veteranos

Aos 57 anos, campeã da 1ª edição da Corrida da Ponte compete novamente

“Quando falaram que a prova ia voltar pensei que era mentira. Aí telefonei para organização e disse ‘tô dentro’, quero de novo!”. Foi assim que a corredora Vanessa de Figueiredo, 57, campeã da primeira edição da Corrida da Ponte, na década de 80, competiu mais uma vez a prova no domingo (17/04). “Pedi logo para fazerem minha inscrição, pois eu treino para maratona e sabia que não seria tão difícil”, declara.

Vanessa disputou a corrida com o número de peito “1” e afirma que o momento se tornou um dos melhores de sua vida. “Eu senti de novo a emoção de passar em cima da ponte. Senti o vento batendo no meu rosto, além do reconhecimento de quem correu naquela época ou leu reportagens minhas e me parabenizou no meio do percurso”.

Com mais experiência, a atleta também diz que o tempo passou rápido e que muitas coisas mudaram atualmente. “Eu continuo tão competitiva quanto era, mas agora o movimento da corrida no país e o número de corredores aumentaram. Antes não tinha tanta gente correndo como tem hoje”. Ainda de acordo com ela, a prática esportiva melhora bastante a qualidade de vida.

“Quando a gente corre, nos alimentamos melhor, dormimos melhor e adquirimos hábitos mais saudáveis. Outro ponto positivo é que corrida não pede um horário, você faz o seu momento. Você compra um tênis e corre a hora que pode, sem depender de ninguém”, garante a campeã de 25 anos atrás, que terminou o trajeto no domingo em 1h47min36.

Viagem ao passado - A primeira prova realizada na ponte Rio-Niterói atraiu três mil corredores, entre eles estava Claudionor de Mattos, que em 2011 não perdeu a chance de voltar aos velhos tempos mais uma vez. “Quando eu corri era uma maratona, a gente saía de Niterói, ia até o Leblon, fazia a volta e terminava no Leme”, explica o saudosista, aos 76 anos de idade.

Já para Cassio Saraiva, 50, a organização do evento evoluiu bastante. “Hoje está bem melhor do que era, pois os números dos participantes, por exemplo, eram pintados em um pedaço de pano”, diz Saraiva, que considera um sonho repetir a experiência. “Já corri no mundo inteiro, mas correr no Rio, na casa da gente, é indescritível”.

O amigo de Cássio, José Guedes, tinha 19 anos e ainda servia o exército quando participou da edição de estreia. “Dizem que o Rio é bonito visto de Niterói, mas da ponte é ainda melhor”, brinca. A largada da Corrida da Ponte aconteceu em Niterói e a chegada no Aterro do Flamengo, no Rio. O evento teve vitória brasileira nas categorias
masculina e feminina.


Aos 57 anos, campeã da 1ª edição da Corrida da Ponte compete novamente

Corridas de Rua · 19 abr, 2011

“Quando falaram que a prova ia voltar pensei que era mentira. Aí telefonei para organização e disse ‘tô dentro’, quero de novo!”. Foi assim que a corredora Vanessa de Figueiredo, 57, campeã da primeira edição da Corrida da Ponte, na década de 80, competiu mais uma vez a prova no domingo (17/04). “Pedi logo para fazerem minha inscrição, pois eu treino para maratona e sabia que não seria tão difícil”, declara.

Vanessa disputou a corrida com o número de peito “1” e afirma que o momento se tornou um dos melhores de sua vida. “Eu senti de novo a emoção de passar em cima da ponte. Senti o vento batendo no meu rosto, além do reconhecimento de quem correu naquela época ou leu reportagens minhas e me parabenizou no meio do percurso”.

Com mais experiência, a atleta também diz que o tempo passou rápido e que muitas coisas mudaram atualmente. “Eu continuo tão competitiva quanto era, mas agora o movimento da corrida no país e o número de corredores aumentaram. Antes não tinha tanta gente correndo como tem hoje”. Ainda de acordo com ela, a prática esportiva melhora bastante a qualidade de vida.

“Quando a gente corre, nos alimentamos melhor, dormimos melhor e adquirimos hábitos mais saudáveis. Outro ponto positivo é que corrida não pede um horário, você faz o seu momento. Você compra um tênis e corre a hora que pode, sem depender de ninguém”, garante a campeã de 25 anos atrás, que terminou o trajeto no domingo em 1h47min36.

Viagem ao passado - A primeira prova realizada na ponte Rio-Niterói atraiu três mil corredores, entre eles estava Claudionor de Mattos, que em 2011 não perdeu a chance de voltar aos velhos tempos mais uma vez. “Quando eu corri era uma maratona, a gente saía de Niterói, ia até o Leblon, fazia a volta e terminava no Leme”, explica o saudosista, aos 76 anos de idade.

Já para Cassio Saraiva, 50, a organização do evento evoluiu bastante. “Hoje está bem melhor do que era, pois os números dos participantes, por exemplo, eram pintados em um pedaço de pano”, diz Saraiva, que considera um sonho repetir a experiência. “Já corri no mundo inteiro, mas correr no Rio, na casa da gente, é indescritível”.

O amigo de Cássio, José Guedes, tinha 19 anos e ainda servia o exército quando participou da edição de estreia. “Dizem que o Rio é bonito visto de Niterói, mas da ponte é ainda melhor”, brinca. A largada da Corrida da Ponte aconteceu em Niterói e a chegada no Aterro do Flamengo, no Rio. O evento teve vitória brasileira nas categorias masculina e feminina.

Duelo de titãs acontece em Toronto

Maratona · 26 jul, 2005

Está confirmado para o próximo dia 25 de setembro, na disputa da 6ª edição da Scotiabank Toronto Waterfront Marathon, um dos mais aguardados duelos entre maratonistas mundiais. Mas dessa vez não se trata de uma revanche entre o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima e o italiano Stefano Baldini, a disputa em questão, que promete muitas emoções, será entre o canadense Ed Whitlock e o holandês Joop Ruter, ambos acima de 70 anos.

O maratonista Whitlock surepreendeu o mundo da corrida no dia 28 de setembro de 2003. Nesta data ele concluiu os 42.195m da Scotiabank Marathon no tempo de 2h59min10s tornando-se o primeiro homem com mais de 70 anos a quebrar a barreira das três horas. No dia da façanha ele tinha 72 anos.

Não contente com seu feito, Whitlock, competiu a mesma prova no ano seguinte e marcou um novo recorde. Desta vez ele cravou a marca de 2h54min49s.

Já o holandês Joop Ruter conseguiu na última maratona de Rotterdam, no mês de abril, a marca de 3h02min45s. Até o quilômetro 35 ele estava com o tempo que bateria o recorde de Whitlock, mas depois perdeu o ritmo e não conseguiu quebrar a marca.

Com os dois competidores na maratona de Scotiabank Toronto Waterfront a briga pelo primeiro lugar da categoria acima de 70 anos será boa e poderá, quem sabe, ter nova quebra de recorde.

Fundada a Liga de Atletismo Master de São Paulo

A Liga de Atletismo Master do Estado de São Paulo (Ligamaster – SP) é uma nova entidade que tem como objetivo se tornar a maior referência na promoção e organização de competições para atletas masters (a partir dos 35 anos) e pré-masters (acima dos 30 anos) do país, com ênfase nas provas de pista e campo e corridas através do campo (cross-country).

A primeira corrida sob direção da entidade será no modelo cross country e está prevista para o dia 28 de novembro, com percursos variáveis entre quatro e oito quilômetros com largadas por categorias. Pelas estimativas iniciais, o número de participantes deve ultrapassar 500 corredores, pois dará início ao Circuito Brasileiro de Cross Country para atletas veteranos..

Fundadores - A Ligamaster - SP já nasce sob a coordenação de diversas entidades importantes no estado como a Universidade Estadual Paulista (Unesp); Associação de Praticantes de Atletismos de Presidente Prudente (Apatle); Associação Ribeirãopretana de Atletismo (Arpam); Círculo Militar de São Paulo; Corredores Paulistas Reunidos (Corpore); Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC).

Diretoria - A diretoria está assim constituída: Presidente: Dr. Emilio Levin; Vice-presidente: Dr. Nilson Aparecido Soares; 1º Secretário: Dr. Mario Luiz Rollo Ribeiro; Diretor Financeiro: Juiz Flavio Nunes Campos; Diretor Técnico: Prof. Dino de Aguiar Cintra Filho; Conselho Fiscal: Adriana Alves Valentin, Edivan Waldir Gollo Bernardi e Dino de Aguiar Cintra. Suplentes: Willian Graça, Mauro Roberto Neuber e Mirian Ignez
Castello Branco.

Em breve no WebRun mais detalhes sobre os eventos e ações organizadas pela Liga de Atletismo Master do Estado de São Paulo.


Fundada a Liga de Atletismo Master de São Paulo

Veteranos · 31 ago, 2004

A Liga de Atletismo Master do Estado de São Paulo (Ligamaster – SP) é uma nova entidade que tem como objetivo se tornar a maior referência na promoção e organização de competições para atletas masters (a partir dos 35 anos) e pré-masters (acima dos 30 anos) do país, com ênfase nas provas de pista e campo e corridas através do campo (cross-country).

A primeira corrida sob direção da entidade será no modelo cross country e está prevista para o dia 28 de novembro, com percursos variáveis entre quatro e oito quilômetros com largadas por categorias. Pelas estimativas iniciais, o número de participantes deve ultrapassar 500 corredores, pois dará início ao Circuito Brasileiro de Cross Country para atletas veteranos..

Fundadores - A Ligamaster - SP já nasce sob a coordenação de diversas entidades importantes no estado como a Universidade Estadual Paulista (Unesp); Associação de Praticantes de Atletismos de Presidente Prudente (Apatle); Associação Ribeirãopretana de Atletismo (Arpam); Círculo Militar de São Paulo; Corredores Paulistas Reunidos (Corpore); Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC).

Diretoria - A diretoria está assim constituída: Presidente: Dr. Emilio Levin; Vice-presidente: Dr. Nilson Aparecido Soares; 1º Secretário: Dr. Mario Luiz Rollo Ribeiro; Diretor Financeiro: Juiz Flavio Nunes Campos; Diretor Técnico: Prof. Dino de Aguiar Cintra Filho; Conselho Fiscal: Adriana Alves Valentin, Edivan Waldir Gollo Bernardi e Dino de Aguiar Cintra. Suplentes: Willian Graça, Mauro Roberto Neuber e Mirian Ignez
Castello Branco.

Em breve no WebRun mais detalhes sobre os eventos e ações organizadas pela Liga de Atletismo Master do Estado de São Paulo.

Mitiko Nakatani será entrevistada por Jô Soares

Veteranos · 19 dez, 2003

A veterana maratonista Mitiko Nakatani, será entrevistada por Jô Soares, no Programa do Jô, na próxima terça-feira, dia 23, às 24 horas na TV Globo. A corredora venceu a São Silvestre - em sua categoria – por 8 vezes.

Nakatani, de 71 anos, doente até os 60 anos, relata sua história: “Comecei caminhando. Hoje, treino para disputar a maratona de Paris.” Determinada, Nakatani corre diariamente 1h30. Sem contar as 2h30 de natação e musculação.

Artigo: a mítica Dona Mitiko

Muita gente tem perguntado sobre a velhinha japonesa que me entusiasmou a começar a correr, cuja história publiquei neste mesmo espaço há alguns meses. Para quem não leu, ou não se lembra, resumo o episódio de minha conversão às corridas. O ano mal havia começado e lá estava eu, em pleno parque do Ibirapuera, dando umas corridinhas de sedentário que jurou tomar vergonha na cara depois de acompanhar a São Silvestre pela TV. De repente, passou ventando por mim um grupo de corredores. Entre eles estava a tal vovó oriental, que passou a minha frente com extrema facilidade. Envergonhado, decidi ultrapassar a septuagenária a qualquer custo, mesmo que tivesse que explodir os pulmões e estourar os ligamentos.

Tudo em vão. Quanto mais eu tentava me aproximar, mais a velhinha sumia na poeira do horizonte. Minutos mais tarde, esbaforido, às portas da parada cardíaca, eu vi a velhinha outra vez, já fazendo seus alongamentos após ter concluído um tiro de 3.000 metros. Eu, que tinha corrido no máximo uns 800 metros, estava em petição de miséria. Já a vovó, parecia que havia saído de casa naquela hora, para ir à feira. Respirava normalmente, conversava com os colegas e comentava o tempo obtido. Arfante e indignado, agarrei pelo braço o primeiro que encontrei e perguntei: 'Quem treina a velhinha?'. Fui informado que todos ali eram treinados pelo Wanderlei de Oliveira, diretor do departamento de corridas de rua da Federação Paulista de Atletismo, técnico especializado em corridas de longa distância e pioneiro na preparação de grupos para a Maratona de Nova York – algo que faz desde 1982.

Depois de convencer o Wanderlei que, apesar de jornalista – e ainda por cima carioca –, eu teria disciplina para treinar para uma maratona, passei a correr na RUN FOR LIFE, mesma equipe da vovó. Logo descobri que ela se chama Mitiko Nakatani. Dona Mitiko, que me derrotou fragorosamente naquela manhã de janeiro, é uma lenda viva das corridas de veteranos no Brasil. E é sobre ela que eu gostaria de falar um pouco mais hoje.

Dona Mitiko tem 71 anos e é a atual recordista brasileira de quase todas as provas de longa distância e da marcha atlética. Faz 10 km em pouco mais de 50 minutos, tempo que muita gente de vinte e poucos anos que malha em academia e corre em esteira nem sonha em conseguir. Ela treina cinco vezes por semana, numa carga total equivalente a mais de 200 km percorridos por mês. Estar correndo tanto – e tão bem – com mais de 70 anos já faria de Dona Mitiko um exemplo para o pessoal da chamada terceira idade. Mas a façanha da simpática vovó vai além. É que ela só começou a caminhar, como exercício, depois dos 60 anos, e assim mesmo por recomendação médica. Ela estava, como se costuma dizer, 'entrevada' após uma longa enfermidade. Caminhadas ao redor do quarteirão seriam importantes para que Mitiko-san fosse recuperando a vitalidade aos poucos. E assim ela fez.

Com paciência e determinação orientais, Dona Mitiko começou a dar uma volta diária no quarteirão. Certo dia se animou e deu duas voltas. Depois três, quatro, vinte... Até que o médico lhe perguntou se não seria melhor começar a dar umas corridinhas. Foi quando ela decidiu treinar com o Wanderlei de Oliveira – e acabou se convertendo numa grande campeã. Aqueles que vivem dizendo que já é tarde para modificar certos hábitos precisam urgentemente bater um papo com a simpática vovó. Outra coisa que descobri sobre a mítica Dona Mitiko é que não fui o único a tentar ultrapassá-la. Vários outros corredores calouros passaram pela mesma sensação de incredulidade e impotência, quando confrontados com as passadas curtinhas e sincopadas da vovó corredora.

Lembram daqueles dois corvos que usavam chapéu e gravata borboleta e viviam aprontando, chamados Faísca & Fumaça? Lembram que eles davam uns passinhos rápidos no ar quando caminhavam? Pois é. Dona Mitiko correndo lembra muito as passadinhas de Faísca & Fumaça. Naquele trote curto e absolutamente constante, ela vive deixando os marmanjos para trás. Esperto, o Wanderlei aproveita para estimular os alunos. 'Ô jornalista, que vergonha! Vai deixar a Dona Mitiko te passar de novo?' – costuma gritar ele, durante os treinamentos. Ou então diz assim: 'Faltou ao treino hoje, não é? Por isso é que você perde da Dona Mitiko. Ela tava lá, treinando forte, às seis da manhã'. Mas a frase que provoca calafrios nos corredores iniciantes é bem mais simples e direta: 'Lá vem a Dona Mitiko!'. É ouvir isso para a gente começar a correr mais forte, imediatamente.

A esta altura o leitor deve estar se perguntando se eu consegui ou não passar a Dona Mitiko. Pois consegui, sim. Treinando 70 km por semana, em cinco sessões matinais, ultrapassei, com supremo esforço, a querida vovó atleta. Mesmo assim, isso ocorreu numa prova mais curta, de 5 km. Duvido muito que consiga repetir o feito numa prova longa, de 10 km por exemplo, onde a regularidade da velhinha contará mais do que as minhas largas passadas. Há quem jure que ela estava se recuperando de uma contusão, o que teria facilitado a minha tarefa. Não importa. Na gloriosa manhã em que eu – um galalau de 38 anos, 1,85m e 90 kg – ultrapassei a velhinha setentona e com menos de um metro e meio de altura, senti o júbilo que só os grandes campeões experimentam. São essas pequenas façanhas cotidianas, aparentemente sem importância, que fazem da corrida um esporte tão fascinante.

Porque correr é, acima de tudo, vencer os seus próprios e terríveis fantasmas. Mesmo que esses fantasmas terríveis sejam representados por uma simpática vovozinha japonesa, de 71 anos de idade...

E lá vem a Dona Mitiko!

P.S.: Sabem como e onde a Dona Mitiko vai comemorar as bodas de ouro? Correndo os 42 km da Maratona de Paris. Chique, não?

Marcos Caetano é carioca, tem 38 anos, é comentarista da ESPN Brasil e colunista de esportes dos jornais O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil e Pasquim. Treina com a RUN FOR LIFE desde fevereiro de 2003


Artigo: a mítica Dona Mitiko

Corridas de Rua · 26 ago, 2003

Muita gente tem perguntado sobre a velhinha japonesa que me entusiasmou a começar a correr, cuja história publiquei neste mesmo espaço há alguns meses. Para quem não leu, ou não se lembra, resumo o episódio de minha conversão às corridas. O ano mal havia começado e lá estava eu, em pleno parque do Ibirapuera, dando umas corridinhas de sedentário que jurou tomar vergonha na cara depois de acompanhar a São Silvestre pela TV. De repente, passou ventando por mim um grupo de corredores. Entre eles estava a tal vovó oriental, que passou a minha frente com extrema facilidade. Envergonhado, decidi ultrapassar a septuagenária a qualquer custo, mesmo que tivesse que explodir os pulmões e estourar os ligamentos.

Tudo em vão. Quanto mais eu tentava me aproximar, mais a velhinha sumia na poeira do horizonte. Minutos mais tarde, esbaforido, às portas da parada cardíaca, eu vi a velhinha outra vez, já fazendo seus alongamentos após ter concluído um tiro de 3.000 metros. Eu, que tinha corrido no máximo uns 800 metros, estava em petição de miséria. Já a vovó, parecia que havia saído de casa naquela hora, para ir à feira. Respirava normalmente, conversava com os colegas e comentava o tempo obtido. Arfante e indignado, agarrei pelo braço o primeiro que encontrei e perguntei: 'Quem treina a velhinha?'. Fui informado que todos ali eram treinados pelo Wanderlei de Oliveira, diretor do departamento de corridas de rua da Federação Paulista de Atletismo, técnico especializado em corridas de longa distância e pioneiro na preparação de grupos para a Maratona de Nova York – algo que faz desde 1982.

Depois de convencer o Wanderlei que, apesar de jornalista – e ainda por cima carioca –, eu teria disciplina para treinar para uma maratona, passei a correr na RUN FOR LIFE, mesma equipe da vovó. Logo descobri que ela se chama Mitiko Nakatani. Dona Mitiko, que me derrotou fragorosamente naquela manhã de janeiro, é uma lenda viva das corridas de veteranos no Brasil. E é sobre ela que eu gostaria de falar um pouco mais hoje.

Dona Mitiko tem 71 anos e é a atual recordista brasileira de quase todas as provas de longa distância e da marcha atlética. Faz 10 km em pouco mais de 50 minutos, tempo que muita gente de vinte e poucos anos que malha em academia e corre em esteira nem sonha em conseguir. Ela treina cinco vezes por semana, numa carga total equivalente a mais de 200 km percorridos por mês. Estar correndo tanto – e tão bem – com mais de 70 anos já faria de Dona Mitiko um exemplo para o pessoal da chamada terceira idade. Mas a façanha da simpática vovó vai além. É que ela só começou a caminhar, como exercício, depois dos 60 anos, e assim mesmo por recomendação médica. Ela estava, como se costuma dizer, 'entrevada' após uma longa enfermidade. Caminhadas ao redor do quarteirão seriam importantes para que Mitiko-san fosse recuperando a vitalidade aos poucos. E assim ela fez.

Com paciência e determinação orientais, Dona Mitiko começou a dar uma volta diária no quarteirão. Certo dia se animou e deu duas voltas. Depois três, quatro, vinte... Até que o médico lhe perguntou se não seria melhor começar a dar umas corridinhas. Foi quando ela decidiu treinar com o Wanderlei de Oliveira – e acabou se convertendo numa grande campeã. Aqueles que vivem dizendo que já é tarde para modificar certos hábitos precisam urgentemente bater um papo com a simpática vovó. Outra coisa que descobri sobre a mítica Dona Mitiko é que não fui o único a tentar ultrapassá-la. Vários outros corredores calouros passaram pela mesma sensação de incredulidade e impotência, quando confrontados com as passadas curtinhas e sincopadas da vovó corredora.

Lembram daqueles dois corvos que usavam chapéu e gravata borboleta e viviam aprontando, chamados Faísca & Fumaça? Lembram que eles davam uns passinhos rápidos no ar quando caminhavam? Pois é. Dona Mitiko correndo lembra muito as passadinhas de Faísca & Fumaça. Naquele trote curto e absolutamente constante, ela vive deixando os marmanjos para trás. Esperto, o Wanderlei aproveita para estimular os alunos. 'Ô jornalista, que vergonha! Vai deixar a Dona Mitiko te passar de novo?' – costuma gritar ele, durante os treinamentos. Ou então diz assim: 'Faltou ao treino hoje, não é? Por isso é que você perde da Dona Mitiko. Ela tava lá, treinando forte, às seis da manhã'. Mas a frase que provoca calafrios nos corredores iniciantes é bem mais simples e direta: 'Lá vem a Dona Mitiko!'. É ouvir isso para a gente começar a correr mais forte, imediatamente.

A esta altura o leitor deve estar se perguntando se eu consegui ou não passar a Dona Mitiko. Pois consegui, sim. Treinando 70 km por semana, em cinco sessões matinais, ultrapassei, com supremo esforço, a querida vovó atleta. Mesmo assim, isso ocorreu numa prova mais curta, de 5 km. Duvido muito que consiga repetir o feito numa prova longa, de 10 km por exemplo, onde a regularidade da velhinha contará mais do que as minhas largas passadas. Há quem jure que ela estava se recuperando de uma contusão, o que teria facilitado a minha tarefa. Não importa. Na gloriosa manhã em que eu – um galalau de 38 anos, 1,85m e 90 kg – ultrapassei a velhinha setentona e com menos de um metro e meio de altura, senti o júbilo que só os grandes campeões experimentam. São essas pequenas façanhas cotidianas, aparentemente sem importância, que fazem da corrida um esporte tão fascinante.

Porque correr é, acima de tudo, vencer os seus próprios e terríveis fantasmas. Mesmo que esses fantasmas terríveis sejam representados por uma simpática vovozinha japonesa, de 71 anos de idade...

E lá vem a Dona Mitiko!

P.S.: Sabem como e onde a Dona Mitiko vai comemorar as bodas de ouro? Correndo os 42 km da Maratona de Paris. Chique, não?

Marcos Caetano é carioca, tem 38 anos, é comentarista da ESPN Brasil e colunista de esportes dos jornais O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil e Pasquim. Treina com a RUN FOR LIFE desde fevereiro de 2003