Corridas de Rua · 21 set, 2006
São Paulo - Há cerca de sete anos Vanildo trabalhava em uma copiadora da Gazeta Mercantil de São Paulo e nas horas vagas malhava na academia montada no prédio. Na época o objetivo era definir os músculos das pernas, pois ele já estava satisfeito com o condicionamento dos braços. A partir desse momento ele começou a ter o primeiro contato com o mundo das corridas de rua.
Ele começou correndo entre 4 km e 5 km na esteira e aos poucos foi aumentando o ritmo até chegar a treinos de 40 minutos a uma hora de duração. Observando que o rapaz levava jeito para a corrida, o então treinador da academia, professor Mário Mello, perguntou se ele não gostaria de participar de uma prova. Vanildo, com bastante massa muscular nos braços, respondeu: Olha meu tamanho, como vou pensar em corrida? Mas meu irmão leva jeito, foi a resposta que o treinador ouviu.
O tempo foi passando e Mário sempre ouvia a mesma resposta ao convidar Ivanildo para correr. Eu discuti com o meu técnico, pois sempre que ele me convidava para uma corrida eu falava do meu irmão.
A primeira prova - Mesmo sem saber, Vanildo já estava envolvido pela corrida. Em 1999 ele e Claudinei resolveram participar da Maratona de São Paulo e, ao comunicar ao treinador, receberam uma resposta sarcástica. Não se empolguem, porque acho que vocês não vão conseguir terminar. Mas tem um ônibus que recolhe os atletas que não conseguem chegar ao fim.
No dia seguinte, ao comentar que havia feito o tempo de 3h19, Mário deu risada e disse que era para ele esperar o resultado oficial, pois poderia ter cometido algum engano. Fiquei muito nervoso e quando saiu o resultado fui o mais rápido possível mostrar e só então ele acreditou, comentou o atleta.
Chegou o fim do ano de 1999, época da tradicional Corrida de São Silvestre e mais uma vez Vanildo e seu irmão foram desacreditados pelo técnico quando decidiram participar. Largaram no empurra empurra, ou seja, entre os atletas comuns, e terminaram com 1h02 e 1h04, mesmo tempo obtido pelo melhor atleta de Mário, que largou na elite B. Surpreso, dessa vez foi a vez do técnico ouvir uma gozação. Vai ver que seu melhor atleta não corre nada, provocou Vanildo.
Os dois irmãos continuavam sempre treinando, algumas vezes na esteira da academia, outras vezes em pistas de atletismo ou mesmo na rua. Eu saía do Taboão da Serra e corria até a Avenida Paulista para buscar meu irmão e depois nós dois voltávamos para casa correndo, lembra Vanildo.
Certa vez Mário entregou uma folha para que ele marcasse todos os dias as distâncias e os tempos percorridos durante os treinamentos e ele prontamente fez uma cópia da folha para o irmão também anotar. Percebendo que a solidariedade com ele deixava o treinador irritado, Claudinei disse na época: não adianta ficar tocando nessa tecla, toda vez que você fala com o Mário, discute com ele. Porém, Vanildo foi persistente e disse que só iria treinar se ele e seu irmão tivessem apoio.
Treino profissional - Vencido pela persistência do jovem rapaz, Mello convidou os dois para fazerem um treino com sua equipe na USP. Chegamos com um tênis impróprio para a corrida, aquecemos, alongamos e fizemos treinos educativos, o que para nós era algo do outro mundo. Ao começar o treino efetivo, a dupla saiu para fazer 10 km com a companhia dos outros corredores e acharam o ritmo lento.
O Mário disse pra gente não se empolgar, porque tinham dois atletas aquecendo ainda e quando eles passassem, era pra gente acompanhá-los. Quando os irmãos foram alcançados pelos corredores da equipe e chegaram na subida da Faculdade de Biologia, perceberam que poderiam aumentar o ritmo e chegaram ao final com dois minutos de diferença para os atletas.
Nesse mesmo dia, foram feitos diversos treinos e sempre Vanildo e Claudinei se destacavam entre os outros corredores. A partir daí, as oportunidades surgiram e eles receberam apoios e patrocínios para ingressar de forma profissional no esporte.
Hoje em dia os colegas de treino sempre ajudam da forma que podem, contribuindo para auxiliar no pagamento de inscrições de prova, ou de custos de transporte e são como uma família para Vanildo. O objetivo dele a partir de agora é baixar o tempo de 34 min nos 10 km, além de se dedicar mais aos treinos. O futuro a Deus pertence, comentou.
Sempre presente para acompanhar a evoçução de Vanildo, o professor Mário Mello relembra alguns momentos e acredita que o rapaz ainda pode chegar longe.
Eu o conheço desde a época que eu prestava serviços na Gazeta Mercantil, contou Mário Mello. Ele gostava de correr, mas era mais fortinho e, apesar de não ter o perfil de fundista, fazia uns tempos bons.
Mário conta também que quando os irmãos apareceram na USP para o primeiro treino, não tinham tênis adequado, não tinham relógio, mas possuíam algo muito importante: disciplina e determinação.
Atualmente Vanildo cursa a Faculdade de Educação Física e tem a oportunidade de, no futuro, ganhar dinheiro como professor. Acredito que se ele não tivesse o nosso incentivo, não teria a oportunidade de se formar em Educação Física, comentou o técnico.
Por pior que seja o salário de um professor, vai ser muito melhor do que se ele tivesse trabalhando em um almoxarifado, por exemplo.
Corridas de Rua · 21 set, 2006
São Paulo - Há cerca de sete anos Vanildo trabalhava em uma copiadora da Gazeta Mercantil de São Paulo e nas horas vagas malhava na academia montada no prédio. Na época o objetivo era definir os músculos das pernas, pois ele já estava satisfeito com o condicionamento dos braços. A partir desse momento ele começou a ter o primeiro contato com o mundo das corridas de rua.
Ele começou correndo entre 4 km e 5 km na esteira e aos poucos foi aumentando o ritmo até chegar a treinos de 40 minutos a uma hora de duração. Observando que o rapaz levava jeito para a corrida, o então treinador da academia, professor Mário Mello, perguntou se ele não gostaria de participar de uma prova. Vanildo, com bastante massa muscular nos braços, respondeu: Olha meu tamanho, como vou pensar em corrida? Mas meu irmão leva jeito, foi a resposta que o treinador ouviu.
O tempo foi passando e Mário sempre ouvia a mesma resposta ao convidar Ivanildo para correr. Eu discuti com o meu técnico, pois sempre que ele me convidava para uma corrida eu falava do meu irmão.
A primeira prova - Mesmo sem saber, Vanildo já estava envolvido pela corrida. Em 1999 ele e Claudinei resolveram participar da Maratona de São Paulo e, ao comunicar ao treinador, receberam uma resposta sarcástica. Não se empolguem, porque acho que vocês não vão conseguir terminar. Mas tem um ônibus que recolhe os atletas que não conseguem chegar ao fim.
No dia seguinte, ao comentar que havia feito o tempo de 3h19, Mário deu risada e disse que era para ele esperar o resultado oficial, pois poderia ter cometido algum engano. Fiquei muito nervoso e quando saiu o resultado fui o mais rápido possível mostrar e só então ele acreditou, comentou o atleta.
Chegou o fim do ano de 1999, época da tradicional Corrida de São Silvestre e mais uma vez Vanildo e seu irmão foram desacreditados pelo técnico quando decidiram participar. Largaram no empurra empurra, ou seja, entre os atletas comuns, e terminaram com 1h02 e 1h04, mesmo tempo obtido pelo melhor atleta de Mário, que largou na elite B. Surpreso, dessa vez foi a vez do técnico ouvir uma gozação. Vai ver que seu melhor atleta não corre nada, provocou Vanildo.
Os dois irmãos continuavam sempre treinando, algumas vezes na esteira da academia, outras vezes em pistas de atletismo ou mesmo na rua. Eu saía do Taboão da Serra e corria até a Avenida Paulista para buscar meu irmão e depois nós dois voltávamos para casa correndo, lembra Vanildo.
Certa vez Mário entregou uma folha para que ele marcasse todos os dias as distâncias e os tempos percorridos durante os treinamentos e ele prontamente fez uma cópia da folha para o irmão também anotar. Percebendo que a solidariedade com ele deixava o treinador irritado, Claudinei disse na época: não adianta ficar tocando nessa tecla, toda vez que você fala com o Mário, discute com ele. Porém, Vanildo foi persistente e disse que só iria treinar se ele e seu irmão tivessem apoio.
Treino profissional - Vencido pela persistência do jovem rapaz, Mello convidou os dois para fazerem um treino com sua equipe na USP. Chegamos com um tênis impróprio para a corrida, aquecemos, alongamos e fizemos treinos educativos, o que para nós era algo do outro mundo. Ao começar o treino efetivo, a dupla saiu para fazer 10 km com a companhia dos outros corredores e acharam o ritmo lento.
O Mário disse pra gente não se empolgar, porque tinham dois atletas aquecendo ainda e quando eles passassem, era pra gente acompanhá-los. Quando os irmãos foram alcançados pelos corredores da equipe e chegaram na subida da Faculdade de Biologia, perceberam que poderiam aumentar o ritmo e chegaram ao final com dois minutos de diferença para os atletas.
Nesse mesmo dia, foram feitos diversos treinos e sempre Vanildo e Claudinei se destacavam entre os outros corredores. A partir daí, as oportunidades surgiram e eles receberam apoios e patrocínios para ingressar de forma profissional no esporte.
Hoje em dia os colegas de treino sempre ajudam da forma que podem, contribuindo para auxiliar no pagamento de inscrições de prova, ou de custos de transporte e são como uma família para Vanildo. O objetivo dele a partir de agora é baixar o tempo de 34 min nos 10 km, além de se dedicar mais aos treinos. O futuro a Deus pertence, comentou.
Sempre presente para acompanhar a evoçução de Vanildo, o professor Mário Mello relembra alguns momentos e acredita que o rapaz ainda pode chegar longe.
Eu o conheço desde a época que eu prestava serviços na Gazeta Mercantil, contou Mário Mello. Ele gostava de correr, mas era mais fortinho e, apesar de não ter o perfil de fundista, fazia uns tempos bons.
Mário conta também que quando os irmãos apareceram na USP para o primeiro treino, não tinham tênis adequado, não tinham relógio, mas possuíam algo muito importante: disciplina e determinação.
Atualmente Vanildo cursa a Faculdade de Educação Física e tem a oportunidade de, no futuro, ganhar dinheiro como professor. Acredito que se ele não tivesse o nosso incentivo, não teria a oportunidade de se formar em Educação Física, comentou o técnico.
Por pior que seja o salário de um professor, vai ser muito melhor do que se ele tivesse trabalhando em um almoxarifado, por exemplo.
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