Luis Antônio dos Santos (primeiro a esq) em sua estríea na equipe BMF Pão de Açúcar na Maratona de São Paulo (foto: Fernanda Paradizo)
Férias para os pés? Nem pensar… Aos 38 anos, Luiz Antonio dos Santos passa longe da aposentadoria. Superou problemas físicos e treina forte em busca de títulos.
A história é conhecida. Atleta de origem humilde que alcança o sucesso. Mas este personagem tem um capítulo diferente. Estreou tarde no mundo das corridas e depois de 13 anos de carreira nem pensa em aposentadoria. Aos 38 anos, o maratonista Luiz Antonio dos Santos sonha em conquistar uma medalha olímpica e espera virar mais uma página de sua história em 2003.
Não penso em aposentadoria porque ainda sinto que posso vencer maratonas. Quando começar a perceber que os meus tempos já não são mais competitivos, vou procurar outras categorias. Esta história de aposentadoria me incomoda, porque estou com 38 anos tenho que parar? Acho que não tem que avaliar número e sim a performance. Muitos começam cedo e param mais cedo. Tive um início tardio para a média e, portanto, vou passar a idade esperada. Tem que se avaliar o treinamento e os cuidados do atleta e não simplesmente a idade. Tenho condições de me manter na elite.
Como a maioria dos garotos brasileiros, Luiz Antonio sonhava ser um grande jogador de futebol. De vez em quando brincava de correr em provas na cidade natal, Volta Redonda, e se saia bem. Estava sempre entre os 10 primeiros. Aos 22 anos conheceu um corredor da equipe de Barra Mansa (RJ) e pediu para ir competir em uma prova no Rio de Janeiro. Naquela época ir conhecer o Rio de Janeiro era um sonho, pois a situação era difícil e não tinha dinheiro para nada. Então, ele me disse que se eu estivesse às 2h da manhã na rodoviária de Volta Redonda, podia ir junto. Saí a meia noite de casa, a pé, percorri uma distância de 6km e fui disputar a minha primeira prova (10 km – Volta do Maracanã). Da equipe de Barra Mansa eu fui o melhor (16º). Então comecei a treinar com este pessoal, mas continuei trabalhando na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), depois fui garçom, mas nunca deixei de competir.
Somente aos 25 anos, Luiz Antonio começou a treinar com orientação profissional e a buscar resultados no atletismo. Disputei uma prova de 5 mil, pista, no Rio, na qual fui 8º colocado, com 14min26. Lá conheci o técnico Henrique Viana e comecei a treinar em Petrópolis. E neste primeiro ano trabalhando juntos já fui 20º na São Silvestre.
Após quatros anos de treino, Luiz Antonio estreou em maratonas vencendo a prova de Blumenau, em 93, com o tempo de 2h12min15. Cheguei na maratona como uma conseqüência dos treinos. Eu via que tinha mais facilidade nas provas longas, tinha resistência e ritmo. Naquele mesmo ano, o brasileiro foi disputar uma das mais importantes competições internacionais, a Maratona de Chicago. E somou mais uma vitória. Estava certo, tinha facilidade nas provas longas e muitas outras conquistas vieram. Em 13 anos de carreira, o corredor considera o ano de 95 o melhor de sua história. Naquele ano fiz quatro maratonas, sendo que venci duas (São Paulo e Fukuoka) e fiquei em terceiro nas outras (Boston e Suécia), conquistando uma medalha de bronze no mundial.
O passado é glorioso, mas Luiz Antonio dos Santos prefere olhar para o futuro e trabalhar em busca de novas conquistas. Eu sempre assistia a São Silvestre e dizia que um dia ia correr aquela prova, mas nunca achei que ia chegar tão longe. Mesmo jogando futebol gostava de corrida e as coisas foram crescendo. Com certeza foi mais do que sonhei. Mas agora quero mais. Não digo que sou um atleta totalmente realizado. Ainda falta uma medalha olímpica e um pódio de São Silvestre. O maratonista participou da Olimpíada de Atlanta/96, na qual foi 10º colocado na maratona. É veterano na São Silvestre. Ele disputou mais de dez vezes a prova e tem como melhor resultado o sexto lugar.
Nos últimos dois anos, Luiz Antonio enfrentou problemas como a falta de patrocínio e lesões. Em 2000 teve uma pubalgia, que o deixou afastado do esporte por 7 meses. Depois ficou mais de um ano e meio sem apoio, treinando sozinho. Este é o momento de virada, vou deixar as tristezas dos últimos anos para trás e mostrar que posso buscar resultados. Com os problemas que passei, algumas pessoas chegaram a achar que eu tinha morrido, pois quando você não está bem as pessoas desaparecem, não tem mais aqueles tapinhas nas costas. Fui abandonado. Mesmo com as dificuldades nunca pensei em parar. Mesmo sem apoio, paguei meu tratamento, continuei mantendo a forma, treinando e disputei algumas provas, conseguindo bons resultados. Isso me motivava a continuar, pois sabia que tinha condições de dar a voltar por cima.
Desde julho de 2002 competindo pela equipe BM&F/Pão de Açúcar, Luiz Antonio vem reformulando sua preparação e agora conta com o treinamento de Ricardo DAngelo. O maratonista divide sua preparação entre Campinas (SP) e Taubaté (SP), na qual está programada uma maratona em abril. A prova ainda não está definida. Poderá ser na Holanda, Inglaterra ou EUA. O objetivo para 2003 é buscar índice para o Pan-Americano ou Mundial, para isto terá que correr abaixo de 2min12. Para DAngelo, o aspecto físico, o início tardio e a experiência contribuem para o prolongamento da carreira de Luiz Antonio. O ápice de um maratonista se dá entre os 32 e 36 anos e o Luiz, por ter começado mais tarde e apresentar um bom rendimento, tem chances de uma sobrevida no esporte.
E para garantir esta continuação, até a alimentação tem recebido atenção especial. O atleta está sob a orientação de uma nutricionista. Antes eu tinha uma alimentação saudável, mas não era muito preocupado com isso. Comia pouco. Agora faço quatro refeições diárias, tomo um café da manhã adequado, antes era só um cafezinho preto e ia treinar. Não é porque você tem conquistas que tem que se achar o melhor. Tem que estar sempre aprendendo e melhorando. Mesmo com tantas metas e dedicação à vida esportiva, o corredor ainda encontra tempo para relaxar. Nas horas livres gosta de visitar os pais em Volta Redonda, dançar e ouvir pagode.
Conselho – Para quem está começando no atletismo, o maratonista aconselha muita dedicação, não visar apenas o ganho financeiro e nunca desistir, pois o sacrifício um dia será recompensado. O corredor de 38 anos, que considera seus pontos fortes a disciplina e a persistência, afirma que o atletismo transformou sua vida. Eu vivia mal ou bem com um salário mínimo, não conhecia nada no mundo, ir para o Rio de Janeiro era um sonho. Hoje tenho melhores condições, posso proporcionar qualidade de vida aos meus filhos (quatro) e ainda ajudar a minha família. Por meio do esporte Luiz Antonio comprou três apartamentos, duas casas e um sítio. Até o ano passado tinha uma padaria, negócio que encerrou para se dedicar exclusivamente ao atletismo. Mesmo tendo a oportunidade de conhecer vários países, o cidadão de Volta Redonda sempre preferiu se manter concentrado nos hotéis. Então, como ele mesmo afirma, esteve em muitos locais, mas não os conheceu.
O atleta da BM&F/Pão de Açúcar acredita que o nível do atletismo brasileiro vem melhorando. No entanto, alerta para o prejuízo dos casos de doping. Temos que ter cuidado com o doping, pois acaba manchando a imagem dos corredores brasileiros. Mesmo aqueles que ganham com esforço, treino e preparação acabam sendo vistos como dopados. O atleta brasileiro tem muita qualidade e grande potencial, só precisa de mais apoio para se preparar. E o corredor é pessimista quanto ao futuro dos brasileiros nas provas de pista. Para ele a falta de estrutura e incentivo acarretará na diminuição de atletas nas pistas, já que acabam migrando para as ruas em função da remuneração e das melhores condições de treino.
Luiz Antonio alerta para a ganância da organização brasileira. No Brasil corrida virou um negócio, quanto mais dinheiro melhor. O atleta de elite acaba sem reconhecimento, se ele vai correr ou não, não faz tanta diferença. O que vale são os 15, 20 mil corredores pagando inscrição.
Luiz Antonio dos Santos:
- 38 anos
- Cidade de Nascimento: Volta Redonda. Atualmente mora em Taubaté
- Equipe BM&F/Pão de Açúcar
Principais Títulos:
- 93 Campeão da Maratona de Blumenau 2h12min15
- Bicampeão da Maratona de Chicago (93 2h13min15 e 94 2h11min15)
- 95 Campeão Maratona de São Paulo 2h17min17
- 95 Campeão da Maratona Fukuoka – Japão 2h09min30
- 95 Medalha de bronze no Mundial da Suécia (Gotemburgo) 2h12min49
- 97 Integrante da Seleção Brasileira na Copa do Mundo – Brasil 3º lugar
- 99 Campeão Meia Maratona do Rio de Janeiro 1h03min40
Este texto foi escrito por: Renata Rondini – SuperAção