O trail está crescendo, isso é fato.
Enquanto a grande maioria dos esportes cresce em uma progressão aritmética, o trail vive o momento do “boom” e, nos últimos anos, tem tido crescimento exponencial! Comercialmente, todos querem uma fatia e o crescimento desordenado coloca muita gente tentando surfar esta onda.
Em um levantamento feito pelo Emerson Corrales da Raiz Trail, em 2013 tinham apenas seis provas cadastradas pela ITRA (International Trail Running Association) no Brasil, porém neste ano já são 56 cadastradas (até o início de fevereiro).
A tendência deste mercado é expandir e agregar cada vez mais serviços para seus praticantes. Todos que entram neste esporte acabam se apaixonando e vivendo o “lifestyle”.
No Trail, assim como no futebol, os melhores do mundo estão na Europa. Daqui observamos as provas, organização, equipamentos, além de sonhar em correr as provas por lá, mas infelizmente somos um país de CULTURA tupiniquim.
O que quero dizer com isso?
Se você já pratica o esporte já foi, ou conhece alguma prova, em houve erros de marcação, cancelamento ou algo neste sentido. Não vou ser injusto e acusar todos organizadores de agirem de má fé. Longe disso!
Diferente da CULTURA europeia, na qual o trekking, o hikking e a corrida fazem parte da vida dos habitantes, no Brasil tudo é mais complicado. Aqui esse tipo de esporte é pouco difundido, pois as trilhas não são abertas, os locais não tem estrutura e, para melhorar, existem alguns “tupiniquins” que deixam lixo nas vias. Obviamente, os órgãos de conservação não concedem a licença para que sejam feitas corridas em alguns locais. Então, é comum ouvir de iniciantes no esporte: “aqui não tem montanha”, “Por que não fazem prova na montanha X ou Y?”, “Para correr lugares altos e bonitos, só fora do Brasil”.
Erro pensar assim, temos diversos locais absurdamente bonitos e que exigem uma experiência e condicionamento gigantes.
Na Europa, quando o organizador vai realizar uma prova, ele mal se preocupa com a sinalização, todas as trilhas já estão abertas, várias pessoas passam por ali, nenhuma deixa seus “restos”. Isso se chama CULTURA. Infelizmente, ainda vamos demorar muito tempo até atingir este nível. Já temos diversas ações para orientar e cuidar das trilhas, agora é nosso papel ajudar a difundir o esporte.
Enquanto algumas provas são bem organizadas e se consolidam no calendário, existem outras que podem ser consideradas ‘fundo de quintal’. Chega a dar medo, já que elas muitas vezes passam por propriedades particulares, trajetos de pouco acesso e os moradores da região não aprovam o evento.
Talvez o que mais diferencie as que se consolidam das que se perdem no caminho, seja a boa marcação. Quantas vezes ouvimos relatos de pessoas que foram por outro caminho devida falta de sinalização?
É complicado, mas os organizadores de eventos vão ter que se unir. A experiência e contatos de um, pode ser o que falta para realização da prova do outro. Juntos eles podem se dividir no calendário e ter mais atletas em cada uma de suas provas.
Na minha humilde opinião, é papel dos organizadores, tentar envolver a comunidade da região da prova, chamar as pessoas para apoiar e participar, expor seus produtos e, até ajudar trabalhando nas equipes de apoio. Essa é uma ação simples que pode evitar possíveis sabotagens.
Com relação a marcação das provas, cal pode ser utilizado no chão para marcar bifurcações importantes e, talvez a melhor saída (mais onerosa também) é colocar staffs em todas as possíveis divisões da prova. Eles devem ser bem treinados para dar a orientação do percurso, o que pode aumentar o valor do evento.
É ruim? Sim, ninguém quer pagar mais caro, mas até termos uma CULTURA onde as pessoas entendam que esse esporte movimenta o comércio, teremos que arcar com as consequências.
Vida de organizador de provas não é fácil, quanto maior o evento maior o stress e o tempo de trabalho envolvido. Uma prova bem organizada e séria, tem sinalização exemplar e planos A, B e C para qualquer problema de ordem maior (chuvas, desastres, impedimentos etc).
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O papel de escrever um bom regulamento, com previsão de problemas, orientação de staffs, disponibilização dos percursos com antecedência e programar um bom congresso técnico para sanar todas as dúvidas é do organizador. Porém…
É obrigação do atleta ler o regulamento da prova, estudar o percurso e observar por onde e para onde estamos correndo. Você deve levar e utilizar todos os equipamentos obrigatórios sem dar “migué”.
Diferente de uma corrida de 100 metros, em que o Bolt só ouve um tiro e vai em linha reta, diferente do Kipchoge que segue um carro madrinha pelo percurso fechado para tentar o sub 2h na maratona, o atleta trail deve saber se orientar… Definitivamente, não é só correr.
Observe qualquer atleta profissional de trail (Europeu, principalmente) e você vai ver ele estudando o percurso, olhando o mapa, sabendo cada curva, cada subida ou descida que vai fazer.
“No trail não é o mais rápido que ganha a prova, é o que chega na frente”.
Existem incontáveis variáveis em volta de cada prova, às vezes na dúvida é melhor perguntar para um staff o caminho, por exemplo.
Este texto não é para queimar organizadores, nem para culpar atletas. É um texto de alerta para todos. No fim das contas o que queremos é a evolução do esporte, provas no estilo europeu. Queremos vibrar com vitórias de atletas nossos em terras estrangeiras, assim como vibramos com um gol do Neymar, mas para isso todo esporte precisa evoluir e se ajudar.
Já teve algum problema com prova? Como saiu dessa “enrascada”?
Compartilhe esse texto com seus amigos e fomente a discussão. Organizadores e atletas não são inimigos. São parceiros na difusão do esporte. Devemos, juntos, somar forças para sanar os problemas e aumentar o nível do nosso esporte.