Uso de inibidores de apetite acende alerta sobre perda muscular

Elizama Modesto | Saúde · 14 abr, 2025

Com a generalização de medicamentos como Ozempic e Mounjaro, usados tanto no controle da diabetes quanto para emagrecimento, cresce também a preocupação com os efeitos colaterais desses remédios — especialmente entre quem busca manter o desempenho físico, como os corredores. A Dra. Maria Fernanda Barca, endocrinologista, acende um alerta: o uso sem orientação pode levar à perda de massa muscular, o que afeta diretamente a saúde e a performance.

“A gente precisa entender que o organismo não sabe separar gordura de músculo. Quando você entra num processo de emagrecimento desregrado, perde tudo: gordura, músculo, cabelo, força”, explica a médica. 

Segundo a dra. Maria, isso acontece porque, ao reduzir drasticamente a ingestão de calorias e principalmente proteínas — o que é comum com o uso de inibidores do apetite — o corpo entra em estado catabólico. “A pessoa simplesmente fecha a boca, pula refeições e, quando come, prefere carboidratos leves, que sustentam por pouco tempo. A proteína fica de lado, e com isso o músculo sofre”, completa. 

Foto: Adobe Stock

O músculo é mais do que estética

A perda de massa magra vai muito além da estética: compromete a resistência física e o metabolismo como um todo. Para corredores, isso é ainda mais preocupante. “Você perdendo músculo, não consegue mais fazer aquele esforço físico. Musculação e aeróbico se complementam, então se perde um, o outro também cai”, explica a doutora. 

Ela destaca que o tecido muscular atua como um órgão endócrino, responsável por liberar hormônios fundamentais, como a irisina, que ajuda no metabolismo e na queima de gordura, e o BDNF, que atua na saúde cerebral. Sem músculo, o corpo também perde eficiência no uso da insulina, aumentando o risco de resistência insulínica, pré-diabetes e até doenças neurodegenerativas.

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Além disso, o músculo é um aliado do sistema imunológico, da sensibilidade à insulina e da saúde cerebral. “Correr sem músculo é como querer acelerar um carro sem motor”, compara.

E o desempenho? Ele vai embora junto

Para quem pratica corrida, especialmente de média e longa distância, a perda de massa magra compromete diretamente a performance. “Você perde força, resistência e até velocidade. É uma via de mão dupla: musculação ajuda no aeróbico, e o aeróbico ajuda a manter o condicionamento para treinos de força”, diz a endocrinologista.

Como minimizar a perda muscular?

Apesar dos riscos, é possível fazer um uso seguro dos inibidores com acompanhamento adequado. “A chave está no tripé: alimentação, atividade física e acompanhamento médico. Se não consegue consumir proteína suficiente, podemos suplementar com whey, por exemplo. Mas tudo deve ser orientado”, explica. 

Ela também destaca que medicamentos como o tirzepatida (presente no Mounjaro) têm se mostrado mais eficientes nesse equilíbrio, já que, ao combinar ações do GLP-1 com o GIP, conseguem reduzir a fome e preservar melhor a massa muscular, com menos efeitos colaterais. “O Mounjaro equilibra mais a massa muscular e causa menos náusea e vômito. Isso é importante para quem quer manter a rotina ativa”, aponta. 

Medicação sem orientação é perigo na certa

Dra. Maria ressalta que o uso indiscriminado desses medicamentos, muitas vezes comprado sem prescrição, é extremamente arriscado. “Há médicos vendendo e aplicando indevidamente nos consultórios. Isso é ilegal e perigoso. Às vezes, uma dose mínima já é suficiente, e o uso errado pode comprometer a saúde de forma irreversível”, alerta. 

Ela reforça: “Está na moda, sim, mas usar sem acompanhamento endocrinológico e nutricional é brincar com o equilíbrio do seu corpo.” 

Para os corredores, a mensagem é clara: emagrecer com saúde exige equilíbrio.

Elizama Modesto

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Jornalista por formação e apaixonada por contar boas histórias.