Recorrente e fenômeno de mídia globalizada, as mortes de jovens aparentemente saudáveis durante atividades esportivas profissionais ou mesmo amadoras de lazer são um triste paradoxo. A pergunta por que aconteceu? se estende a eventos científicos diversos, onde tenta-se explicar o surpreendente episódio. Detalhada metanálise foi publicada pelo Comitê Olímpico Internacional, com sede em Lausanne, Suíça, e seus dados indicaram que de 1966 a 2004 foram relatadas 1.101 mortes súbitas de jovens atletas com menos de 35 anos, numa média de 29 por ano. Essas mortes relatadas foram mais freqüentes no futebol e basquete.
A incidência de cardiopatias benignas ou de potencial maligno, catalogados em mais de 30 anos de avaliações de atletas de variadas modalidades esportivas, desde adolescentes a veteranos idosos no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, nos mostra um retrato que poderia explicar os eventos fatais no esporte. As anormalidades encontradas nas crianças e adolescentes variaram de 17,7% a 21 %, e em atletas em atividade, amadores e profissionais até 35 anos foi de 8,2 % . Seguramente, a avaliação médica de pré-participação deve ser obrigatória, sendo um competente marcador de risco dos possíveis problemas cardiovasculares na prática físico/ esportiva. Entretanto, esse exame não é um certificado de segurança total e a decisão do afastamento de atletas, seja temporária ou definitiva, tem que ser colegiada.
Adicionalmente, as situações que podemos chamar de confusões ou exageros ético-científicos, como as adaptações fisiológicas extremas consideradas em princípio cardiopatias, levam a traumas psicológicos e sociais de penosa reversão, ou o fato inverso de cardiopatias confundidas com adaptações. A conduta deve ser individualizada e não devemos poupar exames, enquanto não tivermos certeza do diagnóstico.
Discussões e polêmicas a respeito de liberação ou não para a prática de esporte profissional não irão deixar de existir. A proteção do paciente-atleta e respeito ao profissional médico são os pilares dessa área de trabalho, como em qualquer outra área da medicina. Por isso toda e qualquer decisão polêmica deve ter o respaldo de uma junta médica experiente.
A avaliação clínica detalhada e rotineira de pré-participação para atletas é a única maneira de minimizar o risco da morte súbita, que continuará a ocorrer sem dúvida, entretanto, em muito menor quantidade. Como pela fisiopatologia e epidemiologia, a morte súbita no esporte tem na cardiopatia a sua principal causa (90%) e seu evento mais freqüente (85%) a fibrilação ventricular, é obrigatório termos equipes treinadas no suporte básico da vida, além de desfibriladores semi-automáticos em TODOS os eventos esportivos. Estas são as condições imprescindíveis e mínimas para permitir um gerenciamento ético do risco da morte súbita em atletas.
Este texto foi escrito por: MD PhD. Nabil Ghorayeb