Mal súbito em corridas de rua: número crescente exige mais atenção à saúde

Carolina Abrantes | Corrida de rua · 06 fev, 2025

Mal súbito em corridas de rua: número crescente exige mais atenção à saúde
Imagem: Adobe Stock

A recente morte de um corredor amador que participava da Meia Maratona Internacional de São Paulo, em janeiro, reacendeu a discussão sobre os riscos de mal súbito durante a prática de esportes, especialmente em corridas de rua, que exigem mais da resistência e condicionamento físico dos participantes. Casos como esse têm se tornado cada vez mais comuns, levantando questões sobre as causas e prevenção.

Para entender melhor esse cenário, conversamos com a médica do esporte Dra. Ana Sierra, especialista em atendimentos médicos em eventos esportivos, que explicou o que é o mal súbito, seus possíveis sintomas e o que fazer para evitar que ele se transforme em uma morte súbita.

Quais as causas e sintomas de um mal súbito?

Segundo a médica, as causas estão relacionadas a doenças pré-existentes silenciosas, em jovens miocardiopatia hipertrófica ou miocardiopatia arritmogênica do ventrículo direito, são as mais comuns, e em pessoas acima dos 35 anos doença aterosclerótica.

“Quanto aos sintomas, podem não haver sintomas prévios, assim como, pode ocorrer dor ou desconforto no peito, redução do nível de consciência – Sabe quando parece que estamos meio aéreos, com os reflexos meio diminuídos? – e mal-estar. Já a morte súbita é considerada aquela que surge como um mal súbito, que ocorre durante ou até 12 a 24 horas (depende da literatura) após a prática de atividade física”, explica.

De acordo com a Dra. Ana Sierra, muitas vezes não há sinais prévios de que a pessoa possa sofrer um mal súbito, sendo o diagnóstico possível apenas por meio de exames médicos.

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Por que temos visto uma ocorrência maior no número de casos de mal súbito?

“Acreditamos que está cada vez mais comum a ocorrência devido ao aumento do número de praticantes, em especial de corrida de rua. Além claro, dos casos hoje serem mais divulgados devido a maior facilidade na comunicação e disseminação de informações”, ressalta.

A médica explica que o mal súbito pode acontecer com qualquer pessoa, mesmo com indivíduos aparentemente saudáveis. O exercício físico pode ser o gatilho para desencadear problemas cardíacos e levar à morte. A incidência varia na literatura, mas estudos indicam que pode ocorrer de 0,3 a 6,8 a cada 100.000 pessoas, e em maratonas, a incidência é de 1 a cada 35.000 pessoas.

Como evitar o mal súbito e o que fazer em caso de emergência?

A principal forma de evitar o mal súbito é realizar uma avaliação médica adequada anualmente para entender se o corpo está apto a participar de desafios esportivos, como corridas de rua. É fundamental manter essa avaliação em dia, pois as doenças pré-existentes podem evoluir silenciosamente.

“O primeiro cuidado e mais importantes é a realização de uma avaliação médica adequada pré-participação e de preferência com um médico que entenda da parte esportiva, ou seja, um médico do esporte. E é muito importante ressaltar que essas doenças pré-existentes, além de silenciosas, vão evoluindo, por isso manter a avaliação médica em dia e realizá-la periodicamente é de extrema importância, pois a literatura já nos mostra que na primeira avaliação pré-participação já é possível identificar sinais e prevenir a morte súbita relacionada ao exercício. Porém, ainda mais eficiente nessa prevenção é a manutenção da avaliação periodicamente”, destaca a médica.

Segundo a médica, em caso de presenciar alguém passando mal durante uma corrida, a primeira providência é solicitar ajuda médica de uma ambulância, que deve estar equipada com um desfibrilador externo automático (DEA). Além disso, iniciar as compressões torácicas (massagem cardíaca) é crucial, pois a manutenção do fluxo sanguíneo aumenta consideravelmente as chances de sobrevivência da vítima.

“É importante ressaltar que a manutenção do fluxo de sangue para o coração nos primeiros 6 minutos é um dos fatores de melhor prognóstico para as vítimas. Pode ser que haja um tempo maior do que 6 minutos para a ambulância ou profissionais da saúde chegarem dependendo de onde a pessoa estiver, porém, se mantida a massagem cardíaca de forma efetiva, ou seja, um suporte básico de vida adequado, é possível manter as chances de sobrevivência da vítima”, enfatiza a Dra. Ana Sierra.

A morte de um corredor durante uma prova é sempre uma tragédia que nos faz refletir sobre a importância da prevenção. A avaliação médica regular, o conhecimento dos sinais de alerta e a ação rápida em caso de emergência são medidas essenciais para garantir a segurança dos corredores e reduzir o risco de mortes súbitas durante as corridas de rua. Realize periodicamente sua avaliação médica.

Carolina Abrantes

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Estudante de jornalismo, já metida a repórter. Encantada pelo mundo dos esportes e pela forma como eles podem mudar a vida das pessoas.