O Brasil realizou a sua melhor campanha na história dos Mundiais de atletismo paralímpico ao conquistar 47 medalhas no total e terminar na segunda colocação na competição encerrada em Paris, na França, nesta segunda-feira, 17. Jamais os brasileiros haviam obtido tamanho êxito em um Mundial da modalidade.
Com sete pódios (dois ouros, duas pratas e três bronzes) neste último dia de provas, o país terminou a competição com dois a mais do que os chineses (47 a 45). No entanto, os brasileiros ficaram na vice-liderança do quadro geral de medalhas por uma diferença de dois ouros para os asiáticos – foram 14 contra 16. O país somou também 13 pratas e 20 bronzes, enquanto os chineses obtiveram 16 pratas e 13 bronzes. Desde o Mundial em Assen 2006, na Holanda, a China não era superada em número de pódios na competição — exceção à edição de Lyon 2013, quando os chineses foram com uma delegação reserva e terminaram na sexta colocação.
Com isso, o Brasil superou a sua melhor campanha na história da competição, registrada em Dubai 2019, quando os brasileiros ficaram na segunda colocação do quadro geral, com 39 medalhas no total: 14 de ouro, nove de prata e 16 de bronze. O desempenho também ultrapassou o resultado da edição de Lyon 2013, que até então era a melhor performance nacional, com 40 pódios no total, sendo 16 ouros, 10 pratas e 14 bronzes, na terceira posição geral.
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“A campanha foi extraordinária. Tanto na pista quanto no campo, os atletas performaram muito bem. Ganhamos também em todas as áreas de deficiência, seja visual, intelectual ou física. Estamos muito satisfeitos. O desempenho do Brasil foi muito positivo e alinhado com o nosso planejamento estratégico, com cerca de um terço das medalhas do nosso país conquistadas por atletas que participam pela primeira vez de um Mundial. As mulheres também com atuações muito fortes. Tivemos também 10 atletas com medalhas de ouro. Então, foi uma campanha que nos orgulha muito e que nos cria uma expectativa ainda maior para os Jogos Paralímpicos de Paris no ano que vem”, analisou Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e bicampeão paralímpico no futebol de cegos em Atenas 2004 e Pequim 2008.
Entre as finais do último dia na capital francesa, o paraibano Petrúcio Ferreira manteve a hegemonia de quase oito anos na prova dos 100m da classe T47 (amputados de braço) e conquistou o tricampeonato mundial ao chegar em primeiro com o tempo de 10s37, cravando o novo recorde da competição. Desde os Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015, o atleta considerado o mais rápido do esporte paralímpico vence esta prova em grandes competições internacionais contra atletas da sua classe.
Essa foi a quinta medalha de Petrúcio em Mundiais. Além dos ouros nos 100m em Dubai 2019 e Londres 2017, tem outros dois títulos – nos 400m também em Dubai 2019 e nos 200m em Londres 2017. É ainda o atual bicampeão paralímpico dos 100m (Rio 2016 e Tóquio 2020).
“Cada conquista para mim é como se fosse a primeira. Eu sempre lembro de onde eu vim. Essa conquista vale muito para mim. Quem é atleta sabe qual é a nossa dedicação do dia a dia, os momentos difíceis que a gente passa. É tudo por um sonho. Agradeço à minha família, ao meu treiandor Pedrinho, à torcida e à minha esposa, que passou vários momentos complicados ao meu lado. Não larguei tão bem, errei na mina terceira passada. Poderia ter acertado mais, mas saio feliz com meu terceiro mundial”, afirmou Petrúcio, que sofreu um acidente com uma máquina de moer capim aos dois anos e foi submetido a amputação de parte do braço esquerdo, abaixo do cotovelo.
O paranaense José Alexandre, um dos estreantes do país na competição, teve grande desempenho e encerrou na segunda colocação da disputa, com 10s73. Foi a segunda medalha do jovem atleta em Paris – antes, havia sido bronze nos 400m. Outro brasileiro envolvido na final, o carioca Washington Nascimento finalizou em quarto lugar (10s88), três centésimos atrás do britânico Kevin Santos, que fez 10s85.
Ao todo, o país esteve presente em seis finais na tarde desta segunda-feira (noite em Paris), 17. Foram nove atletas brasileiros envolvidos em cinco decisões na pista e uma no campo.
A acreana Jerusa Geber conquistou a sua segunda medalha de ouro na competição ao vencer os 200m T11 (cegas) com o tempo de 24s63, novo recorde da competição. A potiguar Thalita Simplício fez novamente a dobradinha no pódio com a patriota ao chegar em terceiro lugar, com 24s88, seu melhor índice na temporada. Ambas já haviam subido ao pódio juntas na prova dos 100m. A medalha de prata ficou com a chinesa Cuiqing Liu (24s79).
Foi o oitavo pódio duplo do Brasil no Mundial. Com mais essa conquista, Jerusa também tornou-se a maior medalhista desta Seleção Brasileira de atletismo em Mundiais. Foi o seu nono pódio na história da competição, sendo quatro ouros e cinco pratas no total.
“A nossa prova preferida é a dos 100m. Não esperávamos fazer isso tudo nos 200m e conseguir o ouro. Quando a China está na prova, é sempre com muita emoção. Mas sair da competição com dois ouros, com dois recordes da competição, e como a atleta com mais medalhas em Mundiais é maravilhoso. Só tenho a agradecer”, afirmou Jerusa.
“Conseguimos medalha nas três provas que disputamos. Estamos muito felizes. Obviamente, a gente queria o ouro nessa prova. Foi bem disputada. Temos o Mundial no ano que vem para se preparar agora”, completou Thalita Simplício, referindo-se à competição que será realizada em Kobe, no Japão, em maio, a três meses dos Jogos Paralímpicos de Paris.
A potiguar correu em nove baterias no Mundial de Paris no total – round 1, semifinal e final nos 100m (bronze), nos 200m (bronze) e nos 400m (ouro).
O paranaense Vinicius Rodrigues, prata nos 100m nos Jogos de Tóquio 2020 e bronze nos 100m em Dubai 2019, conquistou a medalha de prata na final da mesma prova da classe T63 (para amputados de membros inferiores com prótese). A segunda colocação foi obtida nos últimos metros da prova, quando o brasileiro conseguiu ultrapassar o alemão Leon Schaefer e venceu por uma diferença de dois centésimos: 12s16 diante dos 12s18 do adversário. O holandês Joel de Jong ganhou o ouro, com 12s09.
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“Em Dubai, fui bronze. Agora, consegui a prata. Estava contando com esse ouro, mas infelizmente não veio. A minha corrida foi muito boa, foi o meu melhor tempo na temporada. Agora é analisar com meu treinador o que errei e onde posso melhorar”, afirmou Vinícius, que foi submetido a uma amputação da perna esquerda acima do joelho devido a um acidente de moto.
Entre os outros brasileiros presentes em finais no último dia do Mundial de Paris, o catarinense Edenílson Floriani levou a medalha de bronze no arremesso de peso F42 (deficiência nos membros inferiores). Atingiu a marca de 14,06m e subiu ao pódio logo na sua estreia em Mundiais. O ouro ficou com britânico Aled Davies, que fez 16,16m, e a prata foi para o iraniano Sajad Mohammadian, com 14,38m.
Já a medalha de bronze nos 400m da maranhense Rayane Soares foi uma das mais emocionantes do dia. A atleta da classe T13 (deficiência visual) fez uma prova de recuperação, após não largar bem, e cruzou a linha de chegada quatro centésimos à frente da francesa Nantenin Keita – foram 57s90 contra 57s94.
Rayane, que era a atual campeã mundial da prova (Dubai 2019), conquistou sua primeira medalha em Paris – até então tinha finalizado os 100m na quinta colocação e os 200m, na quarta posição. A medalha de ouro em Paris ficou com Lamiya Valiyeva, do Azerbaijão, com 55s34, e o segundo lugar foi da portuguesa Carolina Duarte, com 55s68.
Campeã mundial em Paris nos 400m T47, a paraense Fernanda Yara completou a final dos 200m na quarta colocação, em 26s08, mesmo tempo que havia feito nas eliminatórias e a sua melhor marca na temporada na prova. A vencedora foi a norte-americana Brittni Mason, com 25s36.
Pela manhã na França (madrugada do Brasil), os três brasileiros que participaram de finais acabaram fora do pódio. A paulista Beth Gomes, ouro no lançamento de disco e no arremesso de peso, ficou na quinta colocação do lançamento de dardo da classe F53 (que competem sentados), com a marca de 12,85m. A vencedora da prova foi uzbeque Nhurkon Kurbanova, que atingiu 20,15m.
O paulista Paulo Cézar Neto, da classe T20 (deficiência intelectual), terminou a disputa no salto em distância na décima colocação, com 6,18m, seu melhor índice na temporada. O malaio Latif Romly foi o medalhista de ouro, com 7,40m.
Já o sul-mato-grossensse Paulo Hernrique Reis encerrou a sua participação no sexto lugar no salto em distância T13 (deficiência visual). Teve 6,72m como sua melhor marca na prova. O vencedor foi o norte-americano Isaac Jean-Paul, com 7,06m.
O Brasil foi representado por 54 atletas de 19 Estados e 11 atletas-guia na competição. O Mundial de atletismo de Paris foi o primeiro da modalidade após os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 e aconteceu no Estádio Charlety. O local tem capacidade para 20 mil pessoas e pertence ao clube de futebol Paris FC, da segunda divisão francesa. As provas dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, no entanto, vão acontecer no icônico Stade de France, palco da final da Copa do Mundo de futebol em 1998.
Antes, dos dias 17 a 25 de maio, ocorrerá o Mundial de atletismo paralímpico em Kobe, no Japão. As provas serão realizadas no estádio do Kobe Sports Park. Para o torneio na Ásia, cerca de 1.300 atletas de 100 países são esperados para disputar a 11ª edição da competição.
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