Contar calorias nem sempre é uma vantagem (foto: Rob Owen Wahl/ Stock.Xchng)
Uma pesquisa recente causou preocupação entre os que estudam o crescimento da obesidade no mundo. Nos EUA o censo local apontou um aumento da população com IMC acima do recomendado (25), porém quando questionados sobre o próprio peso, há um aumento considerável do número de pessoas que agora se acha em forma. Ou seja, como indivíduos nos consideramos em forma, mas como população estamos de fato bem mais gordos.
O problema é que as pessoas parecem cada vez mais perder a referência do que seria estar em forma quando ela se vê rodeada por gente com sobrepeso. Por muitos anos o estudo da Nutrição apenas buscava informações sobre a composição dos alimentos e quais os efeitos em nosso organismo do consumo de gordura, carboidrato e proteína. Ainda há, obviamente, muita coisa muito útil sendo produzida nesse sentido e há também muita coisa interessante sendo produzida para compreendermos melhor hormônios e também alguns micronutrientes ainda não muito bem compreendidos.
A grande limitação dessa linha de pesquisa é que diferentemente de ratos, o ser humano é muito complexo, se não conseguimos sequer controlar bem a ingestão de proteína, como vamos controlar o de inúmeras vitaminas ou minerais? Não se consegue. Eu acredito que cada vez mais, mudanças no comportamento referente à nossa alimentação não terá absolutamente nada ligado à composição dos alimentos, mas ao nosso comportamento.
Treinadores vivem dizendo que não regulamos bem o mecanismo de sede. Isso é bobagem! Controlamos muito bem a sede, ela é quase tão automática quanto a respiração, ninguém morre de sede. O que não controlamos nada bem é a sensação de fome nem a necessidade de algum nutriente em particular, por mais vital que ele seja.
Estudos – Três estudos me chamaram muito a atenção recentemente. Em um deles as pessoas perdiam a vontade de comer quando havia um obeso desconhecido comendo, mas quando havia um magro qualquer as pessoas tinham um maior desejo pelo alimento. Um segundo estudo longitudinal mostra que quanto mais pessoas de nosso círculo social têm sobrepeso, maior é o nosso peso por assimilação de costumes e hábitos! Diga-me com quem andas….
Já em um terceiro estudo, algumas escolas americanas alteraram a distribuição dos alimentos na cantina com resultados mais do que surpreendentes, pois com mudanças como deixar a bebida saudável à frente do refrigerante ou apenas perguntando se o aluno gostaria de comer salada resultou em melhoras de até 120% em alguns medidores. Sou suspeito, porque sou grande entusiasta do uso da Economia Comportamental também na Nutrição. Como já escrevi aqui a respeito, mais do que saber quantas calorias há em alguns pratos (eu confesso, não sei a maioria deles sem nenhuma vergonha) é preciso que saibamos coisas básicas ditas por qualquer avó: varie os alimentos, coma frutas, verduras e legumes, faça várias refeições ao dia, e não abuse (principalmente) do açúcar, gorduras e frituras. Quem nunca ouviu isso?
Mas o que pouca gente sabe é que comemos mais quando nossos amigos também comem, exageramos quando o prato (ou a tigela da guloseima) é grande, doces em potes de vidro (são sempre visíveis!) nos faz comer mais vezes, na frente da TV comemos a mais e por aí vai. Por sua vez, quando a fruta fica lá na gaveta no pé da geladeira longe de nossa vista, ela fica esquecida, a simples palavra natural ou light faz que comamos ainda mais (!) se comparado à versão normal e sempre que tentamos calcular calorias na base do olho, nos damos muito mal. E essas armadilhas não discriminam ninguém, desde quem mal sabe ler até quem tem PhD.
O segredo, pois, parece estar mais em percebemos pequenos truques para controlar nossa vontade pelos pecados sem esquecermos obviamente o que é uma boa educação alimentar (vitaminas, minerais…).
Este texto foi escrito por: Danilo Balu