético, como comercial. A griffe Ron Hill passou a ser moda entre os corredores de longa distância.
Após ter se destacado em Atenas, no Europeu, Ron Hill conseguiu, em abril de 1970, uma grande vitória em Boston, com 2h10min30, novo recorde europeu. Logo após, nos Jogos da Commonwealth, em Edimburgh, nova vitória em 2h09min28, uma marca excepcional para a época.
Enquanto suas vitórias se seguiam, a griffe Ron Hill também crescia e se desenvolvia. Hill não se deu bem uma vez mais em Jogos Olímpicos, em Munique, na umidade excessiva do dia da prova, mesmo tendo liderado boa parte, terminou em 6º, com 2h16min30.6. Mas assistimos a consagração do norte-americano Frank Shorter, que foi, talvez, a responsável principal pelo grande boom das maratonas nos EUA.
Aos 34 anos, depois de Munique, Ron Hill, recordista mundial das 10 milhas (46min44), 15 milhas e 25km, este em 1h15min22.6, derrubando marca do fenomenal Emil Zatopek, tornou-se um atleta que correu o mundo, tendo vencido maratonas em todos os continentes, sendo um exemplo de longevidade e dedicação.
Este é Ron Hill, um exemplo e uma legenda na maratona pelos resultados conquistados e pelo desenvolvimento e inovações na preparação e abordagem à modalidade.
Este texto foi escrito por: Sergio Coutinho Nogueira