Jacqueline não comemorou muito a vitória (foto: Divulgação)
No último domingo (27) aconteceu em Campinas, na Grande São Paulo, a 26ª edição da Corrida Integração de Campinas, prova com distância de 10 quilômetros de corrida e 5,7 de caminhada. Tanzanianos e quenianos fizeram a festa e ocuparam os degraus mais altos do pódio, cada um deles com uma história de vida parecida.
Entre os homens Martin Sulle, da Tanzânia, precisou de 29min43 para cruzar a linha de chegada e foi seguido pelos quenianos Joshua Kemei com 30min01 e Titus Bibii com 30min27. Estreando em competições no Brasil, Sulle teve que vencer a timidez para relatar suas impressões sobre a disputa.
Não estou acostumado com as pessoas me pedindo para tirar fotos ou querendo entrevistas. Isso não era assim no meu país, relata o fundista de 26 anos em seu idioma de origem, posteriormente traduzido para o inglês pelo vice-campeão Joshua Kemei. Gostei muito do Rio e de Campinas, completa.
Sulle possui uma origem humilde, assim como a maioria dos corredores africanos, e conta que começou a correr somente aos 17 anos, pois sempre ajudou os pais nos trabalhos pesados. Ia e voltava correndo, como muitos na Tanzânia. Acho que por isso somos melhores nisso que os brasileiros.
Pela vitória ele faturou uma premiação de R$ 16 mil e conta que pretende comprar utensílios para sua casa, onde mora com os pais e irmãos. Apesar de não ser muito, hoje tenho muito mais que antes, lembra o atleta que conviveu com conflitos tribais na infância.
Joilson Bernardo da Silva foi o melhor brasileiro ao conquistar a quinta colocação e, diferente de alguns atletas que reclamam da participação estrangeira nas competições nacionais, ele vê como incentivo. Não adianta reclamar, temos é que treinar e vencê-los.
Feminino – Já entre as mulheres, a queniana Eunice Kirwa, de 25 anos, chegou em primeiro com o tempo de 34min19 e foi seguida por Sara Makera, da Tanzânia com 35min49 e Tatiele Robetra de Carvalho, com 36min03. Durante a infância, a campeã esteve sempre na companhia da mãe e da irmã na capital Nairóbi, onde se localiza a maior favela do país.
A vitória não teve uma comemoração entusiasmada e a expressão foi parecida com a de 2008, ocasião em que obteve o vice depois de perder para sua compatriota Nancy Kipron (que não esteve presente esse ano). Sou muito concentrada nas minhas provas. Se algo sai errado ou alguém é melhor, não lamento, assim como não tenho o costume de vibrar demais nas minhas vitórias, explica.
Ano passado ela teve trabalho para acompanhar Nancy e se desgastou mais do que na prova do último domingo, já que correu tranquila e apenas administrou o ritmo. Foi muito mais fácil do que eu esperava. Corri tranqüila, sem que ninguém me ameaçasse em nenhum momento.
Se ela não teve adversárias físicas, o sol foi seu maior desafio, mesmo para quem está acostumado com altas temperaturas. Não esperava tanto calor, que atrapalhou. Por outro lado, pode ter atrapalhado as outras também. Ela corre desde os 15 anos e a partir dos 18 passou a receber incentivo do governo para competir fora do país.
Assim como o campeão Martin Sulle, ela também dedicará parte da premiação para sua família. Tive uma infância pobre e muito do que eu faço hoje é para ajudar minha irmã, que está em idade escolar. Se correr é o que sei fazer, é assim que vou ajudar minha família, comenta Eunice, que ficará no Brasil até dezembro.
Este texto foi escrito por: Webrun