Olimpíadas: Brasil carece de políticas públicas para o esporte

Redação Webrun | Atletismo · 24 ago, 2012

As medalhas no salto em distância ficaram perto dos sete metros (foto: Logoc/london2012.com)
As medalhas no salto em distância ficaram perto dos sete metros (foto: Logoc/london2012.com)

Muito se falou do grande investimento que o Brasil aplicou no esporte desde as Olimpíadas de Pequim: segundo o governo federal, cerca de R$2 bilhões foram empregados no ciclo olímpico de Londres-2012. No entanto, o resultado dos atletas não surpreendeu. Embora o Brasil tenha levado 17 medalhas em Londres (três de ouro, cinco de prata e nove de bronze), e superado o número de pódios (15 em Pequim-2008 e Atlanta-95), o País figurou na 22ª posição no quadro de medalhas, uma acima dos últimos Jogos.

Ainda assim, os resultados não foram bons para o Atletismo: o país teve um desempenho geral fraco na modalidade. Se a delegação brasileira voltou com um ouro de Pequim (vitória de Maurren Maggi, no salto em distância), na “Terra da Rainha” nenhuma medalha foi conquistada. Mesmo assim, alguns atletas conseguiram superar suas marcas e alcançar resultados individuais bastante relevantes.

As chances no Atletismo – Na categoria, o Brasil chegou a três finais olímpicas: no salto em distância, com Mauro Vinicius “Duda”; arremesso de peso, com Geisa Coutinho, que fez seu recorde pessoal com 19m02cm; e no Revezamento 4x100m feminino, com a equipe de Rosângela Santos, Ana Cláudia Lemos, Franciela Krasucki e Evelyn dos Santos, que foi recorde sul-americano na semifinal e fechou a decisão em sétimo lugar.

Além do Revezamento, o País contava com mais três atletas com chances reais de medalha: Maurren Maggi, no salto em distância, Fabiana Murer, no salto com vara, e Marílson Gomes dos Santos, na maratona.

Falta de incentivo? – A opinião é geral: para que o esporte tenha melhores resultados, é urgente o desenvolvimento de uma política esportiva no Brasil que vise rendimentos a longo prazo.

“Tem que se criar uma política de detecção de talentos, e isso envolve iniciativa educacional para todos os esportes. Por exemplo, os países que tiveram bons resultados no atletismo nos Jogos Olímpicos criaram uma política de esporte educacional”, expõe o técnico e comentarista esportivo da TV Globo, Lauter Nogueira. Segundo ele, encontrar esses talentos e desenvolvê-los em atletas olímpicos é um trabalho duro, que envolve diversas esferas da sociedade.

“Não dá para criar um talento em quatro anos [para os Jogos no Rio de Janeiro em 2016]. Nesse caso, teria que amadurecer esses atletas e mudar a estrutura do esporte brasileiro”, enfatiza Lauter, para quem a visão a longo prazo é mais essencial do que pensar em imediato em 2016.

O treinador chefe da CBAt, Ricardo D’Ângelo, concorda e expõe o desenvolvimento do esporte atrelado a diferentes esferas de governos para a implantação de políticas públicas interdisciplinares.

“Um bom plano de desenvolvimento desportivo, com objetivos claros de se adotar a prática do esporte como fundamental instrumento de formação integral do cidadão, passa por reformas estruturais, sistêmicas e processuais, envolvendo as pastas da educação, da saúde e do esporte”, explica.

Leia nas próximas páginas um balanço geral das modalidades que mais tiveram chances de medalha

Depois do ouro inesperado nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, muitos apostavam suas fichas no bom desempenho de Maurren Maggi este ano, mas ela ficou de fora da final por três centímetros. E mesmo que tivesse passado, a atleta dificilmente atingiria a marca dos sete metros, por onde ficaram as medalhas da modalidade. Uma lesão que a atleta sofreu no quadril a privou de sessões importantes de trabalho e a fez ficar afastada de algumas competições no período que antecedeu as Olimpíadas.

Já Mauro Vinicius “Duda” chegou realmente perto de sonhar com a medalha olímpica: apesar de o jovem atleta ter terminado a competição na sexta colocação, ele promete dar trabalho nos próximos Jogos, em 2016. Para o treinador e comentarista esportivo da TV Globo, Lauter Nogueira, Mauro tem grandes chances de conquistar medalhas nos próximos anos se desenvolver e amadurecer seu talento no esporte.

A grande polêmica nos Jogos foi a decisão de Fabiana Murer de não realizar o seu salto na disputa, alegando que o vento estaria forte demais e que correria o risco de se machucar.

E se a atitude da atleta gerou o descontentamento dos torcedores, há quem concorde com sua desistência: segundo o treinador chefe da CBAt, Ricardo D’Ângelo, fatores externos como o vento devem ser considerados nas diferentes circunstâncias. “Se o vento está a favor, o atleta será beneficiado, mas se está contra ou lateral, ou até mesmo rodando, o salto será muito prejudicado ou pode até não ser executado, como ocorreu com a Fabiana”, explica.

Por outro lado, alguns defendem que a desistência partiu da insegurança da atleta, que tinha treinamento e conhecimento de como lidar com a situação. Para o comentarista Lauter Nogueira, é natural os atletas saltarem em dias em que o vento está mais forte. “Os atletas sabem o que fazer nessas situações. A Fabiana é a melhor do mundo, mas ela não soube o que fazer ali e achou que o dia não estava bom para ousar”, afirma.

Além disso, Lauter ressalta a postura errada da mídia em relação a Fabiana. “Não dá para criticar um atleta que está numa Olimpíada”.

A prova feminina de 4x100m foi boa para as brasileiras, que conseguiram chegar à final da disputa. Mas parece que depois de fechar a competição em sétimo lugar e com o recorde sul-americano da semifinal (42s55), as atletas se desentenderam.

“O desempenho alcançado naquela rodada não foi o desejado por elas. É natural, o perfil emocional do atleta vencedor não aceita erros”, considera D’Ângelo.

E Lauter complementa: “Elas são atletas de alto nível, mas também de temperamento forte, principalmente a Ana Cláudia e a Rosângela”. Mas o comentarista enfatiza uma certa falta do “espírito olímpico” na prova: “Uma empurrou a culpa para a outra e isso não existe, a culpa é coletiva”, acredita.

O revezamento 4x400m feminino não passou para as finais ao terminar a bateria em sétimo lugar, com o tempo de 3mim32seg95, penúltima posição entre as 16 nações da classificatória.

Entre os homens, reinou a esperança de medalha nos 4x100m, depois de ter vencido os Jogos Pan-Americanos em Guadalajara, em 2011.

Em 2012, o grupo de Bruno Lins, Nilson André, Sandro Viana e Aldemir Silva conquistou a sua melhor marca do ano (38seg35), mas não foi suficiente para passar da etapa eliminatória, ficando na décima colocação.
O melhor desempenho da história do Brasil na modalidade foi uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. A marca de 37seg90 é a sétima melhor por países na história.

Todo mundo se lembra do fatídico dia em que um ex-sacerdote irlandês cruzou o caminho de um brasileiro. Vanderlei Cordeiro de Lima liderou a Maratona Olímpica de Atenas, em 2004, até o quilômetro 36, quando foi atacado pelo fanático religioso Cornelius Horan. Mesmo abalado, o maratonista seguiu firme e terminou a prova com a medalha de bronze (e uma Medalha Pierre de Coubertin, mais alta distinção Olímpica, por não ter desistido da competição mesmo nas condições adversas).

E esta foi a única conquista brasileira na prova mais tradicional dos Jogos Olímpicos.

Em 2008, na Maratona de Pequim, Marílson Gomes e Franck Caldeira abandonaram a prova. Os mesmos dois atletas, no entanto, tiveram desempenho notável na disputa na capital britânica, juntamente com Paulo de Almeida Paula, estreante nos Jogos.

No geral, a Maratona Olímpica de Londres foi uma prova de ritmo mais lento, e o calor que fazia na cidade não ajudou muito os atletas. Franck tentou disparar nos primeiros quilômetros e manteve por pouco tempo a liderança, mas fechou a prova em 13º. Já Marílson seguiu firme no seu ritmo e concluiu a disputa em quinto lugar. Paulo de Almeida Paula surpreendeu e terminou os 42 quilômetros na oitava colocação.

“Se houvesse classificação por equipes, teríamos sido a primeira colocada”, comenta o treinador Nelson Evêncio. “No grupo, o resultado foi simplesmente sensacional”, concorda Lauter.

Para Ricardo D’Ângelo, a resposta positiva do público em relação aos três maratonistas deve-se ao número crescente de adeptos das corridas de rua no Brasil, que vem criando uma nova cultura do esporte.

“Foi uma participação histórica da equipe brasileira na maratona. O reconhecimento positivo da população pelo desempenho dos brasileiro, mesmo sem medalhas, é reflexo de uma ‘cultura desportiva’ adquirida, ainda que tímida, por conta do fenômeno sócio-desportivo-cultural que é a corrida de rua”, afirma o técnico da CBAt.

entre as mulheres, a delegação brasileira enviou apenas uma atleta, a maratonista Adriana Aparecida da Silva. Ela não conseguiu melhorar sua marca, mas fez 2h33min15, e ficou na 47ª colocação.

Mesmo com índice A da Iaaf (2h37), Marily dos Santos e Cruz Nonata ficaram de fora da competição por não atingirem o índice imposto pela Confederação Brasileira de Atletismo (de 2h30min07).
Na ocasião que definiu as atletas, o treinador e membro do Conselho Técnico da CBAt, Henrique Viana, comentou a rigidez para a maratona feminina: “O critério que se faz é em relação ao desempenho global, não brasileiro. Está forte para elas ou elas que estão correndo pouco em relação à elite mundial?”.

Este texto foi escrito por: Fabiana Coletta

Redação Webrun

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