Os números de Drauzio: 73 anos, mais de 20 provas de 42km e 0 suplementação

Christina Volpe | Corridas de Rua · 27 mar, 2017

Diretamente das margens do Mar Morto, o Webrun conversou com o médico, apresentador e corredor Drauzio Varella que um dia antes havia participado da Maratona de Jerusalém, correndo seus primeiros 21km em uma prova oficial. Recém operado de um neuroma, que o obrigou a parar por alguns meses em 2016, Drauzio estava feliz em voltar para as pistas sem dores.

Está foi a primeira meia que faço em um evento oficial e achei bem mais fácil. A prova foi linda já que entra na cidade velha de Jerusalém, passando por lugares históricos. O clima e as sensações são incríveis, principalmente ao ver as grandes muralhas do local, foi aí que percebi que não estava correndo em um lugar qualquer, conta o médico. Nunca tinha visto tantos judeus com kipás correndo ao mesmo tempo. A cidade tem uma força incrível no imaginário humano, tudo é muito especial ali.

Entre o amor pela corrida e a disciplina necessária para enfrentar uma maratona, o corredor bateu um papo sincero e apaixonante sobre corrida. Confira as opiniões de Drauzio em diversos temas.

Disputa pessoal

Corri minha primeira maratona aos 50 anos. Escolhi lançar uma disputa comigo mesmo, já que nessa idade percebemos que não somos mais crianças. Assim, comemorei escolhendo os 42km, afinal para correr uma maratona é preciso se preparar e isso me trouxe disciplina.

Quando coloco uma meta me esforço para cumpri-la e se não faço acabo me sentindo mal, é assim que organizo minha rotina para participar de uma prova longa. Acordo às 5h da manhã e saio para treinar, que é a parte mais calma do meu dia. Ter disciplina para fazer isso é complicado, por isso estamos cada vez mais sedentários, isso não é algo fácil. Correr distâncias longas me obriga a treinar por meses consecutivos, afinal maratona você não improvisa.

Os números de Drauzio: 73 anos, mais de 20 provas de /42km e 0 suplementação

Os números de Drauzio: 73 anos, mais de 20 provas de 4km e nada de suplementação Foto: Christina Volpe/Webrun

Inspiração

Busco me inspirar em pessoas que vivam na mesma situação que eu, sendo assim corredores acima de 73 anos e, pessoalmente, não conheço nenhum. Ao olhar meus colegas de profissão com problemas de saúde, vejo o quanto o esporte me ajudou. Existem alguns senhores tomando de três a quatro remédios por dia, obesos, com diabetes e tendo que picar o dedo toda manhã. Sei que é melhor ficar velho do que morrer, mas envelhecer desta forma não é algo obrigatório.

Hoje consigo acompanhar os mais jovens e tenho aquela sensação boa, de que ainda há muita coisa a se realizar. Enquanto você está vivo é tempo de fazer o que gosta e ir atrás de seus sonhos. Dá trabalho, mas é só correr atrás.

Preparação para as maratonas

Nunca tive uma dieta especial e tudo que li a respeito, o que foi pouco, não me convenceu sobre a importância de ter uma alimentação diferenciada. Existe um interesse comercial muito grande em tudo isso, afinal em uma maratona correm cerca de 40 mil pessoas, fora as que não conseguem se inscrever.

Na maratona de Tóquio do ano passado, se inscreveram cerca de 200 mil pessoas, imagine o interesse do mercado de tênis, roupas, complexos nutricionais entre outros? É uma fábula de dinheiro sem nenhuma evidência. Nunca fiz musculação, nem tomei nada, assim já se passaram anos de corrida. Deveria malhar pelo menos os braços, que são muito finos, mas isso é sacrifício para mim.

Treino no mínimo de três a quatro vezes por semana, uma média de 10 a 20 quilômetros. O dia que tenho pouco tempo corro cerca de 10km e aumento conforme minha disponibilidade, mas sempre na parte da manhã, deixando a sexta-feira para a distância mais longa. Gosto de ir para a rua e só vou ao Ibirapuera quando tenho treinos longos, já que o trânsito no dia a dia para sair de lá e ir até o centro, onde moro, é constante.

O médico chegou a pensar que após a cirurgia não voltaria a correr Foto: Christina Volpe/Webrun

O médico chegou a pensar que após a cirurgia não voltaria a correr Foto: Christina Volpe/Webrun

Prova favorita

Berlim é minha favorita. Você corre por dentro da cidade e estar lá é algo importante no imaginário da minha geração, principalmente pela questão da Segunda Guerra Mundial, da divisão da cidade. Berlim esteve nos noticiários por muito tempo, com as histórias do muro e das pessoas que foram metralhadas ao tentar atravessá-lo, isso me marcou.

Conheci a cidade na época do comunismo e voltar lá para participar da maratona foi uma experiência incrível. O local está um máximo, o aspecto cultural é fortíssimo após a queda do muro, já que artistas foram para a parte Oriental que estava desvalorizada. Com o surgimento dos estúdios e bares o local foi revitalizado, tornando Berlim uma cidade pulsante que vale a pena visitar.

Com todos esses aspectos e o percurso entremeando a cidade, ela se tornou minha favorita. Em seguida vem Tóquio por também ter um percurso dentro da cidade e logo depois Nova York, que foi a que mais participei, cerca de 6 ou 7 vezes.

Presente e futuro

Voltar a correr após uma cirurgia, além do privilégio de ser em um lugar especial como Jerusalém, me deixou ainda mais empolgado. Cheguei a pensar que não poderia mais praticar o esporte. Este ano devo participar de duas maratonas: a de São Paulo, que por incrível que pareça nunca corri e Nova York, que já há algum tempo não participo.

Além disso, este ano sai o último volume da trilogia dos meus livros sobre presídios. Trabalho como voluntário na Penitenciária Feminina de São Paulo e, inspirado nessa experiência, escrevi o volume Presidiárias, que vem na sequência de Estação Carandiru (1999) e Carcereiros (2002). Tenho dedicado boa parte do meu tempo a isso, buscando dados e diversas informações. Acredito que esse será o melhor dos três.

Christina Volpe

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Comecei como corredora, depois me tornei jornalista e repórter do Webrun. Hoje sou editora e convivo diariamente com o esporte há 3 anos. Meu coração bate mais forte toda vez que um atleta conquista seu objetivo, uma corrida acontece e assisto uma competição emocionante. Sempre estou aprendendo e dando meu melhor.

 
 

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