Por que os brasileiros não vencem mais a São Silvestre?

Não é falta de treinamento que explica o resultado. Entenda os problemas que enfrentam os corredores de elite no Brasil

Nelson Evêncio | São Silvestre · 24 dez, 2019

O treinador e colunista do Webrun, Nelson Evêncio, listou 8 motivos para os brasileiros não conquistarem o lugar mais alto do pódio na São Silvestre.

Depois de diversos acontecimentos e fraudes como os mais de 10 atletas de uma mesma equipe utilizando número de peito repetido, o mal desempenho do Brasil, com o primeiro atleta profissional chegando apenas na 12ª colocação, não foi muito comentado.

Desde 2012 este foi o pior resultado do Brasil, que conseguia se manter pelo menos entre os 5 primeiros. Confira a avaliação do especialista e deixe sua opinião.

Durante a São Silvestre em 2017 Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Durante a São Silvestre em 2017 Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

1. Hoje há centenas de provas com boa premiação no país e como o apoio ao esporte, principalmente a corrida de fundo é muito pequeno, a maioria optou em se sustentar correndo outras competições.

2. Relativo ao primeiro tópico. A necessidade de correr mais provas faz com que o atleta não esteja 100% na São Silvestre e já chegue nela cansado.

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3. O nível da prova está cada vez mais elevado. Com premiação de R$ 90.000,00 ao primeiro colocado, R$ 45.000,00 ao segundo e por aí vai. Neste ano tivemos 16 africanos de alto nível no masculino e 12 no feminino, dificultando a possibilidade de pódio dos brasileiros. Vale lembrar que Stanley Biwott, que tem 58min59 na meia maratona e 2h03min51 na maratona, ficou fora do pódio.

4. Relativo ao tópico 3. Neste ano vieram vários atletas com tempos ótimos na meia maratona, abaixo de 1h no masculino e de 1h10 no feminino, sendo que no masculino só tivemos um atleta brasileiro na história neste nível e nunca nenhuma no feminino. Entre as mulheres este é um tempo bem melhor que o recorde sul-americano.

O fundista queniano Willian Kibor (220), da equipe Coquinho Fila Bioleve, durante a edição de 2015 Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

O fundista queniano Willian Kibor (220), da equipe Coquinho Fila Bioleve, durante a edição de 2015 Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

5. Alguns destes atletas estrangeiros vem a São Silvestre bem descansados ao contrário dos brasileiros.

6. A história que a presença em grande quantidade de atletas africanos correndo no país elevaria o nível técnico de nossos corredores é uma grande ilusão. A presença deles nas provas menores inibe a renovação, uma vez que os mais jovens ficam cada vez mais longe das premiações e desestimulados ou com base na necessidade, vão procurar um outro tipo de trabalho.

7. Na África correr é algo natural e necessário. Aqui já nem temos mais Educação Física nas escolas do estado, os jovens são cada vez mais sedentários, adeptos aos vídeo games e smartphones. Como podemos ter renovação? Como teremos bons atletas?

Giovani dos Santos durante chegada masculina da 92ª na edição de 2016 Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

Giovani dos Santos durante chegada masculina da 92ª na edição de 2016 Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

8. A CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo) pouco investe em campings de treinamento e intercâmbio nas modalidades de meio fundo e fundo no Brasil, ao contrário do investimento que faz em algumas modalidades de pista. A verba que investe em atletas que vão a grandes competições e obtém performances muito abaixo de suas melhores marcas, poderia ser bem melhor distribuída e contemplar os atletas de corridas de pista, rua e Cross Country.

Nelson Evêncio

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Graduado em Educação Física. Pós-graduado em Treinamento Desportivo, Administração e Marketing Esportivo. Treinador Nível II pela IAAF. Presidente da ATC- Associação dos Treinadores de Corrida de 2009 a 2017.