A importância da estrutura médica em provas de corrida

Leonardo Selvaggio | Eventos · 28 fev, 2025

Correr uma prova vai muito além de cruzar a linha de chegada. Em meio à superação e ao desafio, a presença de uma estrutura médica eficiente pode ser determinante para a segurança dos atletas. O Webrun conversou com corredores que passaram por situações críticas durante eventos esportivos e com a Dra. Ana Sierra, cardiologista e médica do esporte, para entender o impacto de uma boa estrutura médica nas provas.

A importância da estrutura médica em provas de corrida

Relatos de quem viveu na pele

Welington Brasileiro Junior participava de uma prova de 10 km quando, no oitavo quilômetro, desmaiou repentinamente. “Senti as pernas pesadas, mas achei que era normal naquela altura da prova. Depois disso, não lembro de nada”, conta. Ele acordou desorientado no posto médico, sem conseguir se mexer e com febre alta. O protocolo de resfriamento imediato, feito com sacos de gelo e imersão em água fria, foi essencial para sua recuperação.

Já Fábio Carminato teve uma experiência ainda mais dramática. Ele apagou por volta do quilômetro 20 de uma meia maratona. “Um amigo disse que me viu parado, com as mãos no joelho, mas eu já não lembro de nada. Apaguei ali e só acordei no hospital”, relata. O atendimento rápido foi decisivo. “A doutora falou que, se demorasse um pouco mais, eu teria morrido. Eu estava em outro mundo.”

Outro caso é o de José Eduardo Ibrahim, que já enfrentou situações de risco em diferentes provas. No Granfondo Campagnolo, na Itália, e no Ironman 70.3 de Pucón, no Chile, o frio extremo levou seu corpo à exaustão, exigindo intervenção imediata da equipe médica. “Hoje, escolho minhas provas considerando a estrutura médica disponível”, afirma.

O que torna uma área médica eficiente?

Uma boa estrutura médica não se resume a um posto de atendimento. É preciso considerar fatores como a distância da prova, o número de participantes, o percurso, a época do ano e o perfil dos corredores.

Para a Dra. Ana Sierra, tudo começa com um planejamento minucioso. “Postos bem estruturados, ambulâncias estrategicamente posicionadas e comunicação eficiente com a equipe de percurso são essenciais”, explica. Entre as ocorrências mais comuns estão câimbras, distensões musculares, hiponatremia e hipertermia, esta última potencialmente fatal. “Casos graves exigem protocolos bem definidos e profissionais especializados, pois cada minuto pode fazer a diferença”, ressalta.

Ela destaca que diferentes tipos de prova demandam diferentes níveis de suporte. “Existem provas mais comemorativas, como as temáticas, e outras mais competitivas, onde os corredores buscam recordes pessoais. Essa diferença impacta diretamente no tipo de atendimento necessário.”

Independentemente do formato, o posto médico deve estar preparado para ocorrências leves, como câimbras e escoriações, até situações graves que exijam atendimento de urgência. “Os recursos devem ser distribuídos levando em conta o gerenciamento de risco, considerando fatores como altimetria, horários de largada e rotas de fuga”, reforça.

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Outro ponto crítico é a comunicação entre a equipe médica, a organização da prova e os responsáveis pelo percurso. “A presença de profissionais especializados em medicina esportiva e emergências, liderados por um diretor médico experiente, faz toda a diferença”, afirma a médica. Isso garante triagem rápida e atendimento eficaz.

Os atletas se preocupam com a estrutura médica de um evento ao se inscreverem?

Muitos corredores só percebem a importância de uma área médica bem estruturada quando passam por uma situação de risco.

Welington admite que nunca havia pensado nisso até enfrentar uma hipertermia. “Eu achava que era algo distante. Hoje sei que o atendimento especializado e rápido da equipe da doutora Ana foi essencial para minha recuperação.”, afirma.

Fábio também passou a dar mais valor ao suporte médico após seu incidente. “Sempre soube que era importante, mas de forma genérica. Depois de passar por isso, entendi que é algo vital. Se não fosse a equipe médica, eu teria morrido”.

José Eduardo ressalta que muitos corredores só percebem o valor da estrutura médica quando algo dá errado. “Hoje, escolho as provas levando esse fator em conta. Também faço exames regulares para evitar surpresas”.

Cuide da sua saúde antes de correr

Mais do que contar com uma boa estrutura médica, é essencial prevenir problemas. Fazer exames regulares e respeitar os limites do corpo são medidas fundamentais.

A Dra. Ana Sierra reforça essa importância: “Uma boa estrutura médica é essencial, mas o ideal é que o corredor faça check-ups regulares com um especialista. Isso garante que a prática esportiva seja segura, desde os treinos até as provas”.

Os atletas também reconhecem essa necessidade. Welington destaca que os exames preventivos fazem parte da segurança do corredor: “Os exames preventivos são essenciais para a sua segurança, assim como no dia anterior de uma prova o descanso, hidratação, alimentação adequada e, na prova, respeitar os seus limites.”

Fabio compartilha sua experiência e alerta para a importância de um acompanhamento médico: “Poderia ter custado a minha vida, ter abreviado minha vida numa situação de lazer e saúde. Muitas vezes a gente fala que vai fazer exercício pensando na saúde, mas a gente precisa saber se está preparado. É crucial a gente ter um acompanhamento, fazer exames antes de colocar o tênis no pé e correr, porque exige demais. A primeira coisa para aproveitar qualquer esporte é saber se você está pronto para aquilo”, ressalta.

Relatos de quem já precisou de atendimento durante provas esportivas evidenciam que o primeiro passo para correr de forma segura é manter em dia os exames médicos regulares, buscar orientação profissional e respeitar os sinais do próprio corpo. O esporte deve ser um aliado da saúde, mas isso só acontece quando há preparação e cuidado.

Para os organizadores de eventos, fica o alerta: a estrutura médica não é um custo dispensável, mas um investimento essencial na segurança dos atletas.

Leonardo Selvaggio

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Um jornalista em formação apaixonado por esportes. Até o momento, aluno da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).