Que os Estados Unidos são a meca do running mundial, isso não se discute, porém, o Brasil avançou muito no mercado de corridas de rua nos últimos 30 anos e, vem apresentando a cada dez anos um ‘boom’ marcante.
O potencial brasileiro futuro no running é enorme, mas só atingirá os níveis norte-americanos ao investir cada vez mais em seu profissionalismo e dependendo também, que parte da população crie uma cultura pró-eventos e mude a mentalidade e atitudes, tanto de participantes como das comunidades que envolvem os eventos. É importante que a cidade abrace seu evento de forma ampla.
Nesta coluna exemplificamos, usando como parâmetro a Maratona de Boston, que é um case de quando a comunidade abraça um evento é possível trazer muitos benefícios às cidades que acolhem bem seus visitantes, gerando ciclo vicioso de oportunidades econômicas e desenvolvimento.
Neste mês de novembro, o Boston Athletic Association (BAA) e o Meet Boston anunciaram qual foi o impacto econômico que a Maratona de Boston, trouxe para a Comunidade de Massachusetts.
Um relatório independente conduzido pelo grupo de Pesquisa Econômica e de Políticas Públicas, do Instituto Donahue da Universidade de Massachusetts, estudou o impacto econômico da última edição da competição.
O estudo mostra que o impacto econômico gerado pela Maratona de Boston, em 2024, foi da ordem de US$ 509,1 milhões (R$ 2.962,9 bilhões), montante que representa os custos operacionais da BAA, gastos dos participantes e espectadores da maratona e outros impactos econômicos secundários de gastos domésticos, impostos e custos de fornecedores.
“A Maratona de Boston é mais do que apenas uma corrida; é um impulsionador poderoso que destaca a área da Grande Boston, atraindo visitantes e exibindo a rica história, a cultura vibrante e as comunidades diversas da nossa cidade”, disse Martha J. Sheridan, presidente e CEO da Meet Boston.
Os espectadores foram entrevistados para entender áreas de gastos, incluindo varejo, alimentos e bebidas e hospedagem.
O evento principal que ocorre sempre em uma segunda-feira, no feriado do Patriot Day, inclui além da maratona, uma prova fun, a Boston 5K que atrai 10 mil participantes, uma milha convidativa para estudantes e corredores profissionais, a Bank of America Boston Marathon Expo, a Boston Marathon Fan Fest e a Boston Marathon Post-Race Party.
Além disso, patrocinadores e outras marcas adjacentes fornecem ativações em toda a Grande Boston.
O impacto filantrópico total da corrida em sua última edição foi de US$ 71,9 milhões arrecadados. Desde o início do Official Charity Program, em 1989, mais de US$ 550 milhões foram arrecadados em torno da Maratona de Boston.
Alguns números apresentados por Boston nos revelam que no fim de semana (que, na verdade vai de sexta-feira à segunda-feira) da maratona, que teve 30.000 participantes e que formaram um grupo médio de duas pessoas, 77% dos espectadores que compareceram indicando que estavam lá para apoiar um membro da família ou amigo correndo.
Para se ter uma ideia do magnitude de Boston, que nem é a maior maratona do mundo no quesito impacto econômico, podemos fazer uma comparação com a maior prova de 42km realizada no Brasil, a Maratona do Rio, que nominalmente tem números próximos quando omitimos taxas cambiais.
Mas ao comparar a demais players, Boston, mostra que temos ainda muito potencial a ser desenvolvimento e explorado sustentavelmente.
Segundo apuramos junto a Dream Factorye a Spiridon, realizadoras da Maratona do Rio, a última edição trouxe um impacto econômico de R$ 355 milhões ao Rio de Janeiro nos cinco dias que se prolonga o evento, contra três dias de Boston.
Nominalmente, a Maratona do Rio tem um movimento econômico de 70,7% do montante do movimentado na por Boston, é claro que esse percentual cai para 11,9% quando fazemos a conversão de dólar para real.
Enquanto Boston leva as suas provas 34 mil participantes, o Rio se destaca com 45 mil participantes em suas quatro distâncias, sendo 10 mil na prova principal, a maratona.
Ambas provas empregam basicamente o mesmo número de colaboradores diretos e indiretos. Em Boston são 2.900 pessoas envolvidas, contra 2.800 da prova carioca.
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Um ponto que o Rio supera Boston é no percentual de atletas e acompanhantes que viajam a ambos os destinos. Enquanto 51% da prova americana são formados por turistas de fora do estado, no Rio, 81% dos participantes são de fora do Estado do Rio de Janeiro.
O “maraturismo” é uma prática difundida no Brasil, visto que a São Paulo City Marathon, a segunda maior maratona do Brasil, onde 50% dos participantes vêm de fora da cidade.
Porém, no Brasil, os números despencam quando vemos alguns dados de outras maratonas que formam o “top ten” nacional, como é o caso da Maratona de Floripa, que levou 16 mil atletas em sua programação e obteve impacto econômico de R$ 33 milhões no ano passado, ou, 10% do observado no Rio de Janeiro e 6,5% de Boston (nominal) ou 1,1% no convertido, o que só reforça o alto potencial de crescimento que poderia acontecer no mercado brasileiro. Já a filantropia no Brasil, aos moldes americanos, é quase nula.
De todo modo, se nas corridas de rua, o Rio segue de perto os passos de Boston, quando se fala de beleza natural, o Rio… Ah… ‘o Rio de Janeiro continua lindo!’.