Relato: Mizuno Uphill Marathon a melhor – e a pior – prova da minha vida

Christina Volpe | Competição · 06 set, 2017

A jornalista e corredora Amanda Preto, fez seu relato sobre a 5ª edição da Mizuno Uphill Marathon. Confira!

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“A Mizuno Uphill Marathon era aquele tipo de desafio que sempre quis fazer. Cubro a prova desde a segunda edição e admirava a garra das pessoas que participavam. A cada ano que passava, a vontade só aumentava. Porém, sofri uma reviravolta profissional nos últimos tempos, que me desestabilizou emocionalmente, além de algumas lesões que atrapalharam a assiduidade nos treinos específicos.

Resumindo: pouco me dediquei. Às vésperas de cobrir mais uma Uphill, estava sem nenhuma pretensão de correr. Até que veio um “click” na minha cabeça e mudei de ideia nos 45 minutos do segundo tempo – percebi que precisava viver a experiência para pensar na vida e encarar a serra, seria a forma perfeita de encerrar alguns ciclos.

Pois bem, acordamos cedo para cobrir a largada e o percurso dos 42 km. Aproveitei para prestar muita atenção à expressão dos corredores na largada e durante a prova. Eles queriam estar lá de verdade e sonhavam com este dia. Mal sabem que me encorajaram a ter mais confiança para desbravar os 25 km!

No decorrer do percurso, acompanhamos de carro os corredores que estavam se destacando na prova. Encontrei muita gente querida, que estava lá dando o seu melhor: atletas com dores, cãibras, mas que não paravam por nada. O mais surpreendente dessa edição foi o clima – ao contrário das anteriores, a Uphill de 2017 foi quente, seca e mais árdua por conta do sol a pino, atípico nessa época do ano. Larguei às 16h com as melhores expectativas, ao lado de gente com a mesma vibe.

Tudo ia muito bem até o quilômetro 13 ou 15 (não sei dizer qual, pois decidi correr sem relógio e apenas guiada pelas sinalizações), quando tive uma insolação que me fez passar muito mal: vomitei, tive crises de asma e não consegui recuperar a hidratação. Corri e caminhei até a Serra do Rio do Rastro, que é o trecho mais crítico da prova, onde o ar fica rarefeito por conta da altimetria elevada (e óbvio, por causa da subida que parece não ter fim).

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Já estava quase à noite quando cheguei na Serra. Estava sozinha e desgarrada do grupo que acompanhei praticamente pelo percurso todo. Lá percebi que realmente tinha quebrado e não havia mais nada a ser feito. Tinha duas opções: esperar pela moto de apoio e desistir ou continuar caminhando e cruzar a linha de chegada, mesmo correndo o risco de não superar o tempo de corte dos 25 km (3h30).

Caminhei e tirei forças não sei de onde, pois as pernas não aceitavam mais o meu comando. Nunca tinha passado por essa situação, de quebrar a ponto de o corpo arregar tanto. Respirei fundo e controlei minha cabeça a cada passo.. Evitava olhar para cima, para não ver as luzes que apontavam o longo caminho de subida que ainda faltava.

Minha amiga Chris Volpe (e editora do Webrun) passou por mim com a moto e ficou me animando em um trecho da serra. Foi por ela e pelas pessoas que não aguentavam mais que eu fiquei firme. Quando a moto do staff passou por mim e disse que a prova tinha fechado o tempo de corte, deu muita vontade de chorar.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Veio um sentimento de frustração e fracasso, com pensamentos do tipo “nossa, como é que você não conseguiu? Por que fez isso sabendo que poderia acontecer essa situação?” e por aí vai. Depois me acalmei e vi que mais umas dezenas de pessoas estava na mesma situação que eu: gente treinada, com meia maratona para abaixo de 2h… E percebi que a humanidade mora nas adversidades dos planos.

Somos tão bombardeados com o sucesso dos outros nas redes sociais – o tempo inteiro vemos fotos registrando o melhor tempo, o melhor pace, a melhor corrida. E nos esquecemos de que é difícil expor as fraquezas, de mostrar aquele treino que não deu certo porque você estava cansado ou cheio de problemas em casa.

Por isso que estou compartilhando a minha experiência: mesmo que a Uphill não tenha sido a prova que arrasei, sei que dei meu melhor naquele momento. Meu corpo não estava preparado o bastante, fui meio imprudente em participar. Mas precisava dessa prova por todo o significado para o momento que estou vivendo. Percebendo todas essas coisas boas e o que precisa ser melhorado, parei de me cobrar.

Consegui cruzar a linha de chegada e ganhei minha moeda de participação, com o sentimento de que consegui mostrar a mim mesma que sou mais forte do que pensava.

Então, essa é para você que, assim como eu, já se frustrou (ok, talvez ainda vá se frustrar) com as coisas que saem fora das nossas expectativas. Você já ganhou só de fazer diferente. Você já tem o mérito só por sair da zona de conforto. Espero te ver por aí nas corridas e acenar pela sua vitória!

Christina Volpe

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Comecei como corredora, depois me tornei jornalista e repórter do Webrun. Hoje sou editora e convivo diariamente com o esporte há 3 anos. Meu coração bate mais forte toda vez que um atleta conquista seu objetivo, uma corrida acontece e assisto uma competição emocionante. Sempre estou aprendendo e dando meu melhor.