Um dos maiores motivos de abandono de provas no trail running é causado por problemas gastrointestinais.
Você sabia que pode não ser, somente a alimentação o problema?
Pois é, sempre que temos algum problema como esse, vamos em busca de uma nutricionista (ou trocamos a que temos), de uma dieta nova, de suplementos mágicos. Enfim, tentamos entender o que aconteceu.
Foto: Divulgação
Acontece que o sistema digestivo é extremamente complexo.
Você sabia que o intestino é considerado nosso segundo cérebro?
Não, não estou louco. Seus problemas em provas, podem estar relacionados diretamente com as emoções.
Vou tentar explicar.
O sistema digestivo humano pode atuar independente do cérebro, pois tem cerca de meio bilhão de neurônios e mais de 30 neurotransmissores (incluindo 50% de toda a dopamina e 90% da serotonina presentes no organismo). O objetivo é controlar uma função essencial do corpo: extrair energia dos alimentos. Contudo, a ciência tem revelado que não é apenas isso.
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Por ter uma ligação direta (nervo vago) com nosso cérebro (embora funcione de forma independente, ele se comunica com o Sistema Nervoso Central -SNC- através dos sistemas simpático e parassimpático), os neurônios presentes em nossa barriga podem afetar nossas emoções, comportamento, e até o caráter.
É por esta via que, quando você fica com medo, sente um frio na barriga, ou se está constantemente estressado, desenvolve uma ulcera, ou ainda, nos minutos pré prova, seu nervosismo te leva ao banheiro químico mais próximo.
Essa rede de neurônios é chamado Sistema Nervoso Entérico (SNE). Ele tem entre 6 e 9 metros e fica dentro do nosso abdômen formando um “forro” para processar todas as ações com os alimentos. E, assim como nossos neurônios da cabeça, nascem conosco e através do tempo evoluem e “aprendem” coisas novas (se você tem algum bebê na família vai notar que ele nasce, muitas vezes, sem conseguir digerir o leite materno, mas ao longo do tempo se desenvolve e consegue digerir, até mesmo, um bom churrasco).
Sempre falo para os meus atletas, que os treinos pré competição são fundamentais para testar a alimentação da prova. Não se come, nem se bebe NADA diferente durante uma prova.
Foto: Alexandre Koda/Webrun
Como foi citado, nosso sistema digestivo deve aprender e entender que aqueles alimentos vão ser digeridos e vão fornecer o aporte energético para a continuidade da prova.
É muito normal, pessoas acostumadas com provas em asfalto levarem os saches de gel em uma prova trail. Porém, é comum, uma pessoa levar quase quatros horas para percorrer 21k nas trilhas, mais que o dobro de uma prova plana. Portanto, ela vai consumir, no mínimo, o dobro de sachês. Será que o sistema vai aguentar?
Em quase 10 anos de trilhas não conheci ninguém que utilizasse somente gel em ultramaratonas trail e, pouquíssimos que utilizavam os sachês para provas na distância da meia maratona.
Ou seja, você vai ter que aprender a comer coisas diferentes se optar por correr longas distâncias em trilhas.
E, há um terceiro elemento nessa complexidade toda: as bactérias.
Há cerca de 10 vezes mais bactérias em nosso corpo do que de células humanas (somos ets?), isso corresponde de 2 a 3 quilos do indivíduo.
Essas bactérias que estão em nosso sistema gastrointestinal, são chamadas de microbiota. Para se ter ideia, já há indícios de que estas bactérias contribuem efetivamente no desenvolvimento de doenças como Alzheimer, autismo e depressão.
Mas é possível prevenir, ou até reverter, desequilíbrios na microbiota intestinal?
A resposta é sim. A flora pode ser modulada para que as bactérias do bem vivam em paz ou voltem a reinar. E isso é obtido, em parte, via alimentação, quando se investe nos probióticos, lácteos enriquecidos com micro-organismos benéficos à saúde. Existem indicativos na ciência de que, no futuro, poderemos resolver problemas de humor através de probióticos.
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É um sistema absurdamente complexo, cheio de nuances que nem mesmo as mais avançadas pesquisas tem a resposta.
O que sempre digo é que o Trail Running é exatamente assim. Um esporte complexo em que há uma infinidade de variáveis. Pensar em soluções “fora da caixa” não é algo que deve ser diferencial, mas sim usual em todos os profissionais que atuam neste esporte, principalmente os treinadores.
Observar e entender os problemas do atleta e buscar soluções que não são comuns é o trabalho diário de um treinador trail.
Foto: Alexandre Koda/Webrun
Por isso, penso que devemos estudar outros esportes, áreas (como a nutrição, fisioterapia, medicina) e métodos de treinamento.
Às vezes a solução para o seu atleta concluir uma prova longa está em aprender meditação, acalmar a mente e ficar menos ansioso, treinar alimentos diferentes e durante a prova executar apenas o que foi treinado.
Este texto foi inspirado em uma situação real, de um atleta real.
Conhece alguém que já teve problemas assim?
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