Corridas de Rua · 21 set, 2006
São Paulo - Há cerca de sete anos Vanildo trabalhava em uma copiadora da Gazeta Mercantil de São Paulo e nas horas vagas malhava na academia montada no prédio. Na época o objetivo era definir os músculos das pernas, pois ele já estava satisfeito com o condicionamento dos braços. A partir desse momento ele começou a ter o primeiro contato com o mundo das corridas de rua.
Ele começou correndo entre 4 km e 5 km na esteira e aos poucos foi aumentando o ritmo até chegar a treinos de 40 minutos a uma hora de duração. Observando que o rapaz levava jeito para a corrida, o então treinador da academia, professor Mário Mello, perguntou se ele não gostaria de participar de uma prova. Vanildo, com bastante massa muscular nos braços, respondeu: Olha meu tamanho, como vou pensar em corrida? Mas meu irmão leva jeito, foi a resposta que o treinador ouviu.
O tempo foi passando e Mário sempre ouvia a mesma resposta ao convidar Ivanildo para correr. Eu discuti com o meu técnico, pois sempre que ele me convidava para uma corrida eu falava do meu irmão.
A primeira prova - Mesmo sem saber, Vanildo já estava envolvido pela corrida. Em 1999 ele e Claudinei resolveram participar da Maratona de São Paulo e, ao comunicar ao treinador, receberam uma resposta sarcástica. Não se empolguem, porque acho que vocês não vão conseguir terminar. Mas tem um ônibus que recolhe os atletas que não conseguem chegar ao fim.
No dia seguinte, ao comentar que havia feito o tempo de 3h19, Mário deu risada e disse que era para ele esperar o resultado oficial, pois poderia ter cometido algum engano. Fiquei muito nervoso e quando saiu o resultado fui o mais rápido possível mostrar e só então ele acreditou, comentou o atleta.
Chegou o fim do ano de 1999, época da tradicional Corrida de São Silvestre e mais uma vez Vanildo e seu irmão foram desacreditados pelo técnico quando decidiram participar. Largaram no empurra empurra, ou seja, entre os atletas comuns, e terminaram com 1h02 e 1h04, mesmo tempo obtido pelo melhor atleta de Mário, que largou na elite B. Surpreso, dessa vez foi a vez do técnico ouvir uma gozação. Vai ver que seu melhor atleta não corre nada, provocou Vanildo.
Os dois irmãos continuavam sempre treinando, algumas vezes na esteira da academia, outras vezes em pistas de atletismo ou mesmo na rua. Eu saía do Taboão da Serra e corria até a Avenida Paulista para buscar meu irmão e depois nós dois voltávamos para casa correndo, lembra Vanildo.
Certa vez Mário entregou uma folha para que ele marcasse todos os dias as distâncias e os tempos percorridos durante os treinamentos e ele prontamente fez uma cópia da folha para o irmão também anotar. Percebendo que a solidariedade com ele deixava o treinador irritado, Claudinei disse na época: não adianta ficar tocando nessa tecla, toda vez que você fala com o Mário, discute com ele. Porém, Vanildo foi persistente e disse que só iria treinar se ele e seu irmão tivessem apoio.
Treino profissional - Vencido pela persistência do jovem rapaz, Mello convidou os dois para fazerem um treino com sua equipe na USP. Chegamos com um tênis impróprio para a corrida, aquecemos, alongamos e fizemos treinos educativos, o que para nós era algo do outro mundo. Ao começar o treino efetivo, a dupla saiu para fazer 10 km com a companhia dos outros corredores e acharam o ritmo lento.
O Mário disse pra gente não se empolgar, porque tinham dois atletas aquecendo ainda e quando eles passassem, era pra gente acompanhá-los. Quando os irmãos foram alcançados pelos corredores da equipe e chegaram na subida da Faculdade de Biologia, perceberam que poderiam aumentar o ritmo e chegaram ao final com dois minutos de diferença para os atletas.
Nesse mesmo dia, foram feitos diversos treinos e sempre Vanildo e Claudinei se destacavam entre os outros corredores. A partir daí, as oportunidades surgiram e eles receberam apoios e patrocínios para ingressar de forma profissional no esporte.
Hoje em dia os colegas de treino sempre ajudam da forma que podem, contribuindo para auxiliar no pagamento de inscrições de prova, ou de custos de transporte e são como uma família para Vanildo. O objetivo dele a partir de agora é baixar o tempo de 34 min nos 10 km, além de se dedicar mais aos treinos. O futuro a Deus pertence, comentou.
Sempre presente para acompanhar a evoçução de Vanildo, o professor Mário Mello relembra alguns momentos e acredita que o rapaz ainda pode chegar longe.
Eu o conheço desde a época que eu prestava serviços na Gazeta Mercantil, contou Mário Mello. Ele gostava de correr, mas era mais fortinho e, apesar de não ter o perfil de fundista, fazia uns tempos bons.
Mário conta também que quando os irmãos apareceram na USP para o primeiro treino, não tinham tênis adequado, não tinham relógio, mas possuíam algo muito importante: disciplina e determinação.
Atualmente Vanildo cursa a Faculdade de Educação Física e tem a oportunidade de, no futuro, ganhar dinheiro como professor. Acredito que se ele não tivesse o nosso incentivo, não teria a oportunidade de se formar em Educação Física, comentou o técnico.
Por pior que seja o salário de um professor, vai ser muito melhor do que se ele tivesse trabalhando em um almoxarifado, por exemplo.
Corridas de Rua · 21 set, 2006
São Paulo - Há cerca de sete anos Vanildo trabalhava em uma copiadora da Gazeta Mercantil de São Paulo e nas horas vagas malhava na academia montada no prédio. Na época o objetivo era definir os músculos das pernas, pois ele já estava satisfeito com o condicionamento dos braços. A partir desse momento ele começou a ter o primeiro contato com o mundo das corridas de rua.
Ele começou correndo entre 4 km e 5 km na esteira e aos poucos foi aumentando o ritmo até chegar a treinos de 40 minutos a uma hora de duração. Observando que o rapaz levava jeito para a corrida, o então treinador da academia, professor Mário Mello, perguntou se ele não gostaria de participar de uma prova. Vanildo, com bastante massa muscular nos braços, respondeu: Olha meu tamanho, como vou pensar em corrida? Mas meu irmão leva jeito, foi a resposta que o treinador ouviu.
O tempo foi passando e Mário sempre ouvia a mesma resposta ao convidar Ivanildo para correr. Eu discuti com o meu técnico, pois sempre que ele me convidava para uma corrida eu falava do meu irmão.
A primeira prova - Mesmo sem saber, Vanildo já estava envolvido pela corrida. Em 1999 ele e Claudinei resolveram participar da Maratona de São Paulo e, ao comunicar ao treinador, receberam uma resposta sarcástica. Não se empolguem, porque acho que vocês não vão conseguir terminar. Mas tem um ônibus que recolhe os atletas que não conseguem chegar ao fim.
No dia seguinte, ao comentar que havia feito o tempo de 3h19, Mário deu risada e disse que era para ele esperar o resultado oficial, pois poderia ter cometido algum engano. Fiquei muito nervoso e quando saiu o resultado fui o mais rápido possível mostrar e só então ele acreditou, comentou o atleta.
Chegou o fim do ano de 1999, época da tradicional Corrida de São Silvestre e mais uma vez Vanildo e seu irmão foram desacreditados pelo técnico quando decidiram participar. Largaram no empurra empurra, ou seja, entre os atletas comuns, e terminaram com 1h02 e 1h04, mesmo tempo obtido pelo melhor atleta de Mário, que largou na elite B. Surpreso, dessa vez foi a vez do técnico ouvir uma gozação. Vai ver que seu melhor atleta não corre nada, provocou Vanildo.
Os dois irmãos continuavam sempre treinando, algumas vezes na esteira da academia, outras vezes em pistas de atletismo ou mesmo na rua. Eu saía do Taboão da Serra e corria até a Avenida Paulista para buscar meu irmão e depois nós dois voltávamos para casa correndo, lembra Vanildo.
Certa vez Mário entregou uma folha para que ele marcasse todos os dias as distâncias e os tempos percorridos durante os treinamentos e ele prontamente fez uma cópia da folha para o irmão também anotar. Percebendo que a solidariedade com ele deixava o treinador irritado, Claudinei disse na época: não adianta ficar tocando nessa tecla, toda vez que você fala com o Mário, discute com ele. Porém, Vanildo foi persistente e disse que só iria treinar se ele e seu irmão tivessem apoio.
Treino profissional - Vencido pela persistência do jovem rapaz, Mello convidou os dois para fazerem um treino com sua equipe na USP. Chegamos com um tênis impróprio para a corrida, aquecemos, alongamos e fizemos treinos educativos, o que para nós era algo do outro mundo. Ao começar o treino efetivo, a dupla saiu para fazer 10 km com a companhia dos outros corredores e acharam o ritmo lento.
O Mário disse pra gente não se empolgar, porque tinham dois atletas aquecendo ainda e quando eles passassem, era pra gente acompanhá-los. Quando os irmãos foram alcançados pelos corredores da equipe e chegaram na subida da Faculdade de Biologia, perceberam que poderiam aumentar o ritmo e chegaram ao final com dois minutos de diferença para os atletas.
Nesse mesmo dia, foram feitos diversos treinos e sempre Vanildo e Claudinei se destacavam entre os outros corredores. A partir daí, as oportunidades surgiram e eles receberam apoios e patrocínios para ingressar de forma profissional no esporte.
Hoje em dia os colegas de treino sempre ajudam da forma que podem, contribuindo para auxiliar no pagamento de inscrições de prova, ou de custos de transporte e são como uma família para Vanildo. O objetivo dele a partir de agora é baixar o tempo de 34 min nos 10 km, além de se dedicar mais aos treinos. O futuro a Deus pertence, comentou.
Sempre presente para acompanhar a evoçução de Vanildo, o professor Mário Mello relembra alguns momentos e acredita que o rapaz ainda pode chegar longe.
Eu o conheço desde a época que eu prestava serviços na Gazeta Mercantil, contou Mário Mello. Ele gostava de correr, mas era mais fortinho e, apesar de não ter o perfil de fundista, fazia uns tempos bons.
Mário conta também que quando os irmãos apareceram na USP para o primeiro treino, não tinham tênis adequado, não tinham relógio, mas possuíam algo muito importante: disciplina e determinação.
Atualmente Vanildo cursa a Faculdade de Educação Física e tem a oportunidade de, no futuro, ganhar dinheiro como professor. Acredito que se ele não tivesse o nosso incentivo, não teria a oportunidade de se formar em Educação Física, comentou o técnico.
Por pior que seja o salário de um professor, vai ser muito melhor do que se ele tivesse trabalhando em um almoxarifado, por exemplo.
Ultra Maratona · 14 nov, 2004
Nascido em 05/01/58 em Rio Branco (AC), João Alves de Souza, o Passarinho foi um dos maiores atletas brasileiros nos anos 80/90. Acompanhou a mudança de sua família para Belém (PA) aos 2 anos de idade, onde passou toda a sua infância.
O começo aprendendo a jogar bola - Comecei jogando futebol. Era o último a ser escalado, quando faltava alguém. Passarinho ainda lembra do técnico da escola: Esquece isso de jogar futebol. Você corre demais com a bola e o campo acaba antes de você se livrar dela! Por quê não tenta as corridas?. Foi, então, apresentado a João de Deus, técnico do Clube 7 de Setembro. Venceu sua primeira competição logo na primeira semana. Continuou vencendo e seu talento despertou o interesse do Clube do Remo. Como infanto-juvenil já integrava a equipe e complicava a vida dos adultos. Tudo aconteceu muito rapidamente. Quando ia para a pista me sentia à vontade e tudo vinha naturalmente. Sua primeira grande competição foram os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) de 74, em Brasília. E em 75 lá estava ele novamente nos JEBs, conquistando o 2o lugar.
João virá Passarinho - Em 76 João competiu e venceu a Volta da Pampulha. Foi lá que ganhei o apelido, recorda. Disseram que eu era muito pequeno e voava como um passarinho... A partir daí começou a receber convites de equipes de todo o Brasil todos recusados. Eu tinha medo de deixar a segurança da minha família. O CR Flamengo insistiu e acabou convencendo o atleta a tentar a sorte. Fiquei lá 2 anos, treinando e competindo, lembra. Seu ídolo era o grande atleta Eloy Schleder, de quem não esconde admiração até hoje, e de quem se tornou um grande amigo. Queria treinar e correr como ele.
Depois do Flamengo, competi pela ADPM de São Paulo e pelo Sesi Santo André a equipe virou Funilense em 90. Competi até 94.
As Conquistas - As principais conquistas de Passarinho foram 7 participações em Campeonatos Mundiais (Cross Country), 3 pódios na São Silvestre (sempre como o melhor brasileiro), vitórias nos 5.000 e 10.000m no Campeonato Brasileiro e Troféu Brasil, conquistas de provas internacionais (Maratona RJ e Meia-Maratona RJ e Maratona de Munique) e dezenas de outras provas. Mas o troféu mais valioso carrego junto comigo a todos os lugares onde vou: os amigos que pude fazer e cultivar ao longo de todos esses anos.
A parada forçada - O excesso de treinos e competições cobrou o seu preço: em 94 foi detectada uma fratura por estresse. Durante 6 longos e difíceis anos, Passarinho teve de aguardar a recuperação. Foram os anos mais difíceis da minha vida. Fiquei longe das competições, mas não abandonei o atletismo. Aproveitou o período para estudar (atualmente é administrador de uma fazenda em Campinas). Não posso deixar de lembrar que, mesmo ausente das competições, a equipe continuou me patrocinando. Só tenho a agradecer à pessoa do Sérgio L. C. Nogueira.
A volta as pistas - Há 3 anos, recuperado da lesão, Passarinho aceitou o convite para Diretor Técnico da CUCA (Corredores Unidos de Campinas) e lá ficou até 2002. Nesse período coloquei como objetivo o treinamento de novos atletas, procurando passar minha experiência. No final de 2002, passou a ser o Diretor Técnico da SERGEL SPORTS, uma equipe amadora de Campinas, na qual permanece até hoje. Meu desejo é poder dar aos novos atletas oportunidades que outros também me deram. Devo confessar que me realizo a cada bom resultado de um dos meus atletas. E não poupa elogios ao patrocinador da sua atual equipe, Sérgio A. Silveira: O Sérgio custeia a sua equipe por amor ao atletismo, mesmo que isso não se reverta em lucro para os seus negócios.
O futuro - O meu tempo de atleta já passou; agora é a vez das novas gerações, afirma Passarinho. Mas não acreditem nisso completamente. O Passarinho treinador colocou seu uniforme de atleta no começo deste ano para vencer a difícil Maratona das Águas. E não se surpreendam se o nome dele ainda aparecer no topo de provas de longas distâncias como Maratonas e Ultramaratonas: ele continua ativo e cada vez mais experiente.
Ultra Maratona · 14 nov, 2004
Nascido em 05/01/58 em Rio Branco (AC), João Alves de Souza, o Passarinho foi um dos maiores atletas brasileiros nos anos 80/90. Acompanhou a mudança de sua família para Belém (PA) aos 2 anos de idade, onde passou toda a sua infância.
O começo aprendendo a jogar bola - Comecei jogando futebol. Era o último a ser escalado, quando faltava alguém. Passarinho ainda lembra do técnico da escola: Esquece isso de jogar futebol. Você corre demais com a bola e o campo acaba antes de você se livrar dela! Por quê não tenta as corridas?. Foi, então, apresentado a João de Deus, técnico do Clube 7 de Setembro. Venceu sua primeira competição logo na primeira semana. Continuou vencendo e seu talento despertou o interesse do Clube do Remo. Como infanto-juvenil já integrava a equipe e complicava a vida dos adultos. Tudo aconteceu muito rapidamente. Quando ia para a pista me sentia à vontade e tudo vinha naturalmente. Sua primeira grande competição foram os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) de 74, em Brasília. E em 75 lá estava ele novamente nos JEBs, conquistando o 2o lugar.
João virá Passarinho - Em 76 João competiu e venceu a Volta da Pampulha. Foi lá que ganhei o apelido, recorda. Disseram que eu era muito pequeno e voava como um passarinho... A partir daí começou a receber convites de equipes de todo o Brasil todos recusados. Eu tinha medo de deixar a segurança da minha família. O CR Flamengo insistiu e acabou convencendo o atleta a tentar a sorte. Fiquei lá 2 anos, treinando e competindo, lembra. Seu ídolo era o grande atleta Eloy Schleder, de quem não esconde admiração até hoje, e de quem se tornou um grande amigo. Queria treinar e correr como ele.
Depois do Flamengo, competi pela ADPM de São Paulo e pelo Sesi Santo André a equipe virou Funilense em 90. Competi até 94.
As Conquistas - As principais conquistas de Passarinho foram 7 participações em Campeonatos Mundiais (Cross Country), 3 pódios na São Silvestre (sempre como o melhor brasileiro), vitórias nos 5.000 e 10.000m no Campeonato Brasileiro e Troféu Brasil, conquistas de provas internacionais (Maratona RJ e Meia-Maratona RJ e Maratona de Munique) e dezenas de outras provas. Mas o troféu mais valioso carrego junto comigo a todos os lugares onde vou: os amigos que pude fazer e cultivar ao longo de todos esses anos.
A parada forçada - O excesso de treinos e competições cobrou o seu preço: em 94 foi detectada uma fratura por estresse. Durante 6 longos e difíceis anos, Passarinho teve de aguardar a recuperação. Foram os anos mais difíceis da minha vida. Fiquei longe das competições, mas não abandonei o atletismo. Aproveitou o período para estudar (atualmente é administrador de uma fazenda em Campinas). Não posso deixar de lembrar que, mesmo ausente das competições, a equipe continuou me patrocinando. Só tenho a agradecer à pessoa do Sérgio L. C. Nogueira.
A volta as pistas - Há 3 anos, recuperado da lesão, Passarinho aceitou o convite para Diretor Técnico da CUCA (Corredores Unidos de Campinas) e lá ficou até 2002. Nesse período coloquei como objetivo o treinamento de novos atletas, procurando passar minha experiência. No final de 2002, passou a ser o Diretor Técnico da SERGEL SPORTS, uma equipe amadora de Campinas, na qual permanece até hoje. Meu desejo é poder dar aos novos atletas oportunidades que outros também me deram. Devo confessar que me realizo a cada bom resultado de um dos meus atletas. E não poupa elogios ao patrocinador da sua atual equipe, Sérgio A. Silveira: O Sérgio custeia a sua equipe por amor ao atletismo, mesmo que isso não se reverta em lucro para os seus negócios.
O futuro - O meu tempo de atleta já passou; agora é a vez das novas gerações, afirma Passarinho. Mas não acreditem nisso completamente. O Passarinho treinador colocou seu uniforme de atleta no começo deste ano para vencer a difícil Maratona das Águas. E não se surpreendam se o nome dele ainda aparecer no topo de provas de longas distâncias como Maratonas e Ultramaratonas: ele continua ativo e cada vez mais experiente.
Triathlon · 22 fev, 2004
Missão: Olimpíada de Atenas 2004. Estratégia: boa performance nas etapas da Copa do Mundo para somar maior número de pontos no ranking. Estímulo: medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. O triatleta carioca Virgílio de Castilho se baseia nesse tripé para encarar uma maratona de provas para carimbar seu passaporte para a Grécia. O Brasil levará três representantes para os Jogos Olímpicos e há quatro atletas nacionais entre os 75 primeiros do ranking da ITU (International Triathlon Union), sendo que o melhor brasileiro classificado terá lugar garantido na seleção, já os outros dois serão definidos em seletiva.
Antes de concretizar a primeira etapa do grande sonho e garantir vaga em Atenas, Virgílio lutará para estar entre os 20 melhores triatletas do planeta, no Campeonato Mundial, em dezembro, na Nova Zelândia. Na edição de 2003, em Cancún, no México, o brasileiro foi 43º. O bom desempenho dessa temporada, com medalha de prata em Santo Domingo, títulos de campeão brasileiro, sul-americano de triathlon e duathlon, indicam que o carioca tem atributos para concluir mais essa missão com êxito. Nesta entrevista exclusiva, Virgílio de Castilho, atleta da equipe Brasil Telecom, comenta como está sendo a temporada e seu planejamento para chegar a Olimpíada.
Qual a meta para o ranking da ITU este ano?
Estou atualmente entre os 70 primeiros colocados e quero terminar entre os 20.
Você sempre se dedicou as provas olímpicas e está lutando por uma vaga em Atenas. Ironman está nos seus planos?
Até 2008, não. Meu plano é a Olimpíada. Vou estar treinando muito. O ouro em casa, no Pan do Rio de Janeiro, em 2007, é a meta a longo prazo. A participação em Atenas é objetivo a curto prazo. No ano que vem pretendo ganhar experiência, é claro que se vier uma medalha será maravilhoso, mas a meta é brigar por medalha em 2008. Esse batalhão de World Cup que venho disputando é pensando em somar pontos para assegurar a vaga na Olimpíada.
Você já treinou nos Estados Unidos, na Espanha, e pensa em treinar na Austrália futuramente. Como foi este tempo fora do Brasil?
Fiquei oito meses nos Estados Unidos e um mês na Espanha, junto com o Leandro Macedo. Ele é muito disciplinado, me ensina muita coisa e nos damos superbem. Por isso gosto de treinar com ele. A motivação do treino está na cabeça de cada um, e o atleta tem que fazer. Quando estamos fora, a tranqüilidade é maior. Não temos a preocupação do dia-a-dia, a rotina atribulada. Fora você só tem a preocupação de treinar. E, às vezes, bate a monotonia de treinar sempre no mesmo local e, então, só de ir para outro lugar ajuda no lado motivacional. Austrália vai depender do calendário. Meus planos seriam ir após o Mundial, no entanto isso vai depender de quando volto a competir em 2004.
E quais são as expectativas para o Mundial da Nova Zelândia?
Ano passado fiquei em 43º lugar e minha meta nesta temporada é estar entre os 20. Tive problemas de intoxicação alimentar no México. Não é desculpa para o resultado, mas acabou interferindo na performance. Acredito que vou chegar bem preparado para a disputa e tentar fazer o melhor.
Antes do Pan, você comentou que o clima quente seria um grande adversário, mas te favoreceria em relação a norte-americanos e canadenses. A medalha prova que sua previsão se confirmou.
Errei somente quanto ao norte-americano (Hunter Kemper), ele realmente surpreendeu na disputa. O calor e a umidade foram bastante intensos, e ele atacou nos primeiros quilômetros da corrida e se manteve na liderança, decidindo a prova bem cedo. Ele era o grande favorito, mas o que surpreendeu foi a rapidez com que definiu a prova.
E a sua rotina em Santo Domingo?
Cheguei quatro dias antes da prova, fiquei bem descontraído e brincando com todo mundo, como faço sempre. Treinei todos os dias e tentei manter o máximo de concentração. Na manhã da prova preferi ficar mais isolado e intensificar a concentração.
Como foi até a linha de chegada?
Todo mundo tentou ameaçar o americano e eu fui o último a arriscar, quando ele me quebrou também. Fiquei num grupo junto com Argentina e Estados Unidos até o quilômetro seis de corrida, depois imprimi um ritmo forte e assegurei a minha prata. Toda linha de chegada é um momento especial e individual de cada atleta. Este momento é só meu, não dá para expressar para as outras pessoas.
Qual a sensação de voltar ao País com uma conquista anunciada em mídia nacional?
Tem um gosto especial. Jogos Pan-Americanos, Olímpicos, geram um reconhecimento maior. Tem muita gente que nem sabia o que era triathlon antes do Pan. Uma conquista de medalha faz com que a população passe a conhecer o esporte e ver que triatletas não são vagabundos que querem apenas nadar, correr e andar de bike. Uma conquista como a minha faz com que aumente o respeito pela minha profissão.
O Pan é o momento mais importante da sua carreira até agora?
É um objetivo conquistado, e só daqui a quatro anos alguém vai poder me tirar este título. Sou o segundo melhor das Américas até lá.
Como está sua rotina de treino?
Treino normalmente 20km de natação por semana, 350km de ciclismo e 100km de corrida. Pratico as três modalidades todos os dias, em três períodos: às 6h, 11h30 e, para fechar o dia, às 17h. Isso não é sempre, a intensidade varia e às vezes faço até quatro sessões de treino por dia. Todos os dias têm trabalho. Sou meio Caxias. Tanto, que no dia seguinte da prova em Santo Domingo, corri uma hora na vila pan-americana.
E com tanto treino sobra tempo livre?
Dá para ter uns momentos de lazer. Gosto de curtir a família. Sou bem caseiro. Prefiro ficar em casa e assistir um DVD, ficar com a minha esposa e o cachorro. A vida de triatleta é chata para quem não está no esporte. Para mim é ótima.
O técnico Luiz Fernando Catta Preta faz o acompanhamento à distância, pois você mora no Rio de Janeiro e ele em Curitiba. Como é essa relação de trabalho?
Treino monitorado. Sempre faço testes para que ele possa estar acompanhando minha evolução e nosso esquema é todo informatizado. Praticamente nos falamos todos os dias para que ele possa ter o feeling do meu treino. A cada semana vem uma nova programação e nos reunimos para definir o planejamento de preparação e as metas. O atleta tem que ser disciplinado, não tem essa de treinar só porque o técnico está ao lado. É minha profissão e depende de mim. Por isso o sucesso do treinamento depende da disciplina e maturidade do atleta.
A natação é apontada como seu ponto forte, devido a experiência como nadador. Como foi essa época da sua vida?
Pratiquei 10 anos de natação como amador. Sempre levei a sério. Sou bom na natação, mas com a experiência melhorei na corrida. O triatleta tem que ser como o fundista, por isso planejo fazer 10 mil de pista em 30 minutos. Atualmente meu tempo é de 32 minutos.
Você acredita que o triathlon ainda é um esporte da elite?
Ainda não houve uma massificação porque é um esporte caro. Sempre tive que lutar, pois não tinha dinheiro para investir no equipamento. Pedia emprestado acessórios para amigos até conseguir um patrocínio e me firmar. Ainda é um esporte de classe média alta para cima.
E como você estreou na modalidade?
Quando o triathlon chegou no Brasil, há 21 anos, meu pai corria maratona. Como sempre foi ligado em esporte, começou a disputar a nova modalidade. Eu era criança e sempre o acompanhava nas provas. Ele sempre foi um amador, já que começou o triathlon com uma idade avançada. Então, quando cheguei aos 20 anos, meu pai começou a fazer uma certa pressão para eu experimentar. Como já gostava do esporte e me dei bem, comecei a disputar.
Qual a sua avaliação sobre o triathlon no Brasil?
Ainda falta um pouco de reconhecimento e apoio no País. As mulheres estão em alto nível internacional e não têm mais nada para provar. Os homens estão treinando duro, e está na hora de colher os frutos nos próximos anos. O Pan já foi expressivo com o segundo, sexto e nono lugares. O triathlon nacional está em crescimento.
Que dicas você daria para quem sonha em ser um campeão de triathlon?
Treinar muito, disciplina e correr atrás. Tem que saber que vai abdicar da vida normal de qualquer pessoa.
E como é o Virgílio de Castilho?
Meu grande objetivo é encontrar a minha verdade, o encontro do meu eu, ter paz e tranqüilidade. Não sou de guardar mágoas, tristezas e valorizo a amizade. E torço para haver a renovação do triathlon para que eu possa passar a minha experiência para os novos triatletas, assim como fizeram comigo e depois que atingir todas as minhas metas no esporte, continuar envolvido com a área, talvez na organização de provas.
Nome: Virgílio de Castilho Barbosa Filho
Idade: 28 anos
Local nascimento: Rio de Janeiro- RJ
Triatleta há 7 anos
Peso: 63kg
Altura: 1,75m
Vice-campeão Pan-Americano em Santo Domingo, República Dominicana (2003)
Campeão brasileiro em Vitória (ES) 2003
Campeão sul-americano de triathlon na Venezuela 2003
Campeão pan-americano de duathlon na Venezuela 2003
2º colocado no Pré-Olímpico de Triathlon em La Paz, Argentina 2003
4º colocado no Triathlon Internacional de Santos 2002
4º colocado no Triathlon Internacional Pré-Olímpico - La Paz, Argentina 2002
4º colocado no Triathlon Internacional Pré-Olímpico - Puerto Vallarta, México 2002
Vice-campeão brasileiro de Triathlon- 2001
Campeão estadual de triathlon -1999
Campeão 1ª etapa Troféu Brasil em Santos 1998
Triathlon · 22 fev, 2004
Missão: Olimpíada de Atenas 2004. Estratégia: boa performance nas etapas da Copa do Mundo para somar maior número de pontos no ranking. Estímulo: medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. O triatleta carioca Virgílio de Castilho se baseia nesse tripé para encarar uma maratona de provas para carimbar seu passaporte para a Grécia. O Brasil levará três representantes para os Jogos Olímpicos e há quatro atletas nacionais entre os 75 primeiros do ranking da ITU (International Triathlon Union), sendo que o melhor brasileiro classificado terá lugar garantido na seleção, já os outros dois serão definidos em seletiva.
Antes de concretizar a primeira etapa do grande sonho e garantir vaga em Atenas, Virgílio lutará para estar entre os 20 melhores triatletas do planeta, no Campeonato Mundial, em dezembro, na Nova Zelândia. Na edição de 2003, em Cancún, no México, o brasileiro foi 43º. O bom desempenho dessa temporada, com medalha de prata em Santo Domingo, títulos de campeão brasileiro, sul-americano de triathlon e duathlon, indicam que o carioca tem atributos para concluir mais essa missão com êxito. Nesta entrevista exclusiva, Virgílio de Castilho, atleta da equipe Brasil Telecom, comenta como está sendo a temporada e seu planejamento para chegar a Olimpíada.
Qual a meta para o ranking da ITU este ano?
Estou atualmente entre os 70 primeiros colocados e quero terminar entre os 20.
Você sempre se dedicou as provas olímpicas e está lutando por uma vaga em Atenas. Ironman está nos seus planos?
Até 2008, não. Meu plano é a Olimpíada. Vou estar treinando muito. O ouro em casa, no Pan do Rio de Janeiro, em 2007, é a meta a longo prazo. A participação em Atenas é objetivo a curto prazo. No ano que vem pretendo ganhar experiência, é claro que se vier uma medalha será maravilhoso, mas a meta é brigar por medalha em 2008. Esse batalhão de World Cup que venho disputando é pensando em somar pontos para assegurar a vaga na Olimpíada.
Você já treinou nos Estados Unidos, na Espanha, e pensa em treinar na Austrália futuramente. Como foi este tempo fora do Brasil?
Fiquei oito meses nos Estados Unidos e um mês na Espanha, junto com o Leandro Macedo. Ele é muito disciplinado, me ensina muita coisa e nos damos superbem. Por isso gosto de treinar com ele. A motivação do treino está na cabeça de cada um, e o atleta tem que fazer. Quando estamos fora, a tranqüilidade é maior. Não temos a preocupação do dia-a-dia, a rotina atribulada. Fora você só tem a preocupação de treinar. E, às vezes, bate a monotonia de treinar sempre no mesmo local e, então, só de ir para outro lugar ajuda no lado motivacional. Austrália vai depender do calendário. Meus planos seriam ir após o Mundial, no entanto isso vai depender de quando volto a competir em 2004.
E quais são as expectativas para o Mundial da Nova Zelândia?
Ano passado fiquei em 43º lugar e minha meta nesta temporada é estar entre os 20. Tive problemas de intoxicação alimentar no México. Não é desculpa para o resultado, mas acabou interferindo na performance. Acredito que vou chegar bem preparado para a disputa e tentar fazer o melhor.
Antes do Pan, você comentou que o clima quente seria um grande adversário, mas te favoreceria em relação a norte-americanos e canadenses. A medalha prova que sua previsão se confirmou.
Errei somente quanto ao norte-americano (Hunter Kemper), ele realmente surpreendeu na disputa. O calor e a umidade foram bastante intensos, e ele atacou nos primeiros quilômetros da corrida e se manteve na liderança, decidindo a prova bem cedo. Ele era o grande favorito, mas o que surpreendeu foi a rapidez com que definiu a prova.
E a sua rotina em Santo Domingo?
Cheguei quatro dias antes da prova, fiquei bem descontraído e brincando com todo mundo, como faço sempre. Treinei todos os dias e tentei manter o máximo de concentração. Na manhã da prova preferi ficar mais isolado e intensificar a concentração.
Como foi até a linha de chegada?
Todo mundo tentou ameaçar o americano e eu fui o último a arriscar, quando ele me quebrou também. Fiquei num grupo junto com Argentina e Estados Unidos até o quilômetro seis de corrida, depois imprimi um ritmo forte e assegurei a minha prata. Toda linha de chegada é um momento especial e individual de cada atleta. Este momento é só meu, não dá para expressar para as outras pessoas.
Qual a sensação de voltar ao País com uma conquista anunciada em mídia nacional?
Tem um gosto especial. Jogos Pan-Americanos, Olímpicos, geram um reconhecimento maior. Tem muita gente que nem sabia o que era triathlon antes do Pan. Uma conquista de medalha faz com que a população passe a conhecer o esporte e ver que triatletas não são vagabundos que querem apenas nadar, correr e andar de bike. Uma conquista como a minha faz com que aumente o respeito pela minha profissão.
O Pan é o momento mais importante da sua carreira até agora?
É um objetivo conquistado, e só daqui a quatro anos alguém vai poder me tirar este título. Sou o segundo melhor das Américas até lá.
Como está sua rotina de treino?
Treino normalmente 20km de natação por semana, 350km de ciclismo e 100km de corrida. Pratico as três modalidades todos os dias, em três períodos: às 6h, 11h30 e, para fechar o dia, às 17h. Isso não é sempre, a intensidade varia e às vezes faço até quatro sessões de treino por dia. Todos os dias têm trabalho. Sou meio Caxias. Tanto, que no dia seguinte da prova em Santo Domingo, corri uma hora na vila pan-americana.
E com tanto treino sobra tempo livre?
Dá para ter uns momentos de lazer. Gosto de curtir a família. Sou bem caseiro. Prefiro ficar em casa e assistir um DVD, ficar com a minha esposa e o cachorro. A vida de triatleta é chata para quem não está no esporte. Para mim é ótima.
O técnico Luiz Fernando Catta Preta faz o acompanhamento à distância, pois você mora no Rio de Janeiro e ele em Curitiba. Como é essa relação de trabalho?
Treino monitorado. Sempre faço testes para que ele possa estar acompanhando minha evolução e nosso esquema é todo informatizado. Praticamente nos falamos todos os dias para que ele possa ter o feeling do meu treino. A cada semana vem uma nova programação e nos reunimos para definir o planejamento de preparação e as metas. O atleta tem que ser disciplinado, não tem essa de treinar só porque o técnico está ao lado. É minha profissão e depende de mim. Por isso o sucesso do treinamento depende da disciplina e maturidade do atleta.
A natação é apontada como seu ponto forte, devido a experiência como nadador. Como foi essa época da sua vida?
Pratiquei 10 anos de natação como amador. Sempre levei a sério. Sou bom na natação, mas com a experiência melhorei na corrida. O triatleta tem que ser como o fundista, por isso planejo fazer 10 mil de pista em 30 minutos. Atualmente meu tempo é de 32 minutos.
Você acredita que o triathlon ainda é um esporte da elite?
Ainda não houve uma massificação porque é um esporte caro. Sempre tive que lutar, pois não tinha dinheiro para investir no equipamento. Pedia emprestado acessórios para amigos até conseguir um patrocínio e me firmar. Ainda é um esporte de classe média alta para cima.
E como você estreou na modalidade?
Quando o triathlon chegou no Brasil, há 21 anos, meu pai corria maratona. Como sempre foi ligado em esporte, começou a disputar a nova modalidade. Eu era criança e sempre o acompanhava nas provas. Ele sempre foi um amador, já que começou o triathlon com uma idade avançada. Então, quando cheguei aos 20 anos, meu pai começou a fazer uma certa pressão para eu experimentar. Como já gostava do esporte e me dei bem, comecei a disputar.
Qual a sua avaliação sobre o triathlon no Brasil?
Ainda falta um pouco de reconhecimento e apoio no País. As mulheres estão em alto nível internacional e não têm mais nada para provar. Os homens estão treinando duro, e está na hora de colher os frutos nos próximos anos. O Pan já foi expressivo com o segundo, sexto e nono lugares. O triathlon nacional está em crescimento.
Que dicas você daria para quem sonha em ser um campeão de triathlon?
Treinar muito, disciplina e correr atrás. Tem que saber que vai abdicar da vida normal de qualquer pessoa.
E como é o Virgílio de Castilho?
Meu grande objetivo é encontrar a minha verdade, o encontro do meu eu, ter paz e tranqüilidade. Não sou de guardar mágoas, tristezas e valorizo a amizade. E torço para haver a renovação do triathlon para que eu possa passar a minha experiência para os novos triatletas, assim como fizeram comigo e depois que atingir todas as minhas metas no esporte, continuar envolvido com a área, talvez na organização de provas.
Nome: Virgílio de Castilho Barbosa Filho
Idade: 28 anos
Local nascimento: Rio de Janeiro- RJ
Triatleta há 7 anos
Peso: 63kg
Altura: 1,75m
Vice-campeão Pan-Americano em Santo Domingo, República Dominicana (2003)
Campeão brasileiro em Vitória (ES) 2003
Campeão sul-americano de triathlon na Venezuela 2003
Campeão pan-americano de duathlon na Venezuela 2003
2º colocado no Pré-Olímpico de Triathlon em La Paz, Argentina 2003
4º colocado no Triathlon Internacional de Santos 2002
4º colocado no Triathlon Internacional Pré-Olímpico - La Paz, Argentina 2002
4º colocado no Triathlon Internacional Pré-Olímpico - Puerto Vallarta, México 2002
Vice-campeão brasileiro de Triathlon- 2001
Campeão estadual de triathlon -1999
Campeão 1ª etapa Troféu Brasil em Santos 1998
Ultra Maratona · 04 set, 2003
O ultramaratonista Valmir Nunes é bicampeão mundial de 100km e planeja continuar correndo, correndo, correndo...
Imagine correr distâncias superiores a duas, quatro ou cinco maratonas e cruzar a linha de chegada feliz da vida. Suicídio? Loucura? Não. Trata-se do mais puro sentido de superação. Amor incondicional ao esporte sem fronteiras. Assim são os ultramaratonistas. Assim é Valmir Nunes, o brasileiro dono de dois títulos mundiais nos 100km e dono da terceira melhor marca de desafios 24h (273km823m) do planeta. Natural de Santos, o atleta é um lutador. Ultrapassa cada quilômetro com a mesma garra com que derrotou uma doença que poderia ter sido fatal no final da adolescência.
A determinação do atleta da Mizuno/Memorial é tanta, que até parece fácil atravessar uma centena de quilômetros, no mínimo, lutar contra adversidades naturais ou adversários incansáveis. Preocupação? Sim, com um rival interno. Nunca penso no adversário. A única pessoa de que tenho medo é de mim mesmo. Para quem acredita que correr compulsivamente necessita um dom especial, a resposta de Valmir é simples e direta. Quem nasce com o dom é o velocista. Fundista tem que treinar muito, sofrer bastante.
E foi sofrendo bastante que Valmir chegou longe. A vocação por conquistas, que hoje o fazem um dos maiores nomes da categoria no mundo, começou lutando pela vida. Aos 18 anos, logo após começar a se dedicar ao atletismo, surgiram sintomas de uma grave doença. Perdia peso e muito sangue. As dores constantes resultaram em meses de internação. Vários médicos o examinaram e as previsões não eram animadoras. O problema no aparelho digestivo, chamado reto colite ulcerativa, só teria solução se parte do intestino fosse removido. Seria o fim do sonho de ser corredor. Quando tudo parecia perdido, um médico de Santos trouxe a boa notícia. Um novo medicamento poderia recuperá-lo. Com o tratamento, Valmir começou a apresentar melhoras e aos poucos foi retomando a vida normal.
Aos 22 anos, era um feliz corredor de provas de rua (10km, 15km, meia-maratona e maratonas), quando percebeu que poderia encarar desafios maiores. Como sentia-se bem correndo por horas e horas, resolveu disputar uma competição de 100Km. Curioso é que quando começou a participar desse tipo de desafio, ainda tinha algumas recaídas da doença, que desapareceram com o tempo. Troquei as dores da doença pelas dores e cansaço dessas provas, brinca.
Na primeira prova de 100km, disputada em Uberaba (MG), em 1990, Valmir teria a chance de ganhar uma passagem para competir na Espanha. Determinação e garra fizeram valer o esforço. Venceu e ganhou o direito de correr em terras espanholas. O problema é que a passagem, prometida pelos organizadores, não veio. Obstinado, foi atrás de ajuda e conseguiu viajar para conquistar o terceiro lugar nos 100km de Santander. Foi um começo mais que promissor na ultramaratona.
A partir deste ponto, várias foram as conquistas deste santista. Além de ser bicampeão mundial, é recordista brasileiro, sul-americano, e das américas na distância de 100km. Valmir também detém a melhor marca mundial nessa distância (6h18min09), obtida no campeonato mundial na Holanda, em 1995.
O segredo para manter a disposição após anos correndo milhares de quilômetros? Amor ao esporte, sempre, lembra. Além da conquista pessoal, o atleta pode, enfim, viver do que mais gosta. Tenho uma casa e a possibilidade de pagar os estudos da minha esposa e do meu filho. Mas Valmir garante que nunca pensou no lado financeiro. No atletismo não tem dinheiro que pague a superação, os recordes, os números, as vitórias.
Desafio realmente parece ser a palavra-chave nas conquistas de Valmir. No primeiro título mundial, em 1991, na Itália, passou por momentos angustiantes. Viajou com apenas US$ 40 no bolso e ainda se perdeu. A prova seria disputa em Faenza, no sábado, mas ele desembarcou em Florença, em uma quinta-feira à noite. Ao bater na porta do hotel, já fechado, e procurar pelos atletas, notou o erro. Desesperado, ligou para um amigo na Espanha, que confirmou o equivoco. Como era madrugada, e não teria como seguir viagem, dormiu na rua, próximo ao hotel. Na manhã seguinte, pegou um trem até Faenza.
A essa altura, seus dólares tinham ido pro espaço. Fome e preocupação latejavam sua cabeça e estômago, mas a solidariedade fez a diferença. Alguns atletas espanhóis providenciaram um jantar ao brasileiro com spaguetti à bolonhesa. Após tanto sofrimento e noites de sono interrompido, natural seria que o desempenho fosse um completo desastre. Surpreendendo a todos, Valmir conseguiu reunir forças para se concentrar no maior objetivo: o título mundial. Correndo seguro, alcançou o líder da prova no quilômetro 70 e terminou com três minutos de vantagem para o segundo colocado.
Após tanta dificuldade, entende-se porque esse título é uma das maiores emoções do ultramaratonista. Não só pela conquista inédita, mas pela superação física e mental. Uma receita de campeão, que garante que toda pessoa que pensa em praticar atletismo deve se dedicar muito ao que faz. É um caminho muito árduo, mas vale a pena.
Engana-se quem pensa que Valmir já alcançou todas as metas. O recorde mundial nas 24h é seu grande objetivo. Garantias que vai buscar mais esse recorde são muitas. Exigente consigo mesmo, é do tipo que não desiste nunca, ou quase. Se eu for ouvir meu cérebro, paro em todas as provas. Só paro na hora que minha perna não conseguir mais correr. Andar não é o meu negócio.
Rotina - Louco pelo que faz, Valmir, que treina sozinho desde 1990, corre sete dias por semana, pegando uma folguinha somente no domingo à tarde. Na rotina de treinos, em dois ou até três períodos no dia, percorre trechos de 20 a 30 km. Distâncias que sobem gradativamente quando está perto de competições. E tudo isso pelo simples prazer de se desafiar.
Sempre lembrando a paixão que tem pelo atletismo, Valmir é incansável na busca de ideais e seus limites. Gosto de correr em terrenos difíceis. Corro muito na terra, na areia fofa. Aliás, gosto muito de correr na areia fofa.
Aos 38 anos, lembra do tempo em que tinha apenas um par de tênis para treinar e competir. Usava o calçado até não dar mais. Isso é complicado, pois aumenta o risco de lesões. Hoje, experiente e com possibilidades de fazer um treino adequado, utiliza três pares de tênis por mês. Além disso, o bicampeão mundial dos 100km lembra que já não é tão novinho assim. Eu, que já passei dos 30, procuro evitar ao máximo o impacto. Se você usa muito o tênis, ele vai perdendo o amortecedor e, com isso, aumenta o risco de lesões, explica.
Procurando orientar os mais jovens, o atleta dá uma dica: O caminho é longo. Tem que treinar muito. Ter objetivos e procurar alcançá-los. Quem quer viver do esporte, tem que se superar. Um bom caminho para vencer no esporte é ter uma referência, um ídolo. Valmir procurou se espelhar nas passadas seguras de José João da Silva.
Projetos - Valmir Nunes espera poder desenvolver um trabalho com jovens na cidade de Santos. Além de promover melhor qualidade de vida, pretende trabalhar duro com o atletismo, procurando, assim, incentivar a prática do esporte. Temos bons jogadores de futebol porque temos muitos praticantes. Não temos tantos corredores, porque são poucos os que praticam. No exterior existem muitas escolinhas de atletismo e aqui de futebol, analisa o atleta.
A falta de memória e exposição dos atletas contribui para que o atletismo não seja tão praticado no País. Segundo Valmir, os corredores do passado têm muito o que passar aos mais jovens, só que eles sumiram. Falta memória, mais exposição. Poucos que são reconhecidos. Se um atleta se destaca, é bom para todos. Mesmo assim, Valmir está otimista quanto ao futuro do atletismo nacional. O Brasil tem tudo de bom. As coisas estão mudando.
Reprodução autorizada da edição #7 da Revista SuperAção - Setembro 2003.
Ultra Maratona · 04 set, 2003
O ultramaratonista Valmir Nunes é bicampeão mundial de 100km e planeja continuar correndo, correndo, correndo...
Imagine correr distâncias superiores a duas, quatro ou cinco maratonas e cruzar a linha de chegada feliz da vida. Suicídio? Loucura? Não. Trata-se do mais puro sentido de superação. Amor incondicional ao esporte sem fronteiras. Assim são os ultramaratonistas. Assim é Valmir Nunes, o brasileiro dono de dois títulos mundiais nos 100km e dono da terceira melhor marca de desafios 24h (273km823m) do planeta. Natural de Santos, o atleta é um lutador. Ultrapassa cada quilômetro com a mesma garra com que derrotou uma doença que poderia ter sido fatal no final da adolescência.
A determinação do atleta da Mizuno/Memorial é tanta, que até parece fácil atravessar uma centena de quilômetros, no mínimo, lutar contra adversidades naturais ou adversários incansáveis. Preocupação? Sim, com um rival interno. Nunca penso no adversário. A única pessoa de que tenho medo é de mim mesmo. Para quem acredita que correr compulsivamente necessita um dom especial, a resposta de Valmir é simples e direta. Quem nasce com o dom é o velocista. Fundista tem que treinar muito, sofrer bastante.
E foi sofrendo bastante que Valmir chegou longe. A vocação por conquistas, que hoje o fazem um dos maiores nomes da categoria no mundo, começou lutando pela vida. Aos 18 anos, logo após começar a se dedicar ao atletismo, surgiram sintomas de uma grave doença. Perdia peso e muito sangue. As dores constantes resultaram em meses de internação. Vários médicos o examinaram e as previsões não eram animadoras. O problema no aparelho digestivo, chamado reto colite ulcerativa, só teria solução se parte do intestino fosse removido. Seria o fim do sonho de ser corredor. Quando tudo parecia perdido, um médico de Santos trouxe a boa notícia. Um novo medicamento poderia recuperá-lo. Com o tratamento, Valmir começou a apresentar melhoras e aos poucos foi retomando a vida normal.
Aos 22 anos, era um feliz corredor de provas de rua (10km, 15km, meia-maratona e maratonas), quando percebeu que poderia encarar desafios maiores. Como sentia-se bem correndo por horas e horas, resolveu disputar uma competição de 100Km. Curioso é que quando começou a participar desse tipo de desafio, ainda tinha algumas recaídas da doença, que desapareceram com o tempo. Troquei as dores da doença pelas dores e cansaço dessas provas, brinca.
Na primeira prova de 100km, disputada em Uberaba (MG), em 1990, Valmir teria a chance de ganhar uma passagem para competir na Espanha. Determinação e garra fizeram valer o esforço. Venceu e ganhou o direito de correr em terras espanholas. O problema é que a passagem, prometida pelos organizadores, não veio. Obstinado, foi atrás de ajuda e conseguiu viajar para conquistar o terceiro lugar nos 100km de Santander. Foi um começo mais que promissor na ultramaratona.
A partir deste ponto, várias foram as conquistas deste santista. Além de ser bicampeão mundial, é recordista brasileiro, sul-americano, e das américas na distância de 100km. Valmir também detém a melhor marca mundial nessa distância (6h18min09), obtida no campeonato mundial na Holanda, em 1995.
O segredo para manter a disposição após anos correndo milhares de quilômetros? Amor ao esporte, sempre, lembra. Além da conquista pessoal, o atleta pode, enfim, viver do que mais gosta. Tenho uma casa e a possibilidade de pagar os estudos da minha esposa e do meu filho. Mas Valmir garante que nunca pensou no lado financeiro. No atletismo não tem dinheiro que pague a superação, os recordes, os números, as vitórias.
Desafio realmente parece ser a palavra-chave nas conquistas de Valmir. No primeiro título mundial, em 1991, na Itália, passou por momentos angustiantes. Viajou com apenas US$ 40 no bolso e ainda se perdeu. A prova seria disputa em Faenza, no sábado, mas ele desembarcou em Florença, em uma quinta-feira à noite. Ao bater na porta do hotel, já fechado, e procurar pelos atletas, notou o erro. Desesperado, ligou para um amigo na Espanha, que confirmou o equivoco. Como era madrugada, e não teria como seguir viagem, dormiu na rua, próximo ao hotel. Na manhã seguinte, pegou um trem até Faenza.
A essa altura, seus dólares tinham ido pro espaço. Fome e preocupação latejavam sua cabeça e estômago, mas a solidariedade fez a diferença. Alguns atletas espanhóis providenciaram um jantar ao brasileiro com spaguetti à bolonhesa. Após tanto sofrimento e noites de sono interrompido, natural seria que o desempenho fosse um completo desastre. Surpreendendo a todos, Valmir conseguiu reunir forças para se concentrar no maior objetivo: o título mundial. Correndo seguro, alcançou o líder da prova no quilômetro 70 e terminou com três minutos de vantagem para o segundo colocado.
Após tanta dificuldade, entende-se porque esse título é uma das maiores emoções do ultramaratonista. Não só pela conquista inédita, mas pela superação física e mental. Uma receita de campeão, que garante que toda pessoa que pensa em praticar atletismo deve se dedicar muito ao que faz. É um caminho muito árduo, mas vale a pena.
Engana-se quem pensa que Valmir já alcançou todas as metas. O recorde mundial nas 24h é seu grande objetivo. Garantias que vai buscar mais esse recorde são muitas. Exigente consigo mesmo, é do tipo que não desiste nunca, ou quase. Se eu for ouvir meu cérebro, paro em todas as provas. Só paro na hora que minha perna não conseguir mais correr. Andar não é o meu negócio.
Rotina - Louco pelo que faz, Valmir, que treina sozinho desde 1990, corre sete dias por semana, pegando uma folguinha somente no domingo à tarde. Na rotina de treinos, em dois ou até três períodos no dia, percorre trechos de 20 a 30 km. Distâncias que sobem gradativamente quando está perto de competições. E tudo isso pelo simples prazer de se desafiar.
Sempre lembrando a paixão que tem pelo atletismo, Valmir é incansável na busca de ideais e seus limites. Gosto de correr em terrenos difíceis. Corro muito na terra, na areia fofa. Aliás, gosto muito de correr na areia fofa.
Aos 38 anos, lembra do tempo em que tinha apenas um par de tênis para treinar e competir. Usava o calçado até não dar mais. Isso é complicado, pois aumenta o risco de lesões. Hoje, experiente e com possibilidades de fazer um treino adequado, utiliza três pares de tênis por mês. Além disso, o bicampeão mundial dos 100km lembra que já não é tão novinho assim. Eu, que já passei dos 30, procuro evitar ao máximo o impacto. Se você usa muito o tênis, ele vai perdendo o amortecedor e, com isso, aumenta o risco de lesões, explica.
Procurando orientar os mais jovens, o atleta dá uma dica: O caminho é longo. Tem que treinar muito. Ter objetivos e procurar alcançá-los. Quem quer viver do esporte, tem que se superar. Um bom caminho para vencer no esporte é ter uma referência, um ídolo. Valmir procurou se espelhar nas passadas seguras de José João da Silva.
Projetos - Valmir Nunes espera poder desenvolver um trabalho com jovens na cidade de Santos. Além de promover melhor qualidade de vida, pretende trabalhar duro com o atletismo, procurando, assim, incentivar a prática do esporte. Temos bons jogadores de futebol porque temos muitos praticantes. Não temos tantos corredores, porque são poucos os que praticam. No exterior existem muitas escolinhas de atletismo e aqui de futebol, analisa o atleta.
A falta de memória e exposição dos atletas contribui para que o atletismo não seja tão praticado no País. Segundo Valmir, os corredores do passado têm muito o que passar aos mais jovens, só que eles sumiram. Falta memória, mais exposição. Poucos que são reconhecidos. Se um atleta se destaca, é bom para todos. Mesmo assim, Valmir está otimista quanto ao futuro do atletismo nacional. O Brasil tem tudo de bom. As coisas estão mudando.
Reprodução autorizada da edição #7 da Revista SuperAção - Setembro 2003.
Corridas de Rua · 04 abr, 2003
Ninguem segura segura esse garoto! Franck Caldeira de Almeida deixa rastro de vitórias como juvenil e estréia na categoria adulta com fome de vitórias.
A natureza é composta de ciclos. Existem em todas os níveis da vida. No esporte não é diferente. De tempos em tempos uma geração de atletas aparece para ocupar o espaço de seus antecessores. O atletismo nacional começa a viver uma dessas fases com Franck Caldeira de Almeida. Aos 19 anos, foi o segundo melhor brasileiro na Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2002. Grande resultado, que ganha maior proporção se lavado em conta o fato de o atleta ainda ser juvenil na época.
O mineiro Franck é considerado uma das promessas do atletismo nacional. Há 4 anos no esporte, faz em 2003 a primeira temporada como adulto. Como juvenil é recordista do Estado do Rio de Janeiro nos 10 mil metros pista, com o tempo de 29min47, campeão brasileiro, sul-americano e pan-americano da mesma prova em 2001. Ano passado, foi terceiro colocado na Prova de 10km do Brasil, campeão dos 10 km da Corrida dos Fuzileiros Navais e dos 9,3 km da Corrida dos Correios. Ainda na retrospectiva de 2002 está o quarto lugar na Corrida de Reis de São Caetano 12 km, a medalha de ouro nos Jogos Sul-Americanos (Belém/Pará), além do quinto lugar na Meia Maratona do Rio, sendo segundo melhor brasileiro.
A fase juvenil ficou para trás. Franck irá brigar por espaço entre os melhores. Para a temporada 2003, a qual o mineiro começou com a conquista do título da Corrida de São Sebastião (10 km), as metas são o índice para os 10 mil no Pan-Americano e um pódio na Meia Maratona do Rio de Janeiro. Mesmo sabendo que o prazo para conseguir uma vaga no Pan está expirando, Franck se mostra confiante. Sei que está um pouco em cima da hora, faltam alguns meses apenas para a competição, mas vou me empenhar ao máximo e se estiver preparado para encarar este desafio vou conseguir uma vaga. O técnico Henrique Viana confirma o desejo de ver o pupilo na República Dominicana, em agosto. Para isto é necessário um treino de alto nível de altitude para conseguir o índice nos 10 mil metros.
O novato planeja, a médio prazo, conquistar um título da São Silvestre. Mas afirma ser necessário adquirir mais experiência antes de enfrentar o desafio. E com paciência e muito trabalho acredita que alcançará os maiores sonhos como esportista: se manter entre os melhores corredores do Brasil, conquistar uma medalha olímpica e pan-americana. Hoje com 20 anos, mostra maturidade, sem deixar de lado a postura humilde de sempre estar disposto a aprender e evoluir.
Rapidez - Enquanto o técnico Henrique Viana projeta para Franck uma preparação para disputar a maratona no Pan de 2007, no Rio de Janeiro, o atleta prefere esperar. O Henrique pensa na maratona para 2007. Quero aproveitar mais minha velocidade até os 25, 27 anos, para depois disputar maratonas. Quero desfrutar mais tempo da minha especialidade, os 10 mil metros. Mas vamos combinando cada meta a ser atingida e até 2007 temos um longo percurso.
Como a maioria dos garotos brasileiros, Franck tentou ser jogador de futebol, mas quando percebeu que aquela não era a modalidade ideal para seu talento, aproveitou o incentivo do irmão e partiu para a corrida. Sempre tive o sonho de ser esportista, mas quando treinava futebol sabia que aquela não era a minha praia. Então, aos 16 anos, resolvi deixar os campos e por influência do meu irmão Paulo César, que corria como atleta amador, comecei. Quando corri pela primeira vez senti que tinha jeito.
O atleta disputou a primeira prova na cidade em que nasceu, Sete Lagoas. Terminou em quinto na competição de 12km. Logo depois foi campeão juvenil da Meia Maratona de Belo Horizonte, ficando em 25º na classificação geral. Com as boas performances nas provas da região, foi indicado para treinar em Petrópolis (RJ), na equipe Pé de Vento, a qual integra desde 2000. Resolveu mudar para a cidade serrana para estudar e treinar, onde mora atualmente num apartamento com mais cinco atletas.
Henrique Viana não economiza elogios ao atleta que, para ele, tem as características para ser um vencedor no atletismo. No dia 20 de abril de 2000 ele se mudou para Petrópolis tendo como melhores marcas 31min50 nos 10.000 metros e 15min50 nos 5.000 e vem melhorando rapidamente seus tempos (veja quadro). O Franck é muito dedicado e tem uma obsessão para resultados positivos. Ele, inclusive, se irrita quando corre mal e fica difícil aceitar uma classificação negativa. Correto, dedicado, responsável e talentoso, ele é o verdadeiro perfil de um campeão.
Mesmo com pouco tempo no atletismo, o caçula de uma família de sete irmãos afirma que o esporte realizou um sonho e trouxe benefícios para sua vida. Com o atletismo conheci um aeroporto. Minha primeira vez foi quando fui disputar o Sul-Americano de Cross Country, em Bogotá (Colômbia). O esporte me proporciona conhecer novas pessoas, ampliar minhas relações. Aprendi a me comunicar melhor, a conviver com outras pessoas e suprir a falta da minha família.
Segundo o corredor - que tem como inspiração Paul Tergat, que considera uma máquina de correr - o primeiro ano como adulto vai ser duro. Será um período de aprendizado. No ano passado tive algumas experiências, mas ainda falta correr de igual pra igual com os mais velhos. Nesta temporada também vou começar a treinar musculação para fortalecimento. Para estar melhor nas provas de meia maratona e 10 km.
Para Viana, o atleta não terá problemas na mudança de categoria. Correndo em Friburgo, em dezembro de 2002, ele chegou 1min5 à frente do segundo colocado, fato difícil de acontecer, normalmente, na categoria adulto. Ainda mais quando é feito por um juvenil. Na verdade, esta fase de transição, para ele, não existe. Ele está 10 anos à frente. Veja bem, os grandes atletas brasileiros têm entre 28 e 32 anos. Ele, com 20 anos, está conseguindo os mesmos resultados. No dia 20 de janeiro deste ano, na comemoração dos festejos de São Sebastião, na corrida do mesmo nome, uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro, ele venceu nada mais que um dos ícones do atletismo das corridas de longa distância, Valdenor Pereira dos Santos, que ficou em segundo lugar com a marca de 30 minutos cravados, contra os 29min48 do Franck.
O treinamento do corredor é feito em dois períodos, sete dias por semana. Na fase de preparação para competição, faz uma média de 200 km por semana. O técnico explica que a preparação consiste em rodagens, corridas de curtas, médias e de longas distâncias iniciando com 10 km até 24 km, no máximo, alternando entre as semanas. Além disso, corridas intervaladas, fartleks e interval-trainings estão na rotina do atleta. A alimentação é balanceada, evitando a ingestão de doces e carne com gordura. Franck faz quatro refeições diárias e complementa a dieta com vitaminas.
O adolescente, que abriu mão das festas pelo esporte, confirma que vale a pena o sacrifício. Foi difícil me adaptar a rotina de atleta, tive que abrir mão da diversão à noite, que gostava muito, para treinar bem no dia seguinte, mas não me arrependo porque as conquistas compensam. O passado recente confirma que há capacidade para conquistas, a preparação é adequada e determinação para vencer não falta. Agora é esperar para ver a jovem promessa brasileira se tornar realidade e brilhar nos pódios nacionais e internacionais.
Confira como foi a evolução da performance do atleta nos 10.000m
Corridas de Rua · 04 abr, 2003
Ninguem segura segura esse garoto! Franck Caldeira de Almeida deixa rastro de vitórias como juvenil e estréia na categoria adulta com fome de vitórias.
A natureza é composta de ciclos. Existem em todas os níveis da vida. No esporte não é diferente. De tempos em tempos uma geração de atletas aparece para ocupar o espaço de seus antecessores. O atletismo nacional começa a viver uma dessas fases com Franck Caldeira de Almeida. Aos 19 anos, foi o segundo melhor brasileiro na Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2002. Grande resultado, que ganha maior proporção se lavado em conta o fato de o atleta ainda ser juvenil na época.
O mineiro Franck é considerado uma das promessas do atletismo nacional. Há 4 anos no esporte, faz em 2003 a primeira temporada como adulto. Como juvenil é recordista do Estado do Rio de Janeiro nos 10 mil metros pista, com o tempo de 29min47, campeão brasileiro, sul-americano e pan-americano da mesma prova em 2001. Ano passado, foi terceiro colocado na Prova de 10km do Brasil, campeão dos 10 km da Corrida dos Fuzileiros Navais e dos 9,3 km da Corrida dos Correios. Ainda na retrospectiva de 2002 está o quarto lugar na Corrida de Reis de São Caetano 12 km, a medalha de ouro nos Jogos Sul-Americanos (Belém/Pará), além do quinto lugar na Meia Maratona do Rio, sendo segundo melhor brasileiro.
A fase juvenil ficou para trás. Franck irá brigar por espaço entre os melhores. Para a temporada 2003, a qual o mineiro começou com a conquista do título da Corrida de São Sebastião (10 km), as metas são o índice para os 10 mil no Pan-Americano e um pódio na Meia Maratona do Rio de Janeiro. Mesmo sabendo que o prazo para conseguir uma vaga no Pan está expirando, Franck se mostra confiante. Sei que está um pouco em cima da hora, faltam alguns meses apenas para a competição, mas vou me empenhar ao máximo e se estiver preparado para encarar este desafio vou conseguir uma vaga. O técnico Henrique Viana confirma o desejo de ver o pupilo na República Dominicana, em agosto. Para isto é necessário um treino de alto nível de altitude para conseguir o índice nos 10 mil metros.
O novato planeja, a médio prazo, conquistar um título da São Silvestre. Mas afirma ser necessário adquirir mais experiência antes de enfrentar o desafio. E com paciência e muito trabalho acredita que alcançará os maiores sonhos como esportista: se manter entre os melhores corredores do Brasil, conquistar uma medalha olímpica e pan-americana. Hoje com 20 anos, mostra maturidade, sem deixar de lado a postura humilde de sempre estar disposto a aprender e evoluir.
Rapidez - Enquanto o técnico Henrique Viana projeta para Franck uma preparação para disputar a maratona no Pan de 2007, no Rio de Janeiro, o atleta prefere esperar. O Henrique pensa na maratona para 2007. Quero aproveitar mais minha velocidade até os 25, 27 anos, para depois disputar maratonas. Quero desfrutar mais tempo da minha especialidade, os 10 mil metros. Mas vamos combinando cada meta a ser atingida e até 2007 temos um longo percurso.
Como a maioria dos garotos brasileiros, Franck tentou ser jogador de futebol, mas quando percebeu que aquela não era a modalidade ideal para seu talento, aproveitou o incentivo do irmão e partiu para a corrida. Sempre tive o sonho de ser esportista, mas quando treinava futebol sabia que aquela não era a minha praia. Então, aos 16 anos, resolvi deixar os campos e por influência do meu irmão Paulo César, que corria como atleta amador, comecei. Quando corri pela primeira vez senti que tinha jeito.
O atleta disputou a primeira prova na cidade em que nasceu, Sete Lagoas. Terminou em quinto na competição de 12km. Logo depois foi campeão juvenil da Meia Maratona de Belo Horizonte, ficando em 25º na classificação geral. Com as boas performances nas provas da região, foi indicado para treinar em Petrópolis (RJ), na equipe Pé de Vento, a qual integra desde 2000. Resolveu mudar para a cidade serrana para estudar e treinar, onde mora atualmente num apartamento com mais cinco atletas.
Henrique Viana não economiza elogios ao atleta que, para ele, tem as características para ser um vencedor no atletismo. No dia 20 de abril de 2000 ele se mudou para Petrópolis tendo como melhores marcas 31min50 nos 10.000 metros e 15min50 nos 5.000 e vem melhorando rapidamente seus tempos (veja quadro). O Franck é muito dedicado e tem uma obsessão para resultados positivos. Ele, inclusive, se irrita quando corre mal e fica difícil aceitar uma classificação negativa. Correto, dedicado, responsável e talentoso, ele é o verdadeiro perfil de um campeão.
Mesmo com pouco tempo no atletismo, o caçula de uma família de sete irmãos afirma que o esporte realizou um sonho e trouxe benefícios para sua vida. Com o atletismo conheci um aeroporto. Minha primeira vez foi quando fui disputar o Sul-Americano de Cross Country, em Bogotá (Colômbia). O esporte me proporciona conhecer novas pessoas, ampliar minhas relações. Aprendi a me comunicar melhor, a conviver com outras pessoas e suprir a falta da minha família.
Segundo o corredor - que tem como inspiração Paul Tergat, que considera uma máquina de correr - o primeiro ano como adulto vai ser duro. Será um período de aprendizado. No ano passado tive algumas experiências, mas ainda falta correr de igual pra igual com os mais velhos. Nesta temporada também vou começar a treinar musculação para fortalecimento. Para estar melhor nas provas de meia maratona e 10 km.
Para Viana, o atleta não terá problemas na mudança de categoria. Correndo em Friburgo, em dezembro de 2002, ele chegou 1min5 à frente do segundo colocado, fato difícil de acontecer, normalmente, na categoria adulto. Ainda mais quando é feito por um juvenil. Na verdade, esta fase de transição, para ele, não existe. Ele está 10 anos à frente. Veja bem, os grandes atletas brasileiros têm entre 28 e 32 anos. Ele, com 20 anos, está conseguindo os mesmos resultados. No dia 20 de janeiro deste ano, na comemoração dos festejos de São Sebastião, na corrida do mesmo nome, uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro, ele venceu nada mais que um dos ícones do atletismo das corridas de longa distância, Valdenor Pereira dos Santos, que ficou em segundo lugar com a marca de 30 minutos cravados, contra os 29min48 do Franck.
O treinamento do corredor é feito em dois períodos, sete dias por semana. Na fase de preparação para competição, faz uma média de 200 km por semana. O técnico explica que a preparação consiste em rodagens, corridas de curtas, médias e de longas distâncias iniciando com 10 km até 24 km, no máximo, alternando entre as semanas. Além disso, corridas intervaladas, fartleks e interval-trainings estão na rotina do atleta. A alimentação é balanceada, evitando a ingestão de doces e carne com gordura. Franck faz quatro refeições diárias e complementa a dieta com vitaminas.
O adolescente, que abriu mão das festas pelo esporte, confirma que vale a pena o sacrifício. Foi difícil me adaptar a rotina de atleta, tive que abrir mão da diversão à noite, que gostava muito, para treinar bem no dia seguinte, mas não me arrependo porque as conquistas compensam. O passado recente confirma que há capacidade para conquistas, a preparação é adequada e determinação para vencer não falta. Agora é esperar para ver a jovem promessa brasileira se tornar realidade e brilhar nos pódios nacionais e internacionais.
Confira como foi a evolução da performance do atleta nos 10.000m
Triathlon · 03 mar, 2003
Oscar Galindez nasceu na Argentina, mas mora em Santos, no litoral de São Paulo, onde treina para se consolidar como um dos principais triatletas do mundo.
Você diz ser seu maior adversário. Quais são os seus limites?
Oscar Galindez - Não tenho. Quem achar que tem limites não vence. Quem não desiste é o verdadeiro campeão, pois um dia consegue.
Quais os títulos que você persegue?
Oscar Galindez - Meu grande objetivo é um título do Ironman do Havaí. Já participei de uma Olimpíada, em 2000, e já realizei este sonho. É claro que se uma medalha vier será excelente, no entanto, minha participação em 2004 depende da Federação Argentina, do apoio para buscar pontos em provas internacionais. Quanto ao Ironman, quem está entre os 20 classificados tem chance de, ao longo dos anos, alcançar uma medalha. Acredito que entre 3 a 5 anos, disputando a competição e dentro desta faixa de classificação, o atleta chegue ao pódio. Pretendo ganhar mais experiência em 2003 e ir melhorando meus resultados até conseguir realizar meu objetivo.
Existe uma ordem de prioridades?
Oscar Galindez - O Ironman do Havaí, porque os outros, Pan-Americano de 2003 e Olimpíada, dependerão do calendário, das condições que terei para disputar e também da Federação Argentina. Minha prioridade é o Havaí.
Quais as condições que fizeram você trocar a Argentina pelo Brasil.
Oscar Galindez - Estou no Brasil há 7 anos, mas há 15 disputo provas aqui. Na época em que decidi mudar, tinha o patrocínio da Reebok, sendo metade da empresa na Argentina e a outra do Brasil. Depois passou a ser só brasileiro, então, como já vinha competindo, gostava do País e meu patrocinador estava aqui, resolvi mudar. Primeiro, morei no Rio de Janeiro e depois vim para Santos. Na época da minha mudança (95), o Brasil estava vivendo um bom momento no triathlon, respirava mais o esporte que a Argentina.
É difícil ser argentino no Brasil?
Oscar Galindez - Não. É difícil para quem carrega a rivalidade Brasil x Argentina. Existem as brincadeiras dos colegas, mas não passa disso. A minha relação no triathlon é como se fosse um jogador estrangeiro que vem para um clube brasileiro de futebol, vim para prestar um serviço, para colaborar com o esporte. Há quem goste ou não de mim, como também era na Argentina.
Por que você escolheu um brasileiro, Ayrton Senna, e não um argentino como ídolo?
Oscar Galindez - Escolhi Ayrton Senna como ídolo pelo que ele representa, sem pensar na nacionalidade. Ele é um exemplo fora e dentro das pistas. Tento me espelhar nele. Ele era simples, agressivo-controlado, sabia dominar uma competição. Digo agressivo não no sentido negativo, mas de uma pessoa corajosa, que sabia arriscar e fazer o melhor. Fora do esporte era tranqüilo e controlado. No triathlon sou assim, agressivo, estou sempre arriscando, ultrapassando, a melhor defesa é o ataque.
Com que freqüência você visita parentes na Argentina?
Oscar Galindez - Anualmente, pelo menos duas vezes por ano. Sempre passo Natal e Ano Novo na Argentina.
Como você avalia as crises nos seus dois países: Brasil e Argentina?
Oscar Galindez - Não confio mais em políticos. A crise que a Argentina está passando, o Brasil viveu algo parecido com o Collor, com a população tendo seu dinheiro preso e sem meios de sobreviver. A situação dos países da América Latina não é boa e nem estável. Perdi dinheiro na Argentina porque estava no banco.
Descreva sua rotina de treino.
Oscar Galindez - Realizo de 15 a 20 km de natação, 300 km de bike e 60 km de corrida por semana. Também faço musculação em dois ciclos, janeiro e junho, totalizando no ano o ideal 18 semanas. Por exemplo, para o Ironman enfatizei o trabalho de resistência e fortalecimento para evitar lesões e ganhar força. Treino em torno de 5 a 6 horas por dia, sempre de terça a domingo. Estou disputando menos provas por ano, no entanto com mais qualidade, porque caso contrário o físico não agüenta no Havaí.
Qual é o seu forte no triathlon?
Oscar Galindez - O ciclismo.
E o ponto fraco?
Oscar Galindez - Meu ponto fraco é a natação, portanto dou mais ênfase a essa modalidade nos treinos.
Como é composta sua equipe de trabalho?
Oscar Galindez - Meu técnico é o Marcelo Borges e minha esposa administra minha carreira e também faz o trabalho psicológico. Médico, só quando há lesões.
Você tem 5% de teor de gordura e 54% de músculos. É possível melhorar mais fisicamente?
Oscar Galindez - Acho que estes valores não variaram muito, apesar de não ter uma avaliação mais atual. Pode haver mudanças fisiológicas e físicas. No entanto, estes números não importam muito, o que vale é a performance.
Você disputa provas de várias distâncias, como a olímpica e o ironman. Qual o segredo para se dar bem nas duas?
Oscar Galindez - O segredo é a boa preparação. E quando você define seu objetivo uma preparação não anula a outra, pois tudo é planejado para atingir uma meta.
Se tivesse que optar, com qual distância ficaria?
Oscar Galindez - Atualmente com o Ironman. Se pudesse ficaria com as duas, pois existem provas olímpicas muito boas. Já o Ironman é o que me inspirou a fazer triathlon, esperei mais de 15 anos para participar da competição, tenho um respeito por ela. E a prova é a única que tem evoluído. Por exemplo, esperamos tanto por Sydney. Mesmo depois de se tornar olímpica a premiação não melhorou em outros eventos. Também não ajudou a atrair mais gente para o esporte. Pior, sem apoio os atletas têm que buscar pontos para a prova olímpica em eventos internacionais. No Ironman as inscrições são concorridas, todo mundo quer disputar.
Conte como foi seu início de carreira.
Oscar Galindez - Em 1985 assisti uma prova do Ironman do Havaí pela televisão e achava aqueles caras uns malucos, como conseguiam completar a prova? E aí me despertou a vontade de fazer triathlon. Antes já tinha praticado atletismo e basquete. Entrei no triathlon em 86, disputei a minha primeira prova em 8 de novembro, em Embalse (Córdoba), era o Campeonato Estadual e Nacional na categoria menores. Fiquei em quarto lugar. Aos 18 anos fui campeão argentino e por aí minha carreira foi evoluindo.
É verdade que seu passatempo é jogar videogame com o filho?
Oscar Galindez - Quando digo jogar videogame é para expressar que tento usar meu tempo livre para curtir meus filhos e mulher, tenho pouco tempo, pois treino demais. Gosto de sair de carro por aí viajando e conhecendo vários lugares. Minha rotina é treinar, minha mulher é quem administra minha casa e carreira.
Há quanto tempo é casado?
Oscar Galindez - Estou casado com a Lisa há 7 anos e tenho dois filhos. O Thomaz nasceu na Argentina e está com 6 anos. A Sofia, que nasceu no Brasil, está com 2 anos.
Você tem dominado o triathlon no Troféu Brasil e vai em busca do hexa. Você não tem adversários no Brasil?
Oscar Galindez - O nível brasileiro é muito bom e por isso vim morar aqui, para disputar de igual com os adversários. Me dou bem porque me preparo para as provas, tenho paixão pelo triathlon. Talento (genético) ajuda bastante.
Como está a carreira internacional. O ano de 2002 foi de bons resultados?
Oscar Galindez -Este ano, após a cirurgia no ombro, me recuperei bem e me consolidei em provas de longa distância, o que me deixa mais confiante para o Ironman.
Por que escolheu Santos para morar?
Oscar Galindez - Santos é a cidade que teve mais provas de triathlon no Brasil, digo no sentido de melhor nível. Tenho amigos na cidade e a proximidade de São Paulo, por causa dos patrocinadores, ajuda.
Fale de sua participação em Sydney e dos problemas que enfrentou.
Oscar Galindez -Avalio minha participação em Sydney como boa. Mesmo com problemas, fiquei somente há 235 atrás do primeiro colocado, o que me deu o 28º. A a prova olímpica é para nadador que corre bem, todo mundo vai no vácuo e na prova de bike tem muita sacanagem, os atletas não puxam e o ciclismo, que é o meu forte. Durante o ciclismo, eu estava num grupo de 30, então bateram na minha traseira e estouro um pneu, perdi quase 2 minutos para trocar e voltar a prova.
Você tem 31 anos. Acredita estar no auge da carreira? Até quando é possível competir em alto nível no triathlon?
Oscar Galindez - Acredito que estou no auge. Acho que é por estar no triathlon há quase 17 anos e pela experiência que adquiri e as conquistas que tenho. O limite para competir é até quando você não ganhar mais, o tempo é relativo de cada atleta.
O que falta para os sul-americanos conseguirem maiores resultados internacionais?
Oscar Galindez -Os sul-americanos têm que acreditar no potencial deles, não ajoelhar diante dos estrangeiros. E, é claro, precisam de mais apoio de patrocinadores, federações e organizações
O que americanos e australianos têm, que nós não temos?
Oscar Galindez - Nós temos raça, o que eles não têm. A situação do país também reflete no esporte, enquanto eles têm uma condição de acesso a bons materiais e apoio para treinar, os sul-americanos não têm, então, fica difícil igualar a preparação.
Alguns triatletas brasileiros já sofreram problemas como atropelamento. O que é preciso para se ter condições ideais de treino?
Oscar Galindez - As pessoas de carro têm que ter mais cuidado, pois nós corremos sozinhos e são os motoristas que devem estar atentos e dirigir com cautela. Geralmente temos que correr pelas ruas, pois não é toda cidade que tem lugar ideal para treinar.
Como é sua alimentação?
Oscar Galindez - Faço geralmente de 4 a 6 refeições, não sigo nenhuma dieta, pois acredito que cada atleta tem que encontrar sua alimentação ideal. Tento manter uma regra de 60% carboidrato, 20% proteína e o resto de gordura. Evito frituras e tento controlar doces, o que é um grande problema. Sou louco por doces. Também tomo multivitamínico e aminoácidos.
Que dicas dá para quem sonha em ser um campeão de triathlon?
Oscar Galindez -Acreditar no trabalho que está realizando, confiar na equipe de trabalho e ter paixão pelo esporte.
Qual é sua estratégia durante as provas?
Oscar Galindez - A melhor defesa é o ataque. Sempre tento arriscar, aguardando o momento certo,quando há vácuo. Quando não há, procuro sair bem no início, principalmente na bike, que é meu ponto forte.
Conte como é o projeto para desenvolver quadros de bike.
Oscar Galindez - Começou há 2 anos na Itália e estou trabalhando com um artesão italiano (Giovani Peliccioli, também produz para marca Fausto Coppi) tentando comercializar no Brasil. O quadro é feito sob medida, com a mesma qualidade dos utilizados pelos profissionais italianos de ciclismo, no entanto ele não tem um custo barato.
Ficha Técnica:
Nome: Oscar Saul Galindez.
Nacionalidade: Argentino.
Data de Nascimento: 05 de Junho de 1971.
Local de Nascimento: Rio Tercero - Córdoba Argentina.
Profissão: Triatleta Profissional.
Treinos e competições: Desde 1986
Altura: 1,75m.
Peso: 74 Kg.
Melhor tempo em 1 Km de corrida: 2min38.
Melhor tempo em 400 metros de natação: 4min51.
Melhor tempo em 5 Km de ciclismo: 6min.
VO2 MAX: 82 ml.Kg
Principais Conquistas:
Top Ten no Ranking Mundial de Triathlon: 1992, 1993, 1994, 1995, 1996
Campeão Mundial de Duatlhon: 1995, Cancun - México
Dez Vezes campeão Argentino de Triathlon
Hexacampeão Sul-Americano de Triatlhon
Pentacampeão Pan-Americano de Triathlon
Hexacampeão do Troféu Brasi
Hexacampeão do Triathlon Internacional de Santos.
Triathlon · 03 mar, 2003
Oscar Galindez nasceu na Argentina, mas mora em Santos, no litoral de São Paulo, onde treina para se consolidar como um dos principais triatletas do mundo.
Você diz ser seu maior adversário. Quais são os seus limites?
Oscar Galindez - Não tenho. Quem achar que tem limites não vence. Quem não desiste é o verdadeiro campeão, pois um dia consegue.
Quais os títulos que você persegue?
Oscar Galindez - Meu grande objetivo é um título do Ironman do Havaí. Já participei de uma Olimpíada, em 2000, e já realizei este sonho. É claro que se uma medalha vier será excelente, no entanto, minha participação em 2004 depende da Federação Argentina, do apoio para buscar pontos em provas internacionais. Quanto ao Ironman, quem está entre os 20 classificados tem chance de, ao longo dos anos, alcançar uma medalha. Acredito que entre 3 a 5 anos, disputando a competição e dentro desta faixa de classificação, o atleta chegue ao pódio. Pretendo ganhar mais experiência em 2003 e ir melhorando meus resultados até conseguir realizar meu objetivo.
Existe uma ordem de prioridades?
Oscar Galindez - O Ironman do Havaí, porque os outros, Pan-Americano de 2003 e Olimpíada, dependerão do calendário, das condições que terei para disputar e também da Federação Argentina. Minha prioridade é o Havaí.
Quais as condições que fizeram você trocar a Argentina pelo Brasil.
Oscar Galindez - Estou no Brasil há 7 anos, mas há 15 disputo provas aqui. Na época em que decidi mudar, tinha o patrocínio da Reebok, sendo metade da empresa na Argentina e a outra do Brasil. Depois passou a ser só brasileiro, então, como já vinha competindo, gostava do País e meu patrocinador estava aqui, resolvi mudar. Primeiro, morei no Rio de Janeiro e depois vim para Santos. Na época da minha mudança (95), o Brasil estava vivendo um bom momento no triathlon, respirava mais o esporte que a Argentina.
É difícil ser argentino no Brasil?
Oscar Galindez - Não. É difícil para quem carrega a rivalidade Brasil x Argentina. Existem as brincadeiras dos colegas, mas não passa disso. A minha relação no triathlon é como se fosse um jogador estrangeiro que vem para um clube brasileiro de futebol, vim para prestar um serviço, para colaborar com o esporte. Há quem goste ou não de mim, como também era na Argentina.
Por que você escolheu um brasileiro, Ayrton Senna, e não um argentino como ídolo?
Oscar Galindez - Escolhi Ayrton Senna como ídolo pelo que ele representa, sem pensar na nacionalidade. Ele é um exemplo fora e dentro das pistas. Tento me espelhar nele. Ele era simples, agressivo-controlado, sabia dominar uma competição. Digo agressivo não no sentido negativo, mas de uma pessoa corajosa, que sabia arriscar e fazer o melhor. Fora do esporte era tranqüilo e controlado. No triathlon sou assim, agressivo, estou sempre arriscando, ultrapassando, a melhor defesa é o ataque.
Com que freqüência você visita parentes na Argentina?
Oscar Galindez - Anualmente, pelo menos duas vezes por ano. Sempre passo Natal e Ano Novo na Argentina.
Como você avalia as crises nos seus dois países: Brasil e Argentina?
Oscar Galindez - Não confio mais em políticos. A crise que a Argentina está passando, o Brasil viveu algo parecido com o Collor, com a população tendo seu dinheiro preso e sem meios de sobreviver. A situação dos países da América Latina não é boa e nem estável. Perdi dinheiro na Argentina porque estava no banco.
Descreva sua rotina de treino.
Oscar Galindez - Realizo de 15 a 20 km de natação, 300 km de bike e 60 km de corrida por semana. Também faço musculação em dois ciclos, janeiro e junho, totalizando no ano o ideal 18 semanas. Por exemplo, para o Ironman enfatizei o trabalho de resistência e fortalecimento para evitar lesões e ganhar força. Treino em torno de 5 a 6 horas por dia, sempre de terça a domingo. Estou disputando menos provas por ano, no entanto com mais qualidade, porque caso contrário o físico não agüenta no Havaí.
Qual é o seu forte no triathlon?
Oscar Galindez - O ciclismo.
E o ponto fraco?
Oscar Galindez - Meu ponto fraco é a natação, portanto dou mais ênfase a essa modalidade nos treinos.
Como é composta sua equipe de trabalho?
Oscar Galindez - Meu técnico é o Marcelo Borges e minha esposa administra minha carreira e também faz o trabalho psicológico. Médico, só quando há lesões.
Você tem 5% de teor de gordura e 54% de músculos. É possível melhorar mais fisicamente?
Oscar Galindez - Acho que estes valores não variaram muito, apesar de não ter uma avaliação mais atual. Pode haver mudanças fisiológicas e físicas. No entanto, estes números não importam muito, o que vale é a performance.
Você disputa provas de várias distâncias, como a olímpica e o ironman. Qual o segredo para se dar bem nas duas?
Oscar Galindez - O segredo é a boa preparação. E quando você define seu objetivo uma preparação não anula a outra, pois tudo é planejado para atingir uma meta.
Se tivesse que optar, com qual distância ficaria?
Oscar Galindez - Atualmente com o Ironman. Se pudesse ficaria com as duas, pois existem provas olímpicas muito boas. Já o Ironman é o que me inspirou a fazer triathlon, esperei mais de 15 anos para participar da competição, tenho um respeito por ela. E a prova é a única que tem evoluído. Por exemplo, esperamos tanto por Sydney. Mesmo depois de se tornar olímpica a premiação não melhorou em outros eventos. Também não ajudou a atrair mais gente para o esporte. Pior, sem apoio os atletas têm que buscar pontos para a prova olímpica em eventos internacionais. No Ironman as inscrições são concorridas, todo mundo quer disputar.
Conte como foi seu início de carreira.
Oscar Galindez - Em 1985 assisti uma prova do Ironman do Havaí pela televisão e achava aqueles caras uns malucos, como conseguiam completar a prova? E aí me despertou a vontade de fazer triathlon. Antes já tinha praticado atletismo e basquete. Entrei no triathlon em 86, disputei a minha primeira prova em 8 de novembro, em Embalse (Córdoba), era o Campeonato Estadual e Nacional na categoria menores. Fiquei em quarto lugar. Aos 18 anos fui campeão argentino e por aí minha carreira foi evoluindo.
É verdade que seu passatempo é jogar videogame com o filho?
Oscar Galindez - Quando digo jogar videogame é para expressar que tento usar meu tempo livre para curtir meus filhos e mulher, tenho pouco tempo, pois treino demais. Gosto de sair de carro por aí viajando e conhecendo vários lugares. Minha rotina é treinar, minha mulher é quem administra minha casa e carreira.
Há quanto tempo é casado?
Oscar Galindez - Estou casado com a Lisa há 7 anos e tenho dois filhos. O Thomaz nasceu na Argentina e está com 6 anos. A Sofia, que nasceu no Brasil, está com 2 anos.
Você tem dominado o triathlon no Troféu Brasil e vai em busca do hexa. Você não tem adversários no Brasil?
Oscar Galindez - O nível brasileiro é muito bom e por isso vim morar aqui, para disputar de igual com os adversários. Me dou bem porque me preparo para as provas, tenho paixão pelo triathlon. Talento (genético) ajuda bastante.
Como está a carreira internacional. O ano de 2002 foi de bons resultados?
Oscar Galindez -Este ano, após a cirurgia no ombro, me recuperei bem e me consolidei em provas de longa distância, o que me deixa mais confiante para o Ironman.
Por que escolheu Santos para morar?
Oscar Galindez - Santos é a cidade que teve mais provas de triathlon no Brasil, digo no sentido de melhor nível. Tenho amigos na cidade e a proximidade de São Paulo, por causa dos patrocinadores, ajuda.
Fale de sua participação em Sydney e dos problemas que enfrentou.
Oscar Galindez -Avalio minha participação em Sydney como boa. Mesmo com problemas, fiquei somente há 235 atrás do primeiro colocado, o que me deu o 28º. A a prova olímpica é para nadador que corre bem, todo mundo vai no vácuo e na prova de bike tem muita sacanagem, os atletas não puxam e o ciclismo, que é o meu forte. Durante o ciclismo, eu estava num grupo de 30, então bateram na minha traseira e estouro um pneu, perdi quase 2 minutos para trocar e voltar a prova.
Você tem 31 anos. Acredita estar no auge da carreira? Até quando é possível competir em alto nível no triathlon?
Oscar Galindez - Acredito que estou no auge. Acho que é por estar no triathlon há quase 17 anos e pela experiência que adquiri e as conquistas que tenho. O limite para competir é até quando você não ganhar mais, o tempo é relativo de cada atleta.
O que falta para os sul-americanos conseguirem maiores resultados internacionais?
Oscar Galindez -Os sul-americanos têm que acreditar no potencial deles, não ajoelhar diante dos estrangeiros. E, é claro, precisam de mais apoio de patrocinadores, federações e organizações
O que americanos e australianos têm, que nós não temos?
Oscar Galindez - Nós temos raça, o que eles não têm. A situação do país também reflete no esporte, enquanto eles têm uma condição de acesso a bons materiais e apoio para treinar, os sul-americanos não têm, então, fica difícil igualar a preparação.
Alguns triatletas brasileiros já sofreram problemas como atropelamento. O que é preciso para se ter condições ideais de treino?
Oscar Galindez - As pessoas de carro têm que ter mais cuidado, pois nós corremos sozinhos e são os motoristas que devem estar atentos e dirigir com cautela. Geralmente temos que correr pelas ruas, pois não é toda cidade que tem lugar ideal para treinar.
Como é sua alimentação?
Oscar Galindez - Faço geralmente de 4 a 6 refeições, não sigo nenhuma dieta, pois acredito que cada atleta tem que encontrar sua alimentação ideal. Tento manter uma regra de 60% carboidrato, 20% proteína e o resto de gordura. Evito frituras e tento controlar doces, o que é um grande problema. Sou louco por doces. Também tomo multivitamínico e aminoácidos.
Que dicas dá para quem sonha em ser um campeão de triathlon?
Oscar Galindez -Acreditar no trabalho que está realizando, confiar na equipe de trabalho e ter paixão pelo esporte.
Qual é sua estratégia durante as provas?
Oscar Galindez - A melhor defesa é o ataque. Sempre tento arriscar, aguardando o momento certo,quando há vácuo. Quando não há, procuro sair bem no início, principalmente na bike, que é meu ponto forte.
Conte como é o projeto para desenvolver quadros de bike.
Oscar Galindez - Começou há 2 anos na Itália e estou trabalhando com um artesão italiano (Giovani Peliccioli, também produz para marca Fausto Coppi) tentando comercializar no Brasil. O quadro é feito sob medida, com a mesma qualidade dos utilizados pelos profissionais italianos de ciclismo, no entanto ele não tem um custo barato.
Ficha Técnica:
Nome: Oscar Saul Galindez.
Nacionalidade: Argentino.
Data de Nascimento: 05 de Junho de 1971.
Local de Nascimento: Rio Tercero - Córdoba Argentina.
Profissão: Triatleta Profissional.
Treinos e competições: Desde 1986
Altura: 1,75m.
Peso: 74 Kg.
Melhor tempo em 1 Km de corrida: 2min38.
Melhor tempo em 400 metros de natação: 4min51.
Melhor tempo em 5 Km de ciclismo: 6min.
VO2 MAX: 82 ml.Kg
Principais Conquistas:
Top Ten no Ranking Mundial de Triathlon: 1992, 1993, 1994, 1995, 1996
Campeão Mundial de Duatlhon: 1995, Cancun - México
Dez Vezes campeão Argentino de Triathlon
Hexacampeão Sul-Americano de Triatlhon
Pentacampeão Pan-Americano de Triathlon
Hexacampeão do Troféu Brasi
Hexacampeão do Triathlon Internacional de Santos.
Corridas de Rua · 12 fev, 2003
Férias para os pés? Nem pensar... Aos 38 anos, Luiz Antonio dos Santos passa longe da aposentadoria. Superou problemas físicos e treina forte em busca de títulos.
A história é conhecida. Atleta de origem humilde que alcança o sucesso. Mas este personagem tem um capítulo diferente. Estreou tarde no mundo das corridas e depois de 13 anos de carreira nem pensa em aposentadoria. Aos 38 anos, o maratonista Luiz Antonio dos Santos sonha em conquistar uma medalha olímpica e espera virar mais uma página de sua história em 2003.
Não penso em aposentadoria porque ainda sinto que posso vencer maratonas. Quando começar a perceber que os meus tempos já não são mais competitivos, vou procurar outras categorias. Esta história de aposentadoria me incomoda, porque estou com 38 anos tenho que parar? Acho que não tem que avaliar número e sim a performance. Muitos começam cedo e param mais cedo. Tive um início tardio para a média e, portanto, vou passar a idade esperada. Tem que se avaliar o treinamento e os cuidados do atleta e não simplesmente a idade. Tenho condições de me manter na elite.
Como a maioria dos garotos brasileiros, Luiz Antonio sonhava ser um grande jogador de futebol. De vez em quando brincava de correr em provas na cidade natal, Volta Redonda, e se saia bem. Estava sempre entre os 10 primeiros. Aos 22 anos conheceu um corredor da equipe de Barra Mansa (RJ) e pediu para ir competir em uma prova no Rio de Janeiro. Naquela época ir conhecer o Rio de Janeiro era um sonho, pois a situação era difícil e não tinha dinheiro para nada. Então, ele me disse que se eu estivesse às 2h da manhã na rodoviária de Volta Redonda, podia ir junto. Saí a meia noite de casa, a pé, percorri uma distância de 6km e fui disputar a minha primeira prova (10 km - Volta do Maracanã). Da equipe de Barra Mansa eu fui o melhor (16º). Então comecei a treinar com este pessoal, mas continuei trabalhando na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), depois fui garçom, mas nunca deixei de competir.
Somente aos 25 anos, Luiz Antonio começou a treinar com orientação profissional e a buscar resultados no atletismo. Disputei uma prova de 5 mil, pista, no Rio, na qual fui 8º colocado, com 14min26. Lá conheci o técnico Henrique Viana e comecei a treinar em Petrópolis. E neste primeiro ano trabalhando juntos já fui 20º na São Silvestre.
Após quatros anos de treino, Luiz Antonio estreou em maratonas vencendo a prova de Blumenau, em 93, com o tempo de 2h12min15. Cheguei na maratona como uma conseqüência dos treinos. Eu via que tinha mais facilidade nas provas longas, tinha resistência e ritmo. Naquele mesmo ano, o brasileiro foi disputar uma das mais importantes competições internacionais, a Maratona de Chicago. E somou mais uma vitória. Estava certo, tinha facilidade nas provas longas e muitas outras conquistas vieram. Em 13 anos de carreira, o corredor considera o ano de 95 o melhor de sua história. Naquele ano fiz quatro maratonas, sendo que venci duas (São Paulo e Fukuoka) e fiquei em terceiro nas outras (Boston e Suécia), conquistando uma medalha de bronze no mundial.
O passado é glorioso, mas Luiz Antonio dos Santos prefere olhar para o futuro e trabalhar em busca de novas conquistas. Eu sempre assistia a São Silvestre e dizia que um dia ia correr aquela prova, mas nunca achei que ia chegar tão longe. Mesmo jogando futebol gostava de corrida e as coisas foram crescendo. Com certeza foi mais do que sonhei. Mas agora quero mais. Não digo que sou um atleta totalmente realizado. Ainda falta uma medalha olímpica e um pódio de São Silvestre. O maratonista participou da Olimpíada de Atlanta/96, na qual foi 10º colocado na maratona. É veterano na São Silvestre. Ele disputou mais de dez vezes a prova e tem como melhor resultado o sexto lugar.
Nos últimos dois anos, Luiz Antonio enfrentou problemas como a falta de patrocínio e lesões. Em 2000 teve uma pubalgia, que o deixou afastado do esporte por 7 meses. Depois ficou mais de um ano e meio sem apoio, treinando sozinho. Este é o momento de virada, vou deixar as tristezas dos últimos anos para trás e mostrar que posso buscar resultados. Com os problemas que passei, algumas pessoas chegaram a achar que eu tinha morrido, pois quando você não está bem as pessoas desaparecem, não tem mais aqueles tapinhas nas costas. Fui abandonado. Mesmo com as dificuldades nunca pensei em parar. Mesmo sem apoio, paguei meu tratamento, continuei mantendo a forma, treinando e disputei algumas provas, conseguindo bons resultados. Isso me motivava a continuar, pois sabia que tinha condições de dar a voltar por cima.
Desde julho de 2002 competindo pela equipe BM&F/Pão de Açúcar, Luiz Antonio vem reformulando sua preparação e agora conta com o treinamento de Ricardo DAngelo. O maratonista divide sua preparação entre Campinas (SP) e Taubaté (SP), na qual está programada uma maratona em abril. A prova ainda não está definida. Poderá ser na Holanda, Inglaterra ou EUA. O objetivo para 2003 é buscar índice para o Pan-Americano ou Mundial, para isto terá que correr abaixo de 2min12. Para DAngelo, o aspecto físico, o início tardio e a experiência contribuem para o prolongamento da carreira de Luiz Antonio. O ápice de um maratonista se dá entre os 32 e 36 anos e o Luiz, por ter começado mais tarde e apresentar um bom rendimento, tem chances de uma sobrevida no esporte.
E para garantir esta continuação, até a alimentação tem recebido atenção especial. O atleta está sob a orientação de uma nutricionista. Antes eu tinha uma alimentação saudável, mas não era muito preocupado com isso. Comia pouco. Agora faço quatro refeições diárias, tomo um café da manhã adequado, antes era só um cafezinho preto e ia treinar. Não é porque você tem conquistas que tem que se achar o melhor. Tem que estar sempre aprendendo e melhorando. Mesmo com tantas metas e dedicação à vida esportiva, o corredor ainda encontra tempo para relaxar. Nas horas livres gosta de visitar os pais em Volta Redonda, dançar e ouvir pagode.
Conselho - Para quem está começando no atletismo, o maratonista aconselha muita dedicação, não visar apenas o ganho financeiro e nunca desistir, pois o sacrifício um dia será recompensado. O corredor de 38 anos, que considera seus pontos fortes a disciplina e a persistência, afirma que o atletismo transformou sua vida. Eu vivia mal ou bem com um salário mínimo, não conhecia nada no mundo, ir para o Rio de Janeiro era um sonho. Hoje tenho melhores condições, posso proporcionar qualidade de vida aos meus filhos (quatro) e ainda ajudar a minha família. Por meio do esporte Luiz Antonio comprou três apartamentos, duas casas e um sítio. Até o ano passado tinha uma padaria, negócio que encerrou para se dedicar exclusivamente ao atletismo. Mesmo tendo a oportunidade de conhecer vários países, o cidadão de Volta Redonda sempre preferiu se manter concentrado nos hotéis. Então, como ele mesmo afirma, esteve em muitos locais, mas não os conheceu.
O atleta da BM&F/Pão de Açúcar acredita que o nível do atletismo brasileiro vem melhorando. No entanto, alerta para o prejuízo dos casos de doping. Temos que ter cuidado com o doping, pois acaba manchando a imagem dos corredores brasileiros. Mesmo aqueles que ganham com esforço, treino e preparação acabam sendo vistos como dopados. O atleta brasileiro tem muita qualidade e grande potencial, só precisa de mais apoio para se preparar. E o corredor é pessimista quanto ao futuro dos brasileiros nas provas de pista. Para ele a falta de estrutura e incentivo acarretará na diminuição de atletas nas pistas, já que acabam migrando para as ruas em função da remuneração e das melhores condições de treino.
Luiz Antonio alerta para a ganância da organização brasileira. No Brasil corrida virou um negócio, quanto mais dinheiro melhor. O atleta de elite acaba sem reconhecimento, se ele vai correr ou não, não faz tanta diferença. O que vale são os 15, 20 mil corredores pagando inscrição.
Luiz Antonio dos Santos:
Corridas de Rua · 12 fev, 2003
Férias para os pés? Nem pensar... Aos 38 anos, Luiz Antonio dos Santos passa longe da aposentadoria. Superou problemas físicos e treina forte em busca de títulos.
A história é conhecida. Atleta de origem humilde que alcança o sucesso. Mas este personagem tem um capítulo diferente. Estreou tarde no mundo das corridas e depois de 13 anos de carreira nem pensa em aposentadoria. Aos 38 anos, o maratonista Luiz Antonio dos Santos sonha em conquistar uma medalha olímpica e espera virar mais uma página de sua história em 2003.
Não penso em aposentadoria porque ainda sinto que posso vencer maratonas. Quando começar a perceber que os meus tempos já não são mais competitivos, vou procurar outras categorias. Esta história de aposentadoria me incomoda, porque estou com 38 anos tenho que parar? Acho que não tem que avaliar número e sim a performance. Muitos começam cedo e param mais cedo. Tive um início tardio para a média e, portanto, vou passar a idade esperada. Tem que se avaliar o treinamento e os cuidados do atleta e não simplesmente a idade. Tenho condições de me manter na elite.
Como a maioria dos garotos brasileiros, Luiz Antonio sonhava ser um grande jogador de futebol. De vez em quando brincava de correr em provas na cidade natal, Volta Redonda, e se saia bem. Estava sempre entre os 10 primeiros. Aos 22 anos conheceu um corredor da equipe de Barra Mansa (RJ) e pediu para ir competir em uma prova no Rio de Janeiro. Naquela época ir conhecer o Rio de Janeiro era um sonho, pois a situação era difícil e não tinha dinheiro para nada. Então, ele me disse que se eu estivesse às 2h da manhã na rodoviária de Volta Redonda, podia ir junto. Saí a meia noite de casa, a pé, percorri uma distância de 6km e fui disputar a minha primeira prova (10 km - Volta do Maracanã). Da equipe de Barra Mansa eu fui o melhor (16º). Então comecei a treinar com este pessoal, mas continuei trabalhando na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), depois fui garçom, mas nunca deixei de competir.
Somente aos 25 anos, Luiz Antonio começou a treinar com orientação profissional e a buscar resultados no atletismo. Disputei uma prova de 5 mil, pista, no Rio, na qual fui 8º colocado, com 14min26. Lá conheci o técnico Henrique Viana e comecei a treinar em Petrópolis. E neste primeiro ano trabalhando juntos já fui 20º na São Silvestre.
Após quatros anos de treino, Luiz Antonio estreou em maratonas vencendo a prova de Blumenau, em 93, com o tempo de 2h12min15. Cheguei na maratona como uma conseqüência dos treinos. Eu via que tinha mais facilidade nas provas longas, tinha resistência e ritmo. Naquele mesmo ano, o brasileiro foi disputar uma das mais importantes competições internacionais, a Maratona de Chicago. E somou mais uma vitória. Estava certo, tinha facilidade nas provas longas e muitas outras conquistas vieram. Em 13 anos de carreira, o corredor considera o ano de 95 o melhor de sua história. Naquele ano fiz quatro maratonas, sendo que venci duas (São Paulo e Fukuoka) e fiquei em terceiro nas outras (Boston e Suécia), conquistando uma medalha de bronze no mundial.
O passado é glorioso, mas Luiz Antonio dos Santos prefere olhar para o futuro e trabalhar em busca de novas conquistas. Eu sempre assistia a São Silvestre e dizia que um dia ia correr aquela prova, mas nunca achei que ia chegar tão longe. Mesmo jogando futebol gostava de corrida e as coisas foram crescendo. Com certeza foi mais do que sonhei. Mas agora quero mais. Não digo que sou um atleta totalmente realizado. Ainda falta uma medalha olímpica e um pódio de São Silvestre. O maratonista participou da Olimpíada de Atlanta/96, na qual foi 10º colocado na maratona. É veterano na São Silvestre. Ele disputou mais de dez vezes a prova e tem como melhor resultado o sexto lugar.
Nos últimos dois anos, Luiz Antonio enfrentou problemas como a falta de patrocínio e lesões. Em 2000 teve uma pubalgia, que o deixou afastado do esporte por 7 meses. Depois ficou mais de um ano e meio sem apoio, treinando sozinho. Este é o momento de virada, vou deixar as tristezas dos últimos anos para trás e mostrar que posso buscar resultados. Com os problemas que passei, algumas pessoas chegaram a achar que eu tinha morrido, pois quando você não está bem as pessoas desaparecem, não tem mais aqueles tapinhas nas costas. Fui abandonado. Mesmo com as dificuldades nunca pensei em parar. Mesmo sem apoio, paguei meu tratamento, continuei mantendo a forma, treinando e disputei algumas provas, conseguindo bons resultados. Isso me motivava a continuar, pois sabia que tinha condições de dar a voltar por cima.
Desde julho de 2002 competindo pela equipe BM&F/Pão de Açúcar, Luiz Antonio vem reformulando sua preparação e agora conta com o treinamento de Ricardo DAngelo. O maratonista divide sua preparação entre Campinas (SP) e Taubaté (SP), na qual está programada uma maratona em abril. A prova ainda não está definida. Poderá ser na Holanda, Inglaterra ou EUA. O objetivo para 2003 é buscar índice para o Pan-Americano ou Mundial, para isto terá que correr abaixo de 2min12. Para DAngelo, o aspecto físico, o início tardio e a experiência contribuem para o prolongamento da carreira de Luiz Antonio. O ápice de um maratonista se dá entre os 32 e 36 anos e o Luiz, por ter começado mais tarde e apresentar um bom rendimento, tem chances de uma sobrevida no esporte.
E para garantir esta continuação, até a alimentação tem recebido atenção especial. O atleta está sob a orientação de uma nutricionista. Antes eu tinha uma alimentação saudável, mas não era muito preocupado com isso. Comia pouco. Agora faço quatro refeições diárias, tomo um café da manhã adequado, antes era só um cafezinho preto e ia treinar. Não é porque você tem conquistas que tem que se achar o melhor. Tem que estar sempre aprendendo e melhorando. Mesmo com tantas metas e dedicação à vida esportiva, o corredor ainda encontra tempo para relaxar. Nas horas livres gosta de visitar os pais em Volta Redonda, dançar e ouvir pagode.
Conselho - Para quem está começando no atletismo, o maratonista aconselha muita dedicação, não visar apenas o ganho financeiro e nunca desistir, pois o sacrifício um dia será recompensado. O corredor de 38 anos, que considera seus pontos fortes a disciplina e a persistência, afirma que o atletismo transformou sua vida. Eu vivia mal ou bem com um salário mínimo, não conhecia nada no mundo, ir para o Rio de Janeiro era um sonho. Hoje tenho melhores condições, posso proporcionar qualidade de vida aos meus filhos (quatro) e ainda ajudar a minha família. Por meio do esporte Luiz Antonio comprou três apartamentos, duas casas e um sítio. Até o ano passado tinha uma padaria, negócio que encerrou para se dedicar exclusivamente ao atletismo. Mesmo tendo a oportunidade de conhecer vários países, o cidadão de Volta Redonda sempre preferiu se manter concentrado nos hotéis. Então, como ele mesmo afirma, esteve em muitos locais, mas não os conheceu.
O atleta da BM&F/Pão de Açúcar acredita que o nível do atletismo brasileiro vem melhorando. No entanto, alerta para o prejuízo dos casos de doping. Temos que ter cuidado com o doping, pois acaba manchando a imagem dos corredores brasileiros. Mesmo aqueles que ganham com esforço, treino e preparação acabam sendo vistos como dopados. O atleta brasileiro tem muita qualidade e grande potencial, só precisa de mais apoio para se preparar. E o corredor é pessimista quanto ao futuro dos brasileiros nas provas de pista. Para ele a falta de estrutura e incentivo acarretará na diminuição de atletas nas pistas, já que acabam migrando para as ruas em função da remuneração e das melhores condições de treino.
Luiz Antonio alerta para a ganância da organização brasileira. No Brasil corrida virou um negócio, quanto mais dinheiro melhor. O atleta de elite acaba sem reconhecimento, se ele vai correr ou não, não faz tanta diferença. O que vale são os 15, 20 mil corredores pagando inscrição.
Luiz Antonio dos Santos:
Maratona · 15 jan, 2003
Maria Zeferina Baldia não pode parar. Ela vice para correr e vencer, não importam os obstáculos...
Os pés doem. Mas é preciso seguir em frente. Os pés doem. O asfalto está quente demais. O chão de terra está cheio de pedras, pedregulhos. Entrou um caco de vidro. Está sangrando. Os pés doem. É preciso seguir em frente. Correr mais rápido. Ir mais longe. Os pés doem. Não importa. Nada vai fazê-la parar.
Por 10 anos foi assim. Maria Zeferina Baldaia dividia a vida em duas partes. O trabalho na lavoura, demais afazeres em casa e escola, e correr. Nunca importou em que condições. Só queria correr. E correu. Em diversos tipos de locais, sempre descalça. Vencia a dor nos pés, a falta de uma alimentação adequada, qualquer obstáculo. Tudo para correr.
Maria Zeferina Baldaia é uma brasileira como milhões. Uma mulher que não se entrega. De tanto lutar, venceu. Mas sabe, precisa continuar vencendo, cada vez mais. E, para ela, correr é vencer.
Apareceu para o mundo com a conquista da Corrida Internacional de São Silvestre, em 2001. Agora, reconhecida como uma das grandes estrelas do atletismo nacional, batalha para se manter no topo. Todos os flashes estarão sobre ela dia 31 de dezembro, dia em que vai acelerar as passadas em busca do bicampeonato da mais tradicional corrida de rua do Brasil.
É pouco. O sonho leva Maria para lugares distantes. Ela quer estar em Atenas, na Grécia, em 2004. Quer correr. Quer ganhar uma medalha olímpica na maratona para o Brasil. Quem conhece a história da menina pobre que fazia poeira no canavial em Sertãozinho, não duvida que consiga.
Aos 12 anos começou a ajudar os pais na lavoura de cana. O dinheiro que a família ganhava era pouco para alimentar de acordo os nove filhos. O salário dava para pouco mais que o arroz e feijão. Carne, só em dia de pagamento.
Eu, minha irmã e minha mãe acordávamos às cinco da manhã para fazer a marmita e esperar o caminhão. Cada dia íamos trabalhar numa cidade da região, ficava o dia inteiro, a comida esfriava, a água esquentava, para fazer necessidades era uma dificuldade, tinha que ir para o meio do canavial, uma falta de higiene. É uma coisa triste trabalhar na lavoura. Por falta de opção você acaba gostando. Tem o lado bom, pois tem o companheirismo entre os trabalhadores, relembra.
A descoberta da corrida como esporte veio no mesmo ano, em uma gincana na escola. A motivação para correr a primeira prova foi um ídolo, a portuguesa Rosa Motta. Me descobri atleta aos 12 anos. Lembro que estava de sandalinha e calça jeans e falei que não ia correr. Mas todo ano eu assistia, à meia noite do dia 31 de dezembro, a São Silvestre e sempre via a Rosa Motta. Então, perguntava para minha mãe se poderia ser uma atleta igual a ela. E minha dizia: por que não? você é tão magrinha quanto ela. E fiquei com aquilo na cabeça. Tirei a sandália, dobrei a calça e acabei ganhando.
Apesar do sabor da vitória, o esforço para ser a mais veloz no percurso de 4 quilômetros quase acabou com a carreira recém iniciada. Depois da corrida jurei que nunca mais ia correr porque doía tudo, tudo. Hoje sei que foi pela falta de experiência, conta. O bom desempenho na estréia gerou um convite para integrar a equipe de atletismo de Sertãozinho. Demorou um mês para eu aceitar. Foi quando tudo começou.
Após dez anos disputando provas apenas na região, a vida de Maria Zeferina começava a mudar. Contratada pela Secretaria de Esporte de Ribeirão Preto, no projeto Adote um Atleta, pôde disputar corridas mais próximas de São Paulo. Foi quando conheceu o técnico Cláudio Ribeiro e começou a sentir que realizaria o sonho de ser atleta de elite. Ele me emprestou um tênis e a partir daí não corri mais descalça. Corri a primeira vez de tênis em Franca e logo comecei a vencer pequenas provas na região. Me lembro que quando fui terceira em Poços de Caldas, ganhei R$ 100,00 e pude comprar meu primeiro par de tênis. Desci do pódio e corri na banca. Isso foi em 98. Eu só usava o tênis do Cláudio nas provas, continuava treinando sem tênis, para não gastar.
A relação de conforto entre os pés da atleta e os tênis demorou um pouco a se consolidar. No começo foi difícil de acostumar. Eu colocava o tênis e dava a largada, quando chegava na metade eu tirava porque tinha algo me incomodando, pesava pra mim. Então eu tirava e parecia que eu rendia mais.
Com o tempo, foi se acostumando. No início, não usava tênis adequado para corredor, então, quando juntei um dinheirinho, já dava para comprar tênis bom para corrida, me acostumei e não tirava mais durante a corrida.
Quando deixou o projeto da prefeitura, em 96, dividiu os treinos (somente no final da tarde) com a lavoura até 99. Contratada por uma empresa, também de Ribeirão, trabalhava meio período e era dispensada para treinar visando os Jogos Operários. Paralelamente, começou a disputar provas maiores, como a Corrida Integração, e a ficar mais conhecida por estar sempre entre as cinco primeiras. Em agosto de 2000, perdeu o emprego e resolveu se dedicar exclusivamente ao atletismo.
Apesar do sacrifico, com os treinos em dois períodos, os resultados começaram a aparecer. A primeira Maratona que disputei foi a de Dourados, em 2000, que o Cláudio me levou como treinamento de prova longa para eu fazer 30 km. Mas quando chegou na marca, as outras estavam a mais de 1 km. Então quis terminar e fiz 3 horas e 3 minutos. Como foi um tempo bom, ele me mandou para Curitiba, me preparei durante três meses e ganhei a prova. Com o título em Curitiba, conseguiu o patrocínio da Companhia Energética Santa Elisa.
Confiante e com melhor preparação, o Brasil conheceu a avalanche Maria Zeferina Baldaia. Em 2001 venceu a 3ª Volta Internacional Pampulha, a Sargento Luis Gonzaguinha Rodrigues e, finalmente, a São Silvestre. Foi quando ganhei o patrocínio da Mizuno. Na São Silvestre consegui realizar todos os meus sonhos e tive certeza que os treinamentos de 15 anos não foram em vão, cheguei ao lugar mais alto do pódio.
Maria confessa nunca ter imaginado tanto para a carreira e que chega a ficar assustada com o sucesso. Pedia a Deus que me desse um patrocinador, alguém que acreditasse em mim e que me desse um salário mínimo para eu largar a lavoura e me dedicar mesmo ao esporte, poder treinar dois períodos.
As coisas aconteceram de uma forma que eu fico até meio espantada, tudo de uma vez só. Engana-se quem pensa que ela está satisfeita. Creio que não cheguei no topo porque tenho que realizar um grande sonho: a Olimpíada de 2004. Estou treinando forte, cada dia mais, para no ano que vem estar buscando índice numa prova lá fora para representar o Brasil em 2004 e tentar buscar uma medalha.
A campeã reconhece os méritos pelas conquistas, mas dá crédito ao treinador. Um atleta sem técnico não consegue muita coisa. E posso dizer isso porque fiquei 10 anos treinando sozinha, e depois que comecei com o Cláudio é que as coisas começaram a caminhar pra valer. Até então, eu achava que quanto mais corresse melhor ia ficar. Saia correndo pelo meio do canavial de Sertãozinho. Hoje, sei que não é assim. Sei que existe todo um trabalho em conjunto, cada dia é um tipo de treinamento. É por aí que os atletas conseguem melhorar os resultados, baixar marcas, alcançar objetivos.
A rotina de atleta de elite não é moleza. Maria treina uma média de oito horas diárias, em dois períodos. A metodologia da preparação varia de acordo com a competição. Para a São Silvestre, por exemplo, trabalhará mais velocidade, em relação à resistência. Duas vezes na semana trabalho velocidade na pista, treino um dia na academia (força, nada com muito peso, em torno de 2 horas) e piscina para relaxamento quando o treino é mais longo que 20 a 25 km. Treino de segunda a domingo. Quando tem competição de segunda a sábado. Meu treino longo é de 30 a 35 km para maratona e 20 a 25 km para meia maratona, explica ela.
Os sacrifícios de Maria Zeferina não se restringem ao esforço e disciplina nos treinos. Ela abriu mão da convivência com o filho para estar na elite do esporte. Eu não tenho a rotina de mãe, me lembro corri até os sete meses de gravidez, quando o médico pediu para parar. Ele nasceu, fiquei com ele pouco tempo, até três meses, enquanto amamentei. Depois minha mãe ficou com ele e cuida até hoje. Eu não sei explicar como é o papel de mãe porque foi minha mãe quem criou meu filho. Até hoje ele a chama de mãe-vó. Eu sou Maria, Tata. Ele não me chama de mãe porque ficamos pouco tempo juntos. Sou mais uma irmã pra ele. Eu viajo tranqüila porque sei que a minha mãe está cuidando dele.
Nada fica entre Maria e o atletismo. Primeiramente me dedico aos treinamentos porque é uma coisa que não abro mão. Primeiro é o treino, depois a família e a diversão. Mas, quando pode, procura passar a maior parte do tempo possível com a mãe, o filho e o irmão, principalmente nos finais de semana.
O nome do filho é um capítulo à parte. Escolheu ninguém menos que Michael Jordan para homenagear. Ele é meu ídolo desde menina. Sempre fui fã dele, guardava recorte de jornal e resolvi que se tivesse um filho seria Michael Jordan. Se fosse menina, seria Rosa Motta, que venceu a São Silvestre por seis vezes. A corredora portuguesa e o jogador de basquete norte-americano serviram de modelo para a futura campeã. Sempre pensava nela para vencer os obstáculos, nos treinos, na força dela para ganhar a prova seis vezes.
Admiro o Michael pela raça, pela cor negra. Me chamava atenção a garra dele, o brilho nos olhos de querer vencer e então me apeguei nele.
Se o preço pelas conquistas é estar longe da família, uma das compensações é poder ajudar a quem ama. Com o dinheiro ganho em provas e dos patrocinadores, ela conseguiu comprar três apartamentos (um para morar e dois como investimento), reformou a casa da mãe e auxilia a família. Com o carro que tem, por exemplo, leva o irmão deficiente para a fisioterapia. Com dinheiro no bolso, pode satisfazer as vontades do filho. O esporte melhorou a situação financeira, mas a pessoa continua igual, não há porque e nem pra que mudar. Estou aproveitando o meu momento, porque sei que é uma coisa passageira, daqui a pouco vai acabar. Então, quero deixar boas lembranças, sendo sempre eu mesma.
Com 1,50 metro de altura e 45 quilos, continua a mesma magrinha que a mãe comparava à Rosa Motta. Mas confessa: não come muito. Como precisa, se alimenta bem para agüentar o puxado ritmo de treinos e toma suplementos.
Cuida bem do corpo, mas não tem nenhuma rotina de preparação mental antes de corridas. Pelo contrário, procura sair para descontrair, tipo ir ao shopping. Sei que muitos preferem ficar trancados pensando na corrida, mas comigo não dá certo. Também não traça estratégia nas provas. Procuro acompanhar o pelotão e quando sinto, puxo para vencer. Não tenho estratégia, é uma coisa pessoal, vou pela sensibilidade.
Define carisma e humildade como características para o sucesso alcançado. Não se considera de muito luxo, mas gosta de estar sempre de batom e de unhas feitas. Há dois anos, pinta as unhas com o desenho da bandeira do Brasil ou cores e imagens que se identifiquem com o local da competição. Para as mulheres que desejam seguir seus passos, ensina: Não desista nunca, não só no esporte, em qualquer sonho. Acredite no sonho, continue correndo atrás, lutando, pois um dia se consegue. Tudo é possível. Basta querer, acreditar e ter fé, que as coisas podem mudar um dia.
Para vencer no atletismo, Maria Zeferina desafia os próprios limites e, principalmente, as melhores corredoras do País e do mundo. E tem opinião formada sobre as africanas, maiores adversárias das brasileiras nas provas de resistência. Os brasileiros não são unidos, cada um quer ser melhor que o outro. O que falta é trabalhar em equipe, em grupo, igual aos estrangeiros. Eles fazem isso e dá certo. Os africanos não são bicho de sete cabeças. Se eles treinam forte, nós também treinamos. Eles têm pernas e nós também, o que falta é um ajudar o outro. Por que o Vanderlei ganhou a Maratona de São Paulo? Porque trabalhou em equipe com o Daniel Lopes, em conjunto com o Luís Antonio, afirma, referindo-se ao fato de Daniel ter sido coelho de Vanderlei.
Maria acredita que quando houver união, os brasileiros vão dominar. Gosto quando tem queniana na provas porque elas imprimem o ritmo. Quando só tem brasileiro fica aquele bloquinho do começo ao fim, a prova é decidida no último quilômetro. Quando tem estrangeira a prova é decidida na largada porque eles imprimem logo de início um ritmo e só acompanha quem está bem preparado. Quem não está fica para trás logo de cara. Eu adoro quando têm estrangeiras na prova, porque aprendo muito. Posso baixar na minha marca.
Tanto quanto ganhar, Maria Zeferina Baldaia adora correr. E pretende permanecer em atividade mesmo quando o corpo não corresponder mais às exigências do alto rendimento. Costuma dizer que enquanto tiver forças nas perdas, estará correndo, seja com 80 ou 90 anos. Nunca parei no atletismo, sempre continuava mesmo quando ninguém acreditava em mim. Tive altos e baixos. Dormi em banco de praça, pedi carona, dividi gasolina para ir nas provas, fiquei tempos sem treinar por causa do trabalho, mas sempre voltava para o atletismo. Fui 30ª, 20ª, 8ª, 5ª, até chegar em primeiro. Comecei com 4 quilômetros e cheguei na maratona.
Nome: Maria Zeferina Rodrigues Baldaia
Idade: 30 anos
Nascimento: 29/8/72
Altura: 1,58m
Peso: 45 quilos
Principais Títulos em 2002:
Principais Títulos em 2001:
Maratona · 15 jan, 2003
Maria Zeferina Baldia não pode parar. Ela vice para correr e vencer, não importam os obstáculos...
Os pés doem. Mas é preciso seguir em frente. Os pés doem. O asfalto está quente demais. O chão de terra está cheio de pedras, pedregulhos. Entrou um caco de vidro. Está sangrando. Os pés doem. É preciso seguir em frente. Correr mais rápido. Ir mais longe. Os pés doem. Não importa. Nada vai fazê-la parar.
Por 10 anos foi assim. Maria Zeferina Baldaia dividia a vida em duas partes. O trabalho na lavoura, demais afazeres em casa e escola, e correr. Nunca importou em que condições. Só queria correr. E correu. Em diversos tipos de locais, sempre descalça. Vencia a dor nos pés, a falta de uma alimentação adequada, qualquer obstáculo. Tudo para correr.
Maria Zeferina Baldaia é uma brasileira como milhões. Uma mulher que não se entrega. De tanto lutar, venceu. Mas sabe, precisa continuar vencendo, cada vez mais. E, para ela, correr é vencer.
Apareceu para o mundo com a conquista da Corrida Internacional de São Silvestre, em 2001. Agora, reconhecida como uma das grandes estrelas do atletismo nacional, batalha para se manter no topo. Todos os flashes estarão sobre ela dia 31 de dezembro, dia em que vai acelerar as passadas em busca do bicampeonato da mais tradicional corrida de rua do Brasil.
É pouco. O sonho leva Maria para lugares distantes. Ela quer estar em Atenas, na Grécia, em 2004. Quer correr. Quer ganhar uma medalha olímpica na maratona para o Brasil. Quem conhece a história da menina pobre que fazia poeira no canavial em Sertãozinho, não duvida que consiga.
Aos 12 anos começou a ajudar os pais na lavoura de cana. O dinheiro que a família ganhava era pouco para alimentar de acordo os nove filhos. O salário dava para pouco mais que o arroz e feijão. Carne, só em dia de pagamento.
Eu, minha irmã e minha mãe acordávamos às cinco da manhã para fazer a marmita e esperar o caminhão. Cada dia íamos trabalhar numa cidade da região, ficava o dia inteiro, a comida esfriava, a água esquentava, para fazer necessidades era uma dificuldade, tinha que ir para o meio do canavial, uma falta de higiene. É uma coisa triste trabalhar na lavoura. Por falta de opção você acaba gostando. Tem o lado bom, pois tem o companheirismo entre os trabalhadores, relembra.
A descoberta da corrida como esporte veio no mesmo ano, em uma gincana na escola. A motivação para correr a primeira prova foi um ídolo, a portuguesa Rosa Motta. Me descobri atleta aos 12 anos. Lembro que estava de sandalinha e calça jeans e falei que não ia correr. Mas todo ano eu assistia, à meia noite do dia 31 de dezembro, a São Silvestre e sempre via a Rosa Motta. Então, perguntava para minha mãe se poderia ser uma atleta igual a ela. E minha dizia: por que não? você é tão magrinha quanto ela. E fiquei com aquilo na cabeça. Tirei a sandália, dobrei a calça e acabei ganhando.
Apesar do sabor da vitória, o esforço para ser a mais veloz no percurso de 4 quilômetros quase acabou com a carreira recém iniciada. Depois da corrida jurei que nunca mais ia correr porque doía tudo, tudo. Hoje sei que foi pela falta de experiência, conta. O bom desempenho na estréia gerou um convite para integrar a equipe de atletismo de Sertãozinho. Demorou um mês para eu aceitar. Foi quando tudo começou.
Após dez anos disputando provas apenas na região, a vida de Maria Zeferina começava a mudar. Contratada pela Secretaria de Esporte de Ribeirão Preto, no projeto Adote um Atleta, pôde disputar corridas mais próximas de São Paulo. Foi quando conheceu o técnico Cláudio Ribeiro e começou a sentir que realizaria o sonho de ser atleta de elite. Ele me emprestou um tênis e a partir daí não corri mais descalça. Corri a primeira vez de tênis em Franca e logo comecei a vencer pequenas provas na região. Me lembro que quando fui terceira em Poços de Caldas, ganhei R$ 100,00 e pude comprar meu primeiro par de tênis. Desci do pódio e corri na banca. Isso foi em 98. Eu só usava o tênis do Cláudio nas provas, continuava treinando sem tênis, para não gastar.
A relação de conforto entre os pés da atleta e os tênis demorou um pouco a se consolidar. No começo foi difícil de acostumar. Eu colocava o tênis e dava a largada, quando chegava na metade eu tirava porque tinha algo me incomodando, pesava pra mim. Então eu tirava e parecia que eu rendia mais.
Com o tempo, foi se acostumando. No início, não usava tênis adequado para corredor, então, quando juntei um dinheirinho, já dava para comprar tênis bom para corrida, me acostumei e não tirava mais durante a corrida.
Quando deixou o projeto da prefeitura, em 96, dividiu os treinos (somente no final da tarde) com a lavoura até 99. Contratada por uma empresa, também de Ribeirão, trabalhava meio período e era dispensada para treinar visando os Jogos Operários. Paralelamente, começou a disputar provas maiores, como a Corrida Integração, e a ficar mais conhecida por estar sempre entre as cinco primeiras. Em agosto de 2000, perdeu o emprego e resolveu se dedicar exclusivamente ao atletismo.
Apesar do sacrifico, com os treinos em dois períodos, os resultados começaram a aparecer. A primeira Maratona que disputei foi a de Dourados, em 2000, que o Cláudio me levou como treinamento de prova longa para eu fazer 30 km. Mas quando chegou na marca, as outras estavam a mais de 1 km. Então quis terminar e fiz 3 horas e 3 minutos. Como foi um tempo bom, ele me mandou para Curitiba, me preparei durante três meses e ganhei a prova. Com o título em Curitiba, conseguiu o patrocínio da Companhia Energética Santa Elisa.
Confiante e com melhor preparação, o Brasil conheceu a avalanche Maria Zeferina Baldaia. Em 2001 venceu a 3ª Volta Internacional Pampulha, a Sargento Luis Gonzaguinha Rodrigues e, finalmente, a São Silvestre. Foi quando ganhei o patrocínio da Mizuno. Na São Silvestre consegui realizar todos os meus sonhos e tive certeza que os treinamentos de 15 anos não foram em vão, cheguei ao lugar mais alto do pódio.
Maria confessa nunca ter imaginado tanto para a carreira e que chega a ficar assustada com o sucesso. Pedia a Deus que me desse um patrocinador, alguém que acreditasse em mim e que me desse um salário mínimo para eu largar a lavoura e me dedicar mesmo ao esporte, poder treinar dois períodos.
As coisas aconteceram de uma forma que eu fico até meio espantada, tudo de uma vez só. Engana-se quem pensa que ela está satisfeita. Creio que não cheguei no topo porque tenho que realizar um grande sonho: a Olimpíada de 2004. Estou treinando forte, cada dia mais, para no ano que vem estar buscando índice numa prova lá fora para representar o Brasil em 2004 e tentar buscar uma medalha.
A campeã reconhece os méritos pelas conquistas, mas dá crédito ao treinador. Um atleta sem técnico não consegue muita coisa. E posso dizer isso porque fiquei 10 anos treinando sozinha, e depois que comecei com o Cláudio é que as coisas começaram a caminhar pra valer. Até então, eu achava que quanto mais corresse melhor ia ficar. Saia correndo pelo meio do canavial de Sertãozinho. Hoje, sei que não é assim. Sei que existe todo um trabalho em conjunto, cada dia é um tipo de treinamento. É por aí que os atletas conseguem melhorar os resultados, baixar marcas, alcançar objetivos.
A rotina de atleta de elite não é moleza. Maria treina uma média de oito horas diárias, em dois períodos. A metodologia da preparação varia de acordo com a competição. Para a São Silvestre, por exemplo, trabalhará mais velocidade, em relação à resistência. Duas vezes na semana trabalho velocidade na pista, treino um dia na academia (força, nada com muito peso, em torno de 2 horas) e piscina para relaxamento quando o treino é mais longo que 20 a 25 km. Treino de segunda a domingo. Quando tem competição de segunda a sábado. Meu treino longo é de 30 a 35 km para maratona e 20 a 25 km para meia maratona, explica ela.
Os sacrifícios de Maria Zeferina não se restringem ao esforço e disciplina nos treinos. Ela abriu mão da convivência com o filho para estar na elite do esporte. Eu não tenho a rotina de mãe, me lembro corri até os sete meses de gravidez, quando o médico pediu para parar. Ele nasceu, fiquei com ele pouco tempo, até três meses, enquanto amamentei. Depois minha mãe ficou com ele e cuida até hoje. Eu não sei explicar como é o papel de mãe porque foi minha mãe quem criou meu filho. Até hoje ele a chama de mãe-vó. Eu sou Maria, Tata. Ele não me chama de mãe porque ficamos pouco tempo juntos. Sou mais uma irmã pra ele. Eu viajo tranqüila porque sei que a minha mãe está cuidando dele.
Nada fica entre Maria e o atletismo. Primeiramente me dedico aos treinamentos porque é uma coisa que não abro mão. Primeiro é o treino, depois a família e a diversão. Mas, quando pode, procura passar a maior parte do tempo possível com a mãe, o filho e o irmão, principalmente nos finais de semana.
O nome do filho é um capítulo à parte. Escolheu ninguém menos que Michael Jordan para homenagear. Ele é meu ídolo desde menina. Sempre fui fã dele, guardava recorte de jornal e resolvi que se tivesse um filho seria Michael Jordan. Se fosse menina, seria Rosa Motta, que venceu a São Silvestre por seis vezes. A corredora portuguesa e o jogador de basquete norte-americano serviram de modelo para a futura campeã. Sempre pensava nela para vencer os obstáculos, nos treinos, na força dela para ganhar a prova seis vezes.
Admiro o Michael pela raça, pela cor negra. Me chamava atenção a garra dele, o brilho nos olhos de querer vencer e então me apeguei nele.
Se o preço pelas conquistas é estar longe da família, uma das compensações é poder ajudar a quem ama. Com o dinheiro ganho em provas e dos patrocinadores, ela conseguiu comprar três apartamentos (um para morar e dois como investimento), reformou a casa da mãe e auxilia a família. Com o carro que tem, por exemplo, leva o irmão deficiente para a fisioterapia. Com dinheiro no bolso, pode satisfazer as vontades do filho. O esporte melhorou a situação financeira, mas a pessoa continua igual, não há porque e nem pra que mudar. Estou aproveitando o meu momento, porque sei que é uma coisa passageira, daqui a pouco vai acabar. Então, quero deixar boas lembranças, sendo sempre eu mesma.
Com 1,50 metro de altura e 45 quilos, continua a mesma magrinha que a mãe comparava à Rosa Motta. Mas confessa: não come muito. Como precisa, se alimenta bem para agüentar o puxado ritmo de treinos e toma suplementos.
Cuida bem do corpo, mas não tem nenhuma rotina de preparação mental antes de corridas. Pelo contrário, procura sair para descontrair, tipo ir ao shopping. Sei que muitos preferem ficar trancados pensando na corrida, mas comigo não dá certo. Também não traça estratégia nas provas. Procuro acompanhar o pelotão e quando sinto, puxo para vencer. Não tenho estratégia, é uma coisa pessoal, vou pela sensibilidade.
Define carisma e humildade como características para o sucesso alcançado. Não se considera de muito luxo, mas gosta de estar sempre de batom e de unhas feitas. Há dois anos, pinta as unhas com o desenho da bandeira do Brasil ou cores e imagens que se identifiquem com o local da competição. Para as mulheres que desejam seguir seus passos, ensina: Não desista nunca, não só no esporte, em qualquer sonho. Acredite no sonho, continue correndo atrás, lutando, pois um dia se consegue. Tudo é possível. Basta querer, acreditar e ter fé, que as coisas podem mudar um dia.
Para vencer no atletismo, Maria Zeferina desafia os próprios limites e, principalmente, as melhores corredoras do País e do mundo. E tem opinião formada sobre as africanas, maiores adversárias das brasileiras nas provas de resistência. Os brasileiros não são unidos, cada um quer ser melhor que o outro. O que falta é trabalhar em equipe, em grupo, igual aos estrangeiros. Eles fazem isso e dá certo. Os africanos não são bicho de sete cabeças. Se eles treinam forte, nós também treinamos. Eles têm pernas e nós também, o que falta é um ajudar o outro. Por que o Vanderlei ganhou a Maratona de São Paulo? Porque trabalhou em equipe com o Daniel Lopes, em conjunto com o Luís Antonio, afirma, referindo-se ao fato de Daniel ter sido coelho de Vanderlei.
Maria acredita que quando houver união, os brasileiros vão dominar. Gosto quando tem queniana na provas porque elas imprimem o ritmo. Quando só tem brasileiro fica aquele bloquinho do começo ao fim, a prova é decidida no último quilômetro. Quando tem estrangeira a prova é decidida na largada porque eles imprimem logo de início um ritmo e só acompanha quem está bem preparado. Quem não está fica para trás logo de cara. Eu adoro quando têm estrangeiras na prova, porque aprendo muito. Posso baixar na minha marca.
Tanto quanto ganhar, Maria Zeferina Baldaia adora correr. E pretende permanecer em atividade mesmo quando o corpo não corresponder mais às exigências do alto rendimento. Costuma dizer que enquanto tiver forças nas perdas, estará correndo, seja com 80 ou 90 anos. Nunca parei no atletismo, sempre continuava mesmo quando ninguém acreditava em mim. Tive altos e baixos. Dormi em banco de praça, pedi carona, dividi gasolina para ir nas provas, fiquei tempos sem treinar por causa do trabalho, mas sempre voltava para o atletismo. Fui 30ª, 20ª, 8ª, 5ª, até chegar em primeiro. Comecei com 4 quilômetros e cheguei na maratona.
Nome: Maria Zeferina Rodrigues Baldaia
Idade: 30 anos
Nascimento: 29/8/72
Altura: 1,58m
Peso: 45 quilos
Principais Títulos em 2002:
Principais Títulos em 2001:
Maratona · 22 nov, 2002
Campeão da Maratona de São Paulo, Vanderlei Cordeiro de Lima se prepara para buscar o título da São Silvestre em 2002, o bi pan-americano em 2003 e a medalha olímpica em 2004
Acidental. Assim pode ser definida a entrada de Vanderlei Cordeiro de Lima no mundo das maratonas. E, apesar do acaso, foi uma estréia com o pé direito. Disputando a temporada de provas de 10 mil metros e meia maratona na França, em 1994, o brasileiro foi convidado para ser coelho na maratona de Reims. O combinado era que puxasse o ritmo até o 22º quilômetro. Quando chegou ao trecho determinado, sentia-se tão bem que tomou uma decisão que mudaria sua vida. Resolveu seguir correndo para ver até onde chegaria. Resultado: venceu com o tempo de 2h11min06, sem nunca ter se preparado para competir nessa distância O surpreendente resultado o colocou em 46º lugar no ranking mundial daquele ano. Nascia um dos maiores maratonistas do mundo.
O que veio depois daquele tarde, em Reims, é uma sucessão de vitórias e resultados expressivos. O mais recente, o título da Maratona Internacional de São Paulo, em julho, foi especial por várias razões. Entre as mais expressivas, estão o fato de vencer sua primeira prova da modalidade disputada em solo brasileiro (calendário e premiações melhores no exterior adiaram essa estréia), fazendo o recorde da prova e melhor marca do ano no País, 2h11min19, e a superação de duas contusões na fase de preparação.
A história da conquista da Maratona de São Paulo começou com uma decepção. A decisão de correr na capital paulista veio dia 17 de março, depois da Maratona de Dong-A, em Seul, na qual Vanderlei abandonou no km 30 por cansaço generalizado. Após a recuperação, o técnico Ricardo DAngelo fez as contas e programou o treinamento para 15 semanas, começando em 1º de abril. Tempo mais que suficiente para a preparação, normalmente planejada pelo treinador para 14 semanas, subdivididos em ciclos menores (introdutório, preparatório, específico e competição). Os problemas começaram na segunda semana. No dia 8 de abril, o atleta sofreu uma profunda perfuração no terço superior do músculo gastrocnêmio direito, em um acidente doméstico. Foram necessários 20 dias de inatividade para a recuperação.
Era preciso mudar o cronograma de treinamento. Assim, Vanderlei retomou a preparação dia 28 de abril trabalhando em menor intensidade e com maior volume. Tudo correu bem até 12 de maio, quando uma contratura no posterior da coxa direita passou a impedir que o atleta treinasse no ritmo necessário. Em uma verdadeira corrida contra o tempo, o treinador reavaliou a situação e concluiu que poderia deixar Vanderlei apto para disputar a Maratona de São Paulo com chances de vitória desde que tivesse oito semanas de treino ininterrupto. Livre de lesões e com o novo programa, ele iniciou novo ciclo, que durou de 20 de maio a 14 de julho. Retornei com rodagem de 40 minutos a uma hora. O que ajuda é que meu organismo se recupera rápido. Em 45 dias de treino me recupero de 70% a 80% da performance. Normalmente, rodo de 180 a 200 quilômetros por semana, com média de 30 a 35 km por dia, em dois períodos, explicou o atleta.
Todo o esforço, tanto do atleta como de sua equipe, foi recompensado com a bela vitória na capital paulista. Entre a largada e a linha de chegada, Vanderlei teve mais que uma preparação cuidadosamente planejada, talento e condicionamento. Contou ainda com uma estratégia de prova perfeita.
Figura mais que conhecida em corridas de rua, especialmente nas maratonas, o coelho foi imprescindível para o plano de corrida de Vanderlei. Habituado a correr sem marcar tempo porque o relógio prende o atleta ao tempo, Vanderlei contou com as passadas firmes de Daniel Lopes Ferreira, contratado especialmente para completar a meia maratona em 1h05min40, deixando o caminho livre para Vanderlei seguir no ritmo estabelecido nos treinamentos para fechar a prova entre os líderes.
Quem explica é DAngelo. Pelo histórico da Maratona de São Paulo, sabíamos que sempre a segunda metade do percurso era cumprida pelo menos 3 a 4 minutos mais lenta que a primeira. Assim, o objetivo foi minimizar essa diferença por meio de um ritmo mais uniforme para todo o percurso, pois o Vanderlei apresentava indicadores positivos nos treinos para esta estratégia. Com isso, a tarefa do coelho era garantir sua concentração nessa primeira metade para que ele pudesse sustentar a segunda praticamente no mesmo ritmo. Planejamos com o Daniel, e seu técnico Marcão, a passagem da meia maratona em 1h05min40, pois projetávamos um tempo final próximo de 2h12min. O resultado foi excelente: o Daniel foi perfeito passando em 1h05min45, com o Vanderlei fechando a segunda parte em 1h05min34, tempo final de 2h11min19.
Passada a euforia pela conquista inédita, Vanderlei prepara-se para vencer novos desafios. A curto prazo, o objetivo é outra façanha, o título da São Silvestre. Quero muito vencer esta prova, pois é a de maior visibilidade na mídia nacional e a melhor oportunidade para ser reconhecido no País, garante o atleta que tem como melhor colocação na tradicional prova de 31 de dezembro um terceiro lugar, em 1996.
Antes, vai em busca do índice para os Jogos Pan-Americanos de 2003 e Campeonato Mundial. Para isso, vai correr nova maratona em outubro, provavelmente em Chicago, nos Estados Unidos, ou Amsterdã, na Holanda. Se conseguir, deve estar entre os 20 primeiros do ranking mundial de 2002. O planejamento para a carreira do atleta é mais abrangente. A médio prazo, vai lutar pelo bi no Pan de 2003, o índice para os Jogos Olímpicos de Atenas/2004 e se manter entre os 20 primeiros do mundo. A longo prazo, Vanderlei quer concretizar o sonho de uma medalha olímpica na Grécia. Se conseguir, terei a satisfação total em minha carreira.
A luta pelo bicampeonato Pan-Americano promete um sabor especial. Para o atleta, a medalha de ouro conquistada em 1999, em Winnipeg, no Canadá, é a conquista que mais marcou na carreira. Com certeza essa conquista repercutiu bastante no Brasil. Conquistar uma medalha representando diretamente o Brasil é uma honra, ainda mais a de ouro.
Disciplina e concentração são dois poderosos alicerces para as conquistas do maratonista. O Vanderlei possui uma capacidade enorme para não se deixar influenciar por problemas extra pista. Eu diria que sua concentração nas sessões de treino são próximas de 100%, gerando possibilidades de alcançarmos níveis altíssimos de exigência de esforço. Evidentemente, este comportamento foi desenvolvido e trabalhado ao longo de sua carreira, já que ele é considerado um atleta bastante experiente, explica o técnico. A experiência a que se refere o treinador são os 33 anos de idade e os 14 de atletismo de alto rendimento, fato que não pesa sobre os ombros do corredor. Acredito que ainda terei vida longa no esporte. Vejo o exemplo de alguns atletas que têm conquistado bons resultados com mais idade, mais experientes, como o Carlos Lopes, campeão olímpico aos 38 anos, na Olimpíada de 1984, explica Vanderlei, que conta com os avanços tecnológicos e científicos nas áreas de treinamento, nutrição e equipamento para atingir a longevidade esperada.
Construir uma carreira de sucesso exige dedicação e talento. Despende ainda uma fonte de energia diferente da usada para impulsionar passadas ritmadas e velozes, mas quase tão importante quanto. É o dinheiro da equipe e patrocinadores que permite montar uma equipe de tão alto nível quanto o atleta. No caso de Vanderlei, o apoio sempre veio da Funilense e seus investidores. Atualmente, o patrocínio vem do Pão de Açúcar, BM&F, Olympikus e Prefeitura de São Caetano do Sul. O investimento dessas empresas permite a manutenção de um time multidisciplinar composta pelo médico Paulo Zogaib, o fisioterapeuta Wilson Pereira Bueno e o agente Jos Hermens, além do técnico Ricardo DAngelo, que está ao lado do atleta há 10 anos.
A rotina de treinos de Vanderlei se divide entre duas cidades. Em Campinas, no interior paulista, são feitas as avaliações iniciais do ciclo de treinamento planejado, bem como o controle e verificação dos indicadores funcionais. Os ciclos específicos de suas preparações são em Maringá, no Paraná, que atualmente conta com recursos materiais (pista sintética, principalmente) de primeira qualidade. Os dois municípios são locais de trabalho e convivência familiar. No Paraná está a maioria dos parentes. Considero muito importante sua proximidade com os familiares. Temos informações de estudos científicos dizendo que grande parte do resultado final do atleta se deve ao seu estado mental. Para se obter o máximo, seja no treinamento ou na competição, precisamos de perfeito equilíbrio entre seu estado mental e físico. É importante que sua vida fora da pista esteja em harmonia de maneira a não interferir em seu desempenho atlético. Família, trabalho, amigos, vitória e derrota são aspectos que devem ser bem trabalhados pelo treinador e atleta, explica DAngelo. Sempre tive o apoio da família, completa o corredor.
Apesar do tempo no atletismo e dos resultados expressivos, Vanderlei Cordeiro de Lima não passa nem perto de ser um recordista em número de participações. Até hoje, correu apenas 17 maratonas. Se não opta pela quantidade, faz da qualidade seu cartão de visitas. Terminou entre os três primeiros colocados em nove corridas. Faço, no máximo, duas maratonas por ano. No meio da preparação, disputo, em média, três provas, podendo ser de 10 mil, 15 mil ou meia maratona. No total, não chego a fazer 20 corridas por ano. Prefiro optar pela qualidade, as que ajudarão minha preparação, analisa o atleta.
Respeitar os limites do corpo maximiza os resultados em corridas e ajuda no combate a um dos maiores monstros na carreira de qualquer esportista. As lesões obrigam a inatividade e podem causar danos ainda mais profundos na auto-estima, muitas vezes mais perigosos que a própria contusão. Depois dos problemas mais recentes, especialmente no tendão, Vanderlei passou a fazer trabalho de fortalecimento muscular nas áreas mais exigidas. Alternar o treinamento com pista e trabalhar com musculação são outras ações que aliam rendimento e prevenção de acidentes de trabalho.
Para Vanderlei, as piores lesões na carreira vieram antes dos Jogos de Sydney e na Maratona do Japão, em 2001. Antes da Olimpíada sofri uma lesão na articulação do pé esquerdo. Corri no sacrifício porque já estava inscrito e não podia ser substituído (terminou em 75º lugar e foi criticado por quem nem sabia do problema).
No ano seguinte, tive um estiramento na coxa esquerda durante a Maratona do Japão quando faltavam apenas 3 mil metros para terminar. Ainda cheguei em segundo lugar, conta. Classificando esses momentos como os piores na vida de qualquer atleta, ele ensina como superar a pressão. É preciso paciência para se recuperar com tranqüilidade e contar com a compreensão do técnico e dos patrocinadores. Eu prefiro me isolar um pouco na fase de recuperação.
Modelo para quem sonha vencer distâncias, o campeão da Maratona de São Paulo ensina que não existe segredos ou fórmula mágica para o sucesso no atletismo. Tem que gastar muita sola de tênis. O mais importante é gostar do que está fazendo, assim, haverá mais chance do atleta ter uma performance melhor. O esporte não é feito só de vitórias, por isso tem que gostar para enfrentar as derrotas e não se abater com os maus momentos. Procurar um centro de treinamento e ter o apoio de profissionais especializados para ter a orientação correta é fundamental para obter bons resultados.
Vanderlei Cordeiro de Lima
Nascimento: 11/08/1969.
Peso: 53kg.
Altura: 1,64m.
Provas: 10.000m, Meia Maratona e Maratona.
Treinador: Ricardo Antonio D'Angelo (há 10 anos)
Equipe Multidisciplinar:
Médico: Paulo Zogaib.
Fisioterapeuta: Wilson Pereira Bueno.
Agente: Jos Hermens (GSC).
Melhores Marcas Pessoais
Pista
1.500m 3min47s32, Curitiba, 1993
3.000m 8min02s65, Rio, 1998
3.000m c/obstáculos 9min03s29, SP, 1993
5.000m 13min55s43, SP, 1997
10.000m 28min08s03, Hengelo (HOL), 1997
Rua
10km 28min01, Santos, 1997 (recorde do percurso e melhor resultado em solo brasileiro)
15km 43min15, Tóquio (JAP), 1994
10 Milhas 47min21, Vitória, 1995
Meia Maratona 61min24, Lisboa (POR), 1995
25km 1h15min12, Tóquio (JAP), 1996
30km 1h30min08, Tóquio (JAP), 1996
Maratona 2h08min31, Tóquio (JAP), 1998
São Silvestre:
1992 - 4º lugar
1993 - 13º lugar
1994 - 4º lugar
1995 - 5º lugar
1996 - 3º lugar
1997 - 6º lugar
1999 - 7º lugar
2000 - 4º lugar
2001 - 5º lugar
Único atleta sul-americana a correr a maratona por quatro vezes abaixo de 2h09.
Principais Títulos:
Patrocinadores:
Todas as Maratonas:
AnoProvaPosição Tempo
Maratona · 22 nov, 2002
Campeão da Maratona de São Paulo, Vanderlei Cordeiro de Lima se prepara para buscar o título da São Silvestre em 2002, o bi pan-americano em 2003 e a medalha olímpica em 2004
Acidental. Assim pode ser definida a entrada de Vanderlei Cordeiro de Lima no mundo das maratonas. E, apesar do acaso, foi uma estréia com o pé direito. Disputando a temporada de provas de 10 mil metros e meia maratona na França, em 1994, o brasileiro foi convidado para ser coelho na maratona de Reims. O combinado era que puxasse o ritmo até o 22º quilômetro. Quando chegou ao trecho determinado, sentia-se tão bem que tomou uma decisão que mudaria sua vida. Resolveu seguir correndo para ver até onde chegaria. Resultado: venceu com o tempo de 2h11min06, sem nunca ter se preparado para competir nessa distância O surpreendente resultado o colocou em 46º lugar no ranking mundial daquele ano. Nascia um dos maiores maratonistas do mundo.
O que veio depois daquele tarde, em Reims, é uma sucessão de vitórias e resultados expressivos. O mais recente, o título da Maratona Internacional de São Paulo, em julho, foi especial por várias razões. Entre as mais expressivas, estão o fato de vencer sua primeira prova da modalidade disputada em solo brasileiro (calendário e premiações melhores no exterior adiaram essa estréia), fazendo o recorde da prova e melhor marca do ano no País, 2h11min19, e a superação de duas contusões na fase de preparação.
A história da conquista da Maratona de São Paulo começou com uma decepção. A decisão de correr na capital paulista veio dia 17 de março, depois da Maratona de Dong-A, em Seul, na qual Vanderlei abandonou no km 30 por cansaço generalizado. Após a recuperação, o técnico Ricardo DAngelo fez as contas e programou o treinamento para 15 semanas, começando em 1º de abril. Tempo mais que suficiente para a preparação, normalmente planejada pelo treinador para 14 semanas, subdivididos em ciclos menores (introdutório, preparatório, específico e competição). Os problemas começaram na segunda semana. No dia 8 de abril, o atleta sofreu uma profunda perfuração no terço superior do músculo gastrocnêmio direito, em um acidente doméstico. Foram necessários 20 dias de inatividade para a recuperação.
Era preciso mudar o cronograma de treinamento. Assim, Vanderlei retomou a preparação dia 28 de abril trabalhando em menor intensidade e com maior volume. Tudo correu bem até 12 de maio, quando uma contratura no posterior da coxa direita passou a impedir que o atleta treinasse no ritmo necessário. Em uma verdadeira corrida contra o tempo, o treinador reavaliou a situação e concluiu que poderia deixar Vanderlei apto para disputar a Maratona de São Paulo com chances de vitória desde que tivesse oito semanas de treino ininterrupto. Livre de lesões e com o novo programa, ele iniciou novo ciclo, que durou de 20 de maio a 14 de julho. Retornei com rodagem de 40 minutos a uma hora. O que ajuda é que meu organismo se recupera rápido. Em 45 dias de treino me recupero de 70% a 80% da performance. Normalmente, rodo de 180 a 200 quilômetros por semana, com média de 30 a 35 km por dia, em dois períodos, explicou o atleta.
Todo o esforço, tanto do atleta como de sua equipe, foi recompensado com a bela vitória na capital paulista. Entre a largada e a linha de chegada, Vanderlei teve mais que uma preparação cuidadosamente planejada, talento e condicionamento. Contou ainda com uma estratégia de prova perfeita.
Figura mais que conhecida em corridas de rua, especialmente nas maratonas, o coelho foi imprescindível para o plano de corrida de Vanderlei. Habituado a correr sem marcar tempo porque o relógio prende o atleta ao tempo, Vanderlei contou com as passadas firmes de Daniel Lopes Ferreira, contratado especialmente para completar a meia maratona em 1h05min40, deixando o caminho livre para Vanderlei seguir no ritmo estabelecido nos treinamentos para fechar a prova entre os líderes.
Quem explica é DAngelo. Pelo histórico da Maratona de São Paulo, sabíamos que sempre a segunda metade do percurso era cumprida pelo menos 3 a 4 minutos mais lenta que a primeira. Assim, o objetivo foi minimizar essa diferença por meio de um ritmo mais uniforme para todo o percurso, pois o Vanderlei apresentava indicadores positivos nos treinos para esta estratégia. Com isso, a tarefa do coelho era garantir sua concentração nessa primeira metade para que ele pudesse sustentar a segunda praticamente no mesmo ritmo. Planejamos com o Daniel, e seu técnico Marcão, a passagem da meia maratona em 1h05min40, pois projetávamos um tempo final próximo de 2h12min. O resultado foi excelente: o Daniel foi perfeito passando em 1h05min45, com o Vanderlei fechando a segunda parte em 1h05min34, tempo final de 2h11min19.
Passada a euforia pela conquista inédita, Vanderlei prepara-se para vencer novos desafios. A curto prazo, o objetivo é outra façanha, o título da São Silvestre. Quero muito vencer esta prova, pois é a de maior visibilidade na mídia nacional e a melhor oportunidade para ser reconhecido no País, garante o atleta que tem como melhor colocação na tradicional prova de 31 de dezembro um terceiro lugar, em 1996.
Antes, vai em busca do índice para os Jogos Pan-Americanos de 2003 e Campeonato Mundial. Para isso, vai correr nova maratona em outubro, provavelmente em Chicago, nos Estados Unidos, ou Amsterdã, na Holanda. Se conseguir, deve estar entre os 20 primeiros do ranking mundial de 2002. O planejamento para a carreira do atleta é mais abrangente. A médio prazo, vai lutar pelo bi no Pan de 2003, o índice para os Jogos Olímpicos de Atenas/2004 e se manter entre os 20 primeiros do mundo. A longo prazo, Vanderlei quer concretizar o sonho de uma medalha olímpica na Grécia. Se conseguir, terei a satisfação total em minha carreira.
A luta pelo bicampeonato Pan-Americano promete um sabor especial. Para o atleta, a medalha de ouro conquistada em 1999, em Winnipeg, no Canadá, é a conquista que mais marcou na carreira. Com certeza essa conquista repercutiu bastante no Brasil. Conquistar uma medalha representando diretamente o Brasil é uma honra, ainda mais a de ouro.
Disciplina e concentração são dois poderosos alicerces para as conquistas do maratonista. O Vanderlei possui uma capacidade enorme para não se deixar influenciar por problemas extra pista. Eu diria que sua concentração nas sessões de treino são próximas de 100%, gerando possibilidades de alcançarmos níveis altíssimos de exigência de esforço. Evidentemente, este comportamento foi desenvolvido e trabalhado ao longo de sua carreira, já que ele é considerado um atleta bastante experiente, explica o técnico. A experiência a que se refere o treinador são os 33 anos de idade e os 14 de atletismo de alto rendimento, fato que não pesa sobre os ombros do corredor. Acredito que ainda terei vida longa no esporte. Vejo o exemplo de alguns atletas que têm conquistado bons resultados com mais idade, mais experientes, como o Carlos Lopes, campeão olímpico aos 38 anos, na Olimpíada de 1984, explica Vanderlei, que conta com os avanços tecnológicos e científicos nas áreas de treinamento, nutrição e equipamento para atingir a longevidade esperada.
Construir uma carreira de sucesso exige dedicação e talento. Despende ainda uma fonte de energia diferente da usada para impulsionar passadas ritmadas e velozes, mas quase tão importante quanto. É o dinheiro da equipe e patrocinadores que permite montar uma equipe de tão alto nível quanto o atleta. No caso de Vanderlei, o apoio sempre veio da Funilense e seus investidores. Atualmente, o patrocínio vem do Pão de Açúcar, BM&F, Olympikus e Prefeitura de São Caetano do Sul. O investimento dessas empresas permite a manutenção de um time multidisciplinar composta pelo médico Paulo Zogaib, o fisioterapeuta Wilson Pereira Bueno e o agente Jos Hermens, além do técnico Ricardo DAngelo, que está ao lado do atleta há 10 anos.
A rotina de treinos de Vanderlei se divide entre duas cidades. Em Campinas, no interior paulista, são feitas as avaliações iniciais do ciclo de treinamento planejado, bem como o controle e verificação dos indicadores funcionais. Os ciclos específicos de suas preparações são em Maringá, no Paraná, que atualmente conta com recursos materiais (pista sintética, principalmente) de primeira qualidade. Os dois municípios são locais de trabalho e convivência familiar. No Paraná está a maioria dos parentes. Considero muito importante sua proximidade com os familiares. Temos informações de estudos científicos dizendo que grande parte do resultado final do atleta se deve ao seu estado mental. Para se obter o máximo, seja no treinamento ou na competição, precisamos de perfeito equilíbrio entre seu estado mental e físico. É importante que sua vida fora da pista esteja em harmonia de maneira a não interferir em seu desempenho atlético. Família, trabalho, amigos, vitória e derrota são aspectos que devem ser bem trabalhados pelo treinador e atleta, explica DAngelo. Sempre tive o apoio da família, completa o corredor.
Apesar do tempo no atletismo e dos resultados expressivos, Vanderlei Cordeiro de Lima não passa nem perto de ser um recordista em número de participações. Até hoje, correu apenas 17 maratonas. Se não opta pela quantidade, faz da qualidade seu cartão de visitas. Terminou entre os três primeiros colocados em nove corridas. Faço, no máximo, duas maratonas por ano. No meio da preparação, disputo, em média, três provas, podendo ser de 10 mil, 15 mil ou meia maratona. No total, não chego a fazer 20 corridas por ano. Prefiro optar pela qualidade, as que ajudarão minha preparação, analisa o atleta.
Respeitar os limites do corpo maximiza os resultados em corridas e ajuda no combate a um dos maiores monstros na carreira de qualquer esportista. As lesões obrigam a inatividade e podem causar danos ainda mais profundos na auto-estima, muitas vezes mais perigosos que a própria contusão. Depois dos problemas mais recentes, especialmente no tendão, Vanderlei passou a fazer trabalho de fortalecimento muscular nas áreas mais exigidas. Alternar o treinamento com pista e trabalhar com musculação são outras ações que aliam rendimento e prevenção de acidentes de trabalho.
Para Vanderlei, as piores lesões na carreira vieram antes dos Jogos de Sydney e na Maratona do Japão, em 2001. Antes da Olimpíada sofri uma lesão na articulação do pé esquerdo. Corri no sacrifício porque já estava inscrito e não podia ser substituído (terminou em 75º lugar e foi criticado por quem nem sabia do problema).
No ano seguinte, tive um estiramento na coxa esquerda durante a Maratona do Japão quando faltavam apenas 3 mil metros para terminar. Ainda cheguei em segundo lugar, conta. Classificando esses momentos como os piores na vida de qualquer atleta, ele ensina como superar a pressão. É preciso paciência para se recuperar com tranqüilidade e contar com a compreensão do técnico e dos patrocinadores. Eu prefiro me isolar um pouco na fase de recuperação.
Modelo para quem sonha vencer distâncias, o campeão da Maratona de São Paulo ensina que não existe segredos ou fórmula mágica para o sucesso no atletismo. Tem que gastar muita sola de tênis. O mais importante é gostar do que está fazendo, assim, haverá mais chance do atleta ter uma performance melhor. O esporte não é feito só de vitórias, por isso tem que gostar para enfrentar as derrotas e não se abater com os maus momentos. Procurar um centro de treinamento e ter o apoio de profissionais especializados para ter a orientação correta é fundamental para obter bons resultados.
Vanderlei Cordeiro de Lima
Nascimento: 11/08/1969.
Peso: 53kg.
Altura: 1,64m.
Provas: 10.000m, Meia Maratona e Maratona.
Treinador: Ricardo Antonio D'Angelo (há 10 anos)
Equipe Multidisciplinar:
Médico: Paulo Zogaib.
Fisioterapeuta: Wilson Pereira Bueno.
Agente: Jos Hermens (GSC).
Melhores Marcas Pessoais
Pista
1.500m 3min47s32, Curitiba, 1993
3.000m 8min02s65, Rio, 1998
3.000m c/obstáculos 9min03s29, SP, 1993
5.000m 13min55s43, SP, 1997
10.000m 28min08s03, Hengelo (HOL), 1997
Rua
10km 28min01, Santos, 1997 (recorde do percurso e melhor resultado em solo brasileiro)
15km 43min15, Tóquio (JAP), 1994
10 Milhas 47min21, Vitória, 1995
Meia Maratona 61min24, Lisboa (POR), 1995
25km 1h15min12, Tóquio (JAP), 1996
30km 1h30min08, Tóquio (JAP), 1996
Maratona 2h08min31, Tóquio (JAP), 1998
São Silvestre:
1992 - 4º lugar
1993 - 13º lugar
1994 - 4º lugar
1995 - 5º lugar
1996 - 3º lugar
1997 - 6º lugar
1999 - 7º lugar
2000 - 4º lugar
2001 - 5º lugar
Único atleta sul-americana a correr a maratona por quatro vezes abaixo de 2h09.
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