“O conceito de estratégia… em grego, estrategia… em latim, estrategie… em francês, stratégie”, Tropa de Elite.
No trail, a cultura (muitas vezes) é de superar limites, correr longas distâncias, percorrer terrenos inóspitos…
Mas, veja essa história:
“Despertador tocou, você levanta, Sua armadura já está organizada, pronta para ser vestida e utilizada na batalha…
Você se desloca para o local de batalha imaginando qual vai ser a melhor estratégia, vai comentando e vendo com outros soldados como fazer para ultrapassar todos os obstáculos.
Você chega, o coração bate um pouco mais forte, mas você respira e mantém a calma. Cumprimenta amigos, conhecidos e, até desconhecidos…afinal, estão todos prestes a entrar no mesmo barco.
Você ouve o chamado, a música aumenta, o coração acelera… Você respira fundo, mas, desta vez, não há tanta calma assim. A adrenalina toma conta, os batimentos cardíacos parecem o Olodum batucando dentro de você, gritos de guerra são falados e o som da corneta dá o aviso: it’s time.
Nesta hora você fica igual um cachorro quando abre a porta do pátio, sai correndo enlouquecido. Você fica ofegante, tenta equilibrar o ritmo, mas a manada vai te levando e você não consegue mais suportar aquele ritmo… até que, inesperadamente não consegue mais ir para frente, o estômago está embrulhado, enjoado… As pernas travam, as câimbras estão cada vez mais intensas…Desta vez, você não vai continuar, terá que abandonar esta batalha.”
Essa é uma história fictícia…Você já passou por isso?
Na verdade, acontece com muitos de nós corredores. No trail então, nem se fala. Tenho visto muitas pessoas “quebrando” nas provas e quebrando feio. Algumas colocando sua vida em risco.
A corrida, talvez seja um dos esportes menos agressivos para o corpo, porém tudo depende da intensidade e/ou distância que você dá para este estimulo.
Quebrar em prova não é fato incomum, o grande problema é COMO foi essa quebra. Saber os motivos que o levaram ao seu abandono ou sofrimento para chegar em determinada linha de chegada é fundamental.
As grandes perguntas que devem ser feitas são:
Você se conhece? Sabe seus limites?
Sempre que posso, bato na tecla do autoconhecimento. Você precisa se conhecer, precisa entender e aceitar os seus limites.
Tenho visto muitos corredores com grande potencial, se perdendo por não se conhecer, por não bolar uma estratégia de prova, ou de alimentação/hidratação eficiente. Na corrida de rua esses itens já são importantes, mas no trail é FUNDAMENTAL.
No trail, as provas têm subidas e descidas que podem ser em trilhas técnicas, abertas ou fechadas, em estradão com barro ou sem. As possibilidades são infinitas e cada prova é diferente.
Observando isso você precisa ver qual melhor tipo de tênis vai ser mais adequado, qual estratégia nas subidas e descidas, se vai levar bastão ou não… São tantas variáveis que, se você não se prepara a chance de dar problema é grande.
Olhar a altimetria da prova, verificar o terreno, saber os possíveis pontos de hidratação, estimar um tempo de prova não são detalhes, são o BÁSICO que você precisa para estar alinhado.
Depois disso, você vai ver quanto de água precisa levar, o que vai comer (se for prova, comer somente o que já treinou), se vai levar bastões (caso use e/ou precise) entre outras várias variáveis.
Planejamento e estratégia não são coisas fixas, pode ser mudado de acordo com o que a prova vai apresentando para você, o que quero dizer é que fica muito mais fácil tomar uma decisão se você já tem várias informações na mão.
Porém, ao invés disso vejo as pessoas “desmerecendo” algumas provas, indo correr sem estar preparadas e colocando a vida em risco.
Poucos corredores realizam um bom check up ou têm a orientação de um treinador e, a maioria acha que “é só botar os tênis e correr”.
Acontece, que em algumas provas, o resgate é muito difícil, tirar uma pessoa desmaiada do meio do mato não é tarefa simples. E, se isso ocorrer, é culpa do organizador? Ou negligencia com a própria saúde por parte do corredor?
Esses dias recebi umas noticias de morte em eventos de corrida, além de relatos de pessoas passando extremamente mal durante algumas provas e tendo que ser atendidas pelos médicos, outras retiradas da prova direto para os hospitais.
Cada caso é um caso, contudo, acho que até ocorrem poucos incidentes comparado ao nível de negligência que é praticado pelos corredores. Vejo alguns amigos saindo para competir provas de 25/30 km com uma garrafinha de 200 ml, embaixo de um sol de 30 graus sobre o argumento de que a mochila “vai pesar”; convenhamos, 500 g a mais ou a menos não vai fazer diferença na performance de um corredor comum.
É comum vermos na largada de uma prova, corredores que imprimem um ritmo surreal, um ritmo que está visivelmente acima do que ele pode sustentar, normalmente, nesses casos há uma “quebra” na prova e depois vem a publicação com “textão” de superação…
“Superação” Tenho um sentimento dicotômico sobre esta palavra, por um lado acho sensacional expandir o limite, por outro, vejo que só há superação se você não fez um bom planejamento.
Não sou dono da verdade, não sou perfeito, erro, errei e errarei muitas vezes. Porém, o que faço é sempre parar após a prova e verificar o que acho que pode ser melhorado.
Por experiência própria, depois que comecei a planejar as minhas provas, minha performance melhorou. Como já disse, sou péssimo corredor, preciso pensar e ser muito mais estratégico do que outros corredores que são melhores do que eu. Imagina, VOCÊ que corre bem, se caprichasse um pouquinho mais na leitura pré prova, o quanto você melhoraria?
Se observe, teste coisas novas, aumente seu limite, vá se conhecendo, entenda como funciona seu corpo nas mais diversas situações… Mas, EM TREINO.
Durante a prova, tente executar aquilo que você planejou, não se preocupe com o corredor do lado, corra para você, não para os outros!
E você, qual sua experiência em planejar(ou não) uma prova?
Já quebrou feio por não se planejar? Conte para nós como foi.
Conhece um amigo que é “campeão de treino” e sempre quebra nas provas? Compartilhe com ele esse texto.