Sul-africano foi destaque em 2012 ao disputar Jogos Olímpicos e Paralímpicos (foto: Dessaturação sobre LOCOG/ Divulgação)
Danilo Balu é colunista do Webrun. Bacharel em Esporte (EEFE-USP), também graduado em Nutrição (FSP-USP) e blogueiro de atletismo e corrida de rua.
Sempre disse em meus textos no Blog Recorrido, nunca nutri nenhuma admiração especial por Oscar Pistorius. No dia da tragédia que completa uma semana, acordei de madrugada para um compromisso de trabalho e, antes mesmo de me levantar da cama, resolvi ver o Twitter pelo celular. Quando há muita novidade da noite para o dia, duas chances: ou foi um meeting importante nos EUA ou alguma bomba. Boom! Eu simplesmente não conseguia acreditar no que meus olhos liam.
Mesmo sem morrer de amores, não conseguia aceitar que ele se envolvera em algo tão terrível: um jovem bem sucedido protagonista de um equívoco pavoroso, o de matar por engano a namorada. Tudo isso justamente quando ela queria fazer uma surpresa no Dia dos Namorados. Saí para meu compromisso transtornado, pedia a Deus que o atleta pudesse ter a serenidade de suportar tamanho fardo. Fui certamente mais solidário a Pistorius nessas primeiras horas de notícias desencontradas, do que em todo seu ciclo olímpico (2008-2012).
Nunca fui um fã dele, mas não por insensibilidade. É que não conseguia engolir direito o fato que o sul-africano tem com suas próteses uma vantagem competitiva enorme. Um dos maiores especialistas no tema, calcula que ele ganhe cerca de 10% de vantagem com elas. Sem elas, ele seria um competidor amador no máximo razoável, e não um finalista olímpico (4x400m). Mas Pistorius lucra e muito com isso. E foi esse misto de desequilíbrio competitivo, com seu enorme benefício injusto com aquela pitada do politicamente-correto que acabaram por tirar de mim qualquer simpatia à causa dele, que nunca deixou de ser um enorme bom exemplo aos atletas amputados do mundo todo.
Mas nada, nada disso tirou da minha cabeça que aquela tragédia não podia estar acontecendo. Não com ele. Ele não merecia! Eu ficava pensando como Pistorius conseguiria sair psicologicamente ileso disso tudo. As horas foram passando e o caso foi se complicando. Como se fosse um enorme fã dele, quando ele passou de vítima de um erro a suspeito, eu me negava: não, não pode ser verdade. Não ele!
O comentário dos atletas mais próximos a ele é unânime, o bi-amputado era uma grande pessoa. Então como tudo isso poderia ter acontecido? Como bem disse a Slate, não pergunte a razão, aparentemente cometemos a besteira de achar que pessoas com deficiências não cometem crimes, são mais íntegras, têm melhor índole. Mas a realidade seguia. Começa a aparecer o passado encrenqueiro recente e sua paixão por armas.
Não que Oscar Pistorius seja um coronel da savana, a enorme violência na África do Sul tornou comum que algumas pessoas se armem até os dentes buscando a (falsa) sensação de segurança. Com ele foi assim. Seu pequeno arsenal estava sempre à mão, na cabeceira. Foi com sua própria arma que, alega-se agora, o velocista matou intencionalmente sua linda namorada.
Não deixa de ser própria do esporte essa construção de mitos. Desumanizamos os ídolos para depois buscar suas falhas quando cometem graves erros aos olhos da sociedade. Atleticamente falando, Pistorius era muito pouco, mas era um dos 3 mais populares da modalidade no mundo. E foi isso o que mais chocou. Se fã nunca fui, raiva não tenho. Meu choque não diminuiu, apenas se transportou. Como ele pode fazer isso? Jogar pelo ralo uma carreira brilhante? O amor faz coisas que a razão desconhece. Nada disso tira minha sensação de estupor. Pela manhãzinha, em solidariedade, rezava comigo e em silêncio. Estava atordoado. E assim continuei ao desenrolar de tudo. Continuo aqui, ainda incrédulo.
Este texto foi escrito por: Danilo Balu