Corridas de Rua · 07 dez, 2004
Meu primeiro contato com a corrida se deu no ginásio, nas brincadeiras entre classes na educação física. Logo que participei da primeira competição, em Joinville, o desejo de me dedicar ao atletismo se tornou cada vez maior. Sabia que teria que criar condições de mostrar aos meus pais minhas perspectivas em seguir carreira como corredora, apesar das poucas condições. Fui me decidindo, encarando como um ideal a ser conquistado passo a passo.
Nasci em Blumenau, minha família se estabeleceu em Joinville quando tinha 6 anos. Minha infância, até aos 10 anos, foi de pouca atividade. Após ter operado as amídalas, fiquei com mais saúde e energia. Fomos morar num pequeno sítio, que adorava. Tornei-me mais resistente e alegre.
Quando comecei a competir, a prova mais longa na pista era de 800m. Na São Silvestre de 1975 oficializava-se a participação feminina. Considero a minha geração de corredores de médias e longas distâncias como desbravadoras. Vivenciamos a implantação das provas mais longas, de 10km, 21km e maratona.
Minha oportunidade se deu em 1976, quase por acaso. Chegando ao treinamento de pista, vi o jornal Gazeta Esportiva na mesa do meu técnico, anunciando a eliminatória nacional da São Silvestre.
Cheia de esperança e estimulada, corri à noite os 8,9Km, cheio de subidas e descidas, Brigadeiro Luis Antonio e Consolação, tudo novidade. Para a minha felicidade, cheguei em segundo e fui considerada revelação. Em 1977 voltei e venci a eliminatória.
Em 1978 fiquei em quarto na final do dia 31 de dezembro e, então, fui convidada para fazer parte da equipe de atletismo do E. C. Pinheiros, em São Paulo. Esta mudança foi essencial para o meu amadurecimento atlético e humano.
Sempre fui determinada. Treinava duro, direcionada nos meus objetivos, buscando oportunidades. Quando deixei minha família no Sul foi difícil, mas me adaptei.
Nos momentos mais difíceis, o que importava era a minha corrida, focava meu objetivo. Se perdesse, lutaria para vencer a próxima. Na verdade, sempre encarei a corrida como um bem maior a ser cultivado em outras esferas de minha vida. Hoje sei que tive um ganho imenso mantendo esta mentalidade. Procurava estar um passo à frente para desenvolver uma dinâmica de treinos na qual a técnica, eficiência e concentração pudessem me levar a vitória e a superação.
Tive a oportunidade de treinar em Joinville. Meu primeiro técnico, natural do Japão, me orientou durante 5 anos. Acreditou no meu talento, me incutiu a disciplina e a necessidade de ter que treinar muito para melhorar. Em São Paulo, o técnico Carlos Ventura transmitiu-me o significado de competir forte em alto nível, principalmente nas provas de rua mais importantes no Brasil. Vencemos juntos.
Na equipe de Guarulhos, 1980 a 1983, o técnico Akio trabalhou a técnica e o refinamento para as provas de pista 1.500m, 3.000m e 10km. Levou-me a um patamar de treinos que foram imprescindíveis. O técnico Wanderlei de Oliveira, que orientava os corredores da Corpore, recém fundada, desenvolveu um trabalho direcionado para longas distâncias. Nossos treinos em Atibaia foram vitais para enfrentarmos as primeiras maratonas no Rio de Janeiro.
Correndo fui alcançando meus objetivos, realizando meus sonhos e muito mais. Conhecer parte do mundo, Japão, Indonésia, Austrália, EUA, América do Sul e Central. Na verdade, quando vencemos ou batemos um recorde, o momento é único, inesquecível. É quando tudo se concretiza. A corrida é um esporte individual e o atleta gera, em grande parte, suas perspectivas e, possibilidades.
Uma euforia contida e silenciosa. Foi o que senti ao vencer a Maratona Internacional do Rio de Janeiro, em 1987, ao vencer os 10km do Campeonato Brasileiro João Carlos de Oliveira, em Curitiba, ser recordista dos 3 mil no Troféu Brasil de 1981 e ser recordista de vitórias da Meia-Maratona Gazeta Esportiva. Representar o Brasil no Mundial de Maratona no Japão (Hiroshima), estar na praça onde caiu a bomba atômica, correr por entre as flores, as pequenas pontes e o verde dos jardins. Ser a melhor sul-americana na maratona de Nova Iorque em 1992 e ter representado a América do Sul num evento audacioso, patrocinado pela ONU, em 1986, denominada Corrida Mundial pela Paz e pelas crianças do mundo, enriquecendo-me humanamente com a equipe internacional de corredores e organizadores de cada continente.
Encarei esta convocação como um prêmio maior pela minha dedicação. Estive em centros de treinamento de muita estrutura, onde aprendi muito. Convivi com outras mentalidades, culturas e valores. Fiquei mais ciente da condição humana no mundo, e me realizei profundamente.
Há 15 anos como técnica do Pinheiros e à frente do Projeto Correr, dei continuidade a tudo que acredito, treinando e orientando atletas ou corredores amadores que querem, através da corrida e do treinamento sistemático, buscar novos horizontes e o aperfeiçoamento.
Eliana Reinert - Técnica E.C. Pinheiros de médias distâncias e maratona, resposável técnica do Projeto Correr/Eliana Reinert, campeã brasileira 10km Curitiba 1986 (35min39), vencedora da Maratona Internacional do Rio 87, ex-recordista e campeã do Troféu Brasil 1981/ 3.000m e melhor sul-americana na Maratona de Nova Iorque 1992.
Ultra Maratona · 14 nov, 2004
Nascido em 05/01/58 em Rio Branco (AC), João Alves de Souza, o Passarinho foi um dos maiores atletas brasileiros nos anos 80/90. Acompanhou a mudança de sua família para Belém (PA) aos 2 anos de idade, onde passou toda a sua infância.
O começo aprendendo a jogar bola - Comecei jogando futebol. Era o último a ser escalado, quando faltava alguém. Passarinho ainda lembra do técnico da escola: Esquece isso de jogar futebol. Você corre demais com a bola e o campo acaba antes de você se livrar dela! Por quê não tenta as corridas?. Foi, então, apresentado a João de Deus, técnico do Clube 7 de Setembro. Venceu sua primeira competição logo na primeira semana. Continuou vencendo e seu talento despertou o interesse do Clube do Remo. Como infanto-juvenil já integrava a equipe e complicava a vida dos adultos. Tudo aconteceu muito rapidamente. Quando ia para a pista me sentia à vontade e tudo vinha naturalmente. Sua primeira grande competição foram os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) de 74, em Brasília. E em 75 lá estava ele novamente nos JEBs, conquistando o 2o lugar.
João virá Passarinho - Em 76 João competiu e venceu a Volta da Pampulha. Foi lá que ganhei o apelido, recorda. Disseram que eu era muito pequeno e voava como um passarinho... A partir daí começou a receber convites de equipes de todo o Brasil todos recusados. Eu tinha medo de deixar a segurança da minha família. O CR Flamengo insistiu e acabou convencendo o atleta a tentar a sorte. Fiquei lá 2 anos, treinando e competindo, lembra. Seu ídolo era o grande atleta Eloy Schleder, de quem não esconde admiração até hoje, e de quem se tornou um grande amigo. Queria treinar e correr como ele.
Depois do Flamengo, competi pela ADPM de São Paulo e pelo Sesi Santo André a equipe virou Funilense em 90. Competi até 94.
As Conquistas - As principais conquistas de Passarinho foram 7 participações em Campeonatos Mundiais (Cross Country), 3 pódios na São Silvestre (sempre como o melhor brasileiro), vitórias nos 5.000 e 10.000m no Campeonato Brasileiro e Troféu Brasil, conquistas de provas internacionais (Maratona RJ e Meia-Maratona RJ e Maratona de Munique) e dezenas de outras provas. Mas o troféu mais valioso carrego junto comigo a todos os lugares onde vou: os amigos que pude fazer e cultivar ao longo de todos esses anos.
A parada forçada - O excesso de treinos e competições cobrou o seu preço: em 94 foi detectada uma fratura por estresse. Durante 6 longos e difíceis anos, Passarinho teve de aguardar a recuperação. Foram os anos mais difíceis da minha vida. Fiquei longe das competições, mas não abandonei o atletismo. Aproveitou o período para estudar (atualmente é administrador de uma fazenda em Campinas). Não posso deixar de lembrar que, mesmo ausente das competições, a equipe continuou me patrocinando. Só tenho a agradecer à pessoa do Sérgio L. C. Nogueira.
A volta as pistas - Há 3 anos, recuperado da lesão, Passarinho aceitou o convite para Diretor Técnico da CUCA (Corredores Unidos de Campinas) e lá ficou até 2002. Nesse período coloquei como objetivo o treinamento de novos atletas, procurando passar minha experiência. No final de 2002, passou a ser o Diretor Técnico da SERGEL SPORTS, uma equipe amadora de Campinas, na qual permanece até hoje. Meu desejo é poder dar aos novos atletas oportunidades que outros também me deram. Devo confessar que me realizo a cada bom resultado de um dos meus atletas. E não poupa elogios ao patrocinador da sua atual equipe, Sérgio A. Silveira: O Sérgio custeia a sua equipe por amor ao atletismo, mesmo que isso não se reverta em lucro para os seus negócios.
O futuro - O meu tempo de atleta já passou; agora é a vez das novas gerações, afirma Passarinho. Mas não acreditem nisso completamente. O Passarinho treinador colocou seu uniforme de atleta no começo deste ano para vencer a difícil Maratona das Águas. E não se surpreendam se o nome dele ainda aparecer no topo de provas de longas distâncias como Maratonas e Ultramaratonas: ele continua ativo e cada vez mais experiente.
Corridas de Rua · 01 nov, 2004
Fico muito contente em ser lembrado para estar escrevendo esse relato para a revista SuperAção. Gostaria também que fossem lembrados outros atletas do passado. Aqueles que contribuíram com esse esporte.
Sinto muita saudade do atletismo, mas estou acompanhando de longe. Na década de 80, quando havia muitas corridas de fundo e meio fundo, dei a minha contribuição, participando de várias provas e de grandes competições.
Comecei minha história no atletismo em 1971, quando tinha 13 anos. Nessa época, ainda morava em Maceió, Alagoas, minha terra natal. Tinha um primo que fazia 400 metros e outro que praticava salto com vara. Foi aí que eles me chamaram para participar dos Jogos Escolares e acabei competindo no 4 x 400m. Um dos professores me viu correndo e disse que eu tinha jeito. Estudava na Escola Técnica Federal de Alagoas e foi ali que começou minha trajetória pelas pistas e ruas do Brasil e do mundo.
Lembro da minha primeira prova com uma distância maior, de seis quilômetros. Logo nessa "estréia", ganhei a Corrida da Fogueira, coisa que jamais tinha imaginado. No ano dessa vitória, participei pela primeira vez da Corrida Internacional de São Silvestre, quando cruzei a linha de chegada na 101ª colocação, sendo o melhor atleta alagoano da prova. O resultado foi muito importante para mim e para meu Estado, tanto que recebi uma premiação dada pelo então governador Divaldo Suruagy.
Depois disso vim para São Paulo correr pela equipe Matarazzo. Aliás, entre as várias equipes pelas quais competi, na verdade em todas, eu era funcionário da empresa. Não vivi somente do esporte. Tinha que trabalhar e aproveitava a ajuda da empresa para correr.
E foi assim que fui disputar a primeira maratona, em Frankfurt, Alemanha. Fui representando a Hoechst, empresa que organizava a prova. Dessa maneira corri duas vezes na Alemanha. E foi lá que marquei o tempo de 2h14, marca que acreditava ser suficiente para disputar a Olimpíada de Los Angeles. Isso porque o Edvaldo Gomes, presidente da Confederação Brasileira, na época, havia declarado que o atleta que marcasse o tempo de 2h18 estaria convocado para ir aos Jogos de 84. Como fiz 2h14, tinha certeza que iria realizar esse sonho. Porém, quando voltei, estavam falando de uma seletiva, que seria a Maratona Atlântica/Boa Vista. Como tinha corrido 15 dias antes, não participei da prova e acabei ficando de fora da briga pela vaga.
Na época em que eu competia, havia muitas meia maratonas. Lembro-me que tinha um circuito de provas da Mesbla, que tinha meia maratona, provas de 10 e 15 quilômetros. Ganhei as oito provas que compunham o circuito.
Entre outras coisas, me orgulho de ter feito parte da equipe brasileira na disputa do Mundial de Maratona, disputado em Hiroshima, Japão. Fui o segundo melhor brasileiro e o 38º no geral.
Posso dizer que o atletismo foi tudo para mim. Não me arrependo de nada, nem das dificuldades vividas. É verdade que na época em que perdi a chance de disputar uma Olimpíada fiquei desanimado, pois seria a realização de um sonho. Não fui como atleta, mas pude conferir os Jogos de perto trabalhando como massagista do Comitê Olímpico Brasileiro, no qual faço parte do departamento médico. Estive presente em Sydney/00 e também nos Pan-Americanos de Winnipeg (99) e Santo Domingo (2003).
Hoje trabalho na equipe de vôlei da Unicsul, em Santa Catarina, além de fazer parte do Departamento Médico do Comitê Olímpico Brasileiro.
Maratona · 25 out, 2004
É com imenso prazer e satisfação que escrevi esse relato para a revista SuperAção, que tem contribuído para o desenvolvimento e divulgação do atletismo nacional.
Iniciei minha carreira esportiva no vôlei, que na época era minha grande paixão. Jogava como federada no C.R.Flamengo, quando fui observada pela treinadora de atletismo Érica Resende, que me convidou à fazer parte de sua equipe e me incentivou a mudar de modalidade. Rapidamente percebi que numa modalidade individual teria maior possibilidade de conseguir êxito, pois não dependeria de um grupo, mas, sim, do meu próprio esforço e dedicação. Passados apenas seis meses no atletismo, fui convocada a participar do CEBs (Pará) e logo a seguir do JEBs (Brasília), eventos que consolidaram a minha decisão de seguir no atletismo.
Apesar de ter tido apoio familiar para a prática esportiva, sempre me foi colocado que meus estudos eram prioritários. Por isso, só me dediquei 100% ao atletismo depois de minha licenciatura em Educação Física, cursada na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, onde fazia parte da equipe que na época foi pentacampeã do Troféu Brasil.
Fui campeã da Maratona de São Paulo em 1986 e como prêmio ganhei uma moto e uma passagem aérea para correr a Maratona de Londres. Como ainda não me encontrava em condições ideais para participar de uma prova como esta, resolvi alterar o roteiro, para um melhor fim, e viajei para Portugal em 1987 com o intuito de fazer um estágio na Escola Portuguesa de Meio-Fundo e Fundo, uma das melhores do mundo. Em boa hora o fiz, porque conheci e convivi com grandes treinadores, tais como Moniz Pereira, Fonseca e Costa, Antonio Campos, Bernardo Manuel, Sameiro Araújo. Hoje grandes amigos meus.
Fiz estágio no Sport Lisboa e Benfica, onde viria a conhecer Rita Borralho, que veio a ser minha treinadora durante toda a minha carreira de alto nível.
Por dificuldades de patrocínio e falta de apoio dos clubes no Brasil, decidi permanecer em Portugal. Alem disso, na Europa o acesso a competições importantes era mais fácil e correr ao lado de atletas de alto nível e grande experiência proporcionava-me vantagens na busca por melhores resultados.
Representei dois clubes em Portugal: o Maratona Clube de Portugal e o C.F. Belenenses, aos quais deixo aqui o meu agradecimento pelo acolhimento e carinho com que fui tratada.
Representei o Brasil na Copa do Mundo de Maratona, Campeonatos Mundiais de 15km e Cross Country, Sul-Americano de pista e o mais almejado por todos os atletas, os Jogos Olímpicos, realizados em Barcelona, em 1992.
Depois de ter alcançado todos os objetivos aos quais me propus, decidi encerrar minha carreira em competições de alto nível em 2002, após ter participado da São Silvestre de Luanda, Angola.
No momento, dedico-me ao projeto que idealizei, JM Global Performance, sobre condicionamento físico e alto rendimento. Pretendo contribuir, de alguma forma, para o crescimento do movimento da corrida e também descobrir novos talentos para o nosso atletismo.
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