Dieta melhora performance? Ciência e depoimento pessoal do treinador Cristiano Fetter

Corredor fala de suas experiências e como buscar um tipo de alimentação teve impacto sobre sua performance

Cristiano Fetter | Alimentação · 23 fev, 2018

Hoje vou falar de um tema polêmico no meio da corrida. Em ultramaratonas então, nem se fala. Dieta melhora performance?

Você já ouviu falar da dieta low carb?

Tenho certeza que sim. E, talvez, você já tenha feito ou, no mínimo, conhece alguém que tem utilizado essa estratégia de alimentação. Ela tem sido muito difundida em vários meios de comunicação e, principalmente nas redes sociais.

Mas, será que esta estratégia alimentar (não gosto da palavra dieta por que parece que você está sofrendo ao comer) é válida para quem corre? Há algum ganho de desempenho?

Não tenho vergonha nenhuma em falar que sou um péssimo corredor, minha genética não acompanha minha vontade. Apesar disso, gosto de estudar, leio muito e vou atrás das mais variadas informações, porém a evolução humana me fascina.

Para os apaixonados por carboidratos não os consumir na rotina é algo muito difícil Foto: Jenifoto/Fotolia

Para os apaixonados por carboidratos não os consumir na rotina é algo muito difícil Foto: Jenifoto/Fotolia

Sou muito curioso, tento melhorar a minha performance sempre que possível. Como gosto de correr provas de longa distância, tenho sempre a ideia de que preciso tornar minha “mísera” preparação o mais eficiente possível. Estudo todas as possíveis formas de deixar o meu corpo gastar o mínimo de energia possível. Pesquiso sobre o peso das mochilas que levo nas provas, o tipo de calçado, as roupas que visto, os tipos de exercícios mais eficientes para as minhas deficiências, o estudo das provas e a estratégia para cada uma delas, os equipamentos mais adequados, entre outras milhões de coisas que procuro me aprofundar para conseguir me equiparar a quem tem uma preparação melhor do que a minha. Em resumo, já que não tenho o melhor preparo físico, devo ter a preparação mais inteligente.

Obviamente, a alimentação é fundamental em todo este processo. Sempre me soou estranho preparar o corpo para uma prova de 10/15/20 horas de duração e, ter que comer no meu dia a dia de 3 em 3 horas… Então, a uns 4 anos venho estudando a dieta low carb. Fiz o teste em alguns momentos da minha vida e, sempre que realizei com seriedade, a performance melhorou, fiquei mais leve, menos dependente de alimentação, com sono e recuperação muscular melhores.

Pesquisar e saber informações que podem fazer a diferença em uma prova é um dos quesitos pare ser um bom corredor Foto: AYAImages/Fotolia

Pesquisar e saber informações que podem fazer a diferença em uma prova é um dos quesitos pare ser um bom corredor Foto: AYAImages/Fotolia

Se essa estratégia alimentar é tão boa, por que não faço isso até hoje (sem parar/interromper)? Baita pergunta. Mas a grande verdade é que sou carboidrato dependente, gosto absurdamente de xis, cachorro quente, pizza, torrada, cerveja, lasanha etc… E, não gosto de cozinhar. Ai já viu?! Alimentação, sobretudo é organização.

Mas não estou aqui para falar da minha experiência pessoal, poderia citar vários amigos que correm ultramaratonas utilizando essa estratégia. Poderia citar Thimothy Olson, grande ultramaratonista que também utiliza essa estratégia alimentar.

Porém, o que me motivou a escrever sobre isso, foi que em uma das minhas leituras, acabei encontrando um artigo publicado pela Medicine & Science in Sports & Exercise, que testou a dieta low carb em corredores amadores. É um estudo bem recente, do final do ano passado.

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Em resumo, o estudo mostrou que os atletas aumentaram a oxidação de gorduras, diminuíram a oxidação de carboidrato (efeito extremamente benéfico para quem corre longas distâncias, afinal a gordura é uma fonte energética praticamente inesgotável).

Além disso, perderam em média 3Kg, tiveram diminuição no percentual de gordura e uma leve tendência a melhorar sua performance. E o mais surpreendente, em apenas três semanas.

Quem já experimentou essa estratégia alimentar pode dizer, com propriedade, que você começa a notar os efeitos benéficos após a segunda ou terceira semana.

Até ai tudo ótimo, porém a conclusão do estudo é oposta ao que os próprios dados estão mostrando. Se você ler somente o resumo do artigo, terá certeza de que essa estratégia alimentar é ineficiente (pelo menos nas três semanas desse estudo), mas o que os resultados mostram é o oposto.

Faça seu melhor e vá em busca dos resultados Foto: Deyveone/Fotolia

Faça seu melhor e vá em busca dos resultados Foto: Deyveone/Fotolia

Mas então, por que os autores escrevem uma conclusão que diz o oposto dos dados obtidos?

Ótima pergunta, se alguém souber, por favor, deixe nos comentários. Sinceramente, do que eu estudei até hoje, me parece uma excelente estratégia alimentar, principalmente a nível de treinamento. De todos que conheço que fazem uso, até hoje, ninguém me reportou perda de desempenho ou qualquer coisa do tipo, muito pelo contrário. Obviamente, após um período de adaptação.

O que parece é que existe uma cultura e uma mídia tão forte de que você PRECISA comer de 3 em 3 horas, ingerir carboidrato antes de fazer exercício, observar quantas calorias está consumindo… etc, etc. Que mesmo obtendo resultados postos, ainda assim, você vai desconfiar.

Quando vi esse artigo, corri para ler. Obviamente li o resumo, me surpreendi com a conclusão e, fui verificar como havia sido realizado na íntegra. Na minha opinião quilo era uma conclusão aleatória, baseada no que não foi observado no estudo, apenas na cultura e mídia vigentes.

De qualquer forma, é mais uma evidência demonstrando algo que já senti na prática. Não quero entrar em discussões intermináveis sobre qual a melhor ou pior estratégia alimentar. Não estou aqui para defender lado algum, estou apenas relatando o que a ciência está demonstrando e, contando a minha experiência pessoal.

Se vai funcionar para você, eu não sei, o ideal é procurar uma boa orientação profissional. E, mais importante ainda, é desconfiar, procure e pesquise por você mesmo, teste, seja curioso…você pode se surpreender.

E, para quem quiser saber um pouco mais sobre esse assunto, vou deixar 3 indicações de livros:

1. O nutricionista clandestino – Danilo Balu
2. Barriga de Trigo – William Davis
3. Por que engordamos e o que fazer para evitar? – Gary Taubes

Conhece alguém que utiliza essa estratégia alimentar em ultramaratonas? Você já utilizou? Deixe seu comentário contando um pouco da sua história.

Fonte do artigo

Cristiano Fetter

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Mestre em Ciências do Movimento Humano - UFRGS Sócio Ultra Funcional Place Founder Raiz Trail