No início de agosto, o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo me procurou para trocarmos idéias e impressões sobre o atletismo brasileiro, perspectivas e projeções. Em Atenas, quando fui retirar com ele os ingressos para o atletismo nos Jogos Olímpicos, nova conversa, que se repetiu alguns dias mais tarde quando trocamos telefonemas para comemorar e nos felicitar pela medalha de bronze na maratona obtida pelo Vanderlei Cordeiro de Lima.
Destas conversas surgiu o convite para que viesse a ocupar o cargo de Diretor de Desenvolvimento da CBAt, ao qual estariam ligados ou subordinados alguns programas importantes do atletismo nacional, como os Programas de Ajuda a Atletas de Alto Rendimento, aos Jovens Talentos, Heróis do Atletismo, Centros Nacionais de Treinamento, Campings e Clínicas, enfim, uma missão desafiadora que certamente demandará muito trabalho, muita dedicação e, sobretudo, alimentará e poderá dar vida ao sonho do presidente da Confederação, meu, e de todos os brasileiros, de transformar o Brasil numa verdadeira potência no atletismo, semelhante ao que já ocorre com alguns países do terceiro Mundo como Quênia, Etiópia, Jamaica, Marrocos entre outros.
Definimos que, em princípio – sem deixar de lado o apoio e cuidados aos atletas que atualmente estão em atividade e que certamente serão nosso representantes nos próximos Mundiais – nos Jogos Pan-Americanos do Rio e em Pequim/2008 deveremos dar especial atenção a projetos e programas visando resultados a longo prazo, formando uma nova geração muito forte e preparada para nos trazer as sonhadas medalhas à partir dos Jogos de 2012.
Além de correções e ajustes nos atuais programas – que sempre têm que ser feitos e que foram submetidos à aprovação no II Fórum Atletismo Brasil, realizado em São Paulo, com a participação de técnicos, atletas e dirigentes de federações estaduais – foi registrada a ênfase que se dará aos campings e clínicas, sobretudo com a participação dos melhores atletas em cada categoria e seus respectivos técnicos, preparando-os para os desafios que enfrentarão no futuro.
Aproveitando as experiências anteriores, os campings internacionais, preparativos às grandes competições como Mundiais e Jogos Olímpicos, terão duração reduzida a 10 ou 15 dias, no máximo, para adaptação ao clima, fuso horário e condições do local da competição. Esta redução no prazo não prejudicará a adaptação e evitará o desgaste, quer seja no relacionamento, quer seja no aspecto emocional ou mesmo na dificuldade em dotar estes campings de estruturas ideais para todas as modalidades.
Os campings que terão maior ênfase serão os nacionais, que serão realizados separados por modalidade e sempre reunindo os melhores atletas de cada categoria na respectiva modalidade, seus técnicos e, sempre que possível, com a presença de grandes especialistas, quer sejam eles nacionais ou estrangeiros. Tudo com o objetivo de aproveitar todas as potencialidades para melhorar a qualificação de nossos técnicos e o rendimento de nossos atletas. O atletismo terá seus campings separados em 10 segmentos, a saber: velocidade masculina, velocidade feminina, saltos horizontais, salto com vara, salto em altura, arremessos e lançamentos, meio fundo, fundo e maratona, marcha atlética e provas combinadas. Cada um destes segmentos teve um responsável designado que deverá indicar o período e condições de local e infra-estrutura que deseja para realizar o camping da modalidade. Sabemos que estes trarão resultados de curto prazo, mas a grande aposta é de muitos frutos a médio e longo prazo pela participação dos melhores atletas em todas as categorias e seus respectivos técnicos, propiciando que adquiram conhecimento e experiências com outros treinadores nacionais e internacionais. Aos atletas jovens será dada a oportunidade de conviverem por um determinado período com os melhores atletas de suas provas, seus ídolos e em geral seus ícones, que alimentam os sonhos de, um dia, se tornarem grandes campeões.
Os jovens sentirão e vivenciarão experiências e saberão desde cedo que para se tornar um campeão não basta apenas o talento e, sim, muito mais, como muita força de vontade, muito treino, muita dedicação, muita disciplina e ainda abrir mão de certas tentações, delícias e prazeres que os jovens que não têm ambições atléticas podem experimentar. Mas os que almejam ser campeões têm que, disciplinadamente, deixar de lado.
Sabemos que o caminho é longo, desafiador e que requer muito trabalho e dedicação de todos os envolvidos, mas temos o sonho e a certeza que o Brasil poderá se tornar uma verdadeira potência no cenário mundial do atletismo, talvez não em 2008, mas, certamente, nos Jogos Olímpicos de 2012.
Este texto foi escrito por: Sergio Coutinho Nogueira