A bike deve ter um ajuste diferente para cada pessoa (foto: André Chaco/ www.webrun.com.br)
Conforto, produção de energia e aerodinâmica. Essas são as três considerações básicas do ciclista. Uma bicicleta não é barata. Então, já que você vai gastar uns milhares de reais com esse equipamento, faça com que seu investimento valha a pena. Sua bike tem que vestir como uma luva.
Para achar o melhor ajuste, você terá que colocar na balança estes elementos e considerar suas características individuais, incluindo seu tipo físico, tipo de ciclismo que você pratica (MTB, contra-relógio, com vácuo ou sem, longa distância ou curta), seu nível competitivo, experiência, e ainda sua biomecânica e estilo de pedalada. Vale considerar alguma lesão ou desequilíbrio prévio que você possua.
Um bom ajuste da sua bike pode maximizar seu conforto e conseqüentemente sua potência. O conforto para um ciclista é fundamental até porque a falta de conforto limita a sua potência, isso é fato.
Tem-se observado ciclistas com uma posição aerodinâmica muito agressiva, mas com baixa produção de potência, demonstrando ser apenas desconfortável. Em muitos casos, se colocarmos o ciclista menos aero e mais confortável, ele será mais rápido.
Contudo, não podemos esquecer que conforto é relativo. Por exemplo, um ciclista de contra-relógio sacrifica mais seu conforto, mas ele fica relativamente menos tempo na bike. Se você é um ciclista novo, você precisará de um período de adaptação para seu corpo se ajustar. Algum desconforto é normal, mas o ciclismo não pode ser doloroso.
Dores nas costas, no pescoço ou nas articulações devem ser motivo de preocupação, talvez até necessitando uma reavaliação da posição ou até da mecânica da pedalada. Já as dores na região do períneo (contato com o selim) podem ser resolvidas com a troca do selim ou com um simples ajuste na sua regulagem.
Considere o tipo de ciclismo que você irá praticar. Para atletas competitivos, o posicionamento para uma maior obtenção de potência e aerodinâmica é de fundamental importância.
Pense quanto tempo você irá gastar em cima de sua bicicleta, o tipo de prova que você irá fazer e a intensidade de seu ciclismo (seja realista). Como exemplo, considere dois triathletas iguais em todos os aspectos, com exceção que um irá competir em provas curtas (sprints e olímpicos) e o outro ira fazer um ironman.
Conforto deve ser a grande consideração para o triathleta de ironman, que gasta horas em cima da sua bike, enquanto a aerodinâmica do atleta de provas curtas dever ser a grande preocupação.
A posição aerodinâmica é a chave para triathletas e ciclistas contra-relógios, pois ate 80% da resistência no ciclismo vem da força aerodinâmica. Vale lembrar que triathletas devem gastar horas na bike e depois ainda devem correr; também por causa disso, sua posição deve ser menos agressiva que a dos ciclistas (contra-relógio), mesmo estes parecendo ser similares. Notem que estamos falando de provas sem vácuo.
Levando-se em conta a individualidade de cada um, os atletas competitivos devem achar sua melhor posição para acentuar sua força. Podemos citar como exemplo um ciclista escalador que geralmente usa seu selim um pouco mais alto com um avanço e o guidão menores. Enquanto um sprintista prefere o guidão maior, com manetes paralelas ao chão, tacos levemente adiantados e um pé de vela menor. Já os atletas de estrada devem achar um meio termo onde se sintam confortáveis para passar horas.
O ajuste de sua bike pode ser feito num processo de tentativa e erro. Mas, não esqueça antes de mover ou trocar algum componente. Meça e marque sua posição para se certificar que será realmente necessário fazer alguma troca. Qualquer mudança deve ser gradual e lenta, pois o corpo precisa de tempo para se ajustar.
O fato de cada pessoa ser única, não torna fácil o ajuste do atleta na bike. Alguns têm o dorso maior, outros a perna ou os braços. Tudo varia de pessoa para pessoa, as vezes existe até diferença entre o lado direito e o lado esquerdo. As costas podem ser mais curvas ou mais planas na posição de força, os pés podem ter um ângulo mais para dentro ou mais para fora. Tudo isso deve ser levado em consideração na hora de ajustar a posição na bike.
Músculos desbalanceados, falta de flexibilidade e lesões podem interferir significativamente no ajuste. Quando você está lesionado, seu corpo compensa usando diferentes músculos para fazer o trabalho que seria da área lesionada. Mesmo depois de sanada a lesão você continua a trabalhar na mesma posição compensatória. Por tudo isso, o melhor e procurar um profissional especializado.
Creio que a melhor forma de determinar a mudança na bike é observar cuidadosamente como o atleta se posiciona na bike. Recomenda-se usar um rolo e uma filmadora. Assim pode-se visualizar o ciclista de vários ângulos e rever em câmera lenta, para junto com o ciclista observar melhor. Se possível usar um medidor de potência, para mensurar se o ajuste foi proveitoso. É importante distinguir quando acontece uma perda de potência ou algum desconforto, se foi pelo ajuste ou por algum mau hábito ou postura errada do atleta.
Este texto foi escrito por: Carlos Eugênio Ferraro