Entenda como uma periodização nos treinos femininos faz a diferença na hora da competição

O treinador Nelson Evêncio dá atenção especial às suas alunas e isso aparece nos resultados

Christina Volpe | Mulheres · 01 dez, 2017

Homens e mulheres têm diferenças fisiológicas grandes nos mais diversos aspectos e o treinamento para corrida é um deles. Enquanto eles passam o mês praticamente sem nenhuma alteração hormonal, elas têm o período pré, durante e pós menstrual, com isso um planejamento baseado no ciclo da corredora, pode fazer toda a diferença na hora do resultado.

O treinador e colunista do Webrun, Nelson Evêncio, conta que fez algumas burradas no início de sua carreira em relação a isso, sendo muito flexível e modificando o treino na hora, mas percebeu que o planejamento é a chave. “Comecei a criar a planilha em cima do ciclo menstrual há uns 3 anos e sempre estou tentando aperfeiçoar o projeto”.

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Principais diferenças

“Há épocas do mês que a mulher tem cólicas, fica mais inchada, irritada, indisposta, aumenta o peso corporal e etc. Nesses momentos os treinos tem que ser mais leves. A maioria tem esse problema no período pré menstrual e durante. Para esses dias já marco o planejamento em vermelho e sei com bastante antecedência que devo aliviar a planilha. Para algumas é até recomendável não participar de provas, já que o rendimento será afetado”, explica.

Tati melhorou em 25 minutos seu tempo na Maratona de Nova York Foto: Arquivo pessoal

Tati melhorou em 25 minutos seu tempo na Maratona de Nova York Foto: Arquivo pessoal

Já no período pós menstrual estudos comprovam que a maioria tem melhora no desempenho, então é a época de colocar mais intensidade e encaixar provas, mas existem exceções!

O treinador explica que todo esse trabalho gera investimento de muito tempo. “Tenho a tabelinha de quase todas corredoras que tem alteração de desempenho e é mais um item a ser considerado”. E a diferença no resultado é nítida. “O controle de cargas é algo fundamental na prescrição do treinamento. Saber aplicar leves ou mais pesadas nas épocas certas é um grande diferencial. Consigo até convencer as alunas a participarem de menos provas e treinarem mais”.

Como é a planilha?

Evolução do tempo de Tati nas duas maratonas Foto: Arquivo Pessoal

Evolução do tempo de Tati nas duas maratonas Foto: Arquivo Pessoal

Nelson tem um modelo, mas faz as alterações por conta própria. “Gosto de individualizar o máximo possível, quem me procura já sabe que esse é um dos diferenciais do meu trabalho. O que utilizo é um site para calcular o ciclo de cada uma onde coloco 1 primeiro dia do período menstrual, quantos dias dura o período e quantos dias tem o ciclo de cada uma.  O  próprio site já calcula o ciclo inteiro. É a antiga tabelinha calculada de forma moderna”.

Atualmente a equipe de Nelson conta com maioria feminina, cerca de 65% a 70%, as famosas #filhasdenelson. Sendo que as 4 alunas que correram maratona neste ano, obtiveram seus recordes pessoais. 2 melhoraram 24 minutos de uma prova e outras duas conseguiram índice para Boston. “Um resultado interessante foi o gigante crescimento da nossa equipe, mesmo com o país em crise. Um cliente bem tratado traz outros, uma mulher bem tratada traz muitas outras”

Atenção redobrada

Neste ano uma de nossas alunas teve cólicas durante uma meia maratona e apesar de obter seu recorde pessoal, poderia ter corrido ainda melhor se não tivesse tido esse tipo de problema e feito duas paradas na prova. Faltou comunicação, foi um erro meu eu e dela, serviu como grande aprendizado. Mais para frente,  já sabendo com bastante antecedência que 2 alunas entrariam no período pré-menstrual justamente nas provas mais importantes, alertamos, elas conversaram com seus ginecologistas, o ciclo foi antecipado, correram no pós menstrual e obtiveram seus melhores resultados”.

Tati Crisp é uma das corredoras #filhadenelson que melhorou seu 25 minutos de tempo na maratona, em um intervalo de apenas 10 meses. “O treinamento com o Nelson é bem personalizado! Eu realmente fico muito inchada e cansada durante o período menstrual, então os volumes eram um pouco reduzidos durante os primeiros dias, mas com o tempo percebi que fui me adaptando e não me sentia cansada. Acho que o mais importante que eu aprendi, foi escutar o corpo.

Rafaela Bueno e Ana Cristina Ortega foram duas outras corredoras com resultados importantes e que também baixaram o tempo. Sendo que Ana, começou a treinar para se recuperar de uma lesão e Rafa conseguiu o tão sonhado índice para Boston.

Veja o gráfico

Arte: Cesar Carrara/Webrun

Arte: Cesar Carrara/Webrun

“Com cada corredora aprendo uma coisa diferente a cada temporada, mês, semana ou dia. A comunicação alinhada entre treinador e corredora tem que ser ajustada constantemente.  Não considerar as fases do ciclo menstrual ao planejar os treinos é quase que uma roleta russa”, completa o treinador.

Christina Volpe

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Comecei como corredora, depois me tornei jornalista e repórter do Webrun. Hoje sou editora e convivo diariamente com o esporte há 3 anos. Meu coração bate mais forte toda vez que um atleta conquista seu objetivo, uma corrida acontece e assisto uma competição emocionante. Sempre estou aprendendo e dando meu melhor.