“De longe, a NWVT foi a melhor prova da minha vida. Em meados de 2010 comecei a correr e desde então meu amor pela corrida só tem aumentado. Me descobri amante de longas distâncias pelo simples motivo de estar em contato comigo mesma e ainda assim ter o desafio do controle sobre o corpo, cabeça e coração.
Há pouco menos de um ano, assumi publicamente meu amor pela corrida sendo Pacer do NRC SP, fazer parte de um clube de corrida incentivando pessoas a treinarem e se desafiarem, é sem dúvida uma das coisas que eu mais gosto de fazer atualmente.
Em janeiro deste ano, soubemos que a Nike faria uma corrida especialmente para mulheres e que nós, pacers, teríamos um papel importantíssimo já que faríamos parte de todo o contexto da jornada destas mulheres.
Sabíamos que além de desempenharmos o papel que tanto amamos, teríamos o desafio de acompanhar e fazer com que cada uma delas rompesse a barreira que muitas temiam: os 21 quilômetros. Toda a jornada foi transformadora, pois junto com elas, também pude provar o quanto sou forte e quanto a corrida me transforma.
O grande dia
Cheguei cedo ao Sambódromo, pois assim como todos os outros pacers tivemos que alinhar detalhes técnicos e nos prepararmos. Entenda cedo, como muito cedo, 5h da manhã. Por volta das 6h o dia já estava clareando e com isso, o Astro Rei – também conhecido com Sol – já dava o ar da graça. As 7h o termômetro batia 26º. Como todos já haviam percebido no dia anterior, o dia seria com muito sol e calor, mas sinceramente eu não imaginava que seria tanto.
As corredoras começaram a chegar, e nosso papel ali além de correr era fazer com que cada uma delas, tivesse a melhor experiência em uma corrida. Era fazer com que os 21 quilômetros de fossem inesquecíveis.
Auxiliei no que pude com informações sobre os pontos de hidratação, carbo gel, dicas de corrida e fazendo o possível para que toda a minha experiência com a corrida servisse, nem que fosse o mínimo, como base para elas. Tudo isso foi muito fácil, difícil mesmo era segurar a emoção e o nervosismo das corredoras e claro, O MEU!
Minutos antes da largada que foi as 8h14, fizemos aquecimento e nos posicionamos, cada um no seu ritmo. Eu e outra Pacer do Rio, ficamos responsáveis de levar e incentivar as corredoras que seguiriam no ritmo de 6min40. Aquecimento feito houve um breve discurso das Coachs que também participaram da jornada e em seguida o silêncio tomou conta do Sambódromo. Um som de batidas de coração começou a sair da caixa de som, como se fosse alinhado com a batida de cada uma das 1000 mulheres que estavam ali, e soou a buzina da largada.
Naquele momento, tive um mix de sensações, quis chorar, gritar de alegria e meu coração estava quase pulando pela boca. Comecei a correr com algumas meninas que frequentam o clube aqui em São Paulo, a ideia era de completarmos a prova juntas, mas como todo corredor sabe, nem sempre as provas seguem conforme o planejado e assim foi a Victory Tour.
Tenho como distância favorita os 21 quilômetros porque sei me programar e fracionar a prova com água, gel, ritmo, tudo conforme o meu planejado. Contudo, esta não era a minha prova e sim a prova delas, então tive a missão de exercitar ainda mais a empatia e pensar em cada uma das meninas como se fosse eu mesma. Levei gel, bala de goma, paçoca e sal para mim e para quem mais pudesse ajudar.
Pouco depois da largada da prova, o termômetro batia próximo a casa dos 30º graus e a sensação térmica era do deserto do Saara. Aquele calor que só o Rio de Janeiro sabe proporcionar, potencializado ao cubo e a brisa que talvez pudesse nos salvar deve ter tirado folga. Se eu já estava com dificuldade de controlar o calor, imagine então para quem estava debutando.
Seguimos em frente e os pontos de hidratação eram bem colocados e não muito distantes um do outro, porém, com todo aquele calor um único copo de água não era suficiente para dar conta então combinamos de sempre pegarmos dois copos: um para beber e outro para nos refrescarmos. Com o passar da prova, o calor aumentava descomunalmente e os dois copos não eram mais suficientes e então começou a parte mais cooperativa da prova: a de apoiar umas as outras.
Fernanda Keller também foi uma das Pacers que recebeu atleta por atleta Foto: Divulgação
Ali não existia uma corredora, uma pacer, uma Suellen ou outra pessoas. Ali começava a história do coletivo, do grupo, começava a nossa história.
Durante todo o percurso pudemos compartilhar lembranças, dividir água, bala, géis, esponjas, palavras e acima de tudo, incentivos. Vi diversas mulheres se superarem, quebrarem barreiras, paradigmas, quebrarem pré-conceitos e recordes. Mas infelizmente também vi algumas quebrarem por causa do calor e excesso de treino e quando notei isso, sofri.
Segui com muito sofrimento até os 21 quilômetros e sinceramente, esses foram os quilômetros mais difíceis que já fiz. Correr em um lugar desconhecido, com aquele calor todo não lembrava nada do que eu já tinha passado na vida. Cruzei a linha de chegada quase morrendo, mas feliz de ter concluído.
Ao ver toda aquela festa, todas as mulheres concluindo a prova, concretizando sonho, colocando em prática meses de preparação renovou minhas energias completamente. Alguns pacers que já tinham chegado estavam recepcionando as corredoras e eu fui fazer o mesmo.
Nunca na vida, tive uma experiência tão gratificante, e tão recompensadora. Ver cada uma delas completando a prova, chorando, fazendo uma força descomunal para cruzar a linha de chegada foi incrível. Segurar na mão delas, correr ao lado, abraçar, compartilhar toda aquela emoção e ser cúmplice daquele momento foi melhor do que qualquer troféu ou medalha que eu poderia ganhar. Renasci a cada chegada. Sorri a cada passada. Quis explodir de felicidade por todas elas e claro por mim também.
Muita gente não sabe, mas eu também tive minha superação nessa corrida. Há um ano eu estava lesionada e sem poder correr. E estes eram meus primeiros 21 quilômetros depois de toda essa saga. Concluir a prova bem, “tranquila”, sem dores era algo que eu sonhava há muito tempo.
A Nike Women Victory Tour não foi apenas uma corrida, não foi mais uma vez essa distância, não foi um troféu ou uma medalha, ela foi a prova de que podemos ser melhores sempre, que temos controle do que fazemos, que podemos ser melhores para nós e paras os outros, que sempre vamos realizar nossos sonhos e que sonho, que se sonha junto e que realiza junto vale mais do que qualquer coisa nessa vida”.
Pacer Suellen Campana