A largada aconteceu à meia noite (foto: Alexandre Koda/ www.webrun.com.br)
A brasileira Rosália Camargo fez história no último sábado (09/06) ao vencer os 100 quilômetros da Madeira Island Ultra Trail, competição com alto nível técnico que passou pelas montanhas da Ilha da Madeira com provas de 100, 55 e 25 quilômetros. Em sua estreia na distância, ela marcou 17h34min e foi a 16ª colocada na classificação geral, contando homens e mulheres.
Direto de Porto Moniz (Ilha da Madeira) – A largada da prova aconteceu ao nível do mar, no município de Muchico, às zero hora do dia nove (hora local, quatro horas a mais do que Brasília). Às doze badaladas do relógio, os 98 competidores que não viraram abóbora com o alinhamento dos ponteiros saíram em direção ao primeiro dos dez Postos de Controle, localizado no quilômetro 11 a 580 metros de altitude.
Rosália já começou na frente, mantendo um ritmo conservador e sem exagerar no esforço. Ao chegar ao posto ela e os demais competidores encontraram chá, café, coca cola, além de bolo, biscoitos e água para recarregar as mochilas de hidratação. Numa prova como essa a organização exige que os participantes carreguem uma mochila com diversos equipamentos obrigatórios, tais como manta térmica, apito, celular, lanterna de cabeça, luz de sinalização vermelha, entre outros itens.
No início da ultramaratona a segunda colocada era a belga Chantall Xhervelle, poucos minutos atrás da brasileira, situação que começou a mudar a partir dos trechos intermediários. Rosália usou sua experiência em provas maiores, como os dois XTerra 50 quilômetros de 2011 (Ilhabela e Mangaratiba), para não ter problemas como aconteceu nos 80 quilômetros do XTerra em abril deste ano.
Sempre tranquila e sorridente, ela foi ultrapassando os obstáculos naturais, até então seus únicos adversários. Ela chegou ao Posto de Controle número dois a 915 metros de altitude por volta das 3h30 (hora local), se hidratou e seguiu viagem morro abaixo até o próximo ponto, localizado a 850 metros de altitude.
O posto quatro estava montado a 1.595 metros acima do nível do mar, num local com ventos fortes e baixas temperaturas, algo que parecia não incomodar a carioca. Ela chegou por volta das 5h30, fez uma rápida pausa para repor as energias com canja e coca cola, já que a segunda colocada estava 40 minutos atrás.
Amanhecer – Ainda num trecho de subida do percurso, ela corria em trilhas acima das nuvens e teve a oportunidade de ver o sol nascendo, privilégio que durou pouco, já que a concentração tinha que ser máxima para evitar quedas e lesões. Ela seguiu forte nos outros Postos de Controle, o Pico Ruivo (1.770m), Chão dos Louros (810m), Estanquinhos (1.580m) e Chão da Ribeira (340m).
Na penúltima passagem, o Fanal (1.150m) ela chegou com uma torção no tornozelo, mas não quis parar para atendimento médico e ficou durante poucos minutos apenas para tomar um refrigerante e encher a mochila de hidratação com água. Ela estava horas frente da segunda colocada, mas não tinha essa informação e pensava estar a apenas 30 minutos de vantagem.
Pouco mais de uma hora depois ela já estava no último posto, o Ribeira da Janela, a 325m de altitude e com distância acumulada de 95,5 quilômetros. Ela quase passou direto, sem se hidratar, mas o português Bruno Silva, que estava ao seu lado, consegui convencê-la a tomar um pouco de água e coca cola antes de encarar o trecho final.
Chegada – Com muita dificuldade ela desceu uma centena de degraus até chegar ao asfalto da Rodovia, onde conseguiu imprimir um ritmo mais rápido até cruzar a linha de chegada na praça principal de Porto Moniz. Com a bandeira brasileira em mãos ela marcou 17h34min51 e vibrou muito. A segunda colocada, a belga Chantall Xhervelle chegou quase sete horas depois, com o tempo de 24h05min09.
Essa é uma prova muito bonita e os portugueses são muito atenciosos e companheiros com a gente, conta a campeã que assina o blog Vai Correndono Webrun. Teve trechos muito técnicos que se eu não tivesse tido ajuda seria muito mais difícil. No Pico do Ruivo quis pegar o casaco na mochila e ele quase saiu voando. Mas novamente tive ajuda de outro corredor, completa.
Apesar das paisagens deslumbrantes, Rosália teve medo de tirar os olhos da trilha para garantir que não pisaria em falso. Há umas falésias impressionantes, então eu olhava de rabo de olho muito rápido. Até nas Levadas (canais de irrigação) foi complicado, porque do lado esquerdo há um precipício e o chão muitas vezes estava molhado.
Apesar do zelo, ela confessa que no momento do amanhecer sobre as nuvens não resistiu e se deslumbrou com a natureza. Já vi um vulcão, já velejei no mar, mas ver o sol nascer enquanto corria é uma das paisagens que acho que nunca vou ver igual na minha vida. Não tem explicação virar a noite correndo. Com o resultado ela conseguiu pontos para disputar a sonhada Ultramaratona do Mont Blanc. Estou feliz, missão cumprida 100%, finaliza a corredora que deve fazer ainda esse ano os 50 quilômetros do XTerra Mangaratiba (RJ) e os 42 quilômetros do Asics Vila do Farol K42 Bombinhas (SC), ambas em agosto.
Este texto foi escrito por: Alexandre Koda