Como a avaliação biocinética pode contribuir com a evolução na corrida?

Marco Demange | Corrida · 17 jun, 2024

Biocinética corrida
Entenda os benefícios da avaliação biocinética para o corredor/ Foto: Adobe Stock

A corrida é um dos esportes mais praticados no mundo, oferecendo diversos benefícios à saúde física e mental. No entanto, sua prática inadequada pode levar a lesões musculoesqueléticas, tornando importante entender os padrões de movimento que aumentam o risco de lesão.

Um estudo recente do nosso grupo de pesquisa demonstrou que 1 a cada 2 corredores terão que interromper sua prática de corrida a cada ano devido a um quadro de dor muscular ou articular (NETO et al., 2023). Esse risco aumenta ainda mais para pessoas com histórico prévio de lesões.

Portanto, a prevenção é o melhor caminho para manter-se sem dor e alcançar melhores desempenhos nos treinamentos. As estratégias rotineiramente recomendadas para prevenção e reabilitação de lesões na corrida envolvem exercícios de fortalecimento muscular e alongamento. Porém, o que podemos ver são programas de exercícios generalistas, sem individualizar a necessidade de cada corredor, gerando resultados limitados.

O exame biocinético tridimensional é uma ferramenta valiosa que possibilita a identificação das principais “falhas” dos movimentos e permite um direcionamento objetivo do que precisa ser treinado para reduzir o risco de lesões e reabilitar mais rápido para retornar à corrida. Visto como um exame para atletas de alto rendimento ou para pessoas que gostariam de ver se sua corrida possuía uma “mecânica correta”, a nova geração de exames biocinéticos possui uma abordagem diferente: identificar a biomecânica de
cada corredor, identificar as sobrecargas individuais e medir a capacidade muscular específica para saber se as demandas impostas estão de acordo com a competência de cada músculo e articulação.

Dessa forma, é possível identificar com precisão se cada indivíduo está preparado – a nível muscular e articular – para o padrão biomecânico individual de corrida.

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Por que Realizar uma Avaliação Biocinética?

Segundo Gustavo Leporace e Dr. Leonardo Metsavaht, a avaliação biocinética não tem como objetivo classificar a corrida como “certa” ou “errada”, mas sim identificar padrões individuais que permitam personalizar estratégias de prevenção e reabilitação. Cada corredor possui suas próprias características
biomecânicas, influenciadas por diversos fatores, como idade, nível de experiência, histórico de lesões e estilo de vida. Ao identificar essas particularidades, é possível selecionar exercícios específicos que visem os déficits específicos de cada pessoa, tornando os treinos mais eficientes e otimizando a capacidade musculoesquelética para suportar a demanda física.

Quem Deveria Realizar uma Avaliação Biocinética?

1- Corredores Iniciantes:
Corredores que estão começando a praticar corrida podem beneficiar-se de um exame biocinético para identificar padrões de movimento inadequados e prevenir lesões antes que ocorram, permitindo uma entrada mais segura no esporte.

2- Corredores com Histórico de Lesões
Aqueles que já tiveram lesões relacionadas à corrida, como síndrome do trato iliotibial, fascite plantar, canelite e dor no joelho, podem usar o exame para identificar os déficits que causam sobrecarga e orientar a reabilitação, evitando lesões repetitivas.

3- Indivíduos com Sintomas Musculoesqueléticos
Corredores que sentem dores recorrentes ou desconforto durante, ou após a corrida podem usar o exame biocinético para entender a origem dos sintomas e direcionar um plano de tratamento personalizado.

4- Qualquer Pessoa Interessada em Melhorar a Saúde Musculoesquelética
Mesmo aqueles que não correm regularmente podem encontrar valor no exame para identificar áreas de fraqueza ou sobrecarga e criar um programa de exercícios personalizado que mantenha a saúde musculoesquelética em dia.

Benefícios da Avaliação Biocinética na Prevenção e Reabilitação

  • Identificação de Fatores de Risco
    O exame biocinético 3D identifica alterações biomecânicas, como desequilíbrios musculares e padrões de movimento de sobrecargas articulares, que aumentam o risco de lesões. Isso facilita a criação de programas preventivos personalizados.
  • Melhora da Eficácia dos Exercícios
    Com base nos padrões individuais de movimento, é possível selecionar os exercícios neuromusculares que visem os maiores déficits, tornando os treinos mais eficientes e aumentando a capacidade musculoesquelética para suportar as demandas da corrida.
  • Retreinamento da Mecânica do Movimento (quando necessário)
    Corredores que apresentam padrões de movimento inadequados podem se beneficiar do retreinamento, que visa otimizar a biomecânica da corrida, reduzir as sobrecargas articulares e melhorar o desempenho.
  • Reabilitação Otimizada
    Em caso de lesões, o exame biocinético permite identificar a causa da dor e direcionar a reabilitação para corrigir os déficits que contribuem para a sobrecarga. Isso reduz o risco de recidivas e possibilita um retorno mais rápido e seguro à corrida.
  • Exemplo Prático do uso de um Exame Biocinético
    Considere um corredor com histórico de fascite plantar. Classicamente, o raciocínio é que alterações no tipo de pisada (pisada pronada – com o pé caído para dentro) são as principais causas. Porém, muitas vezes as alterações no pé têm origem no quadril, e as palmilhas e exercícios para o pé não surtirão efeito. Nesses casos, exercícios que corrijam a posição do quadril, ativando os músculos adequados, permitirão uma redução da sobrecarga nos pés. Ou seja, muitas vezes a região que está lesionada ou com dor é apenas vítima de outras regiões. Sem a identificação precisa do que está gerando a dor, a intervenção perde eficiência.

    Conclusão

    O exame biocinético é uma ferramenta poderosa para prevenção e reabilitação de lesões. Ao identificar padrões de movimento específicos e direcionar a escolha dos exercícios neuromusculares, ele otimiza a capacidade musculoesquelética para suportar a demanda física da corrida. Com isso,
    permite-se minimizar os riscos de lesões, acelerar a recuperação e personalizar as intervenções de forma precisa e eficaz.

Marco Demange

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Dr. Marco Demange é ortopedista, professor Associado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com mestrado, doutorado e livre-docência pela FMUSP. Pós-doutorado na Harvard Medical School (Boston – EUA) e no Hospital for Special Surgery - Weil Cornell Medical College (Nova Iorque – EUA). No instagram: @dr.marco.demange