Semana final de preparação para os 100 km da Indomit Costa Esmeralda. É um momento de descanso e reflexão. Então tentei sintetizar alguns pensamentos: “Nós deveríamos caminhar na natureza para que a mente possa ser alimentada e refrescada pelo ar e pela respiração profunda” – Sêneca.
Correr em meio a natureza, talvez seja uma das atividades mais primitivas do ser humano. É algo que nos conecta aos nossos ancestrais mais distantes. Celular, internet, smart tv, tablet, mais internet, mais conexão… Com o quê?
A máxima de que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto é uma das maiores verdades da humanidade. As telas viraram rotina. Não almoçamos sem a companhia do celular, mal olhamos para o que comemos ou falamos com quem está em nossa frente. Bares, reuniões de família, todos com celular na mão. Posts, likes, compartilhamentos. Só não compartilhamos com que está ali.
Não vou ser hipócrita, gosto demais desse mundo conectado. Poder manter amigos de todas as partes, ter a oportunidade de “visitar” lugares que talvez nunca chegarei, assim como trazer um pouco dos que vou para quem não pode (ou não quer) ir.
“Fui para a mata porque queria viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se não poderia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de, vindo a morrer, descobrir que não tinha vivido.” – Henry David Thoreau.
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Mas por que correr tanto, tantas horas? Isso é coisa de maluco? Penso que sim. Afinal correr ultramaratonas em meio a trilhas, praias e montanhas não é das coisas mais saudáveis a se fazer. Saudável é dar alguns trotes de 10 km. Mas eu quero mais! Explicar o que acontece dentro da nossa mente durante uma jornada tão longa é algo que as palavras não vão conseguir traduzir. Quem corre, sabe o que estou falando. É um misto de amor e ódio, corpo e mente brigando constantemente como em uma grande batalha medieval.
São momentos em que pensamos sobre os problemas no trabalho, as alegrias e tristezas do casamento, sobre tudo (boa parte das grandes decisões da minha vida foram tomadas em uma corrida), e são nessas horas em que as grandes ideias surgem. E, em determinado momento: o flow, nirvana, barato… Como queiram chamar. Um estado de plenitude e união total com a natureza. Você faz parte daquilo. Você não briga “contra” o solo, contra o vento ou com qualquer possível obstáculo que possa encontrar durante sua trilha.
Isso pode ser explicado? Sim. Este estado de “flow” também é conhecido como running high ou barato da corrida. Isso nada mais é do que vários processos fisiológicos atuando ao mesmo tempo. Se pensarmos em nossos ancestrais, eles precisavam caçar e ficar longas horas buscando comida. Portanto, nada mais evolutivo do que desenvolver sistemas que eliminassem a dor, provocassem boas sensações e fizessem você continuar.
Ou seja, o exercício acaba sendo nossa droga. Afinal, ele atua nas mesmas vias fisiológicas que elas, porém de uma forma benéfica. É difícil entender por que as pessoas correm. Na verdade penso muito: por que eu corro? Já tentei tantas vezes entender isso que agora simplesmente deixo fluir. Me faz bem.
Assisti a um filme no Netflix chamado Marathon, que conta a história de um menino autista que começa a correr. Em determinado momento a mãe dele põe a mão em seu coração e diz que ele está palpitando, e isso me deu um grande insight. Eu corro para me sentir parte da criação, quando corro tudo está conectado. Corro porque quero ultrapassar a linha, dar um grito de alívio, encher os pulmões de ar e sentir meu coração palpitando. Estou vivo.