Pedalar, um dever do Estado um direito do cidadão

Redação Webrun | Caminhada · 04 jul, 2005

Nessa semana estava pensando no tema do meu artigo quando li a noticia de que a prefeitura da USP, apesar de ter acenado com uma possível negociação, reafirmou a proibição de entrada de bicicletas na Cidade Universitária. Então, por mais que eu pensasse em problemas referentes a Psicologia, este se tornou mais urgente e não poderia deixar de compartilhar com os diversos atletas que me lêem a minha indignação.

Pouco tempo atrás os ciclistas, na portaria número um da cidade universitária, bradavam:

– Não à repressão! Não à repressão!

E eu, no meu íntimo, também bradava.

– Por que não a educação? Por que não a educação?

Temos de levar em conta que os ciclistas, representados por alguns poucos, não respeitam as mínimas normas do bom convívio e andam em grupos sim, mas ao admitirmos isso temos de questionar o quanto esse comportamento agressivo e gregário dos ciclistas não é uma reação ao comportamento desrespeitoso de muitos motoristas? Será que os ciclistas não se uniram para se protegerem?

Considerando esses dois lados eu só conseguia ver que a única solução possível, observando as características da Universidade que está dentro desta cidade universitária, seriam medidas educacionais. Mas não, tristemente, a escolha foi feita por medidas repressivas.

A USP tem um dever social e comunitário, ela tem no seu campus faculdades de psicologia, educação, esportes e educação física, investe tempo, dinheiro e pesquisa para afirmar que esporte faz bem para o cidadão, para a educação do povo, para a reabilitação física e psicológica do doente, para melhorar a prática e o desempenho de profissionais do esporte. Ou seja, as unidades da USP dizem em seus rios de tinta que o esporte faz bem para todos. Porém, a atitude da universidade, representada por seu prefeito, é proibir a prática do esporte, o que é demais contraditório em relação a tudo o que a USP produz, e é contraditório com o seu papel social, que é educar o cidadão. E sabemos, pois temos exemplos, que não é reprimindo que se educa. Um amigo me disse sarcasticamente:

– Você não entendeu, em vez do método Piaget a USP escolheu o método Pinochet.

Triste constatação. O que me leva a pensar que o prefeito e todos os representantes da prefeitura não conhecem o termo Educação, não prezam por ela, e não acreditam nos seus efeitos, e em vez de resolverem os problemas internos à cidade universitária com medidas educacionais, que são, sem dúvida, mais dispendiosos, mas também mais condizentes com o papel da USP, optaram por medidas repressivas, que não condizem em nada com o papel a que a USP se propõe.

Fico pensando: tanto tempo gasto, tanta reunião, tanto disse isso disse aquilo em torno dos ciclistas. Parece que este é o maior problema da Cidade Universitária. Acredito que discutir um problema importante como este é uma forma de acobertar outros problemas que a Prefeitura da Cidade Universitária não consegue resolver, como a favela que é sua vizinha e que foi, de certo modo, criada pela própria cidade universitária, as crianças que guardam carro, esmolam, fazem pequenos furtos, o tráfico que entorpece alguns alunos, o desemprego que faz com que alguns continuem morando na favela. Esses são problemas que a USP não quer ver, e nos quais o esporte até poderia ajudar, como acreditam alguns projetos sociais que existem dentro da própria Cidade Universitária, mas a Prefeitura da Cidade Universitária que, repito, não entende nada de Educação, prefere ficar alheia para se preocupar com aqueles que querem pedalar nas suas ruas e alamedas.

A proibição das bicicletas na USP é uma forma vil de mostrar a ignorância e a incompetência da prefeitura do campus.

Este texto foi escrito por: Marcus Teshainer

Redação Webrun

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