Chico segundo colocado afirma que não conseguiu treinar o quanto gostaria (foto: Alexandre Koda/ www.webrun.com.br)
Direto de Ilhabela – 13h15 da tarde de sábado (21/04), Praia do Perequê, em Ilhabela, litoral norte do Estado de São Paulo. Cerca de 70 corredores se alinhavam na largada para os 80 quilômetros do XTerra Endurance, prova disputada por trilhas e praias em meio à natureza e que colocou à prova a resistência dos participantes.
Após o tiro de largada os corredores seguiram em direção ao sul da Ilha, iniciaram a subida para a estrada que leva à Praia de Castelhanos e entraram numa trilha que os levaria no caminho para a Praia do Bonete. Logo no início da disputa o carioca Iazaldir Feitoza assumiu a ponta e passou a abrir vantagem em relação aos adversários.
A prova foi seguindo e a dificuldade aumentando. Em alguns trechos de descida os corredores escorregavam ladeira abaixo, em outros tinham que escalaminhar ladeiras e desviar de poças dágua, tudo isso com a noite chegando e a chuva caindo.
Na chegada ao Bonete (quilômetro 45) havia um ponto de apoio chamado de Special Needs, onde os corredores tinham acesso a uma sacola previamente deixada no dia anterior com a organização com suprimentos necessários para recarregar as forças e prosseguir. Alguns deixavam pilhas reservas para a lanterna, outros um alimento especial, roupa, tênis, entre outros itens.
Se no masculino Iazaldir parecia não ter adversários, no feminino a briga estava intensa entre Manuela Vilaseca, Rosália Camargo e a canadense Tracy Garneau, competidoras consideradas favoritas antes da prova. Próximo ao quilômetro dez, Rosália estava na frente, seguida por Tracy e Manuela.
Já na passagem do quilômetro 20, enquanto Iazaldir seguia firme e forte na liderança, a primeira mulher a passar foi Cyntia Terra, seguida por Tracy e Manuela. Rosália parecia ter problemas, já que não estava mais no mesmo ritmo das outras meninas, e posteriormente afirmou que se sentiu mal alguns quilômetros antes.
Os corredores da ponta tiveram problemas na Praia de Castelhanos, onde se localizava o segundo Special Needs (quilômetro 60). Problemas técnicos inviabilizaram a chegada do material no ponto de apoio, mas como não havia tempo a perder os atletas seguiram em frente depois de se reabastecerem com frutas, água, isotônico, bolacha, amendoim e refrigerante disponibilizados pela organização.
O retorno foi pela estrada de Castelhanos em direção à arena montada na Praia do Perequê, passando por alguns trechos de trilha em mata fechada. Iazaldir confirmou o favoritismo e cruzou em primeiro com o tempo de 8h59min39, seguido por Francisco Rocha dos Santos (9h33min43) e Eduardo Calixto (10h03min44).
Confira na página a seguir as declarações dos campeões sobre a prova
A prova foi bem dura, mas tem que ser assim, pois valoriza o evento, relata o campeão que comenta sobre a falta do Special Needs no quilômetro 60. Eu ia trocar de tênis, colocar um casaco e pegar uma comida e a sacola não estava. Sorte que havia levado algumas coisas comigo. Mas isso faz parte e é algo que não arranha a organização do evento. O carioca conta ainda que o psicológico numa prova como essa faz a diferença. Não adianta estar muito treinado se não estiver com a cabeça boa. Então os detalhes fazem a diferença numa prova de tantas horas.
O vice-campeão, Chico Santos, se perdeu no final e quase não encontra a arena montada na praia, mas diz que valeu a pena cada minuto de sofrimento. Fazia tempo que eu não pegava uma prova com tanta técnica. Acho que tem uma grande influência do Bernardo (Fonseca, organizador da prova) e da The North Face (marca patrocinadora do evento), ao fazer uma prova para agradar a todos. No meio da prova ele estava entre os dez primeiros colocados, mas ao longo dos quilômetros foi ganhando posições para cruzar em segundo. Eu tive dificuldade, apesar de treinar bem. Hoje trabalho muito, então não consegui treinar o tanto que gostaria para desenvolver melhor minha performance, relata o educador físico de 31 anos, que ministra treinos na Vista Chinesa, no Rio de Janeiro.
Já o terceiro colocado, Eduardo Calixto, diz que passar por pedras e trilhas durante a noite foi um dos fatores de complicação na corrida. Outra parte bem difícil foi a subida do Morro (em direção à Praia de Castelhanos), mas estou feliz com o terceiro lugar, Ele diz ainda que começou a imprimir um ritmo forte após o primeiro quarto da prova. Do quilômetro 20 em diante passei a puxar.
Mulheres – Na prova feminina quem se deu melhor foi Manuela Vilaseca, atleta que é treinada pelo campeão masculino, Iazaldir Feitoza. Ela completou com o tempo de 10h21min37e se emocionou muito ao cortar a faixa da linha de chegada.
Estou muito feliz e ainda nem acredito na vitória. Acho que fiz a prova da minha vida, conta Manu. Passamos por lugares lindos e sem dúvida a parte mais difícil foi a trilha para chegar até a Praia de Castelhanos, pois era muito técnica e cheia de armadilhas, do jeito que a gente gosta. Ela afirma que durante muito tempo correu ao lado de Tracy e que prestou atenção na técnica da canadense. Ela é uma pessoa muito experiente, então procurei olhar um pouco para ela e prestar atenção no que ela estava fazendo, até no ritmo, para eu não errar o meu.
Com um bom treinamento feito antes da prova, ela afirma que se alimentou bem durante as longas horas que passou correndo e que isso foi fundamental para vencer. Numa parte técnica e difícil eu estava me sentindo super bem, então me alimentei e consegui passar a Cyntia. Fiz o resto da prova sozinha e, apesar de não saber a diferença para a segunda colocada, estava sempre pensando que ela estava um minuto atrás, para não deixar essa vitoria escapar, finaliza a corredora que mora e treina no Rio de janeiro.
A segunda colocada foi Cyntia, com a marca de 10h57min06 e, assim que ela cruzou a linha, foi recebida pelo marido que estava apreensivo. Foi muito difícil, desabafa. Quando você pensa que terminou a subida, vem mais. A hora que pensa que acabou a trilha, tem mais. Eu caí no meio da trilha e fiquei alguns minutos sentada pensando se tinha quebrado alguma coisa. Mas apareceram umas pessoas e me incentivaram a continuar.
Ela conta que pensou em parar algumas vezes por conta da dificuldade. Essa é uma das provas mais difíceis que eu já fiz e chegar foi gratificante. Tem momentos que você pensa: vou parar. Mas não, tem que ir em frente. Amante das longas distâncias, ela veio pelo desafio de correr uma prova casca grossa e conseguir os dois pontos para a disputa da Ultramaratona Mont Blanc, disputada na França. Para correr essa prova os interessados devem acumular pontos em provas ao redor do mundo.
Terceira colocada, Tracy afirma que estava bem na prova, mas problemas com sua lanterna a obrigaram a diminuir o ritmo. “Elas quebraram justamente quando estava mais escuro e por sorte encontrei o Max (Edwards), que me acompanhou até a chegada. Estou muito feliz com o terceiro lugar, já que eu estava completamente às cegas no meio do percurso”.
A prova foi tão dura, que dos 70 competidores que largaram, apenas três mulheres e oito homens completaram a disputa. A próxima etapa do Circuito será o XTerra Camp Terê Adventure, em Teresópolis (RJ), nos dias cinco e seis de maio. As inscrições já estão abertas no site oficial, o www.xterrabrasil.com.br.
Este texto foi escrito por: Alexandre Koda