Saiba mais sobre fratura por stress

Redação Webrun | Atletismo · 29 jun, 2007

Figura 3. Imagens da fase 3 da cintilografia mostrando a hiperconcentração do marcador na tíbia direita (foto: )
Figura 3. Imagens da fase 3 da cintilografia mostrando a hiperconcentração do marcador na tíbia direita (foto: )

A fratura por stress é um problema que antigamente era restrito aos atletas de alta performance (alto impacto) e militares (marcha por longa distância), mas hoje deve ser lembrado por quem pratica e lida com atividade física.

Com o aumento do número de praticantes de esportes e a sobrecarga extra, que às vezes chegam a ultrapassar a resistência fisio-histológica do osso (principalmente corrida), além da intensidade dos treinos, as fraturas por stress podem acontecer por causa do esgotamento muscular (esforço excessivo) e a falta de absorção de impactos acumulativos. Invariavelmente, os músculos fadigados transferem a sobrecarga do stress para o osso ocorrendo a fratura por stress.

O que é fratura por stress? As fraturas por stress são fissuras microscópicas dos ossos, causadas por uma soma de quantidade de impacto. Esse esforço físico repetitivo aumenta as solicitações ósseas, que quando ultrapassam a resistência normal, ocorre a substituição da deformação elástica pela deformação plástica, isto é, não há retorno à situação anterior e, caso as exigências continuem, instalam-se microfraturas, prevalecendo então a reabsorção óssea. Nesta fase da evolução, tem-se uma alteração fisiológica, a fratura, no entanto sem aparente comprometimento anatômico (deformidade).

Como acontece? Pode se originar de um aumento muito rápido da intensidade, volume ou mesmo de uma mudança no tipo de treino (troca de calçado, tipo de piso, programa de saltos, etc.). A fadiga muscular pode também ter papel importante na ocorrência de fraturas por stress.

Para cada milha que um corredor percorre, mais de 110 toneladas da força devem ser absorvidas pelos pés. Os ossos não são feitos para absorver muita energia e os músculos agem como absorventes de choque adicionais. Mas, quando os músculos se tornam cansados e param de absorver a maioria da energia, as quantidades mais altas de choque vão para os ossos.

O osso envolvido é submetido a uma carga excessiva sem o devido respeito aos princípios de progressão e repouso, e inicia-se uma fratura da parte mais interna do osso (trabéculas ósseas), que pode, se não tratado, progredir para uma fratura completa (incluindo a cortical).

Qual a incidência? Estudos têm mostrado resultados que indicam que as mulheres têm mais fraturas por stress do que os homens. Muitos ortopedistas atribuem este fato a uma condição conhecida como “a tríade da atleta feminina”:

  • desordem alimentar (bulimia ou anorexia);
  • amenorréia (ciclo menstrual ausente);
  • osteoporose. Quando a massa óssea da mulher diminui, aumentam as chances de ocorrer uma fratura por stress.

    As fraturas por stress ocorrem menos freqüentemente nos africanos se comparados aos caucasianos. Isso acontece devido a um BMD mais elevado (densidade mineral do osso). A incidência aumenta provavelmente também com a idade devido às reduções da BMD.

    Os ossos dos membros inferiores são os mais acometidos, principalmente os ossos do pé, tíbia, fíbula e fêmur, cuja origem é a sobrecarga de forma intensa, mal realizada ou sem o devido intervalo de recuperação.

    Quais são os sintomas? A fratura por stress tem geralmente uma lista estreita dos sintomas.

  • uma área generalizada de dor no membro acometido,
  • enfraquecimento e
  • dor ao pisar (carga);
  • edema e equimose (roxo) são raros.

    Como é feito o diagnóstico? Há uma discrepância entre a clínica referida pelo paciente e os achados radiológicos, pois o raio X em geral é normal, (a não ser em fases mais tardias, em torno de 15 dias, onde pode aparecer uma formação de um calo ósseo discreto no local da fratura). Nas fases iniciais, em torno de 80% das fraturas de estresse não são evidentes nas radiografias.

    São necessários para confirmação diagnóstica os métodos como ressonância magnética (RM) ou cintilografia óssea, que apresentam uma boa sensibilidade. A cintilografia óssea detecta a fase inicial da patologia, cerca de 95% dos casos em menos de 24h da lesão.

    No exemplo das figuras dois podemos verificar na RM e na cintilografia, que dois corredores apresentaram uma fratura por stress no calcâneo e outro na tíbia direita.

    O tratamento é conservador, com repouso relativo, isto é, afastado de toda e qualquer atividade de impacto podendo o atleta realizar atividades na água e exercícios de fortalecimento e alongamento para manter sua condição muscular e cárdio-respiratória.

    1- Repouso: indivíduos precisam repousar da atividade que causou a fratura por stress, e realizar atividades sem dor e sem impacto durante seis a oito semanas para que ocorra a cura da fratura. Se a atividade que causou a fratura por stress é retomada muito rapidamente, podem se desenvolver fraturas maiores e mais difíceis de curar. Uma recidiva também pode levar a problemas crônicos.

    2- Calçado adequado: com bom amortecimento e o descanso apropriado podem evitar este tipo de lesão.

    3- Substituição: trocar a corrida por outra atividade aeróbia sem impacto como a natação ou o ciclismo e quando voltar a correr, iniciar em terreno macio ou grama.

    4- Após o período de recuperação, outras duas semanas da atividade suave sem nenhuma dor podem ser recomendadas antes que o osso possa com segurança ser considerado apto e a atividade puder gradualmente aumentar.

    5- A reabilitação consiste geralmente no treinamento da força de músculo para ajudar dissipar as forças excessivas transmitidas aos ossos. Em alguns casos, um estimulador eletrônico pode ser usado. Eletromagnética estimula o osso fazendo com que o osso coloque para fora mais energia, fortalecendo-o.

    6- Nas fraturas severas por stress, a cirurgia pode ser necessária para adequada readaptação e redução anatômica apropriada. O procedimento pode envolver fixação do local da fratura, e a reabilitação feita numa média de seis meses.

    Como é feita a prevenção? Aumente lentamente qualquer atividade esportiva nova. Por exemplo, não comece a correr sete/ oito quilômetros por dia. Corra em dias alternados e distância pequena.

  • Intensidade e aumento do treino recomenda-se um acréscimo de até 10% semanal. Isto permite que os ossos se adaptem ao stress adicionado assim podendo suportar no futuro quantidades maiores de stress;

  • Alongamentos ajudam também a construir mais força muscular nos pés;

  • Aumentar a ingesta de cálcio e da vitamina D, dependendo do indivíduo;

  • Também é importante monitorar a alimentação, porque a nutrição tem papel vital no desenvolvimento do osso. Determinados indivíduos têm maior risco de osteoporose;

  • Utilize equipamentos adequados. Tênis novos, macios e com amortecedores de impacto, adequados a sua modalidade;

  • Se houver dor ou edema, pare imediatamente a atividade e repouse por alguns dias. Se a dor persistir, procure um ortopedista.

    Quais São os diagnósticos diferenciais? As principais patologias envolvidas no diagnóstico diferencial são as periostites, a doença de Ribbing (esclerose múltipla diafiseal), as osteonecroses, as fraturas de insuficiência, a osteomielite, os tumores ósseos e o trauma ósseo. Patologias que serão discutidas nos próximos artigos.

    1. Minoves M. La gammagrafía ósea en el diagnóstico y valoración de las lesiones deportivas. Rev Esp Med Nucl 2001;20:132-55.

    2. Cudnowski D, Carek PJ. A unique leg injury in a dancer. Phys Sport Med. 2002; 30: http://www.physsportsmed.com/issues/2002/12_02/cudnowski answer.htm(06.06.2004).

    3. Drubach LA, Connolly LP, D’Hemecourt PA, Treves ST. Assessment of the clinical significance of asymptomatic lower extremity uptake abnormality in young athletes. J Nucl Med 2001;42:209-12.

    4. Zwas ST, Elkanovitch R, Frank G. Interpretation and classification of bone scintigraphic findings in stress fractures. J Nucl Med 1987;28:452-57.

    5. Habibian MR, Delbeke D, Martin WH, Sandler MP. Nuclear Medicine Imaging. A Teaching File, 1999:553-61.

    6. Fredericson M, Bergman G, Hoffman KL, Dillingham MS. Tibial stress reaction in runners: correlation of clinical symptoms and scintigraphy with a new magnetic resonance imaging grading system. Am J Sports Med 1995;23:472.

    7. McBryde AM. Stress fractures in runners. Clin Sports Med 1985;4:737-52.

    8.The American Academy of Orthopaedic Surgeons.

    9. Reeser, Johnathan C., MD, PhD. (2004, outubro 1). Fratura do Stress. eMedicine. http://www.emedicine.com/pmr/topic134.htm

    10. http://en.wikipedia.org/wiki/Stress_fracture

    Este texto foi escrito por: Dra. Ana Paula Simões

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