Já sabemos que a obesidade é uma doença, que pode gerar comorbidades. Ela atua também como sintoma de um desequilíbrio, seja ele fisiológico ou emocional. Porém, o que pouco se sabe é que a obesidade pode começar lá na infância: seja nos maus hábitos, nos comportamentos aprendidos ou nos significados que atribuímos inconscientemente a comida e aos exercícios físicos e como isso fica registrado no emocional da criança.
Uma informação real é que a obesidade atinge cerca de 42 milhões de crianças com menos de 5 anos pelo mundo. Também sabemos que há participação genética nesse quadro, mas essa participação é mínima se compararmos aos danos causados pela influência do ambiente em que a criança está inserida.
A forma com que ela é apresentada para comida, os estímulos emocionais, a falta de incentivo ao esporte entre outras passagens podem atuar como fatores preponderantes no desenvolvimento do sobrepeso ou obesidade. Ao menos é o que tenho percebido em meus cursos e atendimentos.
Portanto, trago aqui alguns erros cometidos por pais – sem a mínima má intenção! – mas que podem prejudicar o desenvolvimento alimentar de seus filhos:
“Estou grávida, preciso comer por dois!”
Existem teorias que defendem a ideia de que nossa mente registra nossas vivências e guarda sensações no inconsciente desde o nosso parto. Outras, afirmam que gravamos os acontecimentos a partir da nossa concepção. Partindo desse princípio, uma criança inicia sua vida intra-uterina mental e emocional já nos primeiros momentos da gestação.
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Por outro lado, um estudo revelou que a alimentação da mulher durante a gravidez é muito importante para a saúde do bebê, o que exige sim que a dieta seja bem variada, mas nada daquela história de comer por dois. O feto, quando dentro da barriga da mulher, precisa de determinada quantidade de nutrientes para se desenvolver.
O que passar da conta leva ao peso excedente da grávida e pode acarretar ao diabetes gestacional, elevando as chances de o bebê nascer muito grande, o que pode causar um padrão metabólico de acúmulo. E ainda assim gerar conexões emocionais inconscientes com a comida.
“Não preciso amamentar!”
O aleitamento materno é algo recomendado pelos pediatras, de forma exclusiva, até os seis meses de vida. E é nesse exato momento que a criança começa a dar os significados a comida. Pensem: uma criança que está no seu quarto, se sentindo sozinha, assustada após algumas horas de sono e chora ao acordar, se sentirá acolhida quando receber o leite em seu estômago juntamente com o carinho e o colo de sua mãe.
Essa experiência emocional já é suficiente para criarmos uma associação e, a partir de então, para o resto da vida, no momento em que nos sentirmos ameaçados, iremos buscar refúgio na comida, na tentativa de ter a mesma sensação primária.
Por outro lado, dentre inúmeros benefícios, estudos provam que os bebês alimentados apenas com leite materno têm menos chances de se tornarem obesos na adolescência e na vida adulta, justamente por nascermos com a saciedade – grelina e leptina – devidamente regulada, podendo sofrer alterações no decorrer da vida, dependendo dos nossos comportamentos alimentares.
“Ele ainda é uma criança, não precisa de rotina!”
Tenha sempre em mente: a criança irá reproduzir para sempre os hábitos que lhe forem reforçados em sua infância. Se você não estabelecer – cedo – uma rotina para seu filho, muito possivelmente ele terá dificuldades em desenvolver a disciplina lá na frente.
Isso também é válido para o comportamento alimentar. Ter hora para se alimentar e saber o que comer em cada momento é fundamental para que ela entenda e reproduza esse comportamento.
Entender que aquele momento é da alimentação – de preferência sem distrações – e sem barganhas. Nada de prometer o chocolate de sobremesa se ele comer toda a papinha e muito menos levar no parque se raspar o prato! Isso pode criar o significado de que a comida saudável é a parte “ruim” e a sobremesa ou a brincadeira é o “bom”.
Vale lembrar também que os filhos são o reflexo dos pais. De nada vai adiantar você querer ensinar seu filho a ser saudável, se você não é!
“É só um docinho…”
Permitir que a criança passe o dedo no bolo de festa, experimente a batata frita do fast food ou dê um golinho na espuminha da cerveja.
Por menor que seja a frequência desses atos, eles podem vir carregados de um valor emocional e fazer com que a criança “vicie” naquele sabor. Lembre-se que o pequeno só irá conhecer um determinado alimento se você apresentar a ele, principalmente nos primeiros dois anos. E, dependendo de como ocorre essa introdução, o alimento pode vir a ser o pesadelo do sobrepeso para o resto da vida.
“A família toda é obesa, a criança também será!”
Retomando o assunto do início do post, a genética é responsável apenas por 50% da propensão à obesidade.Mas é preciso levar em consideração que os outros 50% envolvem fatores ambientais, como o mau hábito alimentar. Esses sim são passíveis de mudanças. Eu sempre dou o exemplo da família obesa que tem o cachorro. Como é o cão? Obeso, não?! E ele não é filho de sangue!
“Vem aqui, gordinho da mamãe!”
Chamar seu filho de gordinho ou incitar que ser gordinho e ser uma criança saudável pode comprometer – e muito – a sua auto imagem. Se a criança se vê diante do estigma de estar acima do peso, ela irá, inconscientemente, gerar comportamentos para atender a esse rótulo. Agindo assim, as crianças podem encarar o estereotipo de sobrepeso como algo muito negativo, aumentando os riscos de desenvolver compulsões alimentares, se transformando em um jovem obeso.
Portanto, muito cuidado com a forma que você cria seus filhos, no que diz respeito aos seus comportamentos alimentares. Certamente esses primeiros registros serão responsáveis por comportamentos que eles carregarão para sempre… Toda dedicação e comprometimento nessa fase são recomendados!